Até à graduação – Parte 3
Kazuki acorda num hospital em Suna, quando abre os seus olhos, ele vê a sua mãe sentada a beira da sua cama a dormir, com os braços a taparem a sua face e encostada ao corpo dele. O rapaz mexe a sua cabeça para saber onde está, causando imediatamente uma dor de cabeça.
- Aiii! Dói… - queixa-se Kazuki, acordando Miyuki com os seus sons, que levanta a cabeça a bocejar. Quando vê que o seu filho está acordado, ela levanta-se rapidamente e dá um abraço apertado, esganando-o e causando mais dor a Kazuki que a sua própria dor de cabeça.
- Mãe…! Ta-tas me a es… esgan… esganar! – tenta falar o pobre rapaz.
- Tu nem sabes o quanto me preocupas-te! – exclama a mãe largando o seu filho – se não fosse o Yazo…
- Yazo!? – diz Kazuki muito surpreso. Ele tentava lembrar-se do que lhe tinha acontecido para parar ao hospital, mas com a sua dor de cabeça, era um bocado difícil e o Yazo era a última pessoa que lhe vinha a mente – O que aconteceu?
- Isso é o que nós queremos saber, Yazo encontrou-vos num armazém, tu e-
- Jun! – depois de ter ouvido a palavra armazém, Kazuki conseguiu lembrar-se do acontecimento que o levou ao hospital – Onde está o Jun?
- O rapaz que estava contigo no armazém? Ele está em pior estado que tu, tinha negras por todo o lado, espero que fique bem... ele está com os pais noutro quarto deste hospital – explica a mãe. Quando ouve aquilo Kazuki queria ficar zangado mas não conseguia, estava com uma enorme dor de cabeça e sentia-se fraco.
- Filho… podes-me contar o que aconteceu? – pergunta a sua mãe com uma voz meiga.
- Eu e o Jun estávamos a treinar jutsus qua… - Kazuki cala-se imediatamente quando apercebe-se do que disse mas já era tarde demais.
- Jutsus!? – grita a sua mãe, mudando completamente de personalidade – Kuikku Kazuki! Tu andas a treinar jutsus sem a supervisão de um ninja?! Eu não acredito nisto! E ainda por cima depois de ter-te dito que não quero que sejas um shinobi! Não me admira que isto tenha acontecido!
- Mas-
- Não há "mas" nenhum, tu estás de castigo! Não vais sair de casa durante um mês! E quando saíres, vai ser sobre a minha supervisão, ouviste! Tu nunca… – a sua mãe continuava a falar mas nessa altura, Kazuki já nem ouvia, a dor era muita e a gritaria não ajudava. O rapaz também sabia que dizer algo a sua mãe naquele estado era impossível e pedir ajuda também era, a maior parte das pessoas afastavam-se todas quando a ela ficava daquele modo. Kazuki no meio do raspanete até jurava ter visto Yazo a abrir um bocado a porta, ter espreitado e depois ter ficado com uma cara de medo, fechando logo a porta depois de ver Miyuki naquele estado.
3 Meses depois…
Já faziam três meses desde que Kazuki tinha saído do hospital. Era fim da tarde e estava no seu quarto deitado na cama a olhar para o teto. Refletia na sua vida, estes últimos 3 meses tinham sido muito difíceis para ele, quase não podia sair de casa e quando saia era sempre acompanho pela sua mãe, só podendo ir raramente brincar com os seus amigos. Também não tinha ouvido falar mais sobre Jun e diziam que ele nunca mais tinha aparecido na academia. O que também o irritava era o facto de ele não poder ser shinobi, tristeza e raiva enchiam o rapaz até que então ele decidiu fazer algo que já não fazia há muito tempo, falar com o seu pai. Kazuo estava sempre em casa, sobre o cuidado de Miyuki, passava a maior do tempo no seu quarto e só o tiravam de lá quando era para lhe dar de comer. Não havia melhorias da sua condição, estava muito magro, pálido, não falava, continuava com um olhar de morto e para comer, a mãe de Kazuki tinha que lhe meter a comida a boca. E era isto que afetava-o mais e que enchia a pobre criança de tristeza extrema. Ele não era capaz de falar, nem sequer olhar para o pai enquanto estavam a mesa, que era praticamente a única altura que estava com ele mas aquela noite ia ser diferente.
A família Kuikku estava reunida na sala de jantar, Kazuki estava a comer um bife grelhado com arroz e a sua mãe comia o mesmo enquanto dava puré a Kazuo. O rapaz reuniu todas a suas forças que tinha na sua voz, aquela era a altura que a sua família reunia para comer e conviver e ele não queria que o seu pai fosse apenas um boneco.
