Filler 2 – A Lenda
- Porque choras Kirin? – Perguntei-lhe ao sentir uma lágrima cair-me na face. Encontrava-me deitado com uma manta castanha e felpuda a tapar-me até ao pescoço, e o Kizaru aquecia-me as pernas deitando-se sob os meus pés, por baixo havia uma camada de agulhas de pinheiro secas que me ofereciam calor. A Kirin estava em cima de um tronco velho pertencente à árvore que fazia de minha almofada, protegida do sol forte das três horas. Assim que senti um pingo molhado encharcar-me a cara percebi que ela chorava, o céu estava limpo e o sol radiante, não podia ser chuva, nem orvalho àquela hora. – Porque choras? Está tudo bem agora.
- Roubei-te, fiz com que fosses preso, neguei-te amizade e ainda assim quiseste que fosse contigo, como teu amigo, nós nem nos conhecemos. Porque fazes isto?
- Ora, porque nós somos amigos. Não notas isso? Assim que estava em apuros salvaste-me, os amigos fazem isso sabias.
- Pois, a... não sei o que dizer. – Limpou as lágrimas que ainda lhe sobravam na cara e recompôs-se.
- Diz que sim. – Pedi-lhe.
- Sim o quê? – Disse ela no seu estado normal.
- Vens comigo na minha jornada.
- Ah pois, aquela história do revolucionário. Já me tinha esquecido. Vou contigo se me ajudares a matar uma pessoa.
- Ajudo, os amigos fazem isso. – Disse-lhe deitando-lhe um sorriso charmoso meio maruto, acabei por levar uma estalada.
- Amigos apenas, não comeces a pensar noutras coisas.
Passámos vários dias naquele acampamento improvisado à espera que os meus ferimentos da última batalha sarassem por completo. Durante todo esse tempo, nada havia para fazer por isso conversava durante algum tempo ou com o Kizaru – não eram bem conversas mas pronto. – ou então com a Kirin. Numa das nossas conversas perguntei-lhe porque tinha deixado de ser ninja, ela primeiramente não respondeu, mas voltei a insistir.
- O meu Mizu Bunshin denunciou-me não foi? - Sorriu.
- Pois, ao que parece, conta lá.
Contou-me que nasceu em Kumogakure, aqui no País do Trovão e que rápidamente se tornou kunoichi, modestamente disse-me que nunca tinha sido nada de especial e que fugira da vila em busca de poder. Infelizmente não conseguiu tornar-se mais forte e desde cedo começou a roubar por pequenas aldeias usando as suas técnicas ninja para a ajudarem a não ser apanhada. Até que um dia, tal como eu, foi apanhada. O resto já se sabe.
Recolhemos todos os nossos pertences e começamos a caminhar por uma estrada ali perto. À nossa frente ia um camponês com um pau pendurado no ombro e na ponta levava um lenço atado. Vestiam-no roupas castanhas e um chapéu de palha no topo para proteger do sol. Não lhe ligamos e continuamos a falar.
- Tens alguma ideia para onde ir Kobi? – Perguntou-me a Kirin.
- Pois não faço ideia, não sei o que fazer. Para ser sincero, sinto-me perdido comigo próprio. – Ao revelar-lhe isto, o camponês virou-se para trás. Ouviu a conversa de certeza.
- Desculpem, não pude deixar de ouvir a conversa. Estás perdido não é verdade meu jovem? – Perguntou o homem de roupas castanhas. – Vou-te dar um conselho, segue esta estrada e chegarás à Vila das Termas Orientais, aí procuras a Fonte do Encaminhamento e mergulhas nela.
- Mergulhar na fonte? Para quê? – Inquiri confuso com as palavras do camponês.
- Ora essa, nunca ouvis-te falar da Fonte do Encaminhamento? – Neguei. – É uma fonte que quando se mergulha revela verdadeiramente quem nós somos e apesar disso ainda nos indica o melhor caminho a seguir.
- Mas porque razão a fonte faz isso? – Perguntei cada vez mais curioso.
- Não se sabe, é apenas uma Lenda, mas eu... – Antes de acabar a frase o camponês desvaneceu-se à nossa frente.
- Onde é que ele se meteu? – Perguntou a Kirin para o ar.
- Não faço ideia. – Fiz uma pausa. – Achas que devíamos ir a essa tal Fonte do Encaminhamento?
- Kobi, tu é que sabes, eu apenas te sigo.
- Não, tu guias-me.
- Ai é? Então vamos para a Vila das Termas Orientais e logo decidimos, pelo menos sempre temos uma localização.
Demorámos cerca de dois dias a percorrer a estranha de gravilha até chegarmos à vila indicada pelo camponês misterioso. Fomos bem recebidos ao contrário da última vila por onde passei. Um guia especializado em turistas ofereceu-se para nos guiar até uma estalagem ali perto, aceitámos e caminhamos os três ao lado dele. A estalagem tinha as portas de vidro abertas, atravessámo-las e percorremos a passadeira vermelha até ao balcão onde se encontrava uma rapariga nova, óculos pretos colocados numa posição sedutora assim como o seu decote, que arejava aquela parte dos seios robustos. Na bluza branca havia um crachá com o seu nome.
- Bom dia em que lhes posso ser útil? – Perguntou-nos a rapariga, apenas olhando para mim e de seguiu deu uma ligeira mordidela no lábio que só eu notei.
-
"Estás mesmo a pedir umas palmadinhas." – Pensei. – Queríamos um quarto para os três, contando com o meu cão.
- É para já. Aqui tem a chave, é o número sete, ao fundo do corredor à esquerda.
- Obrigado. – Agradeceu a Kirin. – Desculpe, por acaso não tem nenhuma informação sobre a Lenda da Fonte do Encaminhamento.
- Ah vieram por isso. Muitos turistas vêm por essa mesma razão, mas nunca se comprovou nada. Honestamente acho que não passa de uma Lenda para atrair turistas.