Treino 1

Percebendo as kunais

O sol brilhava em Takigakure, o clima ameno convidava as pessoas a parar o que estavam a fazer para aproveitar a brisa suave que preenchia as ruas da vila. Os pássaros cantavam no céu e Shiro aproveitava este tempo para descansar depois da graduação. Ou ele pensava.

O jovem ninja encontrava-se sentado no alpendre clássico de sua casa que dava acesso ao jardim, colocado na parte traseira da casa. O ruido da água de uma pequena fonte era abafada pelos seus phones. Reclinado contra a viga de madeira escura repousava o corpo de Shiro, que segurava nas suas mãos uma pequena consola. Tendo todos os sentidos focados naquele sítio não se apercebeu da chegada de mais uma pessoa ao jardim.

Uma pequena pancada na nuca fê-lo despertar. Retirando os phones dos ouvidos dirigiu o seu olhar para cima.

-Pai. –Disse sem grande surpresa

-Yo, Shiro. Já ouvi dizer que passaste na graduação, sem qualquer problema. –Respondeu o homem colocando a mão sobre a cabeça do filho e esboçando um enorme sorriso.

-Não foi assim tão difícil. –Respondeu Shiro coçando a cabeça. –Foi muito fácil assustar os outros Gennin’s e tenho de agradecer pelo genjutsu que me ensinaste. –Disse um pouco envergonhado.

O pai gargalhou, visto que a vontade de Shiro para aprender o jutsu tinha sido nula, sendo que o pai o teve de arrastar para o recinto de treino para que ele fosse.

Olhando de volta para Shiro começou a coçar a pequena barba que tinha no queixo e a murmurar uma serie de coisas sem sentido.

-Eu conheço essa cara pai! Já estas a pensar em coisas que eu não vou gostar! Deixa-me aproveitar a minha pausa a fazer o que eu quero. –Disse Shiro voltando a sua atenção para a consola que descansava entre as suas pernas cruzadas.

-Nem seu eu te ensinasse a minha técnica mais secreta, um jutsu desenvolvido por mim que não só é fortíssimo, também é forte e super cool para um ninja… -A voz do seu pai sussurrou aos ouvidos de Shiro, como se de uma maldição se tratasse.

O corpo do ninja ficou em sentido e o corpo ficou arrepiado e num movimento lentou girou a cabeça na direção do pai.

-A tua técnica mais secreta? Interessante, onde e quando.

Kisutsuki era um homem no início dos seus trinta, tinha um corpo definido pelos anos de serviço como ninja a mando da Vila da Cascata, tinha acendido ao rank de Jounin e não pretendia parar a ele. Não dotado de poderes especiais, não falha no que toca a profissão de ninja, usando jutsus do elemento de raio e as suas capacidades físicas e mentais, formou-se com um dos ninjas mais eficazes e eficientes no que toca a execuções de missões de Rank A e S.

Naquele dia solarengo usava o seu uniforme de ninja, calções e camisola negra e o seu colete ninja de cor cinza, colocando o seu símbolo ninja sobre a testa onde nascia um cabelo branco característico.

Os dois ninjas encontravam-se no centro de uma clareira, Shiro estava sentado sobre a relva enquanto Kisutsuki se erguia sobre ele.

-Qual é arma mais versátil para um ninja. –Inquiriu sobre Shiro.

-É sem duvida uma kunais, tanto pode ser arremessada como pode ser usada para lutar contra um oponente próximo. –Respondeu o ninja sem grande dificuldade.

-Certíssimo, no entanto existem algumas limitações, não podes ter kunais ilimitadas sem ter um selo de selamento colocado por ti no teu corpo ou roupas. É por isso que te vou ensinar a fazer aparecer kunais de raio! –Exclamou Kisutsuki fazendo aparecer uma kunai de cor azul em cada mão.

Os olhos de Shiro iluminaram-se com as duas kunais a vibrar eletricidade nas mãos do pai e com um movimento rápido o seu olhar viajou na direção de uma das kunais que fora arremessada pelo pai, desaparecendo no ar pouco tempo depois de ser arremessada.

-Mais resistentes, capazes de cortar alguns metais e podem ser usadas em lutas à distância até seis metros assim como combate de proximidade. –A segunda kunai desapareceu, enquanto Kitsuki deixava cair a mochila que carregava com ele, retirando alguns pergaminhos e fazendo aparecer uma serie de bonecos de treino pela clareira.

