O DEMÔNIO DA FLORESTA PERDIDA
O posto de troca não estava assim tão longe. Só mais alguns quilômetros ao sul dali e ele já começaria a ver a fraca iluminação vinda do vilarejo. Carregando um grande saco às costas, o qual tinha o fundo manchado por um líquido escarlate, Daisuke percebia que o objeto deixava uma pequena trilha de sangue pelo chão que refletia a fraca luz do sol poente no horizonte. Caminhando sem pressa pelo caminho sinuoso que passava por entre alguns pilares de pedra, o Akatsuki deixava de lado aquele detalhe macabro e se voltava com curiosidade àquele relevo estranho, quase alienígena, graças aos milhares de anos de erosão natural. Balbuciano frases inaudíveis, ele trazia poucas expressões faciais, mas reclamava em seu inconsciente pela dificuldade que tivera em abater aquele alvo.
Preciso ficar mais forte. - Repreendia-se durante o avanço. O Akatsuki havia passado algumas semanas à procura daquele alvo, até que o encontrou nos confins do País da Terra, no meio de um deserto rochoso onde só existia morte e súplica. Mas isso era passado, e o passado não costumava incomodá-lo mais do que o necessário. Arrependimento não poderia existir em sua consciência e o fato de que em breve receberia sua recompensa só o deixava mais ansioso. Era nessa viagem para a entrega dos alvos que ele aproveitava para organizar em como gastaria a quantia para aumentar sua produtividade e continuar com suas pesquisas prioritárias, pois já passara da hora de começar sua jornada à perfeição.
Algumas horas depois, a porta do complexo rangeu e o rapaz adentrou no recinto com sua carga. O lugar não tinha nada de diferente dentre aqueles que ele já estava acostumado. Era na verdade um saguão sem móveis, com bancos de concreto presos nos quatro cantos das paredes e de frente à entrada, vários guichés protegidos por vidro blindado onde os atendentes falavam através dos auto-falantes. E por fim, ao lado de cada guichê, gavetas prateadas eram dispostas para o depósito do cadáver ou do capturado e a entrega da consequente recompensa. -
Essa franquia tem o mesmo modelo em todos os lugares? - Perguntava-se retoricamente enquanto puxava a gaveta e depositava o saco ensanguentado. Fechando a gaveta, o corpo era averiguado e após poucos minutos de espera, o nukenin era chamado ao guichê para o pagamento.
Sem perder tempo, o caçador finalmente buscou o saco de moedas e se dirigiu à saída quando algo lhe chamou a atenção em sua visão periférica: A lista de contratos. Exposta na parede do lado de fora do complexo, a lista de missões naquele lugar era escassa ou de pouco valor.
Nada de interessante. - Decepcionou-se enquanto deslizava o dedo indicador pelo papel até que encontrou algo que chamou sua atenção...
Treze mil ryos?! Aquela fortuna era paga para quem capturasse, vivo ou morto, o "Demônio da Floresta Perdida". O lutador sorriu, animado com a possibilidade de fazer mais dinheiro. Sua pesquisa poderia aguardar mais um pouco. Seus olhos brilharam e rapidamente Daisuke já retornava à sala de trocas.
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Ô chefe, que história é essa de demônio? - Perguntou ao contato.
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É o que está escrito: Mate ou capture. - Retrucou impacientemente.
Não gostando de tamanha petulância, Daisuke se inclinou sobre vidro com olhar ameaçador.
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Como é? Quer que eu entre aí para falarmos mais próximos? - Ameaçou.
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S... Se quiseres ma.. mais informações, fala com o qui... quitandeiro do vilarejo. - Tremeu o atendente.
Mas antes que o homem tivesse um ataque do coração, o nukenin saiu pela porta apressado como um lobo ao ver sua primeira refeição em dias. O vilarejo não ficava distante do posto e por essa posição, apesar da frequência de todos aqueles bandidos nos arredores, o vilarejo era um lugar considerado muito seguro para os padrões normais. O Akatsuki considerava que tudo aquilo fazia parte do código de conduta dos nukenins: "Não se cospe no prato que come". -
Nada mais correto. - Concordava. Então, ansioso para pegar a missão, ele se adiantou para a rua principal e percebeu que os comerciantes já começavam a fechar suas portas. O expediente estava terminando. Suspirando por mais um dia sem receber mercadorias, Gonzo, o quitandeiro, descia o portão de metal com certo desânimo quando a mão mecânica impediu seu fechamento.
