Algures a sul de Kumo (Uma semana atrás)
– Rápido, rápido! Mais baldes, já!
Ouvindo esta ordem, um jovem rapaz foi a correr encher novamente o seu balde com água. Um sentimento nefasto cedo inundou toda a sua mente. Medo. Como promissor homem desta aldeia, não poderia fraquejar num momento como este. Quando por fim o seu balde transbordava, permitiu-se olhar para trás, para ver o cenário que a todos rodeava. As chamas tenebrosas abraçavam a casa, qual criança agarrando a mãe numa noite de temporal.
– Mais depressa, o chefe está lá dentro!
Juntou-se rapidamente a uma equipa de mais vinte homens que tentavam freneticamente atirar a água para calar o fogo que insistia em consumir aqueles pobres troncos de madeira que outrora se erguiam, imponentes, no meio da aldeia.

Tinham passadas duas horas desde que o fogo começara a tomar conta da aldeia, uma vez mais. Agora que por fim tinha cessado, alguns homens entraram pela casa que ameaçava ceder a qualquer momento. O objectivo seria encontrar a família que governava este pequeno pedaço de terra. Felizmente a casa não era grande, por isso a procura não devia demorar.
Quando chegaram ao salão principal ficaram contentes ao ver que o fogo não tinha chegado lá, e que aí se encontrava a família. Demoraram algum tempo para perceber o porquê de a pequena filha do chefe estava a chorar enquanto vergada sobre algo que estava no chão. Medo, talvez.
Foi então que o conselheiro do líder se chegou à frente e viu a derradeira razão do choro da criança.
O fogo não tinha chegado àquele salão… os homens inimigos tinham…


Kumo (presente)
Michael estava a subir as escadas que o levariam a um quarto específico daquele enorme hospital. O seu amigo ainda estava a recuperar. Já tinham passado quase três semanas desde que ele obtivera aquele ferimento em missão. Estava a cinco passos da porta quando ouviu alguém a correr, e a chamá-lo. Ao olhar para trás, viu Kyra a subir as escadas rapidamente.
– Michael espera! – Pedia a rapariga, ligeiramente ofegante pela corrida. O rapaz ruivo estacou no lugar, à espera que a jovem se explicasse. – O Raikage quer falar contigo.
Embora sem saber bem a razão de ter sido chamado, Michael não tardou para se dirigir para o escritório de Denkou.

Assim que teve permissão para entrar, Michael abriu a porta, sendo seguido por Kyra. Reparou numa rapariga de cabelos negros que se encontrava junto à janela, do outro lado da secretária do Kage. Não a conhecia, seria de Kumo?
– Tenho uma missão para vocês. – Os dois gennins entreolharam-se. Desde aquele “pequeno” incidente da última missão que o Kage não lhes chamava para outra. – Deve ser uma missão simples, por isso estou a dar-vos.
Como grande shinobi que era, o Raikage tinha lido as mentes dos dois jovens.
– A sul de Kumo encontra-se uma aldeia que tem vindo a sofrer constantes ataques. Destruição de propriedades, roubos, raptos… e mortes. – A rapariga que estava ainda à janela contraiu-se perante tal palavra. – A última baixa foi o chefe da aldeia.
Michael pensou bem nas palavras. Havia algo que não estava a perceber naquela missão. Parecia bastante simples: uma aldeia que foi atacada precisa de ajuda. Mas tinha a certeza que havia algo…
– A vossa missão será escoltar esta jovem de volta à sua aldeia e controlar esses bandidos. – Ambos assentiram. – Julgo não ser preciso dizer que quero o máximo de inimigos de volta a Kumo… e vivos.
Michael desviou o olhou do seu Kage, sabendo que a mensagem lhe era dirigida. Entretanto, um homem abriu a porta do escritório. – Raikage-sama, eles já chegaram.
– Óptimo. Manda-os entrar. – Quando dois vultos entraram na divisão, Denkou explicou. – Estes serão os vossos companheiros nesta missão. – Com um movimento simples, apontou para os dois rapazes que acabavam de entrar. – E terão de seguir qualquer ordem que eles venham a dar.
Michael olhou para eles. Eram ambos mais velhos do que ele. Na verdade, seria quase um insulto chamá-los somente rapazes. Deviam ter uns 19 anos. Agora que reparara melhor, eram os dois bastante semelhantes, como gémeos verdadeiros. Ambos tinham um cabelo cobre e uns olhos azuis esverdeados. Nunca os tinha visto também.
Apesar do rapaz ruivo ainda estar reticente com os seus novos companheiros, Kyra pareceu discordar completamente enquanto observava os abdominais que a camisola justa de um deles não conseguia encobrir por completo.
– Bem, agora que já se conhecem, peço-vos que partam com urgência.
E logo “expulsou” os cinco para fora do seu escritório.

