As ligaduras do braço da pequena chuunin pareciam ter vida própria. O chakra aplicado pela jovem era bastante balanceado, concebendo às faixas uma assustadora velocidade, que ao esbarrar nos troncos de árvores próximas, deixavam sulcos profundos e retirava grossas lascas de madeira. Raiden, apesar de saber que aqueles golpes eram perigosos, parecia divertir-se como uma criança no parque a brincar de pique-esconde: corria como um louco, e não raro soltava uma gracinha para sua pupila, obrigando-a a ir mais rápido:
- Ora, isto é teu máximo? Nem suei! – gozava ele, a desaparecer em mais um shunshin.
Infelizmente, seu sensei era extremamente rápido. Apesar de ter evoluído bastante no controle de chakra, ainda estava longe de conseguir que qualquer coisa atingisse o mesmo nível de agilidade do Fuyuki. Nem ela própria conseguia shunshins tão velozes... Usar o fuuton também não adiantava muita coisa, visto que ele lidava muito bem com o elemento vento. Precisava de um tempo pra pensar:
- Ow, garota, em batalha não temos moleza não! – ele gritava mais ao longe, já a executar uma já conhecida sequência de selos.
Porém, como um raio, Tora sacou com extrema agilidade duas granadas de fumo e atirou-as a sua frente, aproveitando-se para sumir por entre a cortina de fumaça que ganhava o local. Desconfiado, Raiden trocou os selos, para criar uma corrente de ar que dissipasse aquilo, e assumiu uma postura bem mais ofensiva, facilmente reconhecível por conta do arqueamento de sua sobrancelha esquerda: ele sabia do que a Nara era capaz, embora nunca tivesse realmente sido derrotado por ela.
E então três Tora’s apareciam à sua frente. “Fácil demais, são bunshins. Bem previsível da parte dela...”, pensou. Sacando três shurikens, banhava-as em seu chakra, rotacionando com extrema agilidade e acertando seus alvos facilmente, transformando-os em lama. Porém, percebia que o bunshin do meio trazia consigo um pergaminho, tendo contato com seu chakra e ativado a Armadilha dos Lobos de Lama. “Bastante engenhoso!”, pensava orgulhoso, enquanto controlando suas armas, conseguia facilmente derrotar a armadilha, dilacerando o pergaminho antes que o lobo que havia saltado dele se transformasse em lama a poucos centímetros de si.
- Sei que isto não é tudo, pequena. Vamos lá, mostre-me teu potencial! – gritava ele.
Seus aguçados ouvidos então detectavam um metálico barulho a cortar o ar. Enquanto desviava-se de kunais vindas de nenhures, notou uma conhecida forma a sair do chão, como se fosse uma projeção do mesmo, aproximando-se do agora monte de lama advindo dos bunshins e do lobo, infundindo a própria energia nas suas shurikens condutoras de chakra. “Provavelmente vou me arrepender, mas é ótimo que sua capacidade cognitiva seja excepcional, mesmo não sendo realmente uma Nara. E é fato que ela está tentando ganhar tempo...”, pensava, enquanto tentava entender aonde a jovem queria chegar.
Com a mesma velocidade com que tinha emergido da terra, até a altura do busto, e apanhado as shurikens, ela agora desaparecia como que sugada pelo próprio solo, levando-as consigo. Raiden admirava o controle de chakra da garota, que controlava com naturalidade o fuuton (seu elemento primário) bem como o doton (aprendido com seu pai, Nobuo), possuindo uma grande destreza e notável agilidade na manipulação Elemental. O Fuyuki respirava fundo, tentando entender o plano da garota, com tantos atos aparentemente desconexos. Porém ele a conhecia o suficiente para entender que tudo tinha um propósito – principalmente agora, que tinha tido três armas condutoras de chakra roubadas.
E então, vindo em direção às suas costas, uma das três shurikens vinham ao seu encontro, banhadas pelo chakra da kunoichi, que usava o Suiran Reppū com certa maestria. Com alguns rápidos selos, Tora recostada calmamente no galho de uma árvore utilizava o To Shuriken no Sen Iroai, criando centenas de rápidas shurikens que avançavam ferozes de encontro ao frágil corpo do ex-ANBU. Este sorria, e rotacionando chakra fuuton, criava sem dificuldades um escudo de vento que o protegia daquela chuva mortal. Assim que parou, ele já preparava-se para defender-se do pequeno míssel teleguiado que era sua própria shuriken com o chakra de sua pupila, quando de repente sentiu seus movimentos restritos:
- Tsc... Eu realmente subestimei-te. Não imaginei que o seu plano era apanhar-me no Kage Mane com minha própria shuriken. Isto é mesmo admirável... Pensar em tantas opções de distrações até de fato apanhar-me é realmente digno dos Nara. Podes deixar ao menos bater palmas para ti? – ele dizia calmamente, enquanto as sombras que a chuunin havia armazenado na arma imobilizava o jounin, já que estava fincada no solo justamente onde havia uma sombra dele.
- Achas mesmo que vou confiar em ti? Preso pelo Kage Mane não quer dizer necessariamente derrotado... – retrucava ela, a aproximar-se.
- Não entendi o motivo de teres roubado as minhas shurikens. Afinal, tens armas apropriadas para isto... – ele dizia.
- Sim, eu tenho. Mas não estão aqui comigo neste momento. Lembre-se que você me pegou desprevenida, pois nem meu tessen está aqui – a jovem estava visivelmente irritada.
- O problema é teu. Shinobis têm de andar bem equipados. Nunca se sabe quando seremos atacados, pequenina. Devias lembrar disto quando sua suposta família seqüestrou-te... – ele agora sorria, ao perceber um leve tremor nas mãos dela.
- Sim. “O passado existe pra não cometermos o mesmo erro duas vezes”. E é por isso que oficialmente, tenho a minha primeira vez! – ela sorria, enquanto fechava o punho e dava um potente soco no rosto do seu sensei.
- Ok. Admito que fui derrotado por ti. E peço que pegue leve na próxima vez que for dar-me um murro... – reclamava um tonto Raiden, quase a desmaiar por conta do impacto do golpe que acabara de receber.
Sim, a primeira vez que efetivamente derrotara seu sensei. Sabia que estava ainda longe para comparar-se a ele, e que por algo que ela ignorava, naquele habitual duelo ele ficou mais na defensiva. Certamente havia um motivo para aquilo, pois por mais que não parecesse, havia ordem e lógica na cabeça daquele bipolar. Talvez fosse melhor esperar ele acordar e perguntar o porque de não ter adotado uma postura mais ofensiva... "Será que demorará muitas horas?", pensou ela.