O chorar de uma criança, o sorriso de um pai, o cansaço de uma mãe… a preocupação de um médico.- Enfermeiras venham aqui, rápido!
Um filho arrancado das mãos da sua mãe, uma mãe desesperada, um pai revoltado… um médico sem soluções.
- Como não previmos nada disto, ele parecia saudável e o parto não trouxe problemas, como pode ter isto acontecido?
Um silêncio confrangedor, um temor inexplicável, uma vida que chegava ao fim… uma vida que agora começara.- Doutor por favor, diga-nos o que se passou, o nosso filho está bem? – O medo era visível no seu rosto, o pânico tomava conta das suas acções e o desespero assolava-lhe o rosto com lágrimas.
- Lamento, mas não sabemos mais o que fazer… - O rosto derrotado do médico não inspirava confiança ao pobre coração do jovem pai.
- Mas o que se passou… onde está o meu filho? – Afastando o médico do seu caminho aproximou-se de uma cúpula de vidro, no interior estava um pequeno ser, tão pequeno que parecia nem ter nove meses, o seu ar frágil era evidente e não era preciso ser-se médico para perceber que algo não estava bem. O seu pequeno peito parecia ofegante e, não fosse a máscara a que estava ligado, de certeza que o ar lhe faltaria nos pulmões.
- Mas o que é que se passa? Diga-me por favor. – As lágrimas que escorriam pelo seu rosto pingavam lentamente sobre o vidro que protegia o seu filho.
- O seu filho parece padecer de uma doença neurológica, o cérebro não consegue monitorizar todas as acções do corpo o que provoca um colapso de todo o seu organismo, ao inicio quando vimos o seu filho ele parecia saudável, mas mal terminamos o parto vimos que sem motivo aparente ele havia nascido invisual, enquanto tentávamos descobrir o que se passava, uma das enfermeiras reparou que o seu filho já recuperar as capacidades visuais, mas os seus pulmões começavam a ser inundados por fluidos, afogando-o. Quando tratámos dos pulmões, o seu coração entrou em colapso, seguiram-se várias hemorragias até que finalmente o conseguimos estabilizar, neste momento encontra-se em coma, reduzindo ao máximo a sua actividade cerebral, e mantido apenas vivo com o auxilio de máquinas e selos. Não sabemos mais o que fazer… o seu filho dificilmente irá sobreviver, e mesmo que sobreviva nunca conseguirá ter uma vida de qualidade, será sempre limitado pela sua saúde precária e viverá em constate agonia… vamos tentar fazer os possíveis, mas tememos que ele não aguente até amanha de manhã.
- Não há nada que possam fazer? Não podem deixar o meu filho morrer assim, tem de haver uma solução! – O homem colocou-se de joelhos, com as mão na face, soluçando cada lágrima que caia pelo seu rosto.
- Lamento… - Disto isto o médico saiu da sala, deixando as enfermeiras encarregues do resto. O pai foi retirado do bloco de partos, enquanto que o bebé foi levado para uma sala esterilizada. Pela janela da porta, o pai via a sua jovem mulher, de cabelos soltos, com ar cansado, talvez cansado ao ponto de nem sequer conseguir chorar pelo seu filho, talvez em choque, depois de tudo o que havia passado e ainda ninguém lhe havia perguntado como se sentia.
Saiu do hospital, resguardado do frio por um casaco mais que gasto de cor castanha. Percorria as ruas de Kumo soluçando, revoltado pela forma como o haviam tratado, pela forma que lhe haviam tirado o filho e nem lhe dado uma explicação satisfatória, simplesmente tratando o seu filho como se ele já não estivesse vivo.
Finalmente chegava a casa, a casa onde sempre sonhara construir uma família, onde sempre sonhara viver com a sua mulher e o seu filho. Acendeu a luz de um pequeno quarto, a débil luz era suficiente para iluminar o quarto pintado de azul, ao fundo estava um pequeno berço, de madeira polida e enfeitado com estrelas e variados peluches, uma estante repleta de brinquedos e livros, preparados para serem explorados pelos pequenos mas brilhantes olhos de uma criança.
Apagou a luz e retirou-se para o seu quarto, atirou-se para cima da cama deixando a gravidade fazer o seu trabalho, pela sua mente passaram inúmeras coisas, coisas confusas, coisas impossíveis… coisas loucas. O que iria fazer não tinha explicação, nem ele conseguia encontrar uma, um impulso de uma pessoa desesperada, de uma pessoa que sempre sonhou e que agora vivia um pesadelo.
Voltou a aventurar-se na noite gelada, o caminho era o mesmo, mas o motivo era diferente. Entrou no hospital e dirigiu-se ao quarto da sua mulher. Esta dormia calmamente, o seu rosto continuava belo, mesmo marcado pelo cansaço, beijou-lhe a testa e depois os lábios, ao ouvido sussurrou-lhe um pedido de desculpas pelo que iria fazer, garantindo que seria para o bem do seu filho, na sua mão deixou um bilhete, só ele sabia o que tinha escrito, e só ela viria a saber. Deixou o quarto, incapaz de ver o rosto da sua mulher ser percorrido por um fino fio de lágrimas…
À socapa entrou no bloco de cuidados intensivos, viu o seu filho de imediato, no interior da protecção de vidro, ligado a uma parafernália de máquinas e tubos. Lentamente o seu pai retirou de uma kunai que trazia escondida no seu longo casaco, estava quase a acabar, só precisava de mais uns minutos, foi então que pegou na kunai, apontou ao coração e num golpe rápido… acertou em cheio no médico que acabara de entrar no bloco. Não podia deixar que lhe estragassem os planos, abriu o vidro que protegia o seu filho, cuidadosamente retirou todos os tubos que o mantinham vivo, colocou-o sobre uma manta e correu até à janela, numa investida partiu o vidro, mergulhando na escuridão, carregando o seu filho nos braços. Para trás apenas deixou os gritos aterrorizados de quem encontrara o corpo do médico, já sem vida e ensanguentado.