Muita coisa aconteceu. Conheci várias vilas em diferentes países, muitas pessoas, infinidades de comidas e bebidas que jamais imaginei que pudesse existir. Parece que saí ontem de Konoha, mas já fazem anos. Anos! Andei perambulando por aí sim, sentia ser necessário. Mas jamais ia esquecer o lugar ao qual pertenço. Não sei se de fato nasci aqui, mas não importa; eu cresci, e tornei-me gennin e chuunin daqui. Sou Nara Tora, kunoichi da vila mais famososa do mundo ninja. Tadaima, Konohagakure!***
- Estás mesmo preparada para isto? - Raiden mordia vorazmente uma goiaba da banca de uma feira, cujo comerciante cobrava com nervosismo pela audácia.
- Claro. Um bom filho sempre torna à casa. Isso aplica-se a você também... - retorquia a garota de cabelos azuis, sacando imediatamente alguns ryos para pagar o prejuízo que seu companheiro trazia às feiras de frutas.
- Não tenho casa. Minha mãe morreu há anos... - ele rebateu, terminando o último pedaço.
- Tsc, não venha-me com esse papo de renegar Konoha. Você ama a vila e irá protegê-la, conheço-te. Viajar é bom, mas é sempre melhor ter seu lar fixo. Dá a sensação de ser realmente seu, é muito melhor que ter algo que pagamos, mas temos que devolver uma hora. Não é seu exatamente.- Chega de filosofias, Tora-chan. Ok, ok, voltemos para casa. Acho mesmo que está na hora - o Fuyuki levantava as mãos em rendição, arrancando um sorriso contagiante da garota.
Aliás, garota não. Uma bela mulher. Recém-chegada à casa dos 20 anos, Tora mudara muito, por dentro e por fora. Os treinamentos intensos com Raiden possibilitaram uma maior maturidade na vida como um todo, e apesar do pesado ritmo de treinos, as curvas dela acentuaram-se, demonstrando que era uma jovem e delicada mulher. A Nara atualmente enganava com facilidade qualquer homem que julgava-a frágil, sendo detentora de força descomunal, inconcebível para seu corpo aparentemente franzino - e claro que vários canalhas experimentaram o peso de seus punhos.
Raiden estava orgulhoso: apesar de não demonstrar, sabia em seu íntimo que em breve, sua pupila iria ultrapassar-lhe. Seu manuseio com fuuton havia melhorado muito, e apesar de estar longe dos Nara, Tora conseguiu sozinha aperfeiçoar seu hijutsu. Era notável que seria uma exímia jounin, e realizaria seu sonho de entrar na ANBU em pouco tempo. Mas será que ela estava preparada para juntar-se à organização? Teria ela maturidade suficiente para suportar o peso de tanta responsabilidade? Nesses devaneios, ele ria-se: parecia finalmente entender o significado da palavra preocupação:
- Do que está rindo? - ela dava um "carinhoso" soco em seu ombro.
- Andas bem malvada... Sabes que sua força é enorme, bata mais leve! - reclamava, em tom de brincadeira.
- Não era nada demais. E então, quando voltamos à Konoha? - inquiria ele.
- Só se for agora! - os olhos dela brilhavam de ansiedade.
***
A viagem era longa e cansativa. Mas a jovem chuunin não importava-se: seu coração estava aos pulos, dada a ansiedade de rever seus familiares e amigos. Um certo medo de não reconhecer a vila que crescera às vezes amedrontava-lhe: como estaria Shikaku e Shikamaru? E Hana? E seu pai, como andaria de saúde? Foram anos de laços completamente cortados, sem nunca mandar notícias; tinha medo de chegar e saber que alguém querido talvez não pudesse rever nunca mais. Tentava afastar tais pensamentos, mas nem sempre conseguia.
