Para que tinha servido tudo? Teria sido tudo em vão? Para quê? Poder? Vingança? Manter uma promessa? Terá sido tudo em vão? Tentava apoderar-me das respostas, caindo numa fossa sem fim, de níveo constante e incessante, infindável, imperecível e eterno, que tudo extinguia e assim desvaneci… Os sentidos eram me devolvidos, lentamente, ainda no branco interminável. Parecia que uma eternidade havia passado desde que tudo se apagara. Onde estaria? Olhei em volta, perdido, procurando algum sinal, um som ou uma direcção para seguir. Nada surgira… Mirei o branco vazio e infinito por um tempo que nunca conseguiria quantificar até que finalmente, algo, aliás, alguém, se revelou.
Uma figura masculina, alta e robusta, jovem e pálida e de cabelos compridos loiros, quase brancos. Tinha um nariz esguio e os olhos eram vermelhos, como os meus, com uma cicatriz que atravessava a área do olho esquerdo, sem que no entanto este tivesse ficado danificado. O sorriso, divertido e perverso, rasgava-lhe o rosto enquanto este me fitava. O instinto era perguntar-lhe quem era e onde estava, mas antes que conseguisse, este falou.
- Bem-vindo de volta! – disse ele.
- De volta?
- Hai. Não te lembras? – perguntou – Sei que está um pouco diferente, mas a presença deste local é a mesma.
- Não pode ser… O Kinen? – concluí – Isto quer dizer que fui recapturado pela Shinra?
- Não necessariamente... Apenas te encontras no Kinen que conquistaste, conseguiste vencê-lo e isto é o que sobra, a recompensa.
- Que é? – questionei.
- Para quem já a usou tanto, admira-me que não saibas?
Reflecti durante um bocado, tentando rever os momentos antecedentes a entrar de novo naquela dimensão misteriosa a que ele chamava de Kinen. Revi as minhas acções e o que se tinha passado e aí lembrei-me. Tinha quebrado a cápsula onde me tinham mantido refém, durante um espaço temporal que nem tinha tido a capacidade de determinar, com uma técnica de Raiton. Nunca tinha treinado ou aprendido qualquer técnica da natureza e no entanto tinha a utilizado com tanta naturalidade como se tivesse nascido com ela.
- Então o Raiton é a recompensa?
- Hai, em parte…
- O que é o resto? – a sua conversa deixava me bastante intrigado e queria saber mais e exactamente o que provinha de toda a experiência daquele sítio ou da situação na Shinra.
- Deixa cá ver como te vou explicar isto.. – fez uma breve pausa, com um ar meditativo no rosto e continuou – Raiden, o Deus do Trovão.
- Desculpa, não percebi…
- Eu, idiota, eu sou o Senhor do Trovão e fui selado no teu corpo por um tal de Kinju, em conjunto com uns quantos membros daquela organizaçãozita... Hmm, Shinra, acho eu.
- Boa piada – disse, com o rosto vazio de expressão nos seus traços – Agora a sério, vá.
- Eu não estou a gozar, seu cretino! – gritou. Nesse momento vários trovões caíram nas proximidades.
- Muito bem, sou todo ouvidos.
- Portanto, ganhaste uma nova habilidade. A maneira como te comportares irá decidir se continuas a receber as recompensas inerentes a esse poder.
- Portanto, se tu és o Deus do Trovão e eu dominei o Kinen… Significa que eu sou o Deus do Trovão.
- Insolente! Claro que não, ainda estás muito longe de seres comparável a mim. No entanto, podes vir a ser. Já reparei que partilhas o meu ódio pelo homenzinho que nos uniu com a técnica de selamento.
- Porque raio é que tu irias odiar o homem?
- Ele selou o Pai nele – respondeu num tom sério.
- O Pai?
