JÁ. TRABALHEI. PARA. SEU. CHEFE.
ELE. NÃO. É. MAIS. MEU. CHEFE.
TENHO. CONTAS. A. ACERTAR. COM. O. FILHO.
ENTRE. NA. FILA. ELE. É. MEU. SÓ. MEU.
PODEMOS. NOS. AJUDA. TRABALHANDO. JUNTOS.
NÃO. VOU. ME. ARRISCAR. POR. UM. DESCONHECIDO.
ENTÃO. VAIS. TERMINAR. SEUS. DIAS. LIMPANDO. LATRINAS.
...
...
O. QUE. VOCÊ. QUER. QUE. EU. FAÇA.
QUEBRE. SELO. QUE. BLOQUEIA. MEU. CHAKRA.
Era o que dizia a última mensagem que recebera. Fechando a revista mais uma vez, Daisuke se deitou novamente em sua cama e parecia não acreditar no que teria que fazer para conseguir se vingar. Contudo, por mais que planejasse, parecia impossível sua conclusão devido à distância que estava da Vila da Areia. Na verdade Yokoyama se tornara um tremendo obstáculo para acabar com seus inimigos jurados e por isso, teria que pagar o preço para receber ajuda.
Libertar um criminoso. Aquilo seria um caminho sem volta. Aliás, já estava singrando por esta trilha desde que começou a se corresponder com Kazuki. Mas agora era diferente. O risco envolvido era muito maior, e por isso, precisava pensar muito bem para não cometer algum erro mortal. -
Amanhã darei a resposta. - Sussurrou, soprando a vela para deitar-se no colchão de palha em seu quarto. Fechando os olhos, ele percebeu rapidamente que dormir não seria assim tão fácil. Eram tantas as incógnitas envolvidas que mesmo com ajuda da eterna contagem de carneiros, seus olhos cansados não se fechavam. O jovem agonizava em seu dilema moral. Já tinha ido ao outro lado da lei, e com a graça dos deuses o tinham dado uma nova oportunidade. Será que estaria certo desperdiçar a vida normal que teria como ninja? Não. Não queria passar o resto da vida cuidando de prisioneiros devido à sua condição. Ele sentia em seu íntimo que logo chegaria a alguma conclusão em suas pesquisas com as peças inorgânicas, mas para isso precisaria de liberdade. Liberdade para sair e encontrar Yuka.
-
Muito bem. Vou ajudá-lo. - Respondeu, escrevendo números aleatórios na lateral da última página.
TRÊS DIAS DEPOIS...O dia começou como outro qualquer. Desjejum em separado, vassouradas nos corvos que sujavam às muralhas com sua imundície, recolhimento de lixo para a área de descarte, até que finalmente chegou a hora de seu segundo turno no setor de encomendas. Abrindo a estreita porta de metal para adentrar no recinto, Daisuke cumprimentou seu chefe e quando se virou para sua mesa, além de diversas cartas para vistoriar, um pacote semiaberto lhe chamou a atenção. Volumoso, pelo estado da embalagem o pacote ja havia sido revistado e o que mais estranhou é que o item não estava depositado no carrinho para a distribuição. -
Esse aí é para você. - Indicou Goroshi, levantando seus óculos para visualizar o rapaz. -
Tomei a liberdade de revistá-lo. - Concluiu, num tom irônico. Daisuke sentiu seu coração palpitar, mas mesmo assim deixou-se levar, abrindo um sorriso xoxo. Nervoso, logo ficou aliviado ao ver o eventual desinteresse do velho pelo conteúdo que solicitara à biblioteca de Suna.
Velho idiota. Só então ele se sentou e terminou de rasgar a embalagem para verificar se estava tudo ali. Livro após livro, ele desenterrou todos os quatro num brilho cavernoso no olhar. -
Ótimo. Tudo está aqui. - Sussurrou ao ver que teria algumas semanas de uma boa leitura. Era engraçado como havia se habituado a ler. O ninja se lembrava de sua dificuldade em se concentrar nos estudos, preferindo ocupar sua mente com outras falcatruas. Porém, desde que começara suas pesquisas com marionetes, parecia que sua mente sentia um desejo incontrolável por mais saber.
