- Bora lá velhote! - Disse Kazuki brincando com o seu pai, Mateki. Encontravam-se os dois no campo de treino habitual. Uma pequena floresta de um lado e um lago do outro. Entre eles havia um terreno relvado que ocupava a maior parte do recinto.
Kazuki baixou-se e começou por fazer algumas flexões. As primeiras não lhe causaram grandes problemas, mas minutos depois a cada repetição a dificuldade aumentava. Tinha de continuar até não conseguir mais, ou então estaria a dar motivos para também desistir noutras situações. Começava agora a tremer, o que dificultava o exercício ainda mais. Teve de recorrer ao máximo da sua força e determinação para se elevar muito lentamente mais duas vezes. Na tentativa seguinte, ao esticar os braços para voltar a subir, os músculos nos braços falharam, como que se desligando, e acabou por cair. A cara estava vermelha devido ao esforço extremo. Deixou-se ficar estendido na relva. Estava ofegante, os braços estavam inchados e ainda tremiam ligeiramente.
Passado algum tempo levantou-se. Pegou em quatro cones e colocou-os num quadrado. Alguns metros à frente de cada vértice colocou um alvo. Dirigiu-se ao primeiro ponto e sacou quatro shurikens, duas em cada mão. Inspirou profundamente, abstraindo-se de tudo o resto. Depois de totalmente concentrado Kazuki disparou desenfreadamente até ao cone seguinte. Uns centímetros antes travou abruptamente, cravando as pontas dos pés na relva. Enquanto isso, olhou para o alvo e movendo um braço na direção deste soltou habilmente uma shuriken. Não parou para ver o seu resultado, pois cortou imediatamente na direção do próximo cone, exercendo força na perna contrária ao movimento. Acelerou o máximo que conseguiu e, uma vez mais, ao chegar próximo do vértice cravou impiedosamente os pés no solo. Desferindo um único movimento com o braço, abriu o respetivo dedo para soltar a estrela na direção pretendida. Mais uma vez, enquanto o projétil ainda estava no ar, virou-se e impulsionou-se contra a relva, correndo até ao próximo ponto.
Completou o exercício, fazendo o mesmo processo nos restantes dois vértices, e parou uns segundos para descansar, apoiando as mãos nos joelhos. Depois de ter nivelado um pouco a respiração, ergueu a cabeça e observou os seus resultados. Todas as shurikens acertaram nos alvos, mas se de um jogo de dardos se tratasse em nenhuma conseguiria a pontuação máxima. Decidido a fazer melhor caminhou até um dos cones e recomeçou o exercício. Não correu com tanta velocidade, pois já não conseguia atingir esse nível. Optou então por fazer o exercício mais lentamente, primando na técnica. Como tinha mais tempo para travar, foi mais fácil atirar os projéteis com maior precisão. Assim, no final do circuito os seus resultados tinham sido claramente melhores. Reparava agora que o exercício exigia mais energia do que, à primeira vista, parecia. Estava cansado e a arfar, aqueles movimentos exigiam uma grande concentração e agilidade devido às rápidas trocas de velocidade.
- Já chega! Ora muito bem, hoje vamos treinar uma técnica nova. – Kazuki sorriu. “Um novo Justu!”. - Muito útil para aprendermos a controlar os níveis desejados de chakra. Chama-se Mizu Kinobiri no Jutsu. Sim, já deves estar a perceber como funciona. – Disse Mateki piscando-lhe um olho. – Por isso vamos treinar para já o Kinobiri normal.
O rapaz caminhou até à árvore mais próxima. Efetuou o gesto de mão necessário e começou a concentrar chakra nos pés. Encostou o pé ao tronco e este pareceu quebrar-se ligeiramente nesse local. “Estou a concentrar demasiado chakra!”. Assim, reduziu a quantidade de energia física e mental que concentrava no membro inferior e o seu pé “colou-se” à madeira. Fez o mesmo com a outra perna e, de repente, estava de costas viradas para o solo, observando as folhas à sua frente. Mantendo a concentração de chakra correu até ao topo da árvore e enveredou por um ramo mais grosso desta. Estava agora de cabeça para baixo, moveu a cabeça para trás e olhou para o seu pai lá em baixo.