- Hey, pai… - fala Kazuki muito baixinho.
- Kazuki? Falas-te? – pergunta a sua mãe enquanto dá de comer a Kazuo.
- Mãe… podes parar com isso, quero falar com o pai…
- Filho… - a mãe tira a colher da boca do seu pai e põe devagar no prato dele e olha para o seu filho – Sim… Fala… Há quanto tempo é que não temos uma conversa com ele? Quatro? Cinco meses? Mesmo que seja só uma conversa de um lado, é melhor que nada.
Kazuki abana a cabeça e olha diretamente para o seu pai e de repente perde as suas forças, aqueles olhos atacavam o seu coração e pensava se aquilo sequer tinha alma. Então ele decidiu que isso não importava, alma ou não, ainda era o seu pai e tinha de falar com ele pelo menos alguma vez, então ele reuniu as suas forças todas e começou a falar:
- Pai, já há muito que não falamos não é? Eu sei que andas ocupado… A ajudar as pessoas, a proteger a nossa vila lá bem no fundo da tua mente… mas… As vezes podias fazer uma pausa, para… para poderes estar com a tua família… a mãe está cheia de saudades, as vezes juro que a ouço a chorar de saudades… E também não é só por um dia que as pessoas esquecem-se de ti, aliás, é impossível esquecerem-se de ti. Tu és a pessoa mais bondosa que conheço e mesmo agora, da maneira como estas, as pessoas ainda te consideram um herói. Se não fosses tu… nós neste momento estaríamos em maus lençóis. Ultimamente nós temos tido dificuldades com dinheiro e quando a mãe pensava que estava tudo perdido, do nada, pessoas começaram a ajudar-nos… por causa de ti... A mãe conseguiu arranjar trabalho numa florista e tu sabes muito bem que lá ganhasse bem, por vivermos num deserto e tal… A loja é daquela senhora que tu ajudas-te a escoltar o filho... E não foi a única, o mercador da nossa rua ajuda as vezes, o Yazo e o Hitoshi ajudam também, os vizinhos, pessoas que nunca vi na minha vida e… e… até houve uma vez que uma criancinha apareceu e deu-me um colar para te dar porque aparentemente ajudas-te o pai dele e queria que melhorasses… Eu é que nunca tive coragem de te dar o colar… - Kazuki começa chorar – pai… eu estou cheio de saudades tuas… Eu quero te de volta… Estes dias têm sido horríveis… eu nem posso quase sair de casa… se tivesses aqui, podias convencer a mãe para eu voltar para a academia…
- Kazuki! – grita a sua mãe – não me digas que estas a utilizar o teu pai para manipular-me?!
Kazuki fica furioso com o que mãe diz, ele com o braço limpa as suas lágrimas e bate com as mãos em cima da mesa e levanta-se. A mãe, já com uma cara de má, preparava-se para levantar para dar uma lição ao filho mas é interrompida pelas palavras dele:
- Achas mesmo que iria usar o pai para manipular-te!? Achas mesmo!? Eu não estou assim tão desesperado para ser ninja, mas já estou farto de como está a minha vida! As vezes parece que só te importas contigo própria, achas que eu sou feliz!? Preso na minha própria casa!?
A mãe fica surpresa com a atitude do filho mas mesmo assim não se deixa ir abaixo e diz:
- Eu não quero que acabes como o teu pai! Eu não quero ver o meu filho acabar assim! O que eu estou fazer é para o teu bem, é por isso que te tirei da academia! Tu sa-
- Tiras-te o Kazuki da academia?
Kazuki e Miyuki ficaram paralisados, não acreditavam no que ouviram, parecia a voz de Kazuo, mas um bocado mais fraca, como se tivesse doente,
“Eu ouvi o meu pai… ou é uma alucinação?” pensa Kazuki.
- Olá...? Miyuki...? Vais-me responder? Parece que sou um corpo morto aqui… E que sabor é este na minha boca? Puré? Eu odeio puré! Por raio é que estou a comer puré!?
- Pai…? – Kazuki olha para os olhos do seu pai,
“Não estão mortos!” pensa Kazuki. Aliás estavam bem vivos, podíamos dizer que os olhos eram a parte mais viva do seu corpo.
- O que se passa? – pergunta Kazuo confuso.
Miyuki começa a chorar e abraça imediatamente o seu marido, seguindo por Kazuki, que corre até o seu pai, abraçando-o com toda sua força.
- Hey! Hey! Isso é força demais, eu estou frágil… O que se passa convosco?
- Nada… Estávamos só com saudades tuas… – fala Miyuki a chorar.
- Bem, agora estou aqui… E não vou me embora cedo – diz Kazuo sorrindo.