****** Parte III ******



O silêncio era incômodo, tenso. Perfilados de frente ao possível inimigo, Hana e Daisuke mal acabaram de se conhecer e já tinham pela frente um inimigo em comum. Apesar de em maior número, os dois não podiam recuar sem correr o risco de serem pegos pelas aranhas-alçapão, nem avançar, pois o elemento acabara de se posicionar contra eles. O tempo corria rapidamente e em silêncio os três se entreolhavam. Naquele momento existiam três frentes de combate. Hana encarava o estranho ciborgues como uma ameaça, talvez menos que o outro que acabara de confessar ser o criador das armadilhas que vitimaram sua equipe. Por outro lado, Daisuke não tinha escolha. Aquela poderia ser a única médica disponível em quilômetros e ele já começava a sentir novamente as tonturas e a febre. - Estou do seu lado. Preocupe-se com o outro. Dê-me cobertura. - Comentou, tentando dar um rumo à desconfiança da jovem médica. Ainda com estranheza, a mulher acenou positivamente e deixou o estranho homem mecânico partir contra o criador da emboscada. A tontura o fazia deslizar lateralmente ao avanço, mas assim que arremeteu seu punho contra o chão, a eclosão magnífica de terra, pedras e areia o apresentou com violência. Saltando como pôde para a lateral, o homem das aranhas foi jogado contra uma das residências da vila, sendo amortecido por uma teia que acabara de expelir pela boca. Ele usa o Okashô. - Reconheceu Hana.

- O que você quer aqui?! Onde estão os aldeões?! - Inquiriu a médica, mantendo-se na defensiva.
- Tenho a alcunha de Feng e sou um ninja da Kagegakure! - Exibiu-se o homem, saltando de volta ao chão.
- Kagegakure? Isso é uma lenda, não existe tal Vila das Sombras! - Declarou a médica.

- Existe sim... E agora tudo se encaixa. - Dizia Daisuke, cambaleando para fora da cratera que fizera. Internamente ele suava frio. A febre aumentava a cada movimento brusco. O repouso talvez pudesse atrasar a praga, mas ele sabia que precisava agir. Vendo que sua companheira ainda continuava reticente, o nukenin resolveu esclarecer tudo.- Vocês não costumam agir à luz. - Denunciou. E continuou explicando aos ouvidos atentos da jounin da Folha. Segundo ele, a vila das Sombras era uma organização de criminosos que se situava num local secreto. Conspiradores, eles derrubavam governos e instituições para seus próprios interesses e parece que a paz nas Vilas Ninja não era de seu interesse. Realmente o mercado-negro estava em polvorosa esses dias, mas que até o momento não conseguia saber o motivo. Até agora. Finalmente a Vila das Sombras começava a se movimentar e seu primeiro alvo era o País do Vento. Hana ouvia tudo aquilo com certo ceticismo, mas mesmo assim, a ligação dos eventos e os argumentos da marionete-viva começavam a fazer sentido. O problema é que nenhum dos dois entendia a extensão de suas descobertas. Enquanto isso, Feng assistia o outro nukenin discorrer suas conjecturas, admirando como ele tinha escapado sem nenhum arranhão de suas aranhas queridas.

- Engana-se em apenas uma coisa... Quem disse que queremos apenas o País do Vento? - Retorquiu provocador.

Hana mais uma vez sentiu o calafrio percorrer sua coluna. Ela se lembrava dos cidadãos da Folha, de suas alegrias e as preparações para as festas. Não foi difícil perceber que aquele comentário foi dirigido diretamente a ela. - Preciso dele vivo. - Acenou ao novo aliado. Ouvindo isso, Daisuke sorriu com o canto da boca, virando-se para Claws ao levantar os punhos, saltando sobre o inimigo como um predador faminto. Enchendo a boca, Feng expeliu uma grande quantidade de linhas pegajosas a fim de aprisionar a máquina em sua rede quando o bushin estourou para revelar que se tratava de apenas uma cópia. Feng não pareceu surpreso ao saltar em recuo novamente, momentos antes que o nukenin o atingisse vindo do subsolo. O que ele não contava é que Hana utilizava sua posição de retaguarda para criar um escudo triangular às costas do inimigo que teve sua trajetória interrompida num impacto brando. - Mas o que... - Reclamou Feng, surpreso, quando Daisuke rodopiou em seu eixo num poderoso chute frontal. Com o impacto, o adversário foi jogado novamente contra a parede de energia, ficando zonzo por milésimos de segundo quando Hana finalmente ganhava distância suficiente para aprisioná-lo com sua telecinese. Braços e pernas aprisionados por uma energia invisível, o nukenin se impressionava com a novidade, mas logo sua visão se tornou turva a ponto de fazê-lo cair de joelhos.

- Ha, ha, ha! Vocês já estão mortos! Estão todos contaminados! - Debatia-se, vendo o rasgo no uniforme da moça.
- Você não me parece preocupado com a praga... Porque será? - Respondeu com bastante seriedade.

Daisuke ainda se recuperava do mal-estar quando testemunhou a desespero de Feng em ter sua mente invadida pela jounin. Aos berros de negação, ele percebia suas memórias e planos passando em seus olhos como num filme agonizante até que tudo parou e ele desmaiou pelo esforço mental. Aproximando-se do homem abatido, Hana checou seus batimentos e preocupada com a segurança do inimigo, depositou-o no chão com calma. -[b] Seria mais fácil matá-lo. - Condenou o nukenin, levantando-se com dificuldade. Aquele tipo de comentário já não a incomodava mais. Era típico dos ninjas acharem que tudo se resolve com morte. Aliás, eles tinham outras prioridades e agora ela tinha toda informação que queria. Caminhando até ela, o nuke não se incomodou em arrastar o bandido para a sombra de um varanda e amarrar o cara das aranhas para não contrariar sua única salvação. Um jogo baixo de interesse. E enquanto esta retirava o restante do uniforme especial já em frangalhos, ele observava qualquer indício de contaminação em seu corpo, mas não percebeu nada.  - Deite-se. - Comandou a médica. Daisuke obedeceu e usou algumas linhas de chakra para destravar seu núcleo orgânico. Hana assistia tudo aquilo com um misto de admiração e nojinho. Retirando seu kit médico, ela rapidamente começou as tentativas de estabilizar a doença, injetando no que parecia ser uma artéria alguns anticorpos experimentais.

- Isso deve te fazer sentir-se melhor. - Sussurrava.
- Não estou preocupado com isso. Tem cura? - Retrucou com angústia.
- Sim. E sei onde consigo a vacina. - Concluiu.
- Para onde iremos então? Já estou pronto. - Tentou levantar-se.
- Por enquanto você precisa conservar suas energias. - Recomendou.

O ninja entendeu a deixa e retornou a deitar.

- Darei uma olhada nas outras casas à procura de sobrevivente. - Avisou, levantando-se para caminhar na direção das outras construções.