A tarde tinha sido preenchida. Kichirou tinha conhecido a disposição das equipas e sabia que era da equipa 10. A equipa que continha, para além dele, Ayako e Ren. Duas pessoas estranhas que ele pouco conhecia, apesar de privar imenso com Ren no seu grupo de amigos. Com Ayako? A conversa era diferente, pelo simples motivo que a garota era estrangeira e não gostava muito se envolver com outras pessoas. Ia ser algo muito interessante. Outro detalhe era o seu sensei: Youta. Quem era esse? Esperava que os seus pais estivessem em casa para conseguir perguntar, eles provavelmente conheciam Youta até porque eram quase da mesma idade.
Kichirou estava prestes atingir a porta da sua casa quando sentiu uma mão no seu ombro. Rodou sobre os seus próprios calcanhares e apercebeu-se que era Ikeda, um Genin como ele que fazia parte da equipa 1.
- Grande Kichirou. - Disse feliz como era habitual dele. Kichirou tentou retribuir o cumprimento e questionar a razão pela a qual ele estava ali, mas Ikeda rapidamente respondeu
- Hoje à noite, depois do jantar, uma festinha de comemoração em minha casa! - Mais uma das festas de Ikeda. Conhecido por ser um dos melhores anfitriões, porque conseguia sempre reunir todas as personalidades. Mesmo ninguém perceber como ele o fazia. E era o que mais posses financeiras tinha, por isso era fácil para ele reunir um bom grupo através de uma boa comida, grande espaço e excelente música.
- Não faltes. - Mal falou, começou andar até que desapareceu. Não permitindo que Kichirou abrisse a boca sequer.
A casa? Essa estava praticamente vazia, apenas um pequeno gato que por vezes aparecia lá: Não podemos dizer que era o gato da família, mas é como se fosse. Kichirou cumprimentou, triste, o gato e olhou para cima de mesa quando se apercebeu que lá estava um pequeno papel amarelo. Pegou no papel e era mais um "bilhetinho" da sua mãe. Algo normal. Parecia que agora só falava por esse modo, não havia contacto físico com o filho. O bilhetinho dizia que ele tinha dinheiro para ir comer alguma coisa e festejar a sua graduação. O recém genin pousou o bilhete e encaminhou-se para o seu quarto. Retirou o lenço que trajava no pescoço e lançou-se para a cama. Ficou de barriga para o ar pensando no dia de hoje. Ele era oficialmente um Genin e já no dia de amanhã iria ter a primeira reunião com a sua equipa, conhecer aqueles que o iriam acompanhar para o resto da vida deles. Olhou para o seu poster que estava bem do lado da sua secretária e lá estava a imagem do atual Raikage com a sua equipa, que tanto fez por Kumogakure e continua a fazer. Será que eles seriam como eles? E como seria ele a lidar com desafios verdadeiramente complicados? Ele sabia que a Academia tinha terminado e agora era tudo sério.
Respirou fundo. Fechou os olhos: Hoje seria o último dia de criança, amanhã ele resolveria crescer. Levantou-se e resolveu ir jantar algo fora para depois ir à festa que Ikeda resolveu fazer. Agarrou no dinheiro, no seu lenço, e saiu porta fora. Dirigiu-se bem lentamente, entre pessoas e seus pensamentos, para o centro de Kumogakure. Bem escondido numa das ruas de Kumogakure estava a loja de eleição para Kichirou. O melhor tempura era ali feito. O que é tempura? Vegetais fritos envoltos em polme fino. A melhor coisa do mundo. Sentou-se, o local estava vazio, aproximou-se uma senhora de idade e sorriu para Kichirou: Era cliente habitual, ela já sabia o que ele queria. Continuou ali sentado a olhar para toda a decoração, sorrindo com a possibilidade de estar numa mudança extrema e tudo iria começar no dia de amanhã. Enquanto espera pelo o seu tempura, ouviu a voz da senhora que dirigia o local, a chamar um nome bastante conhecido
Sazutanomi. Era o nome da sua companheira de equipa, olhou por cima do seu ombro e era ela mesmo: Ayako. O seu corpo era fino, a cor muito clara, e os olhos castanhos claros rasgados. O seu cabelo era castanho e longo que só acabava bem depois da cintura. Os lábios carnudos e vermelhos de batom. Só naquele momento Kichirou apercebeu-se do quanto ela era bonita. O afastamento que Ayako tinha proporcionado para o resto da turma nunca tinha permitido que ele a observasse em condições.
Kichirou olhou para a sua companheira de equipa e Ayako também o fez, os olhares encontraram-se. Agora não poderiam deixar de falar:
- Boa noite... - Disse Kichirou sem jeito a olhar para Ayako que também não sabia o que fazer. Estava de pé, sem saber como reagir. Tentou cumprimentar o seu companheiro com um aceno de cabeça mas nem isso conseguiu. Apercebendo-se que ela não estava a conseguir comunicar Kichirou resolveu voltar à ativa
- Fazes-me companhia para jantar? - Perguntou Kichirou já abrindo uma oportunidade para conhecer aquela que iria começar uma aventura com ele. Sem abrir a boca, Ayako aproximou-se da mesa e agradeceu com um olhar, sentando-se de seguida.
- Então... - Ele não sabia como começar a conversa.
- Obrigado pelo convite. - Agradeceu Ayako. O seu tom de voz era suave, querido. A garota aproveitou e na sua bolsa, que trazia junto ao corpo, retirou uns óculos que rapidamente colocar na cara. Ficava mais bonita, ficava com uma cara mais preenchida e mais digna de uma modelo.
- Costumas jantar aqui? - Perguntou Kichirou percebendo que ali poderia ser um bom início de conversa. Naquele momento a Tempura dele chegou enquanto Ayako apoderou-se da lista e escolheu algo que ele não percebeu.
