Filler 1 – Nova realidade

Yuu suspirou, deitando parte do tédio que sentia para o exterior. Já se encontrava fechada naquele quarto há mais de duas horas, e ainda ninguém lhe tinha dado qualquer instrução para sair dali. E, segundo a ordem do seu pai, não poderia deixar aquela divisão enquanto tal não acontecesse.
Sem paciência, atirou o livro que estava a ler para cima da cama, deixando-se cair para o mesmo local em seguida. Enquanto olhava as pequenas rachas que começavam a corromper o tecto, perguntava-se o porquê daquela mudança tão abrupta. Nunca faltara nada à sua família em Iwagakure, e aparentemente não haviam motivos de maior por trás da mudança. Afinal o que é que se passava?
Bufando mais uma vez, moveu o seu corpo de modo a ficar deitada de lado. A franja tapou-lhe o rosto, e alguns finos fios de cabelo fizeram-na espirrar. Afastou-os do rosto calmamente, enquanto olhava para o móvel encostado do lado oposto da parede sem o ver realmente. Agora que pensava no assunto, desde que lhe dissera que iam sair de Iwagakure que o seu pai estava estranho. Parecia sempre nervoso, sobressaltava-se com o mínimo ruído, e as suas olheiras, cada vez mais profundas, davam a impressão de que ele não dormia há dias. E esse não era definitivamente o pai calmo e sorridente que ela conhecia de vista.
Foi acordada dos seus pensamentos pelo ranger da porta daquele quarto a abrir-se. Soerguendo o seu corpo de modo a poder ver quem pretendia entrar, viu o rosto cansado do seu pai. Parecia ainda mais degradado que antes, e já nem o sorriso forçado que condecorava o seu rosto disfarçava todos os outros sinais que haviam aparecido ao longo daquela semana.
-Então Yuu… Confortável?
A jovem encolheu os ombros enquanto o pai invadia a divisão e fechava a porta atrás de si. Sentou-se ao lado dela no duro colchão da cama com um movimento rígido, enquanto a rapariga o observava atentamente, procurando por algo que pudesse denunciá-lo. No entanto, e apesar do cansaço, o seu pai continuava a ser tão cuidadoso como sempre com o que o seu corpo comunicava. Bolas…
-Afinal porque é que tivemos de nos mudar? – Inquiriu Yuu directamente. Não estava com humor para rodeios, e pelo que sabia o seu pai também não.
-Faz parte da vida, filha… - Disse Hyun, pousando as palmas das suas mãos sobre os joelhos. Ao ver a sua filha levantar uma sobrancelha pouco convencida com aquela resposta, continuou. – Sabes que a tua mãe está doente. Vai-lhe fazer bem uma mudança de ares, alguma coisa mais suave…
-Mas a atmosfera daqui é mais pesada que em Iwagakure. – Ripostou Yuu sem pensar.
-Para além disso… - Prosseguiu Hyun, interrompendo Yuu. – Vai-te fazer bem a ti uma mudança destas.
-A mim?
-Sim, a ti. – Hyun ter-se-ia rido da expressão escandalizada da filha, não fosse a gravidade de toda a situação que tentava encobrir. – Durante toda a tua vida viveste rodeada de tudo aquilo que precisavas e querias, nunca aprendeste o quanto custa obter algo pelas tuas próprias mãos. E verdade seja dita: não fazes a mínima ideia do que aquele mundo lá fora é. – Hyun interrompeu-se por momentos, aumentando a intensidade da conversa. – A partir de agora vais aprender o quão dura a vida real pode ser. Eu e a tua mãe vamos prover-te o mais básico (por outras palavras, aquilo de que necessitas para sobreviver), mas quanto a todas as outras superficialidades e luxos que quiseres terás de os adquirir por tua conta e risco.
-E como é suposto eu fazer isso? – Inquiriu Yuu, receando a resposta do pai. Não se admiraria nada se as próximas palavras que lhe saíssem da boca envolvessem tráfico, prostituição ou algo nessas linhas.
-Dás utilidade ao que o teu avô te ensinou. – Esclareceu Hyun, fazendo com que os olhos da sua filha se esbugalhassem. – Formaste-te na Academia, oficialmente podes realizar missões e afins. Pode parecer um pouco rebuscado, mas… O teu avô teria gostado disso.
-Como é que podes saber aquilo de que ele gostaria ou não? – Retaliou Yuu tristemente, baixando o rosto.
-São… Coisas de clã. – Hyun colocou um braço sobre os ombros da sua filha, encostando-a a si. – Um dia irás compreender.
-Um dia… - Yuu bufou mais uma vez, mostrando-se claramente frustrada. – Dizes-me sempre isso.
Hyun riu-se, beijando o topo da cabeça da sua filha e despenteando-a levemente de seguida. Sem mais palavras, ergueu-se e dirigiu-se novamente para a porta do quarto.
-Hmm, ia-me esquecendo… - Hyun deteve-se por momentos, ainda com a porta na mão. Yuu olhou para ele com curiosidade. – Mal possas vai ter com o Raikage. Falei com ele há pouco, e ele ficou de te designar um sensei.
Yuu anuiu levemente, observando o pai enquanto ele fechava a porta atrás de si. Mais uma vez sozinha dentro daquela divisão tão impessoal. Conseguia ouvir novamente as fendas da casa a respirar, as dobradiças das portas gemer, as telhas a tremerem ao serem atingidas pelo vento. Quase sem se levantar, Yuu puxou a mala que há hora e meia atrás empurrara para debaixo da cama e içou-a para o topo do colchão. Este tremeu por alguns segundos, devido ao peso do objecto. Yuu hesitou por momentos, passando a mão suavemente sobre o tecido macio da mala.
Quando finalmente arranjou ‘coragem’ para a abrir, pegou na primeira coisa que se lhe revelou: um pedaço de tecido castanho. Quando o desdobrou, revelou-se-lhe o cachecol que costumava usar. Apertou-o entre as suas mãos, sentindo com intensidade tudo aquilo que ele representava para ela. Colocou-o à volta do seu pescoço, e libertou o cabelo que ficara preso pelo tecido castanho com um movimento amplo. Quando apertou novamente o cursor do fecho da mala entre os seus dedos, deteve-se. À sua frente encontrava-se uma moldura antiga e de aspecto rústico, que até então se encontrara por baixo do cachecol. Reconhecendo-a, acolheu-a nas suas mãos com os dedos trémulos. Por baixo da fina camada de pó que cobria o vidro debilitado do caixilho, encontrava-se uma já familiar fotografia do seu avô, sentado por baixo de uma cerejeira. No seu colo encontrava-se ela, ainda com os seus 4 ou 5 anos. Um súbito aperto consumiu-lhe o peito, enquanto que as primeiras ondas de saudade invadiam o seu coração. Ainda há nem uma semana estava afastada da sua vila, e já se sentia como se estivesse ausente há anos.
Tentando livrar-se do saudosismo que começava a invadi-la aos poucos, Yuu pousou a relíquia que tinha entre mãos sobre o único móvel presente no quarto. Com um último olhar nostálgico ao rosto do seu sábio e calmo avô e com a sua mente muito mais calma e lúcida, Yuu iniciou o seu caminho para fora daquele que, dali em diante, seria o seu quarto. Talvez o seu pai tivesse razão, apesar de tudo…

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Pronto, não tenho muito mais a acrescentar. 1º Filler... Só para desenferrujar e coise ._______.'