Kazuki fechou a porta de casa e olhou para o céu. O sol brilhava intensamente acima das nuvens. Por uns momentos fechou os olhos e deixou-se inundar pelo calor. “Bora lá” despertou do transe temporário e iniciou o seu percurso. Nada fora do comum se sucedera pelo caminho e, por isso, minutos depois estava em frente ao edifício da Academia Ninja.
- Nervoso Kazuki kun? – Perguntou Tatake Urura, quando o rapaz entrou na sala. Esta era uma grande amiga e segundo Kazuki era “a rapariga mais fixe da turma”. Andava sempre com os rapazes, brincava com eles, ria-se das suas piadas e até gozava com as outras raparigas. Ela era única!
- Não me faças rir Urura. – Proferiu Tuketsu Abunai surgindo nas suas costas. – Se alguém pudesse estar menos nervoso que este rapazolas, estaria, com certeza, a aproveitar a vista debaixo de terra. – Abunai era o seu melhor amigo. Alto, de olhos azuis e cabelo loiro esvoaçante impressionava qualquer uma, tanto pela aparência, como também pela sua capacidade de dominar os Ninjutsus mais difíceis tão facilmente. Kazuki, moreno de olhos castanho-esverdeados, encantava-as também pela imagem, assim como pelas suas aptidões atléticas. Juntos formavam a dupla mais social e adorada da escola. – Alias! Ontem vi-o acertar em cheio em 5 alvos de uma só vez enquanto dava um mortal para trás!
- Uau! A sério Kazuki kun? – Perguntaram vários colegas interessados que se aproximaram para ouvir a conversa e olhavam-no espantados. O rapaz agradeceu mentalmente Abunai por tê-lo poupado de responder. Era verdade que se sentia um pouco nervoso, mas “Estava tudo controlado.” Por uma questão de princípios sentiu-se compelido a dizer:
- Calma aí pessoal! Se acham que aquilo era muito, nem queiram saber o que é que o Abunai fez há dois dias atrás. – Parte da plateia olhava-o desejosa por ouvir os grandes feitos do seu colega. A outra já olha para o loiro como se ele fosse algo divino. – Apanhou um…
- Muito bem, chega de recreio! – Interrompeu o professor Ioi, assustando vários alunos com a sua voz autoritária. – Sentem-se nos vossos lugares! – Ordenou.
Enquanto subia os degraus do auditório, Kazuki descobriu uma rapariga que não viera juntar-se à conversa. Era Kaia Mitoshi. Uma rapariga de cabelo preto liso que lhe tapava a cara lateralmente e caia numa franja arranjada. Tinha uns olhos purpura hipnotizantes e falava com uma voz eloquente e enganadoramente amigável. Ela parecia ser a única pessoa que detestava a “dupla maravilha”, era assim que ela os apelidava. Sempre que lhes dirigia a palavra era com intenção de os repreender. Também fora ela que os denunciara inúmeras vezes quando eles faziam asneiras. Os dois suspeitavam que ele os detestava por eles serem melhores que ela. Exceto, claro, em Genjutsus. E talvez nos testes escritos, isso porque ela passava a vida a estudar e eles: “Dá demasiado trabalho escrever aquilo tudo”. Kaia parecia saber tudo sobre a arte das ilusões e sabia até executar algumas, como Kazuki e Abunai descobriram quando, uma vez, começaram a irritar a rapariga. É claro que foi a primeira e última vez. Depois desse incidente, eles organizaram uma votação, com os restantes colegas da turma, na qual escolheriam um nome para chamar a rapariga. A
Esquasitaia ganhou, para desagrado de Kazuki e apesar dos argumentos deste: “Esse é um nome pouco original na minha opinião. Penso que a
Esquisita, feia, monstruosa, bruta e malcheirosa Kiki seria mais adequado.” De qualquer das formas, desde esse dia toda a gente lhe chamava
Esquasitaia secretamente. Talvez ela já soubesse, mas isso também não os preocupava. Por isso Kaia passava os intervalos sozinha, sendo apenas acompanhada pelos livros.
O moreno sentou-se no seu lugar habitual, numa das mesas do fundo entre Abunai e a janela. Era o lugar perfeito. Tinha um panorama total da sala e daquilo que cada um fazia. Se as aulas se revelassem aborrecidas, ou ficava a olhar lá para fora, ou a conversar com o seu amigo. Na verdade, até tinham um caderno que utilizavam para jogar nas aulas.