- Experimenta fazeres uns abdominais! – Gritou ele.
Kazuki, sempre atento aos níveis de chakra nos pés, elevou lentamente o seu torso. Era difícil fazer as duas tarefas ao mesmo tempo. Por um lado, tinha de estar concentrado em erguer o corpo e, por outro, também tinha de concentrar corretamente a energia espiritual e física. Passadas algumas árduas repetições começou a tremer, dificultando ainda mais o exercício. A cada elevação a dor na barriga acumulava-se e o corpo agitava-se ainda mais. Apercebeu-se que ao tremer a quantidade necessária de chakra variava ligeiramente, pois na última repetição sentiu um bocado do ramo a estalar debaixo dos seus pés assustando-o. Executou mais dois abdominais, recorrendo à sua força máxima, e sentiu-se tanto a descolar como a partir o ramo por baixo.
Ao voltar a estender-se na última repetição, soltou-se e começou a cair. Agilmente puxou as pernas, encostando-as ao peito, rodando para trás. No momento em que a cabeça ficou virada para cima e os pés para baixo, aterrou. Rebolou para amortecer a queda, de qualquer das formas ficara com os pés a doer.
- Nada mau! Vamos lá ver como te sais com o Mizu Kinobiri então. – Disse o pai caminhando em direção ao lago. Ao chegar a este, colocou um pé sobre a superfície calma da água e continuou a andar. Kazuki ficou um tanto surpreendido, já tinha ouvido falar de algo parecido, mas agora que via parecia ser algum poder divino. – Não é nada de especial! Anda, junta-te a mim.
O jovem encaminhou-se até à margem e ficou a olhar apreensivamente a água. Executou o selo para concentrar chakra e dirigiu-o aos pés. Colocou um deles sobre água e sentiu a superfície mais rija do que estava à espera. Confiante colocou o outro. Estava em cima da água, mas era lhe difícil equilibrar-se, a água parecia vibrar por baixo dele e de vez em quando afundava ligeiramente. De repente, a superfície que o mantinha de pé pareceu quebrar-se e ele caiu. Encharcado saiu lentamente do lago. O seu pai ria-se e alegremente disse:
- Esta técnica é muito mais difícil de dominar que o Kinobiri normal, porque a quantidade de chakra que necessita de ser emitida muda a todo o momento. – Kazuki ficou aborrecido. Como é que ele iria saber que quantidade havia de concentrar? - Com tempo vais habituar-te a essa variação e conseguirás até lutar em cima da água!
O gennin executou, mais uma vez, o selo necessário e concentrou algum chakra nos pés. Colocou o primeiro pé e, sentindo-se mais ao menos estável, colocou o outro. Continuava desequilibrado, a esbracejar e a mover o corpo para trás e para a frente. Tentou alternar o fluxo de energia espiritual nos pés a cada segundo e foi bem-sucedido. A superfície do lago pareceu ficar mais dura e assim voltou a ganhar o equilíbrio, apesar de ainda tremer ligeiramente nas pernas, pois estas elevavam-se ou afundavam-se constantemente.
- Experimenta andar! – Gritou-lhe o pai mais à frente.
Levantou um pé e, ao mesmo tempo, sentiu o outro afundar-se perigosamente. A barreira invisível que o mantinha à tona desapareceu e ele voltou a experimentar o líquido frio pelo corpo. Saiu da água e tentou novamente. Desta vez ao levantar a primeira, lembrou-se de concentrar o dobro da quantidade de chakra na perna em que se apoiava. A tremer foi dirigindo a energia física e espiritual para o pé levantado quando este tocou novamente a superfície do lago. Sucesso! Não tinha caído e agora tratava de fazer o mesmo com a perna traseira.
