Chovia consideravelmente às cinco da manhã daquela sexta-feira. Enrolei-me ainda mais no edredom, e lancei preguiçosamente meu olhar para a janela, onde podia ver as gotas robustas a atacar-lhe violentamente a vidraça. O sono já havia ido embora, mas não tinha a menor coragem em pôr-me para fora daquele doce e quente aconchego. Sabia que tinha um compromisso dali a duas horas, precisamente, mas eu realmente não estava animada para cumprí-lo.
Deixei-me rolar por uns bons minutos no meu querido e amado colchão, quando olhei novamente a janela. As nuvens continuavam escuras, mas a chuva havia parado. Olhei o relógio, que marcava 06:15 AM, então levantei, sob resmungo: precisava ir ao banheiro. Já que havia levantado, não adiantava voltar atrás, então tomei um rápido desjejum e arrumei-me de qualquer forma, realizando uma corrida matinal até o meu destino, que durou cerca de 15 minutos a um ritmo constante e leve. Já esperando no local de treino habitual, lá estava ele, parecendo não se incomodar com aquelas brumas incessantes, mesmo sendo originário de um país desértico:
- Chegou cedo, Harima! Acho que finalmente aprendeu a ser pontual! - ele disse à sua maneira fria habitual.
Permaneci calada. Tomei aquela frase como sarcasmo, e por isto meu mau-humor só piorou. Respirei fundo para tentar manter a pouca paciência que restava-me, amaldiçoando-me em pensamento por ter vindo; devia mais era permanecer na cama. Revirei os olhos à espera do que ele dissesse como seria o treino:
-Hoje, neste dia chuvoso, quero que tente me atingir. Creio que este clima é comum para vocês de Kiri e a chuva atrasa minhas defesas arenosas. É a sua chance de se vingar, se conseguir! - ele falava, sorrindo ironicamente.
O jounin parecia ter lido meus pensamentos. O que eu mais desejava era atingí-lo, o mínimo que fosse; sabia que era um shinobi de nível avançado, e sozinha era provável que eu fracassasse, mas ainda assim era bem tentador. Saquei minha katana e assumi uma postura ofensiva, e numa descarga de chakra em meus pés, tive a agilidade de um shunshin para aproximar-me dele o bastante para desenhar um corte diagonal, mirando em seu pescoço. Calmamente ele desviara-se para o lado, tal como previra - e por isso meu segundo movimento fora calculado mais para a minha esquerda, direita dele. Quase não deu para ver a rápida retirada de sua foice das costas, causando um som metálico alguns milésimos de segundo depois. Ele apenas defendia, o que era irritante pois sua força era tanta que fazia-me pingar de suor enquanto (inutilmente) tentava vencer aquela pequena guerra de armas.
Ele escorregou a lâmina de sua foice sobre minha katana, acabando por fazer-me um leve corte nos dedos da mão direita. Isto obrigou-me a liberá-la devido a dor, deixando-me a segurar a katana apenas com a mão esquerda, proporcionando-o facilidade em usar sua foice para retirar a espada da minha mão e jogá-la longe, visto que ainda não tinha maestria para usá-la com apenas um membro:
-Aprenda a adaptar seu arsenal, Harima! Se você não ficar com uma mão incapacitada você terá que concentrar sua força na mão remanescente, do contrário será facilmente desarmada. - ele dizia de maneira séria, enquanto mantinha sua foice rente ao corpo, já esperando um novo movimento meu.
Tsc, mas quem ele pensava que era para brincar comigo daquele jeito? Sem minha katana, investi um soco com a mão esquerda em seu rosto. Sabia que não traria muito resultado, até por ser destra, e com a esquiva dele para a direita, pulei o mais alto que pude para rodopiar e acertar-lhe um chute com minha perna. Ele agachou-se com velocidade, obrigando-me a aterrar mais longe do que eu previra. Tentei assim mesmo executar um rodopio no chão para aplicar-lhe uma rasteira, mas meu pé não chegara ao destino, já que ele deu dois passos ligeiros para trás; em vez disso, ele agachou-se e prendeu minha perna com sua mão, puxando-me rapidamente e arremessando-me sem grandes dificuldades num arbusto ali perto - que apesar de macio, machura-me consideravelmente com alguns galhos mais pontudos.
Encarei-o, furiosa. Sentia meu rosto quente, provavelmente vermelho de raiva, além de meus olhos concentrarem uma pequena quantidade de água - que não chegara a cair, mas misturava-se facilmente aos pingos de uma fina garoa que começara a cair. O sunanin aproximava-se sem cerimônias, fitando-me com aqueles irritantes óculos de lentes verdes; ele podia ver os meus ali, livres e expostos, o que só realmente aumentava meu ódio por ele. O que queria? Por que diabos ainda estava na vila, e treinando apenas a mim? Fechei meu punho. Não queria admitir, mas parecia quase impossível sequer causar-lhe um micro-arranhão. Então era isso, ele ia caçoar de mim por ser de outro país e muito mais forte que eu? Que uma mera gennin recém-formada não tinha uma chance que fosse para defender sua própria vila? Ok, ele estava realmente conseguindo. Foi quando então aproximou-se.
