Acordei com o aroma de Shiemi a rondar o quarto, mas ela não estava ali, era só mais um sonho. Geralmente não acordo animada, mas hoje era o dobro de desanimo, pois até o fim do dia estarei em uma equipe de gennins e isso era horrível. Não preciso de uma equipe, na pior das hipóteses de um sensei e de Shiemi, mas é só, estava claro que mais um ninja só iria atrapalhar. Continuei na cama, relutando, por pelo menos uns vinte minutos, até que levantei. O dia parecia comum, muita neblida, clima úmido, fresco e com um ralo vento. O sensei da academia havia informado, na semana anterior, que o encontro seria na casa do novo sensei, mas que ocorreria um pequeno teste para provarem que mereciam tê-lo como mestre. Os outros membros da equipe já haviam sido mencionados e por sorte Shiemi era uma das participantes. O outro, Igarashi, era apenas um idiota da academia que gostava de bancar o herói, o que me fazia desejar ainda menos que isso fosse verdade.
Demorei pra chegar ao local marcado, parte disso foi a falta de vontade, que me fez perder tempo observando as árvores e os campos verdes da vila, outra parte foi o a distância, que era grande da minha casa até o local, que ficava afastada do centro da vila. Logo avistei Shiemi, acenando com as mãos e com seu grande sorriso, ao seu lado, estava o outro gennin, também sorrindo e acenando, o que era estranho, pois nunca demonstrei afeto com o mesmo.
- Nah, Utena-kun, demorou muito pra chegar, e no bilhete do novo sensei está grafado que ele só iria aparecer quando todos estivessem presentes. – Disse o garoto, ainda esboçando um sorriso mesmo com a advertência. Ele usava uma espécie de colete de ninja azul claro e uma calça azul escura, que era diferente dos teus trajes da academia, que eram recheados de tons variantes do branco ao preto. Seu cabelo permanecia o mesmo, um grande topete preto que por mais que esboçasse desleixo, tinha um brilho diferente. Antes que pude responder, o barulho do grande portão preto se abrindo me interrompeu e podemos entrar no espaço terreno da casa, que mais parecia uma mansão barroca preenchida por marrom e bege, cores que sinceramente não me agradam. Shiemi se agarrou ao meu braço e pude sentir o mesmo cheiro que cobria meu quarto. Ela não estava assustada, acho que só quis que eu tomasse a iniciativa e a carregasse. Usava os compridos cabelos brancos soltos ao vento, uma regata branca e uma jaqueta cinza, com seu leque preso nas costas. Acompanhei a sugestão dela e fui entrando em direção da casa, mas nessa altura, Igarashi já estava quase na porta da mansão.
- Achei que vocês iriam me fazer esperar mais. De antemão já aviso que devido a isso, vocês terão um longo dia de faxina. – Disse um homem saindo da casa. – Sou Ryuji, seu novo sensei, e vocês são a equipe de número 18. – Ryuji terminou a frase fazendo um aceno, com um simples sorriso de canto. Parecia ser muito jovem para ser um jounnin, talvez por não usar barbas e ter um cabelo comprido como o de Shiemi, mas pretos como sangue coagulado. Antes que algum dos gennins pudessem se apresentar, ele tirou de dentro da casa três esfregões, baldes e panos, entregando um trio de cada para cada jovem, dizendo o nome dos mesmos ao entregar. – Cada um de vocês ficam com uma parte da casa, estarei aqui fora lendo e espero que antes do sol se por vocês tenham terminado. Boa sorte. – Concluiu, sumindo numa fumaça branca e deixando o resto para os gennins.
- Nah, como serei um grande ninja perdendo um dia limpando casa? Eu quero treinar poxa. – Reclamava Igarashi, repetindo a frase por diversas vezes, mas se adentrando no interior da casa, já limpando o chão do piso inferior. Cada cômodo era iluminado por três velas e a casa era inda maior por dentro, nos fazendo dividir a limpeza em três metades do piso inferior para o rapaz, duas do superior para Shiemi, a última do superior e todos os banheiros para mim. Não fiquei muito perto de nenhum dos dois, pra não falar e acabar reclamando demais, por diversos motivos, até porque eu tinha certeza que logo iriam me culpar pela tarefa, por mais que eu achasse que o sensei faria isso de qualquer forma, pois a mansão estava imunda.