Relutante caminhou sobre o lago até ao pai. O exercício era estafante, concentrar constantemente tanto chakra exigia muito dele. Ao fim de alguns minutos juntou-se a Mateki:
- Nada mau! Mas o que dizes se eu te fizer isto? – E com isto desferiu um soco rápido na direção do filho. Este assustado tentou saltar para trás, mas a barreira que o impedia de cair voltou a desaparecer e ele sentiu-se a afundar, mais uma vez. Antes de a água o cobrir totalmente, o seu pai amarrou-lhe o braço e ergueu-o até ficar com a cabeça de fora. - Experimenta concentrares chakra nas mãos para subires. – E Kazuki sentiu o braço do pai a largá-lo.
Automaticamente recorreu ao seu fluxo de energia e dirigiu-o à mão. Quando esta tocou na água, pareceu ao gennin que algum gancho o havia apanhado. Sem conseguir respirar, pões a outra mão de fora e transferiu metade da quantidade de chakra de uma mão para a outra. Agora com as duas mãos estáveis e a impedi-lo que se afundasse, começou a fazer força nestas para se elevar. Ao fazê-lo reparou que o gancho que o segurava começou a ficar mais fraco. “Se eu me impulsionar contra a água, tenho de concentrar ainda mais chakra, para equilibrar a força que faço.” Assim, ao mesmo tempo que fazia mais força nos braços, acumulou mais energia nas palmas das mãos. O processo foi demorado, mas Kazuki conseguiu elevar-se completamente. Agora já de pé sobre o lago, o pai disse-lhe:
- Muito bem, já chega! Vamos sair daqui. – Com isto, pai e filho caminharam até à margem. Quando tocou solo firme, o rapaz atirou-se de braços abertos para o solo. Que saudade do solo macio que o impedia de cair fosse onde fosse. Deixou-se ficar na relva, enquanto regulava a respiração. Alguns minutos depois, Mateki disse:
- Vamos lá a uma luta de Kenjutsu. – Retirando duas kunai e empunhando-as.
O gennin ainda cansado lança um suspiro içando-se de seguida. Retirou uma kunai do bolso e empunhou-a no braço direito. Tinha um mecanismo escondido no braço esquerdo que lhe permitia retirar rapidamente outra kunai, podendo apanhar o adversário desprevenido. Olhou o pai atentamente à procura de alguma dica, que o pudesse indicar onde atacá-lo. Acabou por concluir que não havia nada de relevante, Mateki fora um ninja muito experiente e aprendera a reparar esses vícios involuntários do corpo. Kazuki lançou um último suspiro e partiu numa correria. Muito rapidamente percorreu a distância que os separava e a menos de um metro saltou para ganhar mais impulsão. Segurando firmemente a arma ninja, desferiu um golpe circular no peito do adversário. Este foi aparado facilmente. Com a kunai na outra mão, o pai atacou numa investida frontal. Kazuki move rapidamente o braço esquerdo e desvia o golpe para o lado, que passou a centímetros da sua barriga. A mão de Mateki que segurava a kunai atacante roda e aponta-a para o flanco direito do rapaz. Este, muito rapidamente puxa o braço com a arma para baixo e chega a tempo de bloquear o ataque da kunai.
Sabendo-se numa posição precária, o jovem salta várias vezes para trás, de modo a deixar algum espaço entre eles. De seguida, recompôs-se. Passou a mão pelo cabelo ajeitando-o e olhou para Mateki que havia disparado na sua direção. Assumindo uma posição defensiva o jovem colocou-se pronto para o embate. Esperou pelo adversário, enquanto o via a correr com as duas kunais apontadas para si. A escassos centímetros o adulto não usou as kunais mais sim a força bruta para empurrar o filho para trás. Este foi deslizando pela lama, apoiou-se com uma mão para não cair. Depois olhou para o espaço entre si e a pessoa à sua frente, enquanto se levantava.