Diante de mim, sem demonstrar qualquer expressão ou sentimento, Brian foi caminhando vagarosamente. Senti-me acuada, não aguentava mais fazer tantas vãs tentativas de acertá-lo. Então, ele ficou a uma distância de menos de um metro, retirou seu óculos da face e o colocou no bolso, fazendo a chuva molhá-los, realçando ainda mais a cor castanha deles; ele sorriu enquanto fixou seus olhos nos meus:
- Parabéns, Harima! Você tem melhorado muito nesses dias, você pode não ter me ferido, mas agora você não só consegue prever alguns dos meus movimentos como também se defender deles. Este é um começo, uma prova de que você está se tornando uma shinobi melhor a cada dia.Ele estendeu-me a mão. A sério? Levantei-me surpreendentemente rápido, dando um tapa desmedido em sua mão e o empurrando. Estava mesmo muito irritada, quem ele achava que era? A garoa agora começara a ficar mais forte, o que tornava o local de treino bem lamacento. Tentei derrubá-lo, mas o feitiço é que virou contra o feiticeiro - e eu caí. Meu rosto era a única parte do corpo que não tinha marcas enlameadas, o que esvaiu de vez a pouca paciência que eu tinha. Meu soprador havia caído na lama, e demoraria algum tempo na limpeza até que estivesse novamente apto para o uso de meu Baburu-kei, minha katana estava caída a metros de distância, e todo o resto de razão que poderia ter fora convertido em ira: eu realmente odiava aquele sunanin. E como não pensava mais com clareza, irritada por aquele dia, parti para um combate de taijutsu:
-Isto é por você ser estrangeiro - eu dizia enquanto desferia um soco canhoto.
- E isto por ter tido o sacrilégio de ter-me tirado da cama num dia como hoje! - gritava, dando um giro de 180° visando acertá-lo com um chute. Ele esquivara-se, mas eu não dava-me por vencida, investindo agora uma joelhada no seu abdômen.
- E isto é por este ar de sarcasmo e superioridade, não vou rebaixar-me por seres um jounin! - agora dava um pulo visando uma palmada em seu ombro, mas com seu desvio aterrei para dar-lhe uma rasteira que esquivara com uns passos para trás.
- E isto é por seres tão irritante! - finalizava todo o meu ódio gritando estas palavras, socando com toda a força do meu punho direito em sua barriga. Mas dessa vez, ele não desviara, o que causou-me uma dor descomunal: parecia que havia esmurrado uma pedra. Então, o Borges aproximou-se com agilidade, segurando meus dois braços:
-Harima... Me desculpe por ser tão severo, eu não me acho superior a você, eu só quero que você fique cada vez mais forte, para um dia, você me superar e mostrar a todos de Kiri do que você é capaz! - ele falou forte, enquanto seu rosto estava bem próximo do meu.
A chuva caía de forma constante. Meus braços estavam presos, odiava sentir-me daquela forma... Atada, como uma ratinha de laboratório. Depois de suas últimas palavras, minhas pernas não tinham mais a força que eu queria que tivessem para continuar atacando-lhe. Parecia que eu havia levado um choque, e não conseguia esboçar a mínima reação. As gotas açoitavam meu rosto com delicadeza, e ali, parada, encarei fundo os olhos que tanto escondiam-se debaixo daquelas lentes irritantes, e que ali estavam, nus. Eram castanhos, e tinham a mesma frieza que eu enxergava quando olhava-me no espelho. Mas havia algo mais, que eu não conseguia distinguir o quê; queria gritar um "idiota!" e desvencilhar-me de suas mãos, mas acho que a palavra saíra mais como um sussurro, e percebi minha cabeça pendendo para frente ao mesmo tempo que ele. E então uma corrente elétrica percorria todo o meu corpo quando nossos lábios tocaram-se. Uma das mãos que agarravam meu pulso afrouxara e passava agora à cintura, diminuindo ainda mais o espaço entre nós, ao mesmo tempo em que agora o beijo ficara mais intenso. Não sei precisar quanto tempo ficamos ali, tendo a chuva como testemunha daquele fato. Lembrei-me de respirar, e foi aí que a minha mente voltara a funcionar, enquanto descolava minha boca da dele. Abri meus olhos no mesmo instante que ele; senti meu rosto quente, mas não era raiva. Ainda assim, puxei meus braços rispidamente para soltar-me daquilo que parecia um abraço; apanhei rapidamente meu soprador e minha katana mais além, dando-lhe as costas e indo para casa: mas com o canto do olho, percebi que ele não movera um músculo, deixando a chuva escorrer-lhe por todo o corpo.
Corri sem mais olhar para trás. Tropecei e quase caí algumas vezes, mas mesmo assim, ansiava por chegar logo à minha casa. Demorei alguns minutos, mas finalmente cheguei no aconchego do meu lar. Entrei com urgência, dirigindo-me ao banheiro, tomar uma ducha quente para acalmar-me e aliviar o frio da chuva. Devo ter passado uns 20 minutos sob aquele efeito terapêutico, antes de resolver enrolar-me na toalha e ir procurar o que vestir; ao chegar em meu quarto, aquele momento não saía de minha cabeça, por mais que pensasse em coisas aleatórias para ocupar-me a mente. Irritada, joguei-me no colchão do jeito em que encontrava-me, apenas com a toalha ainda úmida. Por que diabos ele tinha de ser tão...
Irritante?
- Nota da Eve:
Então people... É algo novo, e também surpreendente, visto a personalidade da Harima - lembrando que ela ainda não é fechada, está em construção. Irei entrar numa nova fase dela junto o Brian$, bastante importante no desenrolar da história. Espero que tenham gostado - e lembrem-se, ela não é uma morta-viva sem coração; ainda tenho que decidir se ela fica boa ou má, mas tenho tempo *yao* Esta primeira parte tem duas cópias, sob os diferentes pontos de vista das chars, breve posto a próxima
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