- A chuva não tarda nada para e retomaremos o treino. – Disse Ichizaki tirando duas cervejas do frigorífico.
- Como sabe que a chuva vai parar?
- Quando se vive anos a fio numa ilha no meio do mar, aprende-se muito mais sobre o mundo que nos rodeia do que fechado numa biblioteca a ler livros. – Apesar do seu aspecto descontraído, quase desleixado, Ichizaki demonstrava grande sabedoria nas suas palavras. - Aprendemos a ler as estrelas, a ouvir as tempestades e a falar com o vento, e bem que sabe por vezes falar apenas por falar.
- Sabias palavras. Porque é que se isolou? Ouvi dizer que era um dos ninjas mais reconhecidos de Kumogakure. – Perguntei eu, temendo que Ichizaki mudasse de assunto.
- Bem, acho que não há mal em te contar, visto que vais ser meu aprendiz pelos próximos tempos.
A minha história pode começar quando fiz 16 anos, aos 16 anos tornei-me Jounnin, servindo de referência para todos os Shinobis mais novos, sendo uma inspiração para muitos. Aos 20 anos, após ter realizado várias missões, muito delas de grande importância para a vila, acabei por fracassar, a missão falhou devido a um erro meu e não me perdoei, abandonei a vila rumo ás montanhas onde vivi durante 5 anos, isolado, escondido da vergonha e da anedota que me havia tornado.
Durante esses 5 anos treinei intensamente, procurando desenvolver algo que chocasse tudo e todos, que me permitisse fazer esquecer os erros do passado e que ajudasse a vila no futuro. Continuo a acreditar que as pessoas criaram expectativas demasiado altas acerca da minha pessoa.
Durante esses 5 anos desenvolvi algo que chamei de Chakra Yuugou, ou seja, a capacidade de usar dois elementos num único Jutsu. Voltei a Kumogakure, decidido a calar todos aqueles que me haviam censurado. Apresentei-me ao Raikage que me recebeu com espanto, pois todos pensavam que havia morrido. O Raikage mostrou-se zangado e chegou a ponderar a ideia de me expulsar da vila devido a ter desaparecido sem avisar mas não o fez. Em vez disso decidiu colocar-me à prova, deu-me uma missão rank S que à muito estava suspensa devido a não haver ninguém que se pudesse dispensar para uma missão de tamanha importância.
Eu teria de entrar em território inimigo e recuperar informações preciosas que haviam sido roubadas da vila. Já se faziam sentir os primeiros ventos da 3ª Guerra Ninja.
Aceitei de imediato a missão e dirigi-me ao território inimigo, um grupo de rebeldes de Kumogakure que tencionavam vender as informações a outras vilas, muitos deles eram Nukennins de Rank A e S.
Fui recebido por uma comitiva agradável, perceba-se a ironia claro, e cheguei a recear pela minha vida. Passei 2 semanas em solo inimigo, fui novamente dado como morto até que 2 dias depois voltei à vila. A história dessa missão ainda era contada quando abalei de Kumogakure para esta ilha. Ficou conhecida como a missão das Ondas Eléctricas, foi ai que dei a conhecer ao mundo o meu novo poder. As pessoas falavam de como eu havia derrotado uma dezena de Nukennin perigosíssimos apenas com uma Onda carregada de Electricidade, enquanto outros davam ênfase à forma como havia deixado queimaduras de 1º Grau aos meus adversários com água a ferver.
Foi a partir deste dia que começa a razão de me ter exilado. A fama trás responsabilidades acrescida o que levou a que tivesse missões atrás de missões, mal terminava uma missão era automaticamente alistado para uma nova missão, por vezes nem chegava a entrar na vila. Já fui casado em tempos mas com tanta missão nunca tive tempo de fazer um filho. – Fez uma pequena pausa para respirar e esboçar um sorriso triste e inconformado. – Foi então que explodiu a grande Guerra Ninja, as vilas entraram em confrontos e mais uma vez, lá fui eu chamado para liderar os exércitos de Kumo, tinha eu 45 anos por esta altura, havia realizado mais de 50 missões rank S e um total de 1432 missões. Matei muita gente e vi muita mais a morrer a meu lado, ultrapassei batalhões inteiros com os meus Jutsus. Foi então que a guerra parecia chegar ao fim, e os Kages começavam a atingir um acordo e eu caminhava para a minha ultima batalha, saímos vitoriosos dessa batalha, mas nunca mais ninguém encontrou o meu corpo, fui então dado como morto mais uma vez, já parece habito ao longo da minha vida. Na realidade fugi, mal a vitória foi assegurada, ninguém mais me colocou a vista em cima, refugiei-me nesta ilha e até hoje apenas 5 pessoas sabem onde vivo. Uma delas era na altura um jovem Shinobi, um dos meus alunos, bastante promissor e actualmente teu Sensei, Hiagushi, o Raikage, e os meus outros 2 alunos, um deles foi o ANBU que te trouxe até aqui, e agora, tu. Só estas pessoas sabem do meu paradeiro. Pronto, esta é a história de como eu fugi à fama em busca de paz e descanso na minha vida, servi Kumogakure durante 30 anos, nenhum dia faltei à minha responsabilidade e sempre lhe fui fiel, mereço agora descansar e tirar algum tempo para mim. – Ichizaki levantou-se e tirou mais uma cerveja do frigorífico.
- Se quer saber, acho que fez bem, ninguém o pode criticar de querer descansar depois de tantos anos a servir a sua aldeia. Mas tenho mais uma pergunta, se procura descansar e não ter preocupações, porque aceitou me treinar? – Perguntei eu.
- Eu estou velho, mais velho do que aquilo que gostava de ser, mas a idade não perdoa. Durante os meus 72 anos de vida apenas tive três aprendizes, e nenhum deles conseguiu dominar a minha habilidade, nunca tive filhos para seguirem o meu legado e sinto que não posso deixar morrer esta habilidade. Quando Hiagushi me pediu que te treinasse eu perguntei porque queria ele tal coisa, ele disse-me que tina um aluno que talvez fosse o discípulo que e procurava. Foi então que decidi aceitar, na esperança que tu pudesses dar continuidade a esta habilidade. E queres saber uma coisa? – Os meus olhos encheram-se de brilho. – Acho que vou morrer sem ensinar esta habilidade. – Respondeu Ichizaki rindo-se ás gargalhadas.
- Tou lixado consigo… - Respondi eu, baixando a cabeça.