O salão era intimidador, até mesmo para o corajoso rapaz. Espalhadas pelo local, algumas máquinas estranhas criavam uma decoração masoquista, numa mistura de cordas, amarras, roldanas e barras de alumínio. As paredes eram amareladas, com inúmeras marcas de pés suados, e para piorar, lembravam - e muito - sua estadia na clínica de recuperação. O rapaz estava deitado numa dessas máquinas, sem alternativas, permanecia imóvel ao segurar a dor de cada movimento forçado que o fisioterapeuta o fazia para acionar seus membros e juntas quase atrofiadas. -
Vamos Daisuke... Só mais um pouquinho. - Sussurrava o homem, inclinando-se sobre a máquina para acionar outra roldana responsável pela plataforma que fazia suas pernas ainda enrijecidas dobrarem dolorosamente. O jovem permanecia inerte, apesar de todo aquele esforço que os movimentos repetidos lhe obrigavam a concluir. "Droga! Isso dói! Calma! Controle-se!" - Dizia para si, tentando abster-se e concentrar-se em outro lugar. Ele pensava no pequeno vilarejo, onde a noviça de olhos claros o aguardava. Pelo menos isso era o que esperava. Enquanto isso, suas pernas retornavam à posição original para aliviar sua tensão. Ele sabia que já estava terminando, e aquilo o tranquilizava um pouco, feliz por retornar a sua casa quando mais uma vez suas pernas se contraíam numa dolorosa dobra. Daisuke fechou os olhos e suspirou tentando resistir à dor. Precisava ser forte. Não que se importasse com a opinião do fisioterapeuta ou de sua "babá", que apesar de estar sentada há alguns metros, entretia-se com algumas revistas de celebridades.
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Muito bem. Terminamos! - Concluiu o fisioterapeuta.
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Ótimo. Vamos lá, bonitão? - Provocou a criada.
Completamente suado, Daisuke foi posto novamente na cadeira-de-rodas que logo deslizou para fora do complexo terapêutico com a promessa de retornar no dia seguinte. Aquela rotina era exaustiva e frustrante. "Acabará logo." - Pensava à medida que sua carroça cruzava as ruas no fim da tarde. O sol já fazia grande sombra na muralha do oeste, esfriando rapidamente o ambiente desértico. Desde sempre admirava aquela transição de roupas que acontecia entre as manhãs sufocantes e as noites gélidas. Sentindo que o frio já chegava, a criada atenciosa retirou o edredon da mochila, cobrindo o corpo do loiro sem deixar de roçar propositalmente o antebraço nas suas partes íntimas. O loiro já percebera certa animosidade com sua acompanhante, e estes atos disfarçadamente inocentes acabavam com sua dúvida de que a mulher logo, logo se entregaria ao desejo. Até que ela não era de se jogar fora. Uma mulher aparentando beirar os trinta anos, e pelos monólogos que era acostumado a ouvir por não ter como sair do recinto, ela acabara de se casar com um escroto. Nada mais justo do que aliviar suas frustrações com um inválido, não? Daisuke não se importava, mantendo seu olhar fixo através da janela quando reconheceu uma pessoa que há um ano não via: Makoto. Foi tudo muito rápido. De relance. O desgraçado do passado recente estava mais forte e alto. Muito diferente daquele verme frágil e franzino que deixara quando abandonou Suna. Mesmo durante a breve passagem, Daisuke o viu rodeado por outras kunoichis que vibravam ao vê-lo equilibrar-se num banco de praça usando apenas uma das mãos.
Era uma manobra simples, mas que para as supostas fãs era o suficiente para arrancar cochichos de admiração. "Em breve acertaremos nossas contas." - Pensou com fúria, louco para poder se levantar e acabar com aquele sorriso arrogante. O loiro se entreteve por alguns minutos a imaginar como espancaria o ex-amigo traiçoeiro, quando percebeu que o veículo acabara de terminar seu trajeto até a mansão. Tudo como acontecia desde que chegara à Vila. Alguns empregados já se aproximavam para descer a cadeira-de-rodas até o chão, onde a mulher o empurrava até seu novo quarto que agora ficava no antigo quarto de hóspedes no térreo para evitar as escadarias. Apesar de menor, o quarto era aconchegante. Tinha uma grande janela por onde se podia vislumbrar o lindo jardim que era cuidado todas as manhãs. -
Hora do banho e depois cama. - Dizia a acompanhante, com uma carícia de carinho. Seus olhos piscaram num estranho sinal de concordância e em poucos minutos já estava na cama para tomar sua sopa e dormir. O ex-nukenin achava até engraçado essa mistura de carinho com lascívia que a mulher alternava. Às vezes parecia um filho que ela ainda não tinha, outras vezes ela o tratava como um namorado recente. Aquele relacionamento que após alguns meses a mão-boba começava a esquentar a relação. E foi assim que a mulher enfim terminou seus afazeres com ele e o cobriu com um sorriso matreiro. -
Boa noite. - Sussurrou ao roubá-lo um pequeno beijo. "Só me faltava essa." - Pensou o rapaz, ansioso para que ela fosse dormir. Como sempre seus pais estavam viajando para administrar sua rede de restaurantes, deixando-o apenas com os criados.
