Embora o dia não estivesse enevoado, a cor cinza ainda dominava Kirigakure. Não chovia, o sol brilhava timidamente, e Harima estava trancada em seu quarto. Tinha passado a noite em claro, perdida em pensamentos enquanto pintava algo qualquer. Era o que fazia quando sentia-se confusa, perdida ou triste; ou então quando simplesmente bem entendesse. Ficara pensando em quão contraditória ela era, e ah! como isso a incomodava. Odiava indecisões, mas ao mesmo tempo, isso simplesmente fazia parte de sua natureza conflitante. Pode-se dizer que ela conseguia odiar a si mesma. Desenhar causava-lhe prazer, e conseguia distrair-lhe o suficiente para não pensar nessas coisas. Pensar na sua vida e inutilidade. Em suas fraquezas. Em suas covardias. Em como tudo parecia mais fácil se ela não existisse. E como era desprezível por não conseguir retirar-se daquele mundo que nem pedira para nascer, causando incômodo às pessoas que, de fato, importavam-se com ele. Assim era Harima em cerca de 99,9% do tempo, inclusive quando estava dormindo.
Naquele dia, repentinamente decidira ir ao cemitério da vila. Sentia necessidade de conversar com alguém, ainda que fosse um morto - ou dado como tal. O local era pouco visitado por conta da tristeza que imperava por ali, mas a garota de olhos vermelhos - ao contrario de pessoas normais - sentia-se extremamente bem com aquela atmosfera. Ajoelhou-se diante de um dos túmulos mais aos fundos - e consequentemente esquecidos -, passeando a palma da mão na fria pedra que tinha as informações da pessoa que ali jazia, retirando uma fina camada de poeira. Depois, suas delicadas mãos começaram a revolver a terra ao lado dali; segundos se passaram, até que um pequeno buraco estava aberto, exibindo alguns papéis já corroídos por conta da microvida existente naquele solo. Apesar de seriamente danificados, era possível distinguir o seu conteúdo. Ela ainda ia deitar o desenho que trouxera consigo, quando uma conhecida voz ecoava bem perto dela:
- Curioso, não? Mesmo sabendo que os mortos não podem responder as nossas aflições, aqui neste local eles ainda parecem que estão entre nós, nos ouvindo pacientemente, como bons e silenciosos ouvintes! - declara o jounin, que parece ter surgido do nada.
- O que você está fazendo aqui?! - pergunta, ligeiramente assustada.
- Hm? Creio que o mesmo que você, estou a observar os túmulos desse cemitério. Eu costumo usar boa parte do meu tempo frequentando o cemitério de Suna, local onda minha mãe está enterrada. Então, isto acabou virando um hábito meu, pode ser considerado excêntrico para alguns mas eu não me importo. - esboça o sunanin, enquanto mantém seus olhos fixos no túmulo a sua frente.
- Eu não costumo vasculhar memórias de outros pais, sabe? - dizia seca e sarcasticamente. - Podes curtir o cemitério da tua vila! - tentou não gritar, mas sua voz não obedeceu, ao mesmo tempo em que com urgência, metia o papel no buraco e o cobria com terra.
- Entendo a sua frustração, eu também não gostaria que desconhecidos se intrometessem em assuntos tão importantes para mim. Contudo, eu não estou a vasculhar suas memórias e tão pouco me importo com elas. - retruca de maneira ríspida. - Na realidade, eu estou aqui há algumas horas e quando a vi ao longe achei que seria bom dar um "oi", mas parece que você também não liga para certas cordialidades! - diz o jovem de maneira formal, parecendo não ter se importando com o fato de Harima ter gritado com ele.
- O fato de teres uma missão que tenha a ver comigo não nos faz amigos. Não precisavas ter vindo aqui, simplesmente ignorava-me que era o melhor - retrucava, rispidamente.
- Eu nunca falei que nós somos amigos e, assim como você falou eu só estou a cumprir ordens. Porém, eu as vezes me obrigo a ser cordial com as pessoas, uma espécie de retribuição as pessoas que se esforçaram para tentar ficar ao meu lado, mesmo eu evitando qualquer tipo de aproximação! - falou o jovem, para depois retirar seu óculos da face no intuito de o limpar com um pano branco que ele retirou do bolso.
