Paz
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" Mágoa e raiva é um veneno que se toma acreditando que o outro é que irá sofrer. "
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- Anteriormente...:
— Não conheces o mundo homem, por isto não reconheces nada aqui. Não conheces a si mesmo e por isto dúvida de si mesmo a ponto de achar que você está louco. Antes de sair da caverna, deveria conhecer-te a ti próprio. — proferiu um velho vestido numa túnica branca adornada com fios de ouro. No mesmo instante, a águia retornou a executar o seu estrondoso piar e assim se virou na direção do horizonte após me lançar o olhar mais profundo que eu já sentira em minha vida, e então tudo desmoronou e desapareceu.
— Alô? Ei? Está ai? — dizia Osamu repetidamente a estalar os dedos a alguns centímetros de minhas vistas. Rebati sua mão e me dei conta de que estava em pé, olhando o livro dele que agora tinham letras que se revelavam pouco a pouco.
— Deixa-me em paz! — gritei para ele, me afastando alguns metros e mergulhando em meus pensamentos, até ser interrompido.
— Prontos? Vamos! — quem se manifestou desta vez foi Emi, com uma mochila nas costas e com Chikako ao seu lado, como sempre calado, tímido e introspectivo.
— Está atrasada. — falei num tom acusatório para a jounnin.
— Estava me despedindo de Inoue. — retrucou num tom seco forçado, virando suas costas e saindo pelo portão da vila, seguido por Chikako e Osamu.
Já havia se passado três dias, três dias de puro silêncio sepulcral e nada reconfortante. Estávamos na capital do País da Geada já (faz fronteira com o País do Relâmpago), graças aos pedidos de Emi para apressarmos o passo e chegarmos logo no nosso destino que estava sendo bloqueado por um outro país. Havíamos acampado num bosque, próximo à cidade por falta de dinheiro e eu havia sido encarregado de caçar hoje à noite.
— Leve Osamu com você. — indicou Emi, sem qualquer emoção em sua voz a mulher riscava alguns gravetos e rapidamente produzia fogo, alimentando com sopros sincronizados enquanto colocava mais galhos secos. Chikako andava de lá para cá com alguns itens na mão, parecia estar montando uma barraca.
— Certo. Vamos. — respondi sem emoção alguma em meu tom de voz também. O substituto ergueu-se de um toco de madeira e retirou a espada das costas, deixando-a aos cuidados de Chikako para então me seguir para o fundo da floresta.
— Tome. Preciso que arme algumas armadilhas para pegar alguns coelhos, talvez uma raposa até. — falei entregando alguns metros de fios de aço para este armar as armadilhas nos locais de alimentação de pequenos roedores e raposas.
— Certo. Hmmm, éer... Por que não pede desculpas a ela? — sugeriu num tom gentil e calmo, diferente do típico tom brincalhão e zombeteiro. Uma curiosidade despertou em mim, mas a contive por segurança.
— E por que se importa com isto? — inquiri de maneira curiosa.
— Somos uma equipe, por mais que você tente se convencer que não, é o que somos afinal. Veja bem, não conheci aquela garota da sua equipe e que você tanto gosta, o que posso fazer aqui é tentar suprir o número que falta enquanto ela não volta. E até o retorno dela, brigar assim com sua sensei só vai piorar ainda mais a relação de vocês, não só com Emi mas com o Chikako também. — retrucou de maneira calma e gentil, olhando para a lua que atravessava a copa das árvores. Ele riu ao observar o vermelhidão em minhas bochechas, eu sabia disso pois também senti uma quentura brotar nelas.
— Tem razão, ér... Me, desculpe por dizer que você não é nada e que é apenas um objeto de substituição... Acho que exagerei... — retruquei, ainda mais envergonhado, mas aliviado um pouco. Estendi minha mão em um cumprimento amigável, ele a pegou com a sua e apertamos selando uma trégua e pedido de desculpas.
— Certo... Érr melhor irmos fazer o que viemos fazer, boa sorte! — disse, retirando um scroll de dentro de minha couraça de couro e abrindo-o, invocando um arco e uma aljava com flechas.
— Boa sorte! — disse sorridente, sumindo num shunshin. Coloquei a flecha no cordão do arco e saltando para um galho, comecei a examinar os rastros contidos ali no chão na esperança de encontrar uma trilha de pegadas de javali ou de uma raposa. Não demorou até um rastro aparecer, concentrei-me na densidade e pressão aplicadas no passo tentando distinguir se este estava simplesmente a perambular pelo local ou se estava a correr e fugindo de algum predador além de mim, imediatamente notei que era apenas uma passeata tranquila. A pegada já fazia algum tempo, talvez quinze minutos. Saltando para o galho novamente, seguida a trilha cuidadosamente, sempre mantendo os olhos no "horizonte" e o arco armado.
