ESTOU. PRONTO. QUANDO. TENTAREMOS.
ÓTIMO. AMANHÃ. CRIAREI. DISTRAÇÃO.
Mais uma vez o coração de Daisuke palpitou, seguido de um frio na barriga que há tempos não sentia. Já era madrugada quando conseguiu ser liberado pelo velho para retornar a seu quarto. Uma coisa que se tornara rotina nos últimos dias. Parecia que com a aproximação das festas de final de ano, a quantidade de encomendas havia triplicado, restando pouco tempo para confabular com seu contato aprisionado. -
Ok. Amanhã. - Cochichou sozinho ao se jogar pesadamente na cama. Ele estava exausto fisicamente, e esgotado mentalmente, pois desde que recebera os livros para aprender as técnicas de selamento, o ninja vinha trabalhando os dois turnos e estudando à noite até a madrugada, quando cochilava por apenas duas horas para acordar então novamente e reiniciar seu serviço pesado. Aquela labuta pesada cobrava seu preço a cada hora, fazendo-o sentir que seu físico começava a atrofiar. Ele já não conseguia identificar seus músculos abdominais que as mulheres que dormiram com ele tanto admiravam. Seu rosto estava pálido, e com profundas olheiras pela falta do sol, que adornavam sua aparência despojada. Esforçando-se para se sentar na cama, ele fitou o espelho e passou a mão na barba que cultivara por não possuir energia para cortá-la. E naquela noite não seria diferente. Ele achava que estava pronto para a operação do dia seguinte, e por isso, desistiu de estudar e desenhar seus outros projetos para poupar forças.
Amanhã será um dia tenso. Então, espreguiçando-se acompanhado de um impulso involuntário de bocejo, o jovem se jogou novamente para enfim tentar dormir. Não foi muito difícil de isso acontecer... Estava realmente exausto.
*****
O ruído do despertador incomodava seus ouvidos e se tornava cada vez mais alto à medida que ele recobrava a consciência. Alcançado o objeto com impaciência, ainda não desperto totalmente, Daisuke não conseguiu se controlar e arrebentou o relógio barulhento contra a cômoda.
Despertador idiota. - Pensou com o corpo dolorido, o que lhe deu mais trabalho para se levantar. Escovar os dentes e vestir-se. Isso ele já conseguia fazer sem precisar estar tão acordado assim, porém, quando já estava de saída, abriu novamente o livro para lembrar-se dos últimos detalhes. -
Agora estou pronto. - Comemorou, caminhando na direção do corredor após trancar cuidadosamente seu quarto. Ele pretendia manter a sua rotina para evitar qualquer desconfiança, e não foi diferente. Desjejum, faxina, almoço e por fim, distribuição. O carrinho mais uma vez rangia pelas plataformas vigiadas, distribuindo os pacotes que variavam entre cartas de amor até cartões postais de familiares dos presos. Eles estavam ansiosos com a possibilidade que o diretor pudesse liberar as visitas no natal, mas por enquanto nada fora comunicado. Mesmo assim, com a data se aproximando, Daisuke sabia que seus pais teriam outros planos. Ele ficaria mais uma vez sozinho naquela data familiar. Talvez preferisse comemorar com Yuka e os órfãos. Até que não seria uma má ideia. Ele seguia com estes pensamentos em mente, distraindo-se o suficiente até que a cancela do Setor mais protegido se abrir. Empurrando o carrinho, o ninja começava a ficar com as mãos suadas na expectativa do que o nukenin faria para chamar a atenção, quando viu algo aterrador à beira de sua cela.
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ESSA NÃO! GUARDA! GUARDA! - Gritou desesperado ao ver o corpo de Kazuki que balançava levemente como um pêndulo bizarro, pendurado por um lençol na perna de sua cama que fora estrategicamente arrancada dos parafusos que a prendiam, sendo virada para manter seu cumprimento na direção do teto e tornar-se numa forca sobre encomenda. Assustado, o jovem acenou desesperadamente para o fiscal que estava sem entender tamanha comoção, resolvendo abrir novamente a cancela para correr até o rapaz ofegante, pálido como uma vela. -
O que foi gar... - Interrompeu o desdém quando olhou para a cela do nukenin. -
Não pode ser! - Temeu, buscando de forma nervosa a chave na cintura para abrir o cômodo. O tilintar frustrante de cada erro de pontaria na fechadura deixavam-no desesperado, quando ouviu por fim um "click" e as grades deslizaram para a lateral. Forçado a abrir espaço, Daisuke viu o guarda correr até o corpo para empurrá-lo contra a parede, fazendo o tecido deslizar pela perna da cama até libertar o defunto que caiu sem vida sobre o guarda. -
Ajuda aqui! - Suplicou o homem, autorizando a entrada do ninja que estava sem acreditar no que vira. Com seus braços fortes, Daisuke acompanhou o outro e o ajudou a recostar o corpo no chão. -
Fica aqui. Vou chamar o médico! - Esbravejou ofegante, saindo em disparada pelo corredor. Agora o ninja estava sozinho com o seu falecido contato.