Ela olhou fixamente seu rosto; embora possuíssem a mesma frieza típica de quando via-se no espelho, ela preferia vê-los do que as irritantes lentes. Ele pareceu notar e encarava-a, perguntando-a mudamente o que exatamente ela procurava:
- Bom, eu não irei perguntar o que tem nesses papeis que você enterrou com tanta pressa nesta sepultura, pois você não irá me dizer. - fala o jovem enquanto vai recolocando seu óculos de volta na face. - Porém, gostaria de saber se você se você se recuperou bem do ultimo treino, o qual eu acho que exagerei um pouco!
- Não precisa preocupar-se comigo. Não morrerei com uns pequenos arranhões... - declarava, tentando fazer-se de forte, embora tivesse um curativo na mão direita.
- Você não deve confundir as coisas, eu não estou preocupado com você mas se eu mata-lá o Kazekage Gaara não vai gostar! - responde Brian de maneira fria.
- E por que diabos ele estaria interessado em mim? Afinal, o único Kage que deve preocupar-se comigo é o Okashii-sama, a Areia nada tem a ver com isso - gritava, em tom petulante.
- Cuidado, garota! Não aumente o tom quando for falar de Sunagakure. E quanto a sua pergunta, eu realmente não sei e não me importo em saber o porque dele ter me mandado treinar você, eu apenas segui ordens, nada mais! - responde com um tom de voz um pouco mais alto, em reposta a petulância da jovem.
- Estás a ameaçar-me na minha própria vila, a sério? Vá embora daqui - dizia ela a tentar pontapeá-lo com a perna esquerda.
- Tsc... Tão previsível! - esboça o jounin enquanto segura a perna da jovem. - Harima, por mais que nós tenhamos temperamentos conflitantes, eu não seu inimigo! - diz o sunannin, para depois soltar calmamente a perna dela.
- Não me subestime, seu idiota! - gritava ela, a desferir um soco com a mão esquerda.
Brian aparou o golpe facilmente, irritando ainda mais a garota. Tomada de fúria, ela tentou outro soco com a mão livre, que também fora aparada sem grandes problemas. Com os pulsos presos às mãos do sunanin, ela encarou-o furiosa, mas agora o misterioso rapaz tomava a palavra.
- Eu entendo que tenha passado por momentos difíceis na sua vida. Mas entenda, eu estou aqui para te ajudar e não importa quanto você tente me repudiar, eu ainda continuarei aqui! - diz o rapaz de forma compassiva. - Agora eu vou soltar suas mãos e dessa vez não tente me atacar de novo! - termina o jounin, para depois liberar as mãos da jovem.
Aparentemente ela acalmara-se. O adolescente cumpria sua promessa, soltando-a delicadamente. Ela ainda pensara em não cumprir a sua e atacá-lo novamente, mas em seu íntimo sabia que era inútil. Percebendo menos hostilidade já que ela sentava-se no chão, ele resolveu fazer-lhe companhia:
- Eu não sou marionete de nenhuma vila, exceto Kiri. Vocês nada têm a ver comigo. - dizia, escondendo a cabeça entre os joelhos para evitar que ele visse as lágrimas que escorriam de seus olhos. Lágrimas carregadas de raiva, aliás.
- Talvez o Mizukage saiba exatamente o que está a acontecer. Você tem razão, eu realmente não tenho nada a ver com você! Porém, isto era antes de você se tornar minha aluna, agora eu quero que você melhore e se torne a melhor shinobi que Kiri já viu! - diz o rapaz, enquanto coloca sua mão direita sobre o ombro da jovem, no intuito de conforta-la. - Olha, por que não vamos a um restaurante? Eu creio que depois de ter gastado tanta energia querendo me esmurrar você deve estar com fome. Não se preocupe, eu vou pagar, pois creio que assim você irá se sentir melhor ao causar uma dor em mim, pelo menos no meu bolso! - termina Brian, que mesmo dizendo algo aparentemente cômico ainda consegue manter a postura séria.
A custo, ela levantou a cabeça, limpando antes seus olhos com a manga da camisa que usava. Apesar de ainda manter-se forte, Brian conseguia sentir o quão frágil era aquela kunoichi. Facilmente manipulável. Conseguia até compreender do porquê o Mizukage ter pedido algo tão inusitado para Gaara e encenado toda a situação. Não sabia maiores detalhes, é claro, provavelmente ela corria risco contra alguém invisível, porém que a observava todo o tempo. Ela negara o convite a princípio, mas visto que ele não fez menção em deixá-la sozinha em paz, resolveu aceitar.