-Este treino vai ter alguns passos. –Começou a explicar Kitsutsuki, enquanto se aproximava de Shiro para lhe colocar uma bracelete no braço esquerdo. –Esta bracelete esta a ser testada pelo departamento tecnológico da vila, ela permite fazer a invocação de kunais, no entanto tem um stock determinado delas. Basta aplicar um pouco de chakra e a kunai aparece sem problema. Experimenta.

Os olhos de Shiro examinaram o pedaço de tecido com alguns aplicativos metálicos, o selo desenhado era o kanji 苦無, para kunai. Distribuindo o seu chakra pelo selo e pela palma da sua mão direita, com um movimento rápido fez aparecer um kunai na sua mão.

-Isto é o máximo! –Exclamou Shiro, retirando uma segunda.

Esboçando um pequeno sorriso, o seu pai acabou por terminar a sua explicação. –Eu vou espalhar os bonecos de treino pela clareira, quero que arremesses as kunais o mais perto possível dos sítios marcados nos bonecos. Vais fazer uma espécie de gincana, quero que a kunai faça parte do teu corpo o máximo possível. Quando acabares as quatrocentas e noventa e oito kunais, mudamos de exercício.

O espirito de Shiro desmoronou-se quando ouviu o número de kunais que tinha de arremessar para fazer aquilo acabar, enquanto isso a cara do seu pai contorcia-se num sorriso sádico e masoquista.

-Vá, ao trabalho, há muito a fazer. –Concluiu pondo Shiro em pé.

Os bonecos estavam espalhados pela clareira, haviam dois no centro com as costas viradas um para o outro. Existiam depois dois dos lados e outros dois na frente e nas costas de Shiro.

O ninja começou a correr na direção de um dos bonecos colocados no centro, assim que se aproximou o suficiente levou chakra a bracelete e à palma da sua mão direita fazendo aparecer uma kunai na sua mão. Esta foi prontamente arremessada contra o boneco, acertando na circunferência do alvo localizado no torso. Com um movimento rápido do seu corpo, mudou a trajetória que levava, dirigindo-se para a linha de árvores onde um boneco pendia, amarrado a um dos ramos de uma arvore adjacente. Fazendo o mesmo que antes voltou a arremessar uma kunai selada. Esta foi encontrar o corpo do boneco, falhando o alvo.

“Correr de um lado para o outro não vai dar em nada e so me vou cansar, tenho de arranjar uma forma mais rápida de me movimentar.”

Com isto em mente o corpo do ninja desapareceu num Shunshin, aparecendo à distancia ideal entre ele e outro boneco, colocado mais a norte encostado a uma árvore. A kunai voltou a aparecer na mão de Shiro que voltou a voar, silvando no ar na direção do boneco, atingindo o alvo, mas falhando o centro. O corpo do ninja virou-se para sul fitando o outro boneco colocado no centro, utilizando mais um Shunshin encurtou a sua distância entre o seu alvo e acertou a madeira com mais uma kunai. Shiro, voltou a repetir o mesmo até chegar ao ponto de partida, ainda não sentia o cansaço, por isso continuou o percurso, melhorando a sua capacidade de acertar e a rapidez dos seus Shunshins.

O sol percorria o seu caminho pelo céu azul, quando após trinta minutos Watanabe começou a sentir as pernas cansadas e o seu braço direito sentia as kunais cada vez mais pesadas, como se alguém tivesse aumentado o peso das armas. Entre os seus dedos segurava uma arma fantasma, a sua mão tinha a sensação de segurar uma kunai, mesmo essa não estando lá.

“Que sentimento estranho é este, uma kunai fantasma está sempre na minha mão. E o problema é que ainda faltam muitas para usar.”

Este pensamento foi interrompido por uma ideia. O seu corpo começou a mover-se de novo na direção do boneco colocado no centro, o ninja voltou a concentrar chakra na bracelete e na palma da sua mão, mas desta vez com maior quantidade e quando o fumo branco desapareceu Shiro tinha na sua mão duas kunais. Aquele movimento surpreendeu Kisutsuki.

-Então já descobriste o segredo da tua bracelete. –O ninja bateu palmas. –As braceletes são controladas pela quantidade de chakra que aplicas na invocação, quanto mais chakra usas mais kunais vão aparecer. Mas tem cuidado, só tens duas mãos para tantas facas! –Gracejou o pai.