Jogando os livros no carrinho, ele logo recomeçou suas atividades de revista, mas logo foi interrompido pelo chefe que estranhava tamanha ansiedade e descuido do garoto. -
Quer fazer seu trabalho direito? - Reclamava, ao ver a pilha de papéis e cartas rasgadas acidentalmente. Mas Daisuke não queria esperar mais. Acenando positivamente, ele diminuiu um pouco a rapidez do procedimento, pelo menos para poupar as outras encomendas, mas mesmo assim não conseguia retirar os olhos da pequena coluna de quatro livros que ansiavam sua leitura. Aquele seria um passo arriscado em sua vingança, mas como já fazia algum tempo que se comunicava com o criminoso, suas palavras o encorajavam cada vez mais para ajudá-lo e assim poderia libertar-se do sentimento da
vendeta. Yuka certamente o aguardava com os braços abertos e ambos falariam com a madre para que a moça pudesse ser liberada de seus votos. Pelo menos isso era o que ele planejava depois de esmagar as "baratas" com seus pés. A ideia de unir-se a ela, ter filhos e uma morada segura lhe parecia recompensador o suficiente para que arriscasse sua vida como ninja. -
Posso sair mais cedo hoje? - Perguntou ao chefe, esperando alguma reprimenda, afinal, ainda teria algumas horas de trabalho. Contudo, o velho observou os danos que a ansiedade do jovem causava às encomendas e não pensou duas vezes em liberá-lo depois que fizesse as entregas da tarde. Aliviado, Daisuke então se adiantou, jogando os pacotes conferidos no carrinho para partir em mais uma entrega.
Passando pelas inúmeras cancelas e o elevador, ele apertou o passo no setor administrativo, onde depositou todos os ofícios e notícias na mesa do diretor, retornando logo para efetuar as entregas dos guardas que ainda sairiam do turno da tarde. Coisa rápida. Coisa simples. Daisuke queria dar as boas novas ao seu contato e não se conteve em dar aquela passadinha de leve no banheiro para marcar as letras na revista que sempre entregava.
Kazuki vai se animar. Assim, seguindo agora na direção das celas, entregou as cartas do primeiro setor, passando pelas passarelas de metal onde o prisioneiro 7632 recebeu mais uma roupa íntima. Aquilo já virara rotina e atualmente ele até tentava não pensar em como aquele homem gordo caberia naquela tanga minúscula. Era um mistério que realmente não gostaria de solucionar. Aquele pensamento lhe arrancou uma forte gargalhada que foi interrompida pelo grito de desagrado do fiscal do setor. Coisa normal. Daisuke fez uma careta ao homem e inclinou os ombros numa flagrante falta de disciplina. Para ser sincero, ele estava de saco cheio de tantas regras, horários e falta de liberdade. Tudo isso, somado às palavras do nukenin aprisionado, terminaram por decidir seu destino. Agora iria até o fim. Era tudo ou nada. Ou obteria sucesso em sua empreitada ou na certa morreria tentado. -
Vamos lá. - Sussurrou ao adentrar na última ala, onde Kazuki estava. Passando por mais celas vazias, ele logo encontrou o homem se exercitando à beirada da cama.
Com as pernas apoiadas no móvel, o nukenin realizava algumas flexões com gemidos intercalados e quando percebeu a sombra o garoto em sua cela, virou-se e sorriu maliciosamente, continuando a se exercitar como se nada tivesse acontecido. Uma estratégia, pois sabia que estaria sendo observado de perto. Qualquer sinal de empatia entre os dois poderia por o planejamento todo de água à baixo. Sabendo disso, Daisuke não aguardou o prisioneiro terminar para fazer a entrega. Buscando a última revista no fundo do carrinho, onde guardara seus livros, ele praticamente arremessou o folhetim contra o homem que se assustou com a agressividade exagerada.
Se for para interpretar... Será dessa forma. Contudo, logo percebeu mais uma sombra no ponto cego da parede. Não foi difícil perceber que o guarda acompanhara o aliado até sua cela, esperando alguma reação. Mesmo assim, Daisuke não se intimidou. Sua vontade era de atingir o pescoço do guarda que mais uma vez demonstrava que não gostava do novato. -
Sai da frente. - Inquiriu o tokubetsu, empurrando o carrinho de volta à entrada, quase passando por cima do homem. Kazuki ainda ouviu o tilintar do cassetete rastejando pelo carrinho e pensou que o guarda engrossaria com o rapaz, mas ele o tinha olhado com uma raiva profunda que o guarda nunca tinha visto antes. Um olhar assassino que o fez recuar e deixar o jovem passar. Naquele dia ele não estava para brincadeiras. Então, ouvindo o ranger do carrinho finalmente se afastar, o nukenin deitou-se na cama e folheou a revista até conseguir montar a mensagem que a revista escondia:
ENCOMENDA. CHEGOU. QUANDO. ESTIVER. PRONTO. AVISO.
CONTINUA...