Demoramos boa parte do dia pra limpar grande parte da casa, deixando de lado apenas o porão, que descobrimos por acidente. Felizmente, por mais chato que foi limpar tudo, foram poucas às vezes que esbarrei com Shiemi e prestei atenção nos gritos e barulhos de Igarashi. Ele foi o que mais demorou, pois sempre derrubava as coisas e tinha que refazer o trabalho. Mais uma vez estávamos juntos, os três, só que completamente cansados, na frente do grande e empoeirado porão. Levamos algumas velas para iluminar o local, já que o sol estava cada vez mais fraco e o ambiente possuía poucas janelas. Senti que algo estava errado, mas estávamos tão empolgados pro fim da tarefa que entramos sem nos preocuparmos no misterioso ambiente, sendo surpreendidos por algo realmente ruim.
Como Igarashi insistia em ir à frente, foi o primeiro a sofrer. Não consegui ver muita coisa e nem ouvir, pois Shiemi gritou no momento em que as velas se apagaram e Igarashi foi rebatido com força para a extremidade direita do local. Pude ouvir barulho de correntes e o menino dizendo para irmos atrás do sensei. – Ryuji! Ryuji-sensei! – Gritei, subindo com pressa as escadas e agarrando o único que candelabro que possuía velas acesas, estando bem no topo da escadaria. Senti meus músculos contorcerem e minha respiração estava ofegante, afinal o dia tinha sido cansativo, mas não tinha tempo pra pensar nisso. Antes de continuar o percurso até a saída da mansão, ouvi os gritos de Shiemi e o barulho do seu corpo indo de encontro à madeira. – Droga. SENSEI! – Exclamei, voltando para o porão. Meu corpo tremia e não era desgaste físico. A primeira coisa que vi foi o corpo da minha amiga no chão e um grande monstro atrás da mesma. A princípio parecia um urso, mas tinha uma cara de lobo e babava como um leão atrás de uma presa. Coloquei o candelabro no primeiro criado mudo que vi e me armei com as tonfas que estavam presas em minhas costas. – Fique longe dela, seu monstro! – Esbocei minha raiva dando passos a frente e girando os bastões, indo de encontro com a possível quimera, mas hesitei. “Droga Utena, mova-se. É a Shiemi quem está em perigo, você jurou protegê-la, mova-se!” Eu não conseguia me mover e não sabia se era medo ou um sentimento pior, chorava como a muito tempo não fazia, quando voltei a mim com a investida do monstro seguida por um uivo.
Fechei os olhos evitando presenciar o pior que estava por vir, mas não fui atacada. – Você não vai machucar mais nenhuma companheira da minha equipe, seu verme. – Igarashi estava a minha frente, parando o monstro com o corpo, seu braço esquerdo sangrava e era imobilizado pelas presas da fera. Havia escapado das correntes com um Nawanuke no Jutsu e mesmo com a dor que parecia estar sentindo, levantou a perna e atacou o monstro com um chute no peito, fazendo o mesmo recuar e levar consigo um pouco de pele e sangue nos dentes, do braço do gennin. Eu estava devastada, agora sentada sobre minhas pernas, tentando pensar no que estava acontecendo, ali e em minha cabeça. – Utena-chan, não se preocupe, eu te protejo. – Disse Igarashi, sem tirar os olhos da fera que para nossa surpresa se transformou em uma fumaça branca.
- Eu esperava mais de vocês, para serem minha equipe, mas o heroísmo de Igarashi aprovou vocês no teste, não precisam mais se preocupar. – Disse Ryuji, saindo da fumaça, nos deixando mais tranqüilos e ao mesmo tempo, mais irritados. – Bem Utena, cuide dos ferimentos dos outros dois e vão jantar e dormir, amanhã eu não pegarei tão leve. Espero vocês antes do sol nascer. – Ryuji dizia, não mostrando qualquer preocupação com os pequenos ninjas e saindo do local. Corri até Shiemi, erguendo sua cabeça e colocando no meu colo, tentando me desculpar. Ela já estava recobrando a consciência e mesmo naquelas condições, sorria. – Me desculpe Shiemi, eu não sou forte como finjo ser. – Minhas lágrimas molhavam o rosto da garota que só acariciava minhas mãos. – Você está comigo agora, isso que importa.
OFF: Bom desculpem qualquer coisa, não sou muito bom na escrita e estava tudo confuso entre primeira pessoa e terceira pessoa, aí tentei escrever tudo em primeira e acabou por ficar extenso demais. Espero que agrade e que mostre um pouco sobre a história da minha personagem.