– Bem, já que o senhor-mal-humorado-Raikage não nos deixou fazer qualquer apresentação, julgo que seria conveniente fazê-lo agora. – Disse um dos gémeos, alegre. – As senhoras primeiro.
– Kyra Yoshikunu.
Os quatro olharam para a pequena rapariga que estava entre eles. Apesar de se demonstrar um pouco reservado perante os que a iriam acompanhar, a rapariga não se mostrou intimidada. – Akane Hamano.
Logo o gémeo olhou para ele. Estaria ele a insinuar que ele era também uma “senhora”, ou o facto de ter sido escolhido para ser ele agora a apresentar-se nada tinha a ver com esse facto? De qualquer maneira, respondeu: – Michael Hyage.
Esse mesmo gémeo sorriu abertamente. – Eu chamo-me Kaito. E este é o Kouta, o meu irmão. – Disse apontando para ele. Este último não parecia muito de falar, contrariamente ao seu congénito.
Michael achou estranho o facto de ele não ter referido o nome de família, mas ignorou tal facto. Kaito abaixou-se, apenas o suficiente para ficar com os olhos ao mesmo nível que a rapariga. – Então, Akane, espero que não te importes de nos guiar à tua aldeia.
Ligeiramente tímida, a rapariga respondeu logo. – A minha aldeia fica a sul de Kumo.
– Então vamos para sul! – Afirmou contente, enquanto começava a dirigir-se aos portões de Kumo.
– Erm… nós ainda não preparamos as coisas para levar. – Disse Michael, apontando também para a sua colega.
Kaito ergueu uma sobrancelha, confuso. Mas foi Kouta que acabou por falar. – Então o que estão ainda a fazer aqui? Têm 15 minutos.
O outro aproximou-se do irmão, enquanto via os dois gennins correrem para as respectivas casas. – O que achas dele?
Por ser o responsável pela segurança do rapaz mais novo, a opinião do seu irmão gémeo seria bastante importante e iria definir o futuro daquele ruivo. Além disso, todos na montanha sabiam que Kouta raramente falhava nos seus julgamentos.
– O irmão era melhor do que ele. – Disse secamente.
Kaito sorriu. Claro que era. Apesar de ter conhecido Kaji ainda um pouco novo, lembrava-se perfeitamente dele. Seria difícil para Michael ultrapassá-lo, mas de alguma forma, tinha fé no jovem. Ao deixar estes pensamentos de lado, sorriu ainda mais quando a parte perversa da sua mente deixou as ideias fluir livremente. – Então o que achas da rapariga, ãh? Bem gira, não?
Arrastando os olhos para ele de uma forma que mais ninguém conseguia fazer, Kouta não pareceu feliz pelo comentário. – Desde quando ganhaste um gosto por raparigas mais novas?
– Eu? Sabes bem que sempre tive esse gosto. – Perguntou Kaito, fazendo-se de vítima. – Mas não era de mim que ela não conseguia tirar os olhos. – Comentou mordazmente. – Alem disso, esta tal de Kyra não é muito mais nova que tu, mano. Na verdade, acho que precisas de uma certa diversão pra ver se sorris de vez em quando.
Ignorando o comentário, o outro simplesmente suspirou, agradecendo o facto de Akane não ter ouvido nada disto.

Pouco tempo depois, os quatro shinobis de Kumo saíam pelos portões da vila, guiados pela pequena rapariga, prontos para esta simples missão.