Após um torneio Gennin em nada famoso voltei à velha vila escondida nas nuvens, era ainda bastante cedo e uma leve neblina preenchia as ruas, felizmente conhecia a vila como a palma da minha mão e mesmo de olhos fechados não tinha problema em chegar a casa. Novamente a viagem de barco tinha sido enjoativa, e passei a viagem com a cabeça de fora do barco esperando pelo pior.
Mal cheguei a casa os meus pais receberam-me com calorosos abraços tirando o meu avô, mas que faria ali o meu avô.
- Avô? Mas que fazes aqui? Pensava que estavas em Sunagakure… - Não via o meu avô à quase 6 anos, mas em nada havia mudado, a barba branca por fazer, a boina azul escura e o palito ao canto da boca.
- Até parece que não tás contente por rever o teu avô seu animal! Mostra alguma felicidade ao menos. – O meu avô era uma pessoa bastante caricata, tinha um sentido de humor bastante estranho, era obcecado por implicar por tudo e por nada, um ponto preto no tecto era objecto para 20 minutos de conversa, o que era bastante irritante, nada estava ao seu gosto.
- Yupi, o avô está cá… - Disse eu de forma bem irónica. O meu avô deu uma forte gargalhada, seguida de um calduço bem dado. – Ei para que foi isso? – Resmunguei.
- E não respinga! Isso foi por teres perdido logo no primeiro combate! – O meu avô era um veterano, a sua experiencia era incrível, não havia guerra ou guerrinha onde ele não tivesse participado, era um líder nato e com provas dadas, uma grande cicatriz ocupava grande parte da sua cara, indo desde o maxilar direito até ao olho esquerdo, passando pelo nariz.
- Ei, ele era muito mais forte que eu, que querias que fizesse? – Sentei-me à mesa agarrando numa maçã, quando ia a dar uma dentada a minha mãe retirou-ma da mão.
- Para que foi isso?
- Depois não jantas. – Disse ela voltando a por a maçã na fruteira.
- Se não jantar é porque não tenho fome, logo não há problema…
- Nada de comer até ao jantar! – Ralhou.
- Ok, ok.
- Então mas diz-me lá, que tens feito ultimamente? – Perguntou o meu avô à medida que tirava do corta unhas e começava a corta-las em plena cozinha.
- Por amor de Deus, Ohk Aralho não cortes as unhas na cozinha. – Resmungou a minha mãe.
- Ok, Ok, desculpa. – O meu avô guardou o corta unhas novamente. – Então com quem é que perdes-te no Torneio?
- Humm… acho que se chamava Koori Kamino. – Respondi.
- Koori? Tu perdeste para um Koori? Como é possível, um Binoari não perde para esses cobardes que usam Kekkei Genkais e mariquices dessas. – O meu avô bateu com o punho na mesa em desaprovação.
- Ei avô, eu tenho uma Kekkei Genkai não sei se estás lembrado disso. – Disse eu alertando o meu avô.
Já estava habituado a estas conversas vindas dele, lembro-me de, quando ainda era uma criança o ouvir falar no seu ódio por Kekkei Genkais. O meu avô toda a sua vida lutou com as próprias mãos, recorrendo apenas aos elementos inatos de todas as pessoas, sem qualquer ou alguma habilidade especial, enfrentou inúmeras guerras baseando-se apenas no seu esforço e entrega à luta, ganhara um ódio especial a todos os inimigos que havia enfrentado nas guerras que possuíam habilidades especiais, as ditas Kekkei Genkais ou Hijutsus. Todas as suas cicatrizes contavam historia e, infelizmente, todas elas estavam ligadas a essas habilidades, era raro o homem que conseguia fazer-lhe frente sem recorrer a “truques sujos” como ele lhe chamava, a sua velocidade era a sua arma, nunca vira ninguém tão rápido como ele, os inimigos já estavam derrotados ainda antes de fazerem qualquer jutsu. Até ao dia da cicatriz mais marcante, em pleno combate foi apanhado numa emboscada, 4 dos clãs mais poderosos de Konoha apanharam-no desprevenido, Nara, Yamanaka, Aburame e Uchiha. Enquanto Nara, Yamanaka e Aburame o tentavam apanhar, usando as suas habilidades, o Uchiha lia todos os seus movimentos, decorando-os, aprendendo-os, descobrindo os seus segredos. Acabou por conseguir derrotar os três, bastante fraco e com o corpo algo mutilado, mas faltava um, o Uchiha. Cansado e com todas as suas técnicas decoradas e redecoradas, não teve a mínima hipótese, o Uchiha evitou todos os seus ataques, e não fosse a experiencia do meu avô, poderia ter ficado sem cabeça em vez de um corte de um lado ao outro da cara. Não se lembrava de mais nada, mas a sua visão fora gravemente comprometida e obrigara-o a abandonar a vida de ninja. É então por isso, que as odeia.
A minha mãe posou a comida em cima da mesa, uma enorme panela de barro, fumegante e com um aroma irresistível.
- Não me digas que é o teu famoso cozido? – Perguntou o meu avô colocando o guardanapo ao pescoço e preparando-se para jantar.
- É sim senhor, feito especialmente para a sua visita. – Respondeu ela.
- Visita? O Liun não vos disse? Eu vou me mudar para cá! Vou treinar este pirralho já que o Liun não tem tempo. – Ficamos todos boquiabertos, parece que a minha vida ia ficar mais dura… porque seria?