Daisuke já estava acostumado com o silêncio noturno do casarão. Ele sempre aproveitou essa tranquilidade para treinar seu físico e planejar suas pegadinhas na calada da noite, enquanto os empregados estavam recolhidos após um dia de labuta. -
Até amanhã. - Despediu-se a mulher que enfim virou as costas para o tutelado e fechou a porta, para então sumir na escuridão em direção ao seu quarto. "Enfim... Só." - Pensou o loiro, gemendo baixinho para contrair os músculos abdominais doloridos e se levantar com certa dificuldade, apoiando-se nas beiradas do lastro. Deslizando até o chão, ele apoiou a perna saudável no piso de madeira para poupar a outra que ainda lutava para se livrar das toxinas do inseto. Rangendo os dentes para resistir a dor, o rapaz lembrou-se do sorriso de Makoto e as palavras de Toshio, usando estas passagens como combustível para sua raiva. Sabiamente ele já tinha aprendido que a raiva se sobrepõe facilmente sobre a dor. O ódio podia movê-lo para frente. A vingança seria sua meta. E foi assim que Daisuke se deitou e recomeçou seus exercícios secretos. O primeiro passo para sua ascensão estava próximo e para isso precisava estar bem. Suspirando para se concentrar, o jovem forçou seus braços que ainda estavam um pouco rígidos para iniciar suas flexões. Dobrando a perna com o ferimento aberto sobre a outra, seu corpo reclamou, fazendo estalar alguns ossos que não se moviam há algum tempo, desequilibrando-o o suficiente para cair pesadamente no chão. Ainda no chão, ele ouviu passos rápidos descendo os degraus, aproximando-se rapidamente de seu quarto.
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Tudo bem por aqui? Ouvi um ruído estranho. - Perguntou a babá, com o robe entreaberto.
Cansado pelo movimento brusco, o Hiroshi ainda ofegava por baixo dos lençóis quando tentou emular a mesma posição que fora deixado. Contudo, a mulher parecia não ter a intenção de observar a diferença de posições, pois logo se inclinou na direção dele para passar-lhe a mão no rosto. -
Você está todo suado. Acho que cobri você demais. - Concluiu, já tranquilizada por não ter sido o rapaz a origem do ruído. Retirando o lençol, ela parecia não ligar que seu robe agora estava totalmente aberto, deixando a mostra sua pele branca e seios fartos, além de uma pequena pelugem que insistia em surgir na sua pelve. Fazia tempo que Daisuke se deitava com uma mulher e quando viu aquela cena, mesmo de relance, não conseguiu controlar o desejo, deixando a mulher admirada com o volume que já crescia em seu pijama. A babá se assustou e corou com a reação do loiro que cerrava os olhos fingindo dormir. Ofegante, a criada hesitou alguns segundos, olhando para os lados para ter certeza de que não estava sendo observada e deu rápidos passos até a porta para trancá-la. Pronto. Agora a mulher tinha cedido à tentação, apesar de não ter sido uma grande surpresa para o inválido que aproveitou a oportunidade para aliviar a tensão. O difícil foi segurar o impulso de se mover, gemer e mudar de posição. Tarefa hercúlea que quase entregou sua melhora. "Ainda não é hora de me revelar." - Concentrou-se. A insaciável babá deu "trabalho", deixando seu quarto apenas ao amanhecer. Daisuke estava arrasado. Agora sabia que precisava melhorar seu físico para realizar sua primeira parte do plano. Contudo, ele sabia que a "terapia" seria muito mais interessante.
CONTINUA