Acordei com a débil luz do sol a banhar-me o rosto, abri os olhos lentamente, colocando a mão à sua frente para não me encadear com luminosidade. Sai da cama, e mal dei o primeiro passo senti os meus joelhos a perderem a força, as coxas pareciam arder e os tornozelos pareciam querer sair do sitio. Apoiei-me na mesa-de-cabeceira para recuperar o equilíbrio, a missão havia-me deixado de rastos, sentia o corpo pesado, coxeava a cada passo, incapaz de dobrar e esticar completamente as pernas. Para meu azar, a estadia em Konoha havia terminado, e teria de fazer o caminho de volta para Kumo… a pé. Sai de casa, já com a tralha ás costas, preparado para a longa viagem que me esperava, foi então que do fundo da rua, um enorme rasto de poeira me chamou à atenção.
- Tsunade… - Disse após ver a ex-hogake a correr na minha direcção. Numa enorme travagem parou à minha frente.
- Ias-te embora sem te despedires? – Disse-me com um olhar severo, mas que eu já me habituara a considerar quase como afectivo.
- Peço desculpa, mas a missão tirou-me muito tempo, e estou desejante de voltar para Kumo. – Respondi, ansioso por rever Tanigakure.
- Dá cá um abraço! – Tsunade abraça Vitan, ficando este com a cara mesmo no meio dos seus seios. – Agora, para não ficares com a ideia de que eu sou uma brutamontes sem coração, Kuchyose no Jutsu! – Numa de nuvem de fumo, uma lesma da altura de Vitan surgiu. – Ela vai-te ajudar a regressar a Kumo.
- Como assim? – Perguntei curioso.
- Ela pode ser uma lesma, mas ao contrário das demais, esta vai-te surpreender, sobe. – Assim, fiz, montei-me nas costas da lesma, um pouco peganhosa que me fez esboçar uma expressão de algum enjoo, mas que se transformou rapidamente numa expressão de surpresa, a lesma avançava a grande velocidade, muito mais depressa do que eu poderia imaginar, em plenos pulmões gritei um obrigado que esperava que fosse audível.
Após vários Kilómetros percorridos, agradeci à lesma pela boleia, infelizmente ela não se dava muito bem nas montanhas, e eu teria de atravessar a cordilheira a pé, mas a sua ajuda havia sido preciosa. Entranhei-me pela rochosa cadeia montanhosa, em direcção á vila oculta da nuvem, saltando de rochedo em rochedo, avançava a grande velocidade, entusiasmado pela perspectiva de retornar a Tanigakure, Kumo já se afigurava no horizonte.
Entrei contente em Kumo, aquele aroma a fresco, a humidade, pairava no ar, uma brisa leve acariciava-me o rosto enquanto o calor brando do sol me aquecia a alma… ok, parte dela.
Estava tudo igual, as ruas, as pessoas, os aromas, as vistas, tudo! Caminhava pelas ruas com uma expressão de um rapaz de 5 anos numa loja de doces, nem sabia o porque, mas a nostalgia daquela vila já me estava a afectar. Virei à esquerda, dirigindo-me aos aposentos do Raikage, quando tropecei em alguém.
- Desculpe, foi sem querer. – Disse de imediato. Um homem, sentado no chão, encostado à parede, vestido com roupas de um tom creme e castanho, sujas e completamente esfarrapadas, que cobriam um corpo magro, quase esquelético, apenas se notavam os músculos desgastados dos braços e das pernas, tinha um aspecto cansado e doente, não devia de comer à vários dias. Á sua frente, num cartão meio rasgado podia ler-se:
“ Uns Ryos para comprar Pão e Vinho S.F.F”
- Não faz mal, eu é que não devia estar aqui. – Respondeu-me no tom mais educado e sereno que ouvira, olhei para o homem, quase com pena.
- Não, não, eu é que ando de cabeça no ar. Deixe-me convidá-lo para um almoço, como forma de desculpa. – Respondi. Uma expressão de alegria preencheu toda a face suja e cansada do homem.