“Velhote! Não duvides das minhas capacidades!”

As duas kunais voaram da mão do ninja, uma delas acertou o centro do alvo, a outra fez ricochete numa das que já estavam espetadas na madeira. Com um salto ágil, o corpo de Shiro voou sobre o pedaço de madeira atirando uma kunai contra a cabeça do boneco colocado nas costas do previamente acertado. Assim que os seus pés tocaram o chão mais duas kunais apareceram na sua mão e um rápido Shunshin fê-lo voar duas vezes entre o som oco da madeira a ser acertada pelo metal das armas. Shiro tinha acabado de aumentar o seu ritmo e eficiência, fazendo o seu corpo voar entre inimigos e acertando-lhes com kunais infinitas. No entanto, o percurso do ninja modificava-se cada vez que se movia, ele tentava acompanhar o balanço do braço para mudar de direção rapidamente, e para ganhar mais mobilidade. O corpo de Shiro voava então, na direção das árvores que rodeavam a clareira, colando os seus pés com o kinobiri e numa fração de segundos desaparecendo, sempre acompanhado pelo som oco e seco da madeira a ser perfurada pelas kunais.

Quando se preparava para acertar em mais um alvo foi interrompido por uma kunai vinda do lado do seu pai.

-Estas a meio das kunais, e superaste as minha expectativas. Vamos mudar de exercício. –Disse Kisutsuki começando a correr na direção do ninja com uma kunai na mão. E assim que se aproximou de Shiro embateu contra este, que para se defender usou uma kunai, criando um impasse de aço entre os dois.

-Isto não vale! Não era o que estava combinado! –Barafustou Shiro observando a cara seria e ameaçadora do pai.

-Baixo…

As pupilas dilatadas do pequeno Shiro olharam para o chão com a velocidade de um relâmpago.

“Salta!”

Um pontapé rasteiro vindo do pai deslizou pela relva cortando o ar na direção dos pés do ninja, num cortar de segundo o ninja estava no ar, suspenso apenas contra a kunai do pai. Com um safanão violento lançou o pai para trás caindo no chão. Por sua vez o pai conseguiu amparar a queda e com um salto para trás atirou uma kunai contra Shiro. Este só teve tempo de ripostar com a sua, fazendo a kunai ressaltar numa explosão de faíscas.

“Que rápido! Não sei se consigo acompanhar a sua velocidade! Merda!”

Assim que pôs os olhos em Kisutsuki já este estava a correr na direção esquerda de Shiro com outra kunai na mão.

-Eu não disse que queria que gastasses as kunais todas! –A voz do Watanabe mais velho silvou no ar enquanto uma kunai voava na direção de Shiro.

“Como é que ele consegue ser tão rápido com as kuanis. Não posso perder para o velhote! Tenho de conseguir, foca-te, ele vai para a minha esquerda, já sei!”

Uma kunai apareceu na mão de Shiro que foi imediatamente arremessada com a maior precisão possível para interferir com a trajetória de Kisutsuke fazendo-o parar, nesse preciso momento Shiro fez um Shunshin para encurtar a distância entre ele e o pai lançando uma nova kunai que saiu do seu pulso na direção dos pés do seu adversário impedindo o seu avanço. Assim que se aproximou da distância necessária investiu contra o pai voltando a fazer bater a sua kunai contra a outra, mas nesse preciso momento largou a arma e invocou uma nova apontando-a contra o abdómen do pai.

-Estás morto. –Murmurou sombriamente Shiro de forma dramática.

-Acho que não meu rapaz. –Gracejou o homem. –Vê com mais atenção.

O braço do ninja que antes segurava a kunai segurava agora a arma contra o pescoço do rapaz, seguindo a linha do braço pelas costas do mesmo. Enquanto a mão direita encostava uma kunai contra as costas de Shiro.

-Tu estas mais morto do que eu! –Kisutsuke explodiu em risos enquanto o corpo cansado de Shiro se abatia contra o chão.

-No fim quem se vai rir sou eu, tu vais ver! –Retorquiu o pequeno ninja exausto no chão.
A mão de Kisutsuke tocou na cabeça de Shiro.

-Foi um bom treino, mas está na hora de descançar, amanhã continuamos o treino.