- Hai. Izanagi…
A consciência voltava-me, trazendo também um tanto de dores. Sentia ligaduras à volta do torso, seguindo também para o braço direito. Abri os olhos e olhei em volta. Estava numa casa cujo aspecto era tradicional, pelo menos, no interior. Era bem decorada e acolhedora, e um aroma a chá verde pairava no ar. Usei o braço esquerdo para me apoiar e usando toda a minha força, tentei levantar-me, soltando um enorme grunhido enquanto tentava suportar o sofrimento. Todos os músculos do corpo se contraiam enquanto me esforçava para me sentar. Por fim, atingi o objectivo e de seguida, girei sobre mim mesmo, de modo a colocar os pés no chão e levantei-me da cama. Um passo de cada vez, cada um a seu tempo, lá ia avançando até à porta. Coloquei a mão sobre a porta e fi-la deslizar para a direita. Dei um passo em frente e então uma voz fez-se ouvir. Era mansa e gentil.
- Oh, acordaste, rapaz! Volta para a cama, ainda não estás recuperado! – disse-me o homenzinho baixinho, dono da tal voz, que surgia de outra divisão.
-
Dame…
- Jovem, não podes andar assim por aí!
O homem tentou agarrar-me o braço e eu apressei os meus passos, dando quatro até me espalhar ao comprido no chão. Puxou uma cadeira e ajudou-me a reerguer-me e sentou-me na cadeira.
- Já viste como tinha razão? – perguntou, retoricamente – Então diz lá como te chamas?
- Eu não posso ficar parado! – insisti.
- E claramente também não podes andar – retorquiu – Diz lá como te chamas, rapaz… Já percebi que és um Uchiha pela marca nas roupas.
- Rai.. Quero dizer, Kride – respondi.
- Eu sou o Kazuo Terumi – apresentou-se – Com que então és um shinobi da Folha?
- Hai – respondi – Terumi? Godaime Mizukage Terumi ou outro ramo do clã? – perguntei de volta.
- O mesmo… Mas eu sou apenas em nome, não possuo nenhuma das habilidades da querida Mei. Sou samurai! – Calou-se e de seguida, colocando-me uma chávena na frente, inquiriu – Chá?
- Sim, por favor. Creio que é o primeiro que conheço – disse, pausando o discurso por uns momentos, reflectindo, enquanto observava o chá que o homem vertia na peça de loiça e de seguida, perguntei - Como vim aqui parar? Onde estou?
- Bem, estavas em péssimo estado quando a minha neta te encontrou – começou a explicar – Ela tentou curar-te o melhor que pude e depois trouxe-te até aqui, para continuar o tratamento em condições. Quanto a onde estás, bem… Não estás muito longe de Kiri, esta casa fica a sul da vila, numa propriedade isolada. Antes de nos mudarmos para cá, os proprietários eram do teu clã.
A última parte atingira a minha mente, como as duas espadas e o enorme braço de cristal que me tinham atingido o corpo e me haviam deixado às portas da morte.
- Masaka!
- O que foi, rapaz? O que é impossível? – indagou o velho.
Sem lhe dar resposta e com uma força que podia mover montanhas, levantei-me e tentei correr, cambaleando. Abri uma porta e encontrei um corredor e um lance de escadas. A estrutura da casa era me demasiado familiar. Segui em frente, para as escadas, à mesma velocidade com que até ali tinha chegado. As dores e a falta de força regressaram em força e acabei aterrando o queixo num dos degraus, caindo. Estiquei os braços e comecei a arrastar-me, degrau a degrau até ao piso superior. O homem seguiu-me até ao início das escadas, perguntando o que raio tinha eu na cabeça. Prossegui, usando as pernas para me ajudar a rastejar até a uma porta que ficava à esquerda do lance que acabara de subir. Afastei-a, com o braço direito e usei o esquerdo para me propulsionar em frente. Continuei por mais uns metros e com uma mão rasguei a carpete e vi, assim, a madeira do soalho. Vi, assim, o que mais temia. A madeira manchada de vermelho, do sangue que por ela tinha escorrido, há muito tempo atrás. O dono da casa alcançou-me.
- O rapaz, mas o que é que te deu? Essa carpete era nova.
- Esta... era a minha casa – respondi.
Continua...
Bem, este já estava quase acabado há meses e aproveitei para lhe dar o devido e esperado fim. Espero que gostem ^^