- A tempura aqui é ótimo. - Continuou o Shinobi preparando-se para comer, mas não o fez, esperando que o prato da sua acompanhante chegasse.
- Não. A minha mãe rejeita por completo o uso de fritos na minha alimentação. - Comentou.
- Só que ela pensa que eu vou a uma festa, que ela ouvia dizer que ia acontecer dos Genins, mas eu nem fui convidada. Por isso aproveitei para vir comer algo realmente bom. - Explicou a situação que a levava ali. Ayako, como era de esperar, não tinha recebido o convite de Ikeda: Ela tinha se afastado por completo da turma, portanto era fraca a ligação dela e devia ser esse o motivo de não ser convidada.
- Sabes que já falaste mais para mim nestes segundos.. - Kichirou fez uma pausa coçou a cabeça e soltou uma gargalhada
- Do que na vida toda. - Sem saber a razão ele sentia-se bem na presença daquela garota, e ainda bem que sim: Porque ela era da equipa 10 e teria de se sentir mesmo bem.
- Eu sou anti-social. Eu sei. - Respondeu também mostrando um sorriso. O primeiro que Kichirou viu.
- Mas é que tudo é diferente para mim. - Explicou a Kunoichi massajando a bandana que tinha no seu braço. Kichirou ficou com uma cara estranha: O que seria de diferente.
- Alguém te impede de sorrir? - Questionou Kichirou. Olhando para a expressão de Ayako.
- Sabes que já tentamos todas as teorias sobre a razão pela a qual estas em Kumogakure, e porque é que não falavas connosco. - Revelou o Shinobi. Revelou as conversas que tinha tido com o seu grupo de amigos.
- Qual é a melhor? - Perguntou a Kunoichi Ayako, recebendo o seu prato de um frito qualquer, talvez marisco.
- Obrigado por esperares por mim para comer. - Ayako tinha apercebido da delicadeza de Kichirou e isso fez com que ele corasse, as bochechas ficaram vermelhas e ele coçou a cabeça agradecendo.
- Bem... - Começou o rapaz a pensar nas melhores teorias
- O melhor foi mesmo do Oshiru. Acho que ele disse que tu eras uma infiltrada da nova Akatsuki e que vinhas dominar esta área toda. - Disse ele soltando mais uma gargalhada
- Mas o Shun também disse que tu poderias ser muito bem uma princesa que tinhas poderes especiais e que vinhas aqui aprender para depois reinares no teu vilarejo. - As histórias eram demais e Ayako estava a sorrir verdadeiramente. Soltou um sorriso e abanou a cabeça umas quantas vezes
- Vocês são realmente bons a criar! - Exclamou a garota com um sorriso de orelha a orelha. Ali naquele momento ela conseguia ser ela mesmo e Kichirou tinha alguém para falar sem medos, não sabia a razão, mas ela era algo diferente para ele: Amor? muito cedo para falar, mas o certo é que ele sabia que ela poderia ser uma grande amiga: Kichirou sentia isso.
- É algo que não falo muito. É algo que me chateia. - Revelou por fim.
- Um amigo meu diz sempre. - Encheu o peito de ar e sorriu
- O que te chateia é algo que te chateia. Se não te chateia é porque não te chateia - Não aguentou e acabou em gargalhadas, Ayako também não teve a possibilidade de resistir aquela frase nada inspiradora e também soltou uma forte gargalhada.
- O Oshiru é algo de interessante de se falar. - E assim Kichirou revelou quem é que tinha criado aquela esplêndida frase.
- Ele é realmente brilhante. - Comentou Ayako limpando as lágrimas que tinham saído dos seus olhos de tanto rir.
- Mas agora a sério. - Kichirou colocou uma postura mais séria e olhou para Ayako.
- As vezes sabe bem falar dos problemas. - Kichirou sabia disso, porque a única vez que falou sentiu-se livre: Sentiu-se completo de alguma maneira. Gostaria de fazer mais disso, mas a única pessoa que o ouvia morreu: O seu avô, aquele que compreendia a solidão que ele sofria com o trabalho dos seus pais.
- Eu gostava de falar.. - Ayako ficou pensativa. Até que olhou bem nos olhos de Kichirou e esboçou um pequeno sorriso.
- Tens planos para hoje? - A cara de Ayako estava mais bonita do que nunca, Kichirou conseguia-se aperceber disso.
- Se tu quiseres. Eu passo a ter. - Uma confiança caiu dos céus. Kichirou não pensou quando disse aquilo e quando se apercebeu, focou a cara da companhia e a garota sorria: No fundo das contas tinha sido bem sucedido e ainda bem que sim. Não esperou mais
- Posso te levar a dançar aquela festa. - Convidou Kichirou
- Para não teres de mentir 100% a tua mãe. - Esboçou uma careta brincando com a situação de Ayako ter fugido a mãe para comer os fritos.
- Eu alinhava nisso. - Disse Ayako continuando a comer a sua comida.
- Mas é como um encontro? - Aquela pergunta fez com que Kichirou ficasse sem saber o que fazer. Ele não era muito de garotas, apesar de ter um bom físico e ser um garoto bonito, o único contacto com o sexo oposto tinha sido a Kasumi: A eterna namorada de Kichirou, ou pelo menos o que os garotos da Academia diziam. Pois Kasumi, sem revelar, adorava e idolatrava Kichirou e tudo que ele fazia.
- Se tu quiseres... - A confiança agora não era tanta. Será que ela iria aceitar o Encontro? Será que aquilo era um encontro. O certo é que depois de Kichirou falar Ayako sorriu mais uma vez, até que baixou o olhar para a comida.
Era oficial: Kichirou estava num encontro.