Estava muito calor dentro de casa, a temperatura amolecera a habitação e tornara-a abafada, Musouka transpirava por todos os orifícios. Abriu, em vão, mais a janela, não conseguira, se quer, refrescar a sua face. O gennin naquele ambiente sentia-se preso, tentou libertar-se um pouco e saiu. Estava mais fresco no exterior contudo não o suficiente para aliviar o ser do pequeno ninja, olhou para o firmamento em busca de consolo, não o encontrou. Os distantes corpos celestes só lhe lembravam de quão insignificante qualquer humano era. Inutilidade é o que melhor caracteriza os Homens, adjectivo seguinte talvez seja louco. Pensou. Inútil porque é incapaz de alterar o que o rodeia, a sua própria forma de ser ou qualquer outra coisa significativa, limita-se a coexistir numa enchente de outros Homens que naufragam num turbilhão de improficuidades. Existem também os loucos que realmente acreditam ser capazes de alterar a própria Terra e, que para isso, trabalham sem cessar. Sempre achei um desperdício de algo demasiado valioso: Energia. Bem, de qualquer das maneiras sempre se encontram melhor do que eu, que sou dono de um leme dum barco vazio e, embora tenha mapas, não tenho direcção. Por que raio é que esta noite estou assim tão… Ehrr. Nem sem bem o que isto é. Olhou para o céu mais uma vez, estava escuro, umas nuvens roxas ameaçam a sua cor e as estrelas contemplavam qualquer idealista que decidisse olhar o latíbulo da Lua Nova que se escondia entre o azul libertando uma pincelada de luz que lhe escapava. Simplesmente sublime, gostava de ter mais tempo para o contemplar… Libertou um longo suspiro e continuou o seu caminho. Afastando-se, em calmo passos regulares, cada vez mais do seu lar parecia que o calor se ia desvanecendo pouco a pouco. Chegou por fim ao seu último local de treino, um pequeno espaço escuso na floresta pelas altas arvores velhas que o assombravam, o largo lago espelhava a Lua em serenas ondas. Descalçou-se aproximou-se do lago, tirou o resto da roupa e mergulhou. Sentia-se por fim livre do calor e de si mesmo. O seu avô sempre o avisara que um ninja deve possuir vários amigos para assim poder estar realmente defeso, embora o dissesse muitas vezes ao seu avô e afirmarse acreditar naquelas palavras, não o fazia. Os seus grandes protectores eram os seus punhos, a sua cabeça e todos os outros valores ensinados pelo seu antepassado, não possuía um espírito que lhe permitisse confiar em ninguém ao ponto de o chamar de amigo. Se calhar dou-lhe um significado superior ao resto das pessoas… Deve ser isso. Que se dane. Em situações de crise não posso confiar em ninguém senão eu mesmo, visto que nunca conhecerei ninguém totalmente… Tenho o meu avô. Mais um suspiro. Um pequeno insecto pousara em cima da sua cabeça húmida e um peixe aproximou-se da sua perna. Já devo estar imóvel há algum tempo sem me aperceber. Começou a flutuar, dispersara o peixe, mas como manteve a cabeça imóvel o pequeno pirilampo manteve-se lá. Sentia que não tinha qualquer tipo de preocupação, pelo menos naquele momento, o tumulto da água afastava-as. Estou bem… aqui… sozinho… Fechou os olhos na tentativa de se desligar por completo do mundo real. Não conseguiu mais uma vez o curto peixe laranja lhe tocara nas suas pernas. Não tentou afugenta-lo, embora o incomoda-se, contudo era um ser puro da natureza e qualquer relação que tenha com estas criaturas não só o melhora como shinobi mas, também, como Homem. Ele acreditava que qualquer pessoa de valor usufrui ao máximo o tempo que passa fora da civilização e sem vestígios humanos. Só nesse estado selvagem é possível descobrir a sua verdadeira essência. O peixe e o insecto partiram simultaneamente deixando totalmente só. Os minutos correm quando não estamos a pensar em nada. Saiu da água, já era tarde e não valia a pena voltar para casa o seu avô já havia há muito trancado as portas, resolveu ficar por ali, naquela solidão que tanto apreciava. Tentou arranjar algumas folhas e troncos que lhe permitissem fazer uma pequena fogueira e um sítio para se deitar. Depois de ter chamas perto de si e de forma segura vestiu a sua roupa e deitou-se. Pensou nos seus pais, interrogou-se porque razão não o fazia frequentemente… A resposta era o avô. Nem sequer conheço as suas faces. O avô sempre me disse que só um fraco perde tempo a pensar em coisas que nada pode fazer para alterar, nomeadamente nos mortos. Ele tem razão, nunca senti a sua falta antes, não há-de ser agora que irei começar a sentir, todas essas figuras são criadas através de convivências e momentos, não posso sofrer com carência visto que eu nunca os tive. Olhou à sua volta tudo estava negro, não conseguia distinguir as figuras, viu uma mais uma vez vez o firmamento, as nuvens estavam mais pretas e pesadas, as estrelas já não eram visíveis, podia porem ainda contemplar a Lua ao longe, tudo se encontrava numa tranquila passividade. Fechou os olhos, a ultima vez antes de narcotizar, sentia-se ainda alguma actividade animal. Calculou que fosse ouvir um raspanete no dia seguinte do seu ancestral mas não estava muito preocupado, no fundo sabia que o avô apoiava a iniciativa dele de ficar no meio da floresta em contacto com o lado mais puro da Terra. Só assim se adquiria um maior e mais profundo conhecimento de si mesmo e só dessa maneira podia ser o ninja que o seu avô desejava. Com este pensamento adormeceu.
Quando despertou tudo se modificara, o lago e a floresta estavam mais vivos, ouviam-se os peixes e as aves, as flores e folhas ganhavam um novo vigo com a alvorada, a Lua desaparecera por completo e o Sol brilhava com demasiada intensidade. Estava tranquilo, tinha-se realmente conectado com o que o rodeava e acordava novo. Despachara-se para se encontrar com o avô, deixando para trás a noite que passou e um ambiente que, agora, se encontrava numa vasta inquietude.
Quando está a Itálico corresponde a pensamentos, eu só faço uma referência no texto