E finalmente o caminho começava a tornar-se conhecido. Mais à frente, os imponetes portões principais de Konoha já podiam ser vistos. A emoção ameaçava tomar conta da kunoichi, que fazia um esforço quase sobre-humano para conseguir levar as pernas adiante. O Fuyuki apenas analisava silenciosamente, contendo um largo sorriso. E então, algo inusitado ocorria: um dos guardas corria com velocidade ao encontro da Nara, que por puro reflexo, assumia uma postura ofensiva, mesmo Raiden pedindo para ela não fazer isso. Num segundo, mais três guardas já estavam no local - dois a imobilizar o Fuyuki e o terceiro a limitar os movimentos dos braços da chuunin, que aproveitava-se do ocorrido para dar um potente chute no guarda que tinha vindo anteriormente ao seu encontro:
- Ai, Tora-chan! Estás mais forte que nunca - ele ria-se, deixando todos no local confusos.
- Gomen... Quem é você? - finalmente ela lembrava-se da importância da comunicação verbal.
- Esqueceste até dos velhos amigos? - o rapaz de cabelos negros massageava a bochecha atingida, enquanto levantava-se com um largo sorriso.
- Okaeri! - ele estendia a mão, de olhos fechados e sorriso de orelha a orelha.
- Senpai... Quem é essa maluca?! - o garoto que a segurava perguntou.
- Maluca é a sua avó! - Ela aproveitou-se para desvencilhar-se com facilidade, e ia agredí-lo, quando o rapaz que parecia reconhecer-lhe segurava seu pulso.
- Já faz uns anos. Mas jamais esqueceria da nossa querida integrante da equipa quatro... Deixem-na em paz.- Nakayama-senpai, ela parece perigosa... Tem certeza mesmo que eles não são um perigo à vila? - um dos rapazes que segurava Raiden perguntava.
-
Tsc, saímos de Konoha há uns anos. Provavelmente vocês estavam na Academia. Prazer, Fuyuki Raiden, e esta enfezadinha aí é Nara Tora. Satisfeita, Smurf-chan, pela confusão causada? - ele metralhava a kunoichi com um olhar mortal.
- Nakayama... Sho? - finalmente ela parecia usar a razão.
-
Ahahahaha, obrigado por lembrar de mim, mesmo depois de tanto tempo. Bem, vamos começar de novo: Okaeri!A pequena tigresa não conseguira segurar a emoção: abraçou seu amigo, muito mal conseguindo conter as lágrimas. Os outros guardas largaram Raiden, que sem cerimônias, puxava sua pupila. Ainda tinham muitas pessoas a rever... Andando pela cidade, algumas pessoas reconheciam a Nara por conta de seus inconfundíveis cabelos azuis - agora maiores e presos em rabo-de-cavalo. Mas a jovem só conseguia pensar em voltar para casa, e nem prestava atenção ao que estava em seu caminho. Nem mesmo uma pobre criança que inocentemente cruzara com ela, sendo praticamente atropelada pela kunoichi:
- SHUUUUUUUUUUUUUUUUN! A culpa é toda sua sua, Yagami, isso não teria acontecido se não tivesse soltado a mão dele! - uma mulher loira reclamava a um ruivo, correndo em seguida para a criança, a ver se machucara.
- Gomen, gomen, gomen! Eu não tive a intenção de machucá-lo, eu nem o vi para falar a verdade! Droga, sou um poço de desastre mesmo - a Nara culpava-se pelo acidente.
- Estou bem, mamãe - o garoto falava timidamente.
- E você, preste aten... TORAAAAA-SAN?! - a cuidadosa mãe interrompia a frase quando seus olhos azuis cruzava com os verdes da recém-chegada.
- Wtf... HANA-CHAN?! - A Nara agora reconhecia aquelas longas madeixas loiras.
- Oh meu Deus... Oh meu Deus! - a Yamanaka abraçava a amiga, com lágrimas nos olhos devido ao reencontro inesperado.
- Mas olha só quem voltou! - o Yagami aproximava-se delas junto a mais três crianças.
- Espera aí... Um, dois, três, quatro?! Mas vocês estão danadinhos hein?! - concluía Tora, após perceber que as crianças chamavam-no de "papai".