- Daremos agora inico às provas gennin. Por favor aguardem lá fora e apenas entrem quando forem chamados. – A sala encheu-se com o arrastar das cadeiras e com o barulho dos alunos. Lá fora, clima de ansiedade era claramente visível. Muitos repetiam em surdina nomes de jutsus ou de técnicas e definições específicas. Outros escondiam o nervosismo falando sobre o que os esperava e se estavam preparados ou não. Kazuki não se sentia confortável em nenhuma das situações, por isso encostou-se à janela observando o que se passava do outro lado do vidro. Ver as pessoas atarefadas de um lado para o outro, fê-lo lembrar-se que não era o único com preocupações e isso transmitia-lhe alguma paz de espírito. Enquanto seguia com o olhar um rapaz a brincar, Ioi-sensei falou.
Chamou o primeiro aluno, neste caso era Ashito Sashia. A turma remexeu-se deixando passar a colega, ao mesmo tempo que lhe desejavam boa sorte. “Hmmm ordem alfabética. Nada de novo.” Seria o último. Quando a rapariga os deixou, todos os outros se calaram e ficaram com ar pensativo. Alguns tentaram escutar o que se passava do outro lado, mas concluíram que não se ouvia nada. O silêncio era sufocante, ninguém parecia ter coragem para falar. Os ponteiros dos relógios iam rodando e o corredor ficava cada vez mais vazio. Aqueles que ficavam estavam cada vez mais nervosos, até havia uma aluna que tremia irregularmente. Kazuki estava de tal modo irritado com os colegas e com aquele ambiente, que desejou felicidades a Abunai “Deita-os a baixo por mim, se faz favor!” e foi passear pelos corredores da escola descontraidamente. Poucos pareceram reparar, de tal modo que estavam absortos nas suas preocupações.
Quando voltou já só havia duas pessoas à espera. Apoiou-se na parede aguardando impacientemente. Não falou com os outros, pois estes também não pareciam dispostos a isso. Passado algum tempo, ficou sozinho no corredor frio. Afastou-se e começou a saltitar dando murros em inimigos imaginários. “Vamos a eles mano. Eles são fracos, não conseguem melhor que isto.” Esquiva-se e socava os oponentes, enquanto se libertava dos nervos. Minutos depois ouviu o professor chamá-lo:
- Watake Kazuki! – Dirigiu-se à porta. “Vamos a isto!”. Inspirou profundamente e abriu a porta.
* * *
Acabou o exame, desfazendo o seu clone sem sombra, e foi sentar-se no lugar. “Já está! Fácil…”. No início ter a turma nas suas costas a observá-lo deixou-o desconfortável, mas rapidamente os esqueceu, pois as perguntas que o sensei lhe perguntava requeriam mais a sua atenção. No geral, achou que se tinha safado, apesar de ter escorregado numa ou outra pergunta mais teórica. Sentou-se e cumprimentou Abunai socando os punhos. Este murmurou algo parecido com – Bem jogado.
- Muito bem agora que todos acabaram, posso finalmente dizer-vos os resultados. – A turma ficou em êxtase devido à intensidade do momento. – A verdade é que antes deste “exame” já estava definido quem iria passar ou não. Isto foi apenas um desafio ao vosso autocontrole. – Alguns colegas ficaram aliviados, outros indignados já que tinham estudado tanto para a prova. – De qualquer das formas, todos passaram! – O ambiente foi de gritaria e alegria em toda a sala. Estavam todos a sorrir e sentiam-se orgulhosos deles próprios.
- Agora já podemos desafiar qualquer um que se atravesse no nosso caminho. – Opinou Abunai descontraído.
- Especialmente se estivermos juntos. Fogem todos com medo – Completou o outro sorrindo.
O sensei conseguiu reestabelecer a ordem e prosseguiu. – Dir-vos-ei agora em que equipa gennin cada um de vós ficou. – “Abunai e Urura vá lá!” suplicou Kazuki mentalmente. A ideia de ficarem os três juntos era simplesmente brilhante e, segundo ele, bem pensada, porque trabalhavam bem em equipa. O professor começou a ler a lista que continha as equipas. Segundos depois Urura foi escolhida para outra equipa que não a deles. “Ao menos não ficou numa equipa muito má.”. De seguida o professor Ioi informou:
- Zota Team. Taketsu Abunai, - Neste momento, Kazuki arregalou os olhos ardentemente. – Watake Kazuki – A alegria era tanta que lhe apeteceu saltar e gritar, mas controlando-se virou-se discretamente e piscou um olho ao parceiro. “Oh yeah! Eles sabiam que não nos podiam separar.” – e Mitoshi Kaia.
“Não! Não, ela não! Por favor!”