Cravando violentamente os dedos dos pés no solo, Kazuki parte numa correria. Próximo do pai começa a desferir vários golpes. As suas investidas eram variadas, tanto golpes rápidos e superficiais, como também lentos e violentos. A princípio, usava a kunai para atacar e a mão para aparar os golpes do adversário, mas depois foi obrigado a usar o mecanismo escondido e passou a lutar com ambas as armas. Apesar disso, nunca conseguiu tocar no adversário. Depois de um golpe desastrado do gennin, a situação inverteu e passou a ser o pai a atacar o filho, com múltiplos ataques. Dos vários golpes infligidos, alguns nem chegavam perto de si, serviam apenas para distrair o jovem levando-o a virar-se para um lado ou ocupar uma mão a bloquear um golpe imaginário. Kazuki foi lentamente recuando, para escapar à maioria dos ataques, ou então bloqueava-os.
Passados alguns minutos, já com vários cortes ao longo dos braços, nas pernas e no peito, Kazuki ainda não conseguira aproximar-se de Mateki. Muito cansado, o gennin defendia-se o melhor que conseguia dos ataques do pai. Lentamente apercebeu-se de um padrão nos ataques do adulto. Era complicado, porque tinha várias variações consoante os movimentos de Kazuki, mas o ponto de partida era o mesmo. Observando melhor, começou a perceber a sequência. Iniciava com um ataque circular da direita para a esquerda com a mão destra. De seguida, se o rapaz se desviasse para trás, com a mão esquerda passava por debaixo da mão direita num ataque rápido e preciso, mas que não chegava a atingir o adversário. Se o rapaz bloqueava o primeiro ataque, desferia um golpe dirigido ao ombro empurrando-o para trás e reiniciava a sequência. O terceiro termo decorria enquanto a mão esquerda se retraia, onde dava um passo para a direita e se colocava de lado para o filho. Depois usando o braço que desferira o primeiro golpe circular, efetuava o movimento contrário, da esquerda para a direita, como que puxando a kunai para si. De seguida, dava um passo para a esquerda e o último movimento consistia num ataque com mão esquerda em direção ao braço destro do adversário, para ter vantagem ao recomeçar a sequência. Se Kazuki estivesse mais desatento ou fosse mais lento, golpeava-o no ombro ou na barriga em vez do braço.
Começando a perceber a estratégia utilizada, o jovem optou por um estilo de defesa em que conseguia passar pela sequência sem ser golpeado. Como já sabia o que acontecia a cada movimento, Kazuki percebeu onde podia atacar o pai e em que momento seria obrigado a proteger-se. Os minutos foram passados trocando golpes, bloqueando ou desviando, até que o jovem começou a dominar a luta. Mateki começava a cansar-se, e apesar de ele estar ainda mais cansado, isso deu-lhe um incentivo para atacar mais ferozmente. Conseguia agora atacar constantemente, avançando e desferindo múltiplos golpes. Saltou por cima do pai e esquivando-se de um ataque, deu meia volta sobre a cabeça deste. Ao começar a cair rodou as kunais nas mãos, passando a parte da lâmina para o lado contrário, e desferiu dois golpes paralelos vindos de cima, com as armas apontadas para baixo. Mas tinha-o subestimado, ele bloqueara o seu ataque colocando as duas kunais atrás do pescoço. O jovem aterrou e continuou a fazer força contra as kunais, empurrando-as para baixo. Depois algo se sucedera e estava com uma arma encostada ao pescoço. Olhou para o lado e viu Mateki a segurar a kunai. Agora Kazuki compreendia, o adulto desistira de resistir ao bloqueio e muito rapidamente se esgueirou para o lado e apontou a arma ao seu filho.
- Não devias ter-me subestimado. – Acusou ele. - Acabei por ganhar, mas já lutaste melhor. Estás a evoluir e isso é o que importa. Agora vai para casa e descansa. Amanhã temos outra sessão de treino. – Anunciou muito alegre.