Então, Brian e Harima se dirigem até o centro de Kirigakure, local onde eles procuram por um bom restaurante para se alimentarem. De imediato, Brian repara num local bem luxuoso, com várias pessoas trajando roupas sociais finas adentrando. Ao vê-lo, subitamente o jovem sabe que aquele é o local apropriado:
- Vamos naquele ali, Harima! - diz o rapaz a apontar para o local com a mão direita.
- Estás louco? Olha como eu estou, vou ser é expulsa. Além do mais ali não existem pessoas decentes, apenas vazias que tentam preencher tudo com dinheiro e bens materiais.
- Precisamente, está na hora deste lugar ser frequentado por pessoas com mais estirpe e que não sejam apenas fúteis e vazias, como você mesma disse! - diz o rapaz, enquanto vai puxando a garota pela mão, indo em direção a porta do estabelecimento. - Além disso, você continua bonita aos meus olhos!
Um leve rubor inflamava as bochechas da gennin. Sempre que podia, Brian era gentil com ela, o que era perturbador, já que não era acostumada. Deixou-se ser arrastada, um pouco a contragosto, mas não conseguia (ou não queria?) oferecer resistência. Ao ficarem de frente a entrada do restaurante, um homem alto, trajando um terno completo (de material fino) e uma gravata borboleta parece olhar com certo desgosto para os jovens, sobretudo para Harima. Então, de maneira bem rude e indiferente ele diz:
- Desculpe... Senhor! Mas nossas mesas estão todas ocupadas. Porém, acho que alguém na sua... Condição social, possa apreciar o restaurante ali da esquina! - diz o homem, apontando para um bar sujo que fica do outro lado da rua.
- Acho que não fomos apresentados, eu sou o jounin Brian Borges e esta aqui é minha... Namorada, Harima! - diz o rapaz enquanto segura a garota pela mão. - Eu resolvi passar uns tempos em Kiri e Harima disse que este era um bom local para jantarmos. Então, seja cordial e nos arrume dois bons lugares, pois não creio que você esteja disposto a confrontar alguém do meu nível! - diz o jovem, enquanto segura levemente no cabo de sua foice, fazendo o homem de terno suar um pouco. - Eu também lhe asseguro que posso pagar qualquer coisa que este estabelecimento puder nos oferecer! - termina o Borges.
- Cer... Certamente, senhor Brian! Por favor, você e sua dama queiram me acompanhar! - diz o garçom, para depois guiar os jovens até uma mesa de jantar localizada de frente para a janela, lhe dando uma visão privilegiada de Kiri.
- Co... Como assim, na... na... namo... namorada?! - a kirinin perguntava, tão ruborizada que sequer conseguia olhar nos olhos do jovem Borges, mas com a voz carregada de fúria. - O que estás a tramar? Não é por eu ter aceitado o convite que podes sair dizendo essas coisas! - reclamava, ainda cabisbaixa.
- Você mesma disse que as pessoas deste local eram vazias, então nada mais interessante que um casal de namorados entrar aqui! - diz o rapaz com um leve sorriso. - Não fique assim, eu disse isto pois não gostei do jeito que ele olhou para você, como se fosse inferior a ele. Tais pessoas me irritam e esta foi a única desculpa que eu bolei para não cortar a garganta dele na frente de tantos civis! - disse Brian, se mostrando mais sério do que de costume. - Então, o que você vai pedir?
- Realmente não importa. Fico bem com uma água - retrucava.
- Depois do que aquele cara fez você só quer causar neste local o prejuízo de um copo com água? Eu pensei que você era mais decidida, mas... Acho que me enganei! - responde o ceifeiro.
- A questão não é essa! - rebatia, alterando a voz. - Sou acostumada a ser sozinha, essa é uma situação estranha para mim... - completava, com sinceridade em suas palavras. - Nem sei porque eu vim, sou mesmo uma idiota - levantou-se, fazendo menção em ir embora.
- Eu sei! É difícil estar sozinho, tendo que se virar sem a ajuda de ninguém para sem mais nem menos, alguém aparecer na sua vida e tentar lhe ajudar. - diz Brian enquanto cruza as duas mãos sobre a mesa. - Você não é uma idiota, Harima, a culpa é minha por querer forçar você a confiar em mim tão rapidamente, talvez influência do meu mestre, que fez o mesmo comigo! Mas, por favor se sente, vamos ao menos jantar aqui e depois eu prometo que lhe levo para casa! - termina, para depois fazer sinal com a mão para a jovem voltar a se sentar.
