- Como fui capaz?
Broly levou as mãos à cabeça, horrorizado. Depois de tanto tempo, voltara a descontrolar-se. Havia falhado como capitão, como vampiro com um enorme auto-controlo e, mais do que tudo, como amigo. Atacara um deles, em frente de outros. O seu segredo havia sido exposto, mas parecia algo insignificante comparado com o que sentia.
Na sua cabeça, um turbilhão de pensamentos confundiam-no e faziam-no sentir-se mais culpado. "Desprezível, inútil", diziam-lhe. E, sem que desse por si, todo o seu corpo começou a tremer e escondeu o rosto por entre as mãos.
Kristea sentia-se sem forças. O pescoço ardia-lhe intensamente e ela viu-se forçada a apertá-lo junto da marca deixada por Broly para tentar suprimir a dor.
O grupo de ninjas que haviam assistido a tudo não sabia como reagir. A palidez era comum a todos e o receio havia-se apoderado das suas mentes.
Antes que tivessem tempo de reagir, o esquadrão de ninjas médicos mobilizados para ajudar os feridos aproximou-se deles.
- Kristea... O que estás aqui a fazer? - perguntou uma das médicas do grupo. - Estás a sangrar?
A médica tentou ver o ferimento, mas em vão.
- Eu estou bem - respondeu Kristea pausadamente.
- Tens a certeza? - insistiu.
- Sim, tenho. Ajuda-os. Eu fico com o Broly...
A rapariga de cabeços encarnados acercou-se daquele que era o motivo pelo qual estava ali. Broly, ainda no chão, tremia compulsivamente, com as mãos a taparem-lhe a cara. Tentou tocar-lhe nas mãos, mas ele afastou-se de repente.
- Broly... - murmurou ela. Tentou novamente o contacto com ele, no entanto ele recusava qualquer aproximação.
- Muito bem - disse ela com convicção, ajoelhando-se no chão ainda com uma das suas mãos a cobrir a ferida que as presas lhe haviam causado. - Ficarei aqui até que me deixes curar-te.
Ficaram em silêncio uns minutos. Já todos os feridos haviam sido resgatados quando Broly resolveu falar.
- Porque é que ainda estás aqui? Mesmo depois do que te fiz... - retorquiu ele em tom baixo.
- Primeiro, porque sou tua amiga. Segundo, porque é o meu dever. E em terceiro... - hesitou ela, removendo a mão do seu pescoço. A marca das presas estava então rosada, como se tivesse acontecido há já bastante tempo e estivesse a cicatrizar.
Sem perceber o porquê de ela ter parado a meio da frase, Broly tirou as mão do rosto e fitou-a. Reparou então na marca. Ia falar, mas ela não o permitiu, tratando de estancar as hemorragias mais graves e fechando parcialmente os cortes mais profundos para tratar deles no hospital.
- Também tenho uns quantos segredos... - acabou por concluir. Retirou uma pequena embalagem da bolsa que usava à cintura e desta tirou uma seringa. - Vou sedar-te para não sentires dores. Deixa-te levar. Não lutes para ficar acordado.
Ele anuiu. O seu rosto estava encharcado e continuava a tremer, embora não tanto devido à presença da rapariga. Sentiu a picadela, mas nem ligou. Momentos depois, a dormência tomou posse do seu corpo, deixando assim de tremer e de ter força nos músculos.
Ao ver que o sedativo estava a fazer efeito, mediu-lhe a pulsação para verificar se estava tudo bem e levantou-o de modo a conseguir transportá-lo às costas sem o magoar.
Agora que pensava nisso, nunca tinha visto o Broly assim. Perdeu o controlo e parecia estar prestes a entrar em depressão profunda. Ele iria precisar de muita ajuda para ultrapassar aquela fase. De certo modo, o seu estágio calhou na altura certa.
- Sabes... O teu sangue sabe bem... Tem um sabor tipo morango ou assim... - balbuciava ele.
- Descansa. Já não estás muito lúcido e não sabes o que dizes... - respondeu Kristea.
Em pouco tempo chegaram ao hospital. Kristea colocou Broly num dos quartos da zona mais sossegada da ala hospitalar adequada para ele.
Sakura surgiu rapidamente à porta do quarto. Não tardou percebeu o motivo do súbito desaparecimento da sua aluna. Olhou para Broly, examinando-o superficialmente, e perguntou à rapariga:
- Tens a certeza que queres ficar com ele? O estado dele é um bocado severo...
- Sim, tenho. Eu consigo tratar dele...
A sannin acercou-se de Kristea e tocou-lhe no pescoço.
- Sangue... O que foi isto?
- Foi apenas um ramo que me raspou ao vir para aqui. Nada de mais.
- Hum - anuiu Sakura, ainda um pouco desconfiada. - Confio então em ti para tratares dele. Se precisares de ajuda, avisa.
Ao dizer isto, saiu do quarto.
Kristea tentou curá-lo o máximo possível até o cansaço se apoderar de si por completo. Sentou-se numa cadeira e adormeceu com a cabeça encostada no leito da cama.
Horas mais tarde, acordou. Ao aperceber-se que acabara por adormecer sem terminar o que estava a fazer, levantou a cabeça sobressaltada.
Broly estava também acordado. Os seus olhos mantinham-se baços, como se ele tivesse perdido a vontade de viver. A tristeza e o desespero estavam espelhados na sua face. Naquele momento, aquele rapaz era como um livro aberto que deixava transparecer as suas emoções.
- Queres saber tudo? Agora já sabes o meu segredo... - perguntou ele, sem nunca olhar para Kristea.
- Se quiseres contar, sou toda ouvidos... - respondeu ela, pegando em várias ligaduras, fio e agulhas para acabar de o tratar.
Ele fechou os olhos por uns momentos e, quando os abriu, começou então a contar a sua história.