- Não se mace, eu agradeço, mas não quero tirar-lhe o seu tempo, um pedido de desculpas para mim é suficiente. – Respondeu-me num tom modesto e cansado.
- Tretas, desculpas não lhe enchem o estômago, hoje é meu convidado para almoçar, venha! – Disse eu, colocando a mão sobre o ombro do homem, e empurrando-o para a frente, por momentos tive medo que ele se desmanchasse todo com o empurrão.
Chegamos a um pequeno restaurante do qual eu era cliente habitual, e servia umas massas com queijo deliciosas, um prato algo raro pelas redondezas.
- Vitan, não te via à algum tempo. – Disse o “chef” que já me conhecia bastante bem.
- Estive fora por uns dias, a treinar. Serve-me dois pratos de Massa de Atum com muito queijo! – Respondi de forma efusiva. O mendigo olhava em seu redor, observando cada centímetro do estabelecimento, o seu olhar cansado mas observador fixou-se no homem , que arranjava a massa para a refeição.
- Então, ainda não me disse o seu nome. Eu chamo-me Vitan. – Disse, apresentando-me ao sujeito.
- Desculpe, que rude da minha parte, chamo-me Cen Gui-Tu, prazer. – Respondeu-me, forçando um sorriso que não queria surgir. Pensei até que lhe fosse doloroso sorrir. 30 minutos e tínhamos a refeição à nossa frente, deleitamo-nos com a deliciosa refeição, paguei a refeição com algum dinheiro extra que guardava, e abandona-mos o estabelecimento.
- Muito obrigado, sempre que precisar de algo, venha ter comigo. – Respondeu-me o homem, quase colocando-se de joelhos e a chorar.
- Assim o farei, fique bem. – Despedi-me do homem, e dirigi-me aos aposentos do raikage. Após dar conta da minha chegada a Kumo, recebi autorização para ir para Tanigakure, rapidamente me coloquei a caminho. Encontrei o rio que praticamente ligava Tani a Kumo, e seguiu até chegar a um cruzamento, onde tomei um desvio para me apressar.
Ia tão entusiasmado que nem dei pela presença que me perseguia, quando dei por ela, já uma Kunai envenenada se dirigia na minha direcção, fechei os olhos e coloquei os braços à frente, privado pelo meu instinto de fazer algo mais. Não senti nada, abri os olhos lentamente, e um homem colocava-se à minha frente, tinha as roupas esfarrapadas e suja, reconheci-o de imediato.
- Cen Guih-Tu? – Disse admirado pela aparição do homem. – Que faz aqui?
- Vitan-San, quando partiu reparei que alguém o seguia, decidi averiguar que se passava, e vim mantendo distância, até que vi que o sujeito preparava um ataque. – Respondeu-me, largando a Kunai atirada para o chão. Para um mendigo apresentava grande velocidade e perícia, não parecia ser muito velho, talvez perto dos 40 anos, ou talvez fosse a vida na rua que lhe envelhecera o rosto e a figura.
- Onde está ele? – Perguntei, tomando uma posição defensiva.
- Não sei, mas desapareceu, não sinto mais a sua presença. – Agachou-se, e agarrou numa pequena folha de papel que vinha presa à Kunai. – É uma mensagem, parece ser para si. – Disse, dando-me o papel.
“ Não espera pela demora, a vontade dos Deuses irá ser realizada!” – Lia-se no papel. Um arrepio percorreu-me o corpo, sabia do que se tratava, a razão pela qual havia treinado revelava-se agora perante mim.
- Ficou branco como o rabo de uma criança, sente-se bem? – Perguntou Guih-Tu.
- Sim está tudo bem. Olhe, uma pergunta parva, por acaso tem alguma moradia ou habitação? – Perguntei, ficando coma impressão que soara um pouco ofensivo.
- Que pergunta, acho que o meu aspecto fala por si. – Respondeu-me o homem num tom calmo, que me deixou espantado.
- Então tenho um convite para lhe fazer…