A chegada!

Ofegantes, os dois Imagawa`s pararam em frente a uma placa retangular de madeira, segurada por dois postes do mesmo material que anunciavam a aproximação de uma vila: "Cha no Kuni". Katsu leu-a, satisfeito por terem finalmente chegado e desejoso de encontrar alguma cama para poder descansar ou uma casa-de-banho para um duche, enquanto que Sekima apressou-se a avisar o seu pai do que ele já sabia.
- Papi, papi, Cha no Kuni! - Gritou toda emocionada, segurando num dos dedos do seu pai e puxando-o consigo, fazendo toda a força que ela tinha - Vamos! Quero comer alguma coisa!
O Akatsuki acabou por ceder, olhando para o horizonte e vendo que o sol começava a mostrar os seus primeiros raios de luz. Se se deitassem àquela hora acabariam por acordar demasiado tarde, mas teria de ser. Olhando para as costas da sua filha, que ainda o puxava julgando que ajudava em alguma coisa, notou como ela também estava um tanto ofegante por terem forçado marcha.
Quando chegaram à vila em concreto, às suas construções rústicas e essencialmente compostas de madeira (excetuando os edifícios modernizados que já ostentavam uma estrutura mais sólida e resistente com pedra, embora raros), repararam como a própria vila pareceu acordar aquando o sol. As pessoas saíam das suas casas e apressavam-se nos seus afazeres enquanto outras apenas para respirar um pouco do ar puro (que era incrivelmente ótimo) e esticar um pouco as pernas. Surpreso como aquele sítio lembrava-lhe o Acampamento Imagawa, sem conseguir perceber bem as razões, o braço de Katsu foi agarrado fortemente por um desconhecido. Virando-se para ele, não apreciando a forma como estava a ser agarrado, deparou-se com um homem de bigode, vestido com uma armadura de aço e um elmo pontiagudo quadrangular, que não cobria qualquer parte da cara do seu portador. Dois olhos castanhos, com olheiras enormes, fitaram Katsu.
- Perdão, senhor. Deve estar a dirigir-se para o Torneio de Todos os Ranks, correto? - Perguntou com bastante educação, observando de seguida as roupas do Imagawa, principalmente o seu manto negro com nuvens vermelhas, provavelmente o que lhe atraiu a atenção e o levou a falar com o Akatsuki.
Nervoso pela situação e que estava, Katsu olhou para o lado e viu que Sekima não estava minimamente atenta à conversa, olhando para as pessoas que por ela passavam e sorrindo-lhes docemente. As que notavam a disposição da pequena, sorriam-lhe e cumprimentavam-na. Com o coração a bater, o Imagawa respirou profundamente e tentou agir com a despreocupação da sua filha. Era um Nukenin como uma alta recompensa, mas teria de confiar nas palavras da sua líder.
- Sim, estou inscrito no torneio. Sinceramente não sei para onde tenho de ir ou o que fazer, portanto uma ajuda vinha mesmo a calhar... - Pediu, embora ainda bastante relutante a falar de forma tão confortável com alguém que podia simplesmente chamar um esquadrão enorme e tentar prendê-lo.
O guarda acenou com a cabeça afirmativamente, bocejando de seguida durante um longo tempo. Aquele bocejo fez com que Katsu imitasse a ação, relembrando-se de quanto sono tinha e notando que provavelmente as suas olheiras estavam tão ou piores que as daquele homem.
- O senhor deve dirigir-se ao edifício municipal, no centro da vila. Não é muito complicado de lá chegar já que ele é dos maiores de Cha no Kuni. Uma vez lá dentro basta conversar com um dos responsáveis pelo evento - Respondeu quase que mecanicamente, talvez por já ter dado aquelas indicações a muitos outros estrangeiros que cruzaram os mesmos portões à procura do mesmo objetivo - Agora, se não tem nenhuma outra questão, permita-me retornar para o meu posto!