Que merda. Tudo tinha dado errado. Porém, quando ele se ajoelhou ao lado do comparsa, algo aconteceu. Kazuki abriu os olhos.
!
-
Rápido. Quebre o selo. - Sussurrou o nukenin, levantando a camisa para mostrar o abdome. O Hiroshi estava abismado. Ele realmente estava morto. O guarda tinha chegado seus sinais vitais. Como aquilo era possível? Como ele está vivo? -
Saru! Vamos! - Inquiriu mais uma vez para retirar o jovem do torpor da surpresa. Então, mesmo sem entender o que acontecia, Daisuke começou a se preparar. Concentrando-se com a quantidade certa e a frequência de chakra, o jovem deitou Kazuki no chão frio e fez mira no local, acertando-o diretamente nos pontos que estudara previamente. Nesse momento o chakra injetado fez o selo reagir, revelando um desenho circular que se espalhava por todo o abdome. A princípio aquela chave deveria ter funcionado e o desenho sumido, mas o que resultou foi em grande dor para o alvo que rangeu os dentes procurando não fazer barulho.
Mais uma vez! Assim, quando os dois começaram a ouvir a correria do médico e de mais guardas na direção da cela, o rapaz inclinou a cabeça e arqueou o corpo numa estratégia para regular mais uma vez sua energia, jogando os dedos contra os mesmos pontos que já estavam vermelhos pela pressão exercida. Kazuki gemeu na mesma hora, mas dessa fez, os dois conseguiram ver o selo original perdendo a força, diminuindo seu tamanho tranca por tranca até que por fim sumiu. Sucesso! Imediatamente o nukenin baixou o uniforme para esconder o ocorrido e gemeu alto numa interpretação de recém-consciência. Aquilo foi o suficiente para tranquilizar o médico e os outros que o acompanhavam. -
Ele está bem? - Perguntou um deles.
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Acho que sim. - Balbuciou Daisuke, ainda sem acreditar.
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Ótimo. Caso ocorra outra coisa me avise. - Comentou o doutor.
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Vamos. Saia daí. Vou fechar a cela. - Comandou o guarda, ofegante.
Ainda tremendo, Daisuke cambaleou para fora da cela enquanto o segurança arrumava a cama no lugar, retirando todos os lençóis do prisioneiro. -
Vá para o seu quarto. Seu turno acabou. - Sugeriu o homem, revoltado em ter que cuidar do criminoso por várias horas para que ele não tente suicídio novamente. Então, mais uma vez a grade deslizou de volta para trancar o suicida novamente, enquanto Kazuki rastejava dolorosamente de volta para sua cama. Sua liberdade foi sofrida. Suspirando, o Hiroshi buscou seu carrinho derrubado durante a confusão, arrumando o restante das encomendas devolvidas, empurrando o objeto de volta para a entrada. Em estado de choque, ele ainda não tinha condições de conversar. Muito menos pensar no dia seguinte. A sua missão fora bem-sucedida. Agora Kazuki tinha de volta o controle de suas habilidades. Isso lhe dava um frio na barriga, pois desconfiava que o próximo passo do meliante pudesse prejudicá-lo.
Tomara que não. Depositando o carrinho no seu setor, Daisuke se despediu do velho rapidamente e caminho de volta ao seu quarto. Já não sentia mais fome. Seu corpo pesava uma tonelada pelo cansaço e trabalho despendido. A porta se abriu, revelando a cama tão convidativa. Como já não tinha mais o despertador, preferiu deixar que o segurança o acordasse no dia seguinte. Retirando a camisa, ele então lavou o rosto e se sentou para pensar novamente no que tinha feito. Ele esperava que todo seu esforço e cuidado tenham valido a pena. Seu corpo enfim relaxou no colchão e ele fechou os olhos para descansar, quando, durante a madrugada, seu sono foi interrompido com uma presença repentina em seu quarto.
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Como? Como você fez isso?! - Sussurrou o garoto.
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Shh... Explico em outra oportunidade. - Respondeu Kazuki, sorridente.
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Ótimo. Agora você ajuda com a minha vingança? - Exclamou baixinho.
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Sim. Porém, preciso de outro favor antes. - Concluiu.
CONTINUA...