Harima ficou dividida: ele não era má pessoa afinal, mas suas ações irritavam-lhe bastante. Suspirou fundo e decidira ficar, embora continuasse com sua postura arredia. O jounin sorriu um pouco por ela ter cedido, ainda que não totalmente. Como a gennin negara escolher o que quer que fosse, escolheu todo o menu e pediu tudo para dois. Enquanto esperavam, um silêncio esmagador pairava naquela mesa. A adolescente incomodou-se mais que o sunanin, e resolveu quebrá-lo:
- Por que estás a fazer tudo isto? És de outro país, mal me conheces, apesar de seres um ninja habilidoso, não devias confiar demais. Apesar de aparentemente parecermos um com o outro, tenho certeza de que tua história não é semelhante à minha, então por favor, pare de agir como se pudesse sentir o que sinto - pedia, com a voz carregada de um estranho sentimento. Não chegava a ser ódio, mas também não tinha gentileza alguma.
- Você tem razão, eu não deveria confiar e realmente não confio em todas as pessoas, apenas naquelas que eu julgo merecedoras da minha confiança! - disse de forma direta. - Contudo, mesmo que nós tenhamos histórias diferentes nossas conclusões são iguais, pois no fim das contas eu terminei sozinho e abandonado, entregue às moscas, até o momento que uma boa pessoa resolveu me estender a mão, depois de tantos anos! Assim, do mesmo jeito que eu recebi uma ajuda, eu estou lhe oferecendo agora. - completa o rapaz, esboçando um leve sorriso. - E, ao contrário do que você pode pensar, eu não espero nada em troca! - finaliza.
- A questão não é eu dar algo em troca... é apenas... - calou-se, hesitante. - Merecer. - concluiu, visivelmente perturbada por um fantasma do passado.
- Infelizmente, apenas você pode responder se merece ou não ser ajudada. Mas no que tange a mim, eu creio que você merece a minha atenção! - diz o Borges de maneira decidida.
Aquelas palavras impactaram bastante a jovem. Permaneceu muda por bastante tempo, e o silêncio entre os dois fora interrompido pelo garçom, que servia o pedido. O jantar transcorreu sem mais palavras, e ao fim, Brian ouviu um tímido "Arigatou gozaimasu". Mas uma coisa chamava-lhe a atenção: ela não o encarava mais. Intrigado, perguntou o porque daquilo, tão repentino:
- Não vou olhar em seus olhos enquanto fores mal educado o bastante para ficar com óculos escuros em ambientes fechados. E ainda por cima, tão feios - respondia, a tentar irritá-lo.
- Neste caso, acho que é justo eu retribuir no mesmo nível! - diz o jovem, para depois retirar o óculos da face e colocá-lo no bolso do seu sobretudo, revelando seus profundos e sombrios olhos castanhos. - Cada um de nós esconde a tristeza de sua própria maneira, eu escolhi esses óculos, do mesmo jeito que você escolheu esconder aqueles papéis no cemitério! - diz o rapaz, enquanto fixa seus olhos nos da jovem. - Eu não estou aqui para julgá-la, apenas espero que você se torne mais “amigável” comigo! _termina o rapaz com sinceridade.
Harima estava realmente confusa. Não esperava aquela reação, sinceramente pensava que ele se cansasse dela e a deixasse em paz. Aquela situação parecia que ia arrastar-se por um tempo, e isto a preocupava. Não entendia porque alguém gostaria de deixá-la confortável. Tentou deixá-lo irritado, mas não parecia ter efeito. Odiava pensar que pudesse ser tão transparente a ponto de um desconhecido conhecer o que poderia estar acontecendo com ela, algo que ainda estava além de sua própria compreensão. Temia o que pudesse acontecer consigo quando alguém não a visse com olhar de medo, mas de solidariedade.
Vendo que a garota parecia estar realmente perdida em seus pensamentos, talvez por ter ouvido tantas coisas que ela julgava ser indiferente até então, Brian resolve pedir a conta. Obviamente, ela saiu mais cara do que ele imaginava, mas tal fato não era um problema, pois ele conseguiu ao menos fazer com que Harima o olhasse com outros olhares que não os de ódio e fúria. Então, o rapaz se levanta e depois estende a mão para a jovem, no intuito de ajuda-la a se levantar:
- Não pense nisto como gesto de fraqueza, estou apenas a ser cordial com a minha “namorada”! - diz o rapaz com um sorriso discreto.
- Sei levantar-me sozinha - respondia ela, ignorando o gesto. Suas bochechas começavam a arder um pouco, e portanto, ela virou rapidamente suas costas.