- Ahahaha... Pois é. - ria-se o shinobi, enquanto a Yamanaka enrusbecia.
- E o Kusanagi, por onde anda? - perguntava a chuunin.
- Continua em Iwa. Quem sabe ele também não encontre um certo motivo para vir morar em Konoha? - brincava ele.
- Yagami! Não ligue pra ele, Tora-san. E então, chegaste hoje? Como foi essa viagem? Conte-nos tudo! - a jounin estava mesmo curiosa.
- Calma, Hana! Acabo de chegar, estou indo ver meu pai e o clã como um todo. Prometo que marcamos um jantar para eu contar tudo sobre esses anos longe. Irás adorar, tenho certeza!- Tudo bem. Amanhã na minha casa às 20 horas. Não marque nada mais, e não atrase. - ordenava Hana.
- Pode deixar! - as amigas despediam-se com um caloroso abraço.
***
Aquela conhecida casa... Não era exatamente a mesma, mas parecia-muito com o que lembrava da sua infância. Uma conhecida figura regava umas plantas na varanda, bastante concentrado no que fazia. Os cabelos estavam mais brancos que da última vez, e a postura um pouco mais rígida. Ele havia virado-se para entrar, depois de ter finalizado sua tarefa rotineira, quando percebeu uma cabeleira azul inconfundível. Largando o regador num canto qualquer da varanda, ia o mais depressa possível ao encontro de sua eterna garotinha.
Desta vez, pode-se dizer que ela voltara mesmo a ser criança: correndo de volta a seu pai, abraçava-o com todas as suas forças, enquanto lágrimas escorriam de seus olhos sem qualquer contenção. "Lamechas ao extremo", pensava Raiden, virando a cara para não deixar tal cena abater-lhe. Minutos passaram-se até o abraço finalmente acabar, e Nobuo perceber o peso do tempo na sua filha:
- Bem, Nobuo-san... Sua filha está entregue. Posso assegurar-lhe que em mais um tempo de treinamentos, estará apta suficientemente para entrar na ANBU.- Arigatou, Raiden! Tenho chá lá dentro, Shikamaru e Shikaku disseram que iam dar uma passada cá mais tarde... Junte-se a nós! - Nobuo gentilmente convidava.
- Agradeço o convite, mas eu tenho...- Tem mais é que juntar-se a nós! - Tora interrompia seu sensei, puxando-o consigo até a porta de entrada de sua casa.
- Me pagas, sabes disso né? - ameaçava baixinho.
- Eu não ligo. Se eu chegar perto, eu ganho. Me basta um combate de taijutsu... - retorquia ela.
Quase meia hora de conversas e risadas decorreram-se, até a chegada dos demais Nara, que juntavam-se aos presentes para um delicioso jantar. A noite fora pequena para tanta comemoração; havia muito a ser dito, discutido, perguntado, respondido. Finalmente, Nara Tora estava em casa. Estava com aqueles que eram sua família, independentemente dos genes. Estava onde sentia que pertencia. Os anos passaram, mas nunca minaram seus sonhos, nem suas raízes.
***
Tadaima, Konoha. E agora que cá estou, só resta-me treinar para entrar na ANBU. Uma vez, Raiden-senpai perguntou-me o que viria a seguir, quais os sonhos que iriam guiar-me, ou se o sentido da vida vai parar por ali, como aconteceu a ele. Eu não sei, sinceramente não sei. Mas depois de ver cada rosto conhecido hoje, sinto cada vez mais necessidade de proteger tudo isso. A vila. As crianças. Os amigos. A família. Tudo que estiver em Konohagakure. Mesmo que eles não possam ver tal proteção, no negrume da noite que para mim, é tão claro quanto o dia.- Nota da Eve:
E minha Smurf está de volta à ativa! \o/ Bem, talvez esteja um pouquinho grande, mas era somente contextualização, afinal são quase 5 anos fora de Konoha na cronologia (e na vida real tem a metade disso eu acho
). Espero voltar a ficar mais ativa - e que tenham gostado. So... Tadaima