Numa curta e desajeitada vénia, o segurança lá voltou para a sua posição, perto da placa segurada pelos dois postes de Cha no Kuni. Confiante que acabaria por encontrar-se com o falado edifício municipal, Katsu murmurou o nome da sua filha e seguiu viagem, tendo a pequena sempre a acompanhá-lo, embora um pouco mais lenta devido ao seu cansaço. O sol erguia-se a seu tempo e a temperatura na vila começou a aumentar consideravelmente, igual ao movimento das suas ruas que, com tantos acontecimentos importantes, estavam lotadas. Neste tempo em que caminhava, se desviava dos transeuntes e tentava passar despercebido, Katsu relembrava-se de Tsutao quando vivia em Konoha e como adorava a sua vila. Obviamente que Konoha aparentava mais riqueza e era muito maior que Cha no Kuni, mas esta última tinha as suas regalias, principalmente o seu ambiente tão natural e refrescante para um Imagawa.
Após uns longos minutos para as pernas exaustas de pai e filha, deram por fim com o edifício municipal. Abraçando-se à perna do seu pai e não controlando um bocejo, Sekima resmungou e implorou pela sua necessidade de uma cama, afirmando como não aguentava caminhar nem mais um passo. Suspirando e tentando controlar os nervos por ainda não ter descansado, Katsu agarrou a pequena e colocou-a aos seus ombros, fazendo-a abraçar-se ao seu pescoço e a adormecer contra o seu longo cabelo, como se tratasse de uma almofada. Obrigado a conformar-se com aquele peso extra, deu um passo em frente e reparou que o edifício estava protegido por quatro guardas, distribuídos organizadamente à entrada num quadrado invisível, que não lhe prestaram atenção nem ao seu manto que o indicava ser um Akatsuki. Começando a habituar-se às peculiares tréguas daquele sítio, ninguém o impediu de entrar no edifício e subir algumas escadas, nem mesmo a secretária que parecia mais interessada na sua papelada do que no criminoso a caminhar confortavelmente à sua frente ou os dois pescadores que discutiam entre si assuntos económicos e outros temas que passavam despercebidos aos ouvidos atentos de Katsu. Depois de caminhar por algum tempo perdido naquela confusão de portas de madeira e pessoas atarefadas que não lhe davam qualquer atenção, encontrou uma pequena folha a indicar o seu destino: "Torneio de Todos os Ranks". Cada vez mais rezingão e indisposto pela falta de descanso, nem pensou duas vezes a abri-la e entrar na pequena sala rústica, constituída unicamente por uma larga mesa retangular de madeira com uma data de papelada na sua superfície, separando o Imagawa de duas cadeiras nas quais estavam sentados dois indivíduos, um homem alto de cabelos negros, com as duas pontas laterais a penderem-lhe sobre a face, e dois olhos de igual cor bastante intensos, e uma mulher com um cabelo estranho (a única palavra encontrada por Katsu para o descrever) loiro e um semblante um pouco mais tranquilizador. Não era necessário ser-se muito culto para reconhecer tanto o Uchiha Itachi, de Konoha, como Temari, de Suna.
"- Itachi..."
Uma tontura fez Katsu cambalear levemente, agarrando instintivamente as pernas de Sekima para que esta não caísse aquando a falta de equilíbrio. O movimento não passou despercebido aos dois responsáveis pelo evento, até então ocupados com os seus deveres, que se ergueram dos seus assentos e olharam para o homem de cabelos negros à sua frente com um misto de espanto e preocupação. Essas sensações depressa se substituíram por nervosismo quando reparam no seu manto de Akatsuki...
- Sou... o...
"- Itachi..."
Respirou profundamente e tentou acalmar-se. Aquelas tonturas eram o seu corpo a pedir urgentemente por descanso, algo que não podia negar durante muito mais tempo.
- Katsu Imagawa, líder da Akatsuki, e venho aqui para confirmar a minha presença no Torneio de Todos os Ranks! - Anunciou-se, conseguindo por fim recompor-se e manter uma postura firme e autoritária, digna de um verdadeiro líder da Akatsuki, mesmo que não o fosse - O que tenho de fazer?
Os dois Jounnin entre-olharam-se, também eles desconfortáveis com o assunto. No entanto, não tinham outra escolha a não ser cumprir com o protocolo. Voltando a sentar-se, Itachi vasculhou por entre toda aquela documentação um papel específico, que prontamente entregou para o Imagawa.
- Katsu Imagawa, fazes equipa com Ayame Midori! - Avisou, reconhecendo o nome da Kunoichi escrito no papel e perguntando-se se aquela junção iria resultar... - O vosso primeiro combate só começa para a semana, portanto recomendo que aproveitem esta para se conhecerem melhor e... fazerem o que têm a fazer! - O tom de dúvida da sua voz não passou despercebido ao sonolento Katsu - Temari?
