Cheguei a casa com Seiji pela mão. Por muito útil que a serpente no seu ombro fosse, era impossível desviar-se de toda a gente em Suna, nunca conseguiria ditar-lhe as instruções rápido o suficiente. Deixei-o em casa e parti para uma missão com Takashi. Voltei dois dias mais tarde pela hora do jantar.
Enquanto jantávamos, Seiji perguntou-me timidamente:
- Nii-san.
- Nani?
- Alguma vez estives-te em… Amegakure?
- Não Seiji, nunca. Por que perguntas?
- Estou curioso. Deve ser tão diferente de Suna, onde nunca chove… - divagou ele alegre.
Amegakure. Era demasiado arriscado. Não me atreveria a levar Seiji lá. Pelo menos enquanto fôssemos ambos tão fracos. O tema “guerra” era Tabu. Mas todos nós a sentíamos. As relações com as outras vilas ninja a enfraquecer, os rumores de alianças secretas feitas longe dos olhos de Arashi. Idiotas, na minha opinião, acham todos porventura que Loki, Arashi e outros grandes nomes estiveram ociosos enquanto a terra quebra e a erva cresce? Não, eu sabia-o demasiado bem..
“ O rapaz caminhava pela rua deserta de Suna. Eram comuns aqueles seus passeios nocturnos. Afinal, o céu sempre lhe parecera mais bonito à noite. Um ANBU passou, silencioso, olhando-o desinteressadamente enquanto se afastava.
No mesmo instante, uma dor acutilante propagou-se a partir do olho esquerdo do rapaz. Tomado de surpresa, tombou imediatamente, tapando olho com ambas as mãos, enquanto se contorcia no chão. O ninja voltou para trás num shunshin.
- Estás bem rapaz? – perguntou atrás da máscara.
Selim não lhe respondeu, fitou-o retirando as mãos. E instantaneamente os seus medos fluíram para a mente do rapaz. Guerra. Depois as suas memórias mais recentes. Encontrava-se no escritório do Kazekage.
- Amegakure alia-se a Kurai? – inquiriu Arashi como se já o esperasse – tens a certeza?
- Não, Kazekage-sama. São apenas rumores que circulam em Amegakure, se tal é verdade o líder ainda o não revelou.
- Estou a ver. Então voltaste apenas para me desejar cautela?
- Não só, mas também. O nukenin foi morto, podemos riscá-lo do Bingo Book.
A memória desapareceu em sombras, e a dor parou, bem como o fluxo de informação. Selim desculpou-se e voltou para casa rapidamente.”
Arashi já desconfiava e consequentemente Loki também. Era perigoso, escolher o lado numa guerra, principalmente quando não sabemos quem são os lados em confronto. Por patriotismo, se tal ocorresse, eu deveria lutar por Suna. E se morresse? O que seria de Seiji então? Fugir era impossível.
Matavam-me a mim e a Seiji também. Subitamente bateram à porta, abrindo-a lentamente, em seguida. Um chuunin entrou de rompante, batendo a porta.
- Selim-san, Arashi requer a sua presença, imediatamente.
“Que raio quer ele a esta hora?!”, perguntei a mim próprio.
Deixei Seiji com uma pequena serpente e apressei-me para a mansão de Arashi. Já lá estavam outros Genins.
- Ah Selim, finalmente. Estamos todos então.
Juntei-me à fila de ninjas enquanto o Kazekage pigarreava ruidosamente.
- Como todos já devem ter ouvido, os rumores da guerra espalham-se e corrompem a nossa terra. Não vo-lo esconderei, pois vocês são o futuro da minha aldeia. – fez depois uma curta pausa – como sabem, as diferentes vilas avaliam o poderio militar umas das outras através do poder dos seus Genins. Com tudo isto, eu próprio convoquei, desta vez, um torneio Genin, pois é de extrema urgência avaliar o quão fortes são os ninjas de outras vilas, se a guerra se aproxima de facto. Vocês são os meus escolhidos para participar neste torneio.
Senti-me bastante enojado com este discurso, para dizer a verdade. Kage hipócrita, mais preocupado em preparar-se para a guerra do que evitá-la a todo o custo através da negociação. O que me estava a dizer era que não se importava se morríamos em torneio ou na guerra, desde que a nossa morte contribuísse para a hegemonia de Suna. Desprezável.
- É por isso que todos vocês irão a este torneio. Alguns de vocês são deveras ninjas excepcionais. Seleccionei esses para que treinassem aos pares, com outros. Para que todos possam obter bons resultados. De ora em diante, esquecerão as equipas que fizeram até hoje. Serão enviados para uma segunda aldeia, perto da fronteira do País do Rio e treinarão com o par que vos for associado. Durante sete dias, incansavelmente.
Fomos agrupados, um por um, como cordeiros por um pastor.
- Selim Puraido! Nagisa Kaoru! – chamou o Jounin a um canto.
Dirigi-me a ele calmamente, dando de caras com um rapaz de cabelo cinzento e olhos vermelhos, brilhantes. A cara dele não era, definitivamente normal. Não tinha imperfeições, parecia mais esculpida do que fruto do crescimento humano.
- Prazer em conhecer-te, Puraido-kun. – cumprimentou estendendo-me a mão.
Levantei a minha hesitantemente.
-Hai, prazer, Nagisa-kun.
- Não, não – negou ele sorrindo – chama-me Kaoru.
Quem raio era esta pessoa? Porque é que todos aqueles maneirismos e simpatia me faziam sentir tão… tão com falta de à-vontade.
- Hum. – pigarreou o Kage – todos vocês, pares, viverão junto com o vosso par, até ao torneio e não em Suna. Nós, construímos na fronteira com o país do Rio uma “segunda aldeia”, vocês verão, por vós próprios. Partirão imediatamente, os vossos haveres essenciais já foram levados. Vão, agora. – ordenou o Kazekage solenemente.
Caminhámos durante algumas horas no deserto. Kaoru ao meu lado, silencioso.
- O que achas tu disto? – perguntou-me ele quebrando o silêncio.
Confesso que não estava À espera da pergunta, não tão directa e súbita.
- Acho que ele está a fazer de nós marionetas. Se Kiba já sabe desta vila e tentar um ataque nós seríamos a primeira linha de defesa. Os que morriam a defender Suna, enquanto a vila principal se preparava para um ataque. Os sacrifícios. Aquela serpente…
- Foi exactamente o que pensei. Só nos resta rezar para que Kiba não faça isso, não é? – inquiriu ele sorrindo agradavelmente.
Dirigimo-nos aos dormitórios, onde nos foram dados quartos aos pares, outra vez. Uma hora depois, quando estávamos já deitados, todas as luzes na vila se apagaram, simultaneamente.
- Vamos dormir – declarei virando-me na cama.
- Juntos? – perguntou ele confuso.
Este também não devia estar habituado a lidar com pessoas, para ficar confuso com uma frase tão simples.
- Não Kaoru, vamos dormir, sós.
- Está bem. – confirmou ele compreendendo enfim– boa noite Selim-kun.
- Boa noite, Kaoru.