O ruído de patas chegou aos meus tímpanos, rápido como relâmpagos. Ergui o arco e agucei as vistas, puxando o cordão da arma e me preparando para atirar assim que localizasse minha presa. Uma brisa soprou em minha retaguarda, seguido por um baque quase inaudível se não fosse pelo silêncio da natureza. Virei-me repentinamente, flexionando a perna esquerda – e consequentemente me abaixando -, direcionando o arco contra aquele ser encapuzado que reconheci imediatamente.
— Akio... O que lhe traz aqui? — perguntei com arco erguido contra este.
— Poderia abaixar o arco enquanto conversamos? Vim lhe trazer um aviso. — respondeu calmamente, diferente de seu tom sempre intenso, teatral e eloquente. Abaixei a arma gradativamente embora mantive a flecha no cordão.
— Pois bem. Recebemos a informação de que a Hermandad pretende emboscar o irmão do daimyo do País do Arroz, o que você irá escoltar junto de outros ninjas. — disse num tom extremamente sério, entregando-me um scroll com uma fita que continha o símbolo da Liga das Sombras.
— Obrigado... Então isto é mal, devo avisar os outros e enviar uma mensagem à Oto pedindo para dobrarem o grupo de escolta. — respondi, abrindo o scroll e analisando os dados contidos nele, que continham fotos e um pequeno mapa com os principais pontos vulneráveis do trajeto que tomaríamos.
— Você não entendeu ainda né? Não podes contatá-los desse jeito. Eles pediriam provas e isso significa que você teria de se expor para eles e consequentemente expor a Ordem. Segunda regra: Nunca expor a ordem. — retrucou seriamente.
— Mas se eu não avisá-los eles vão conseguir eu creio, afinal eles tem o elemento surpresa ao lado deles. — disse pensativo, analisando as informações do scroll que este me entregara.
— Este é o ponto, precisamos de você. Deixar o irmão do daimyo ser morto ou raptado abre uma brecha política, quem não ficaria tentado em atacar ou ferir o governo de um daimyo abalado emocionalmente pela morte de seu querido irmão? — levantou sabiamente, aproximando-se ao meu lado e indicando alguns dados no scroll.
— Mas as nações estão em paz nesse momento. — proferi de maneira firme.
— As principais nações estão em paz com as principais nações...Suna e Konoha... Konoha e Kumo... Konoha e Iwa e vice-versa.. Não significa que Konoha hesitaria em atacar Oto ou que Kumo hesitaria em atacar Oto. Ao curto prazo todos estão em paz, mas quando o poder passa de uma para outro vê-se uma fragilidade, mesmo que passageira, e quando um país quer espalhar sua hegemonia ele não mediria esforços para destruir o inimigo. Isso é política garoto, é assim que o mundo funciona. — retrucou com tom intenso em seu timbre, indicando as posições políticas contidas no pergaminho que me entregara.
— Mesmo assim, não acho que Naruto, Gaara, Darui ou Okashi atacaria assim. — respondi ingenuamente, sim, mas era nisso que acreditava no momento. As guerras e sede de poder tinham cessado, pelo menos por parte das Cinco Grandes Nações Ninjas.
— Quantos kages surgiram e foram considerados a luz no fim do túnel?! Veja bem, não estou dizendo exatamente que eles atacariam por decisão deles, mas os kages estão sujeitos aos conselheiros da aldeia e estes conselheiros estão sujeitos aos interesses do daimyo também. Os senhores feudais não ligam muito para os países menores, exceto quando precisam de um acordo comercial ou de ajuda financeira. É ingenuidade achar que o kage detém todo o poder político de um país. — discursou, colocando seus pontos relevantes, fazendo-me pensar no assunto.
— Entendo, mesmo assim o que quer que eu faça afinal? Mate os emboscadores? Minha equipe vai perceber e vai fazer perguntas, vão perguntar-se porque eu os matei em vez de deixá-los vivos e conseguir respostas, ainda mais agora com a situação do jeito que está... — a situação que me referia era a situação hostil que permeava minha relação com minha sensei.
— Tens todas as informações que precisa, sei que pensará em algo, é talentoso, afinal não estaria conosco se não o fosse. — retrucou, apertando meu ombro num gesto incentivador.
— Certo vou tentar pensar em... País do Ferro? — exclamei, notando de onde a informação partira.
- Citação :
- ... Andei investigando um regimento de samurais do País do Ferro, descobri que estão sendo agenciado por um membro da La Hermandad que ainda permanece oculto de minhas investigações, ele é bom, sabe evitar identificação. O regimento compõe um grupo de cinco samurais, convocados para rastrearem a rota e raptar o irmão do senhor feudal...
— Algum problema? — inquiriu o encapuzado, curioso.
— Não, não esperava que fossem samurais... Obrigado pelo aviso! Pensarei em algo. — disse agradecendo pelo scroll. Selei o item com a fita e guardei dentro das vestes, levantando-me, selei o arco no devido makimono e apertamos as mãos e ambos desaparecemos do local logo em seguida (Shunshin no Jutsu).Continua . . .