Vendo que a bela Harima está saindo, Brian pega ela pelo ombro direito e virando-lhe, rouba-lhe um beijo quente e profundo, tirando qualquer reação da jovem. Surpresa, ela não conseguia decidir se batia nele por causa daquilo, ou apenas deixava acontecer, visto as boas sensações que alastravam-se em seu corpo. Seus pulmões clamavam por mais ar e foi então que ela abriu os olhos e percebeu todos os clientes e funcionários a olharem para eles, ali no meio do estabelecimento; uns pareciam horrorizados, enquanto outros achavam romântico, e mais uns terceiros ainda pareciam apenas um pouco perplexos. Rubra de vergonha, ela dava um leve empurrão no sunanin para conseguir libertar-se de seu abraço, dando velozes e nervosos passos em direção à saída. Brian logo alcançou-a e pegou seu braço sem licença, deixando-o confortavelmente apoiado no seu enquanto caminhavam já na rua:
- Mas o que é isso? Já não bastou aquela cena ridícula no restaurante? - o desejo dela era de a frase saísse num tom irritado e hostil, mas saíra mais doce que se ela estivesse agradecendo por algo.
- Ora, estou a ser cavalheiro. - respondia o jounin, sem cerimônias.
- Então beijar os outros repentinamente agora é cavalheirismo?! - ela inquiria.
- Eu não estou beijando uma qualquer, e sim a garota que eu gosto! - ele parou de repente, ficando agora de frente à ela.
Silêncio. Um vento mais forte soprara, balançando os cabelos imensos de Harima e soltando-lhe a fita presa frouxamente na ponta da trança. Esta dançava no ar, sendo amparada pela mão do Borges, que ao ver que as longas madeixas cobriam a face da jovem, as coloca atrás de sua cabeça:
- Por mais que seu cabelo seja bonito, não os deixe cobrir seus olhos, pois eles são ainda mais lindos! - diz Brian demonstrando uma estranha calma na sua voz.
- Os seus também... - ela sussurrara, na verdade sendo mais um pensamento revertido em palavras que exatamente uma frase. Que Brian estava perto o suficiente para ouvir.
- Então assim está melhor para você? - ele perguntava, olhando fixamente sem seus óculos para a gennin, com um sorriso divertido no rosto - Você não precisa dizer nada, apenas... Vamos apreciar o momento! - diz o jovem, que a ver que Harima parece ter ficado sem o que falar.
Ele foi aproximando seu rosto do dela bem devagar, um movimento que a garota parecia não querer esquivar desta vez. Então, os seus rostos se tocaram e eles acabaram por selar um novo beijo, sendo agora mais demorado, já que tinha o consentimento de ambos. Em vez de debater-se para soltar-se do abraço do rapaz, a kirinin apertava-se ainda mais em seu peito, agarrando-se às suas mangas, enquanto Brian descia as mãos para sua cintura, puxando-a para mais perto de si. Este beijo fora mais longo e terno que os anteriores, e também seu fim fora diferente, já que inesperadamente, Harima não parecia arredia, pelo menos até então:
- Bem, vamos para sua casa agora, certo? - ele perguntava sem esperar resposta, puxando a mão sadia da garota.
- Nã... O que... O que pensas que queres?! O que vais fazer?! - perguntava, retomando a postura defensiva e completamente nervosa.
- Ora, te acompanhar até em casa. O que há de errado? - ele perguntava sinceramente, sem notar o sentido oculto que estava assustando a kunoichi. - Ainda tenho que voltar ao meu hotel, então vou logo te deixar na sua casa. - ele respondia, ainda sem entender.
Ela não respondeu, ruborizou de vergonha pelos maus pensamentos e deixou-se ser conduzida até seu lar em companhia do jounin. Ao despedir-se, ele deu-lhe um modesto beijo na bochecha esquerda, embora em seu íntimo, Harima quisesse bem mais que aquilo. Separaram-se, ele tomando o caminho de volta ao centro, onde ficava seu hotel, e ela a trancar sua residência para ir dormir. Ao fechar a porta principal, encostou-se nela e deixou-se escorregar até o chão, sentando-se neste. O que era aquilo? Aquela estranha sensação, que apesar de desconhecida, fazia-lhe... tão bem? Mais adiante, o jovem Borges pensava em algo semelhante: o que tinha aquela garota de tão especial, para fazer seu coração ficar tão... descompassado?
Fim?