- Tens aqui um pequeno documento que te garantirá a estadia num hotel próximo à arena. Estás registado como um participante do evento e terás direito a duas refeições por dia, almoço e jantar. A validade desta estadia caduca quando o torneio acabar para ti! - Explicou com uma voz forte e impressionante, assinando o papel antes de entregar para a mão do concorrente - Esperemos que seja do teu agrado e que te esforces bastante!
- Assim a tua confirmação foi aceite, Mais alguma coisa? - Falou Itachi, pousando ambos os cotovelos na mesa e pousando uma expressão atenta sobre as mãos.
O Imagawa acenou com a cabeça em negação, resmungando um agradecimento enquanto virava as costas e desaparecia do edifício municipal o mais rapidamente que lhe era possível. Sekima já dormia profundamente, invejando-a por conseguir dormir mesmo com tanto movimento e barulho naquelas ruas. Pegando no documento entregue por Temari, decorou o nome da localização e não demorou muito para encontrá-lo, para sua felicidade.
Olhando para a porta pela qual o líder da Akatsuki saíra, Itachi e Temari voltaram a fitar-se.
- Vou ter de falar com Naruto-sama... - Avisou o Uchiha, levantando-se e dirigindo-se para a saída - Aguentaste um pouco, Temari?
A loira acenou afirmativamente, encostando-se confortavelmente na sua cadeira e virando-a para a janela atrás de si, pela qual se podia ver o belo céu limpo de mais um dia caloroso em Cha no Kuni. Após a saída de Itachi, o seu semblante agravou-se mais um pouco. O que pretendia o líder da Akatsuki ao registar-se no torneio? Eles conseguiram agir naturalmente à sua frente, mas mesmo assim a situação era demasiado misteriosa para não ser investigada...

Abrindo as pesadas pálpebras, Katsu bocejou sonoramente, esticando os braços e consequentemente as omoplatas até qualquer coisa estalar para seu agrado. Levantando a cabeça, constatou que estava no seu quarto de hotel, algo rústico como tudo naquela vila, contendo apenas o essencial para a sua estadia. Levantando-se da cama, surpreendentemente confortável, dirigiu-se para a cozinha e sentiu o seu estômago a roncar, tal como o cheiro insuportável do seu suor. Pegando na primeira coisa que viu para comer, um par de maçãs do cesto pousado em cima da mesa, apressou-se a ir tomar um duche.
Do lado de fora do hotel, completamente entretida com a nova vila em que estava temporariamente a viver, Sekima parecia divertida e alegre com qualquer coisa. Cumprimentava educadamente todas as pessoas por que passava e não resistia a rir-se de emoção quando via qualquer tipo de animal (normalmente eram cães com os seus respetivos donos), pedindo gentilmente para lhes dar algumas carícias. Distraída no seu pequeno mundo e rindo por tudo e por nada, a criança pisou involuntariamente uma pequena pedra que a fez estatelar-se no chão arenoso, levantando uma mínima nuvem de poeira. Todas as pessoas repararam na pequena criança a cair, mas nenhuma pareceu disponível a ajudá-la...
- Estás bem? - Alguém perguntou num tom doce e gentil e uma mão estendeu-se. Levantando a cabeça, completamente coberta por pó, os olhos castanhos da Imagawa cruzaram-se com as esmeraldas da bela morena que se disponibilizou para a ajudar. Não recusando a sua prestabilidade, deixou que a adolescente a ajudasse, olhando depois para baixo e vendo que as suas roupas estavam todas as sujas - Chamo-me Ayame Midori! Estás mesmo bem?
Mesmo repetindo a pergunta, a miúda de cabelos grisalhos parecia não a ouvir. Se calhar era surda ou então estava demasiado envergonhada para responder. Nenhuma dessas razões lhe pareceu viável, pois ela fitava Ayame intensamente com um semblante pensativo, claramente a tentar lembrar-se de algo que estava na ponta da sua língua.
- AH! - Gritou a pequena por fim, apontando o seu indicador para a Midori, que se assustou com a súbita reação - Tu és a Ayame Midori?! És a nova amiga do papi!

CONTINUA...