Um novo rumo toma conta da vida de Lan! O rapaz recostou-se sobre o parapeito da janela. A carruagem molambenta titubeava na estrada de terra mal nivelada. O rosto do garoto oscila entre a luz do luar e a escuridão do interior do transporte. Seu rosto severo observava cautelosamente o caminho que seguia. O trepidar constante pelo buracos faziam o ninja chacoalhar de um lado para o outro no assento. Sua jornada estava prestes a terminar, ele sabia disso pois já havia passado por ali a muitos anos atrás e jamais esqueceria aquela trajetória tão tortuosa que tivera que passar após sua fuga de casa.
Espero que ela esteja lá. Pensou Lan, referindo-se a sua mãe. Ele acabara de adentrar uma das áreas pertencentes a Vila da Folha, uma área pouco visitada por pessoas, logo era mais segura para o reencontro que iria ter com sua amada mãe. Planejara por meses o seu caminho para chegar até ali, calculara os possíveis acontecimentos no caminho e no momento do encontro. Estava realmente preparado para tudo, precaução nunca fora demasiada quando se trata de um ninja renegado adentrando uma das mais poderosas vilas de todo o mundo. Eu sei que ela estará lá. Permitiu-se um breve momento de delírio. Um forte calor cobriu seu peito, sua mente distanciou-se por um agonizante momento de lembranças. Estava estático a olhar para o nada, relembrando as vagas memórias que tinha de sua mãe e de sua convivência naquele local. Apesar dos quinze anos que passara ali lhe restavam poucas memórias, a maioria das coisas que tinha em mente eram apenas as judiações de seu pai.
— Senhor, nós chegamos. — disse o homem que dirigira a precária carruagem até ali. Lan não o respondeu, permanecia estático enquanto olhava para fora da janela. — Senhor? — pigarreou o homem na tentativa de trazer o rapaz de volta a realidade.
— Perdão, estava apenas colocando as ideias no lugar. — respondeu Lan em um solavanco involuntário do corpo demonstrando que ele havia “voltado” para o seu corpo. — Sabes o que fazer. Eu irei até lá, se em vinte minutos não retornar parta sem mim. — ordenou o ninja projetando-se para fora do transporte.
Ao pisar no solo uma pequena nuvem de poeira avermelhada ergueu-se. Ele conhecia aquele local, cansara de treinar por ali, mas isto havia sido a muitos anos atrás, hoje era o palco do seu reencontro com uma das pessoas mais importantes de sua vida. Melhor apressar-me, não terei muito tempo para conversar com ela, apenas a direi o necessário. Caminhou apressadamente em direção a mata, seguindo por uma trilha de bandeiras pretas com o símbolo dos Uchiha estampado nelas. Não acredito que essas coisas ainda estejam por aqui. Dizia ele internamente referindo-se as bandeiras que a tempos ele mesmo havia implantado no solo. Mas tinha algo curioso nelas, algo que ele estranhou no momento em que as avistou. Estavam novas, como se tivessem sido colocadas a poucas horas atrás. Isto já não era um bom sinal. O ninja ficou em alerta, ouvidos bem aberto e olhos que movimentavam-se velozmente de um lado para o outro tentando captar alguma outra informação estranha no local. Aparentemente não havia mais nada de diferente, nada lhe chamara a atenção naquele ponto, todavia sua parcela de cautela tinha que ser aumentada, não poderia dar-se o luxo de ser pego naquele momento, haviam tantas coisas que ainda devia fazer em sua vida. Eles não vão me capturar se é o que pensam.
Além das árvores havia um pequeno pasto com grama rala e uma pequena casa de tijolos velhos e madeira podre. Desempenhando sua caminhada em passos curtos, porém muito bem espaçados fazendo com que o ritmo do andar fosse corriqueiro. Aproximou-se da casa e então deu sua ultima olhada ao redor. Diga que não armou para mim mãe, você é a ultima pessoa que eu confio neste mundo. Seus olhos de fecharam por um instante, ele sentiu o peso da duvida sobre suas costas, como se algo pesado tivesse sido lançado em seus ombros para ele carregar. Existiam sensações piores do que aquela, entretanto o fato de desconfiar da única pessoa que ainda tinha esperanças de estar ao seu lado não é algo fácil de lidar, ainda mais quando esta pessoa é sua própria mãe. A respiração descompassada, a forma irregular de expansão e contração do abdômen conforme respirava demonstrava claramente sua agonia e preocupação com a situação. Eu espero muito estar errado. Foram seus últimos pensamentos antes de cometer a maior burrada de sua vida.
Ao tocar a maçaneta enferrujada da porta e gira-la algo aconteceu. Além do rangido estridente da porta abrindo-se ouve uma explosão. Chamas se propagaram de dentro da casa e lançaram a porta e o ninja para o outro lado do campo. Ele bateu com a cabeça em uma árvore. Seus olhos estavam semi-abertos, sua visão era turva e não conseguia pensar em mais nada a partir daquele momento. A única coisa que conseguia ouvir era as batidas aceleradas de seu coração. Por um instante conseguiu mover sua cabeça para baixo e avistou seu corpo coberto por sangue. Havia um pedaço da porta que atravessara sua perna direita. A dor era grande, porém ele nem sequer conseguia esboçar tal sentimento. Nenhum movimento de seu corpo era correspondido corretamente, ele estava imóvel e indefeso. A duras penas conseguiu reerguer seu olhar para o campo a sua frente, algumas pessoas estavam vindo em sua direção. Vestidos como ninjas da Folha, porém com o símbolo dos Uchiha estampado no lado esquerdo de suas vestimentas, na parte superior do tórax.
— Você é mesmo tolo de voltar aqui após quatro anos. — proferiu o homem à frente do grupo. Sua voz rouca continha uma grande contingente de raiva, era perceptível isto a qualquer um que o ouvisse, contudo para Lan era ainda mais notável. Ele jamais esqueceria aquela voz, desde pequeno ele aprendera a odiar o dono dela.
Era Gensai, pai do nukenin. Ele trazia consigo mais alguns homens, aparentemente fortes ninjas prontos para o combate. Por um instante o garoto oscilara entre a vida e a morte. Seus olhos se fecharam e sua respiração por alguns segundos, poucos, havia parado. Foi reanimado por um impacto forte no tórax que o fez despertar de imediato. Olhou por mais alguns segundo para seu pai e os homens que o acompanhavam e então sua visão tornou-se nebulosa, ele não conseguia ver mais absolutamente nada. Mas ele ouviu gritos. Passos pesados e som do atrito de metais se chocando em pleno ar. Nada ele podia fazer, nem sequer mover-se podia, sua visão parecia ter-lhe abandonado, o que lhe restava era desejar que suas precauções estivessem sendo efetivadas.
Em um breve instante sua visão retornou e a única cena que viu foi um homem vestindo um manto negro junto a algumas outras pessoas acabavam de matar os Uchihas, aparentemente o pai de Lan não estava ali, pois não via ninguém de cabelos grandes caído ao chão. Antes de apagar de uma vez sentiu uma mão em seu ombro e uma voz feminina a falar-lhe no ouvido.
— Vai ficar tudo bem. — dizia a misteriosa voz da mulher.
Então o rapaz desmaiou. Não havia falecido, porém encontrava-se inconsciente. Os estranhos encapuzados vieram até seu corpo e o tiraram dos destroços. O ergueram pelos braços e o carregaram para dentro da floresta deixando os corpos dos ninjas da Folha ao chão junto aos destroços da velha casa abandonada.