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Vim caçar o tal demônio. - Comentou Daisuke, levantando o objeto para encarar o contratante. Aquelas palavras alegraram o quitandeiro que rapidamente convidou o interessado para que entrasse enquanto explicava o conteúdo da missão...
Sou todo ouvidos. - Acenou. Sentando-se numa cadeira próximo ao seu balcão, Gonzo começou a explicar o motivo pelo tamanho da recompensa. Segundo ele, há cerca de duas semanas que seu comércio sofria pela falta de provisões que atravessavam a Floresta Perdida. Ele já havia contratado mais dois ninjas para escoltar os carregamentos, mas até hoje nenhum deles retornou e o fluxo de mercadorias permanecia interrompido até a solução desse obstáculo.
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Deixa que eu resolvo. Vá preparando as moedas. - Aceitou, num sorriso ambicioso.
***
O sol estava completamente encoberto pelas pesadas nuvens de tempestade naquela tarde. Com grande ruído, a chuva torrencial banhava o campo de batalha lamacento onde antes existia a Floresta Perdida e na escuridão entre-cortada pelos
flashes dos relâmpagos iluminavam um cavalo ferido que mancava de volta para a trilha. Movendo-se lentamente, o animal ia passando por um festival violento e mortal de crateras onde alguns corpos desmembrados descansavam, carroças completamente destruídas e um variado punhado de armas ninjas totalmente inutilizadas. Aquilo era tudo o que restara da última tentativa de se atravessar a floresta guardada pelo demônio. Era aquela comitiva que Daisuke protegia. Mais como uma isca, o lutador utilizara aqueles homens na tentativa de atrair o tal demônio para fora da toca e assim quebrá-lo o suficiente para levá-lo vivo ao comerciante... Mas não deu certo.
Aqueles olhos vermelhos e selvagens assassinaram a todos. O Uchiha era muito poderoso. A luta que se seguiu foi feroz e durou alguns dolorosos minutos até que, pela primeira vez em muito tempo, tinha sido derrotado. De seu corpo rijo pelos músculos trabalhads, restavam apenas uma mistura de corte e sangue que derramava-se em seu torso. Rosto completamente deformado pelas sucessivas pancadas como nunca antes recebera. -
Não... Posso... Ser... Derrotado! - Gemia num gemido, enquanto rastejava pela lama na direção do inimigo. Aqueles olhos brilhantes escarlates o fitavam através daquela densa cabeleira e Daisuke tinha certeza que, por trás daquela pesada capa de chuva, aquele demônio sorria por pura maldade.
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Não posso... Ser... Derrotado! - Enfurecia-se o grisalho.
Braçada por braçada, o nukenin se aproximava do adversário ainda com espírito de luta, mas o Uchiha sabia que a luta tinha terminado. Mesmo assim, ver seu inimigo rastejando até ele lhe deixava orgulhoso pelo poder que tinha adquirido. -
Vou... matar... você! - Gemia Daisuke, chegando perto o suficiente para agarrar seu pé... Mas seu único braço que ainda podia se mover não tinha mais forças. Noburo gargalhou. -
Você é forte, máquina. Mas não o suficiente. - Concluiu ao rodopiar sua katana no alto. O brilho do relâmpago fez a arma reluzir quando, momentos antes que o golpe mortal pudesse perfurar suas costas, o Akatsuki utilizou o restante de seu chakra para sumir como mágica numa das atitudes mais covardes que já tinha realizado.
O hiraishin acabara de salvar-lhe a vida, deixando a lâmina enterrar-se na lama. Apenas as dezenas de marcas de sangue foram deixadas para trás. Noburo pareceu não se importar som o sumiço. Dirigindo-se aos caixotes intactos que deslizavam pela lama até um terreno mais baixo. Toda comida roubada serviria para alimentá-lo por algumas semanas e o povo das redondezas agora o temiam o tal demônio. Até esse título de "Demônio" lhe satisfazia. Tudo estava como queria e em breve, quando estivesse mais preparado, retornaria à Konoha como um conquistador.
Aquela Vila maldita deve me reverenciar... ou queimar. - Pensava com furiosa certeza. Buscando o cavalo ferido que ainda zanzava pelas marcas na terra, Noburo carregou-o com algumas caixas e partiu de volta a sua choupana à beira do lago norte, deixando para trás os mortos para os corvos ao nascer do sol.
CONTINUA...