Alguns minutos depois, encontrava-se já a uma altura perceptível. A temperatura não parava de descer, a humidade, e o simples facto do farol ser construído em pedra. Parecia que tudo estava a contribuir para que a vida da pobre criança não voltasse devido a uma constipação.
As pernas da adulta já pareciam pesar imenso, subir um degrau era tão difícil como elevar um enorme peso. Porém as tochas ardentes colocadas em nichos salientes ainda aliviavam um pouco o ambiente. A luz que emanava delas, em tons vivos e brancos levantava a moral, dava forças à mulher para continuar.
Pouco depois, a escada em forma de caracol tinha terminado, estava agora diante de uma porta em madeira. Kikai parou novamente por poucos segundos para respirar e reflectir no acontecido enquanto olhava para o cadáver da sua filha.
Recompôs-se o mais rápido que pode, e com uma chave retirada do bolso abriu lentamente a porta que rangia alto.
Seguidamente arrastou o corpo morto de Riseen pelo chão, e colocando-o no centro da nova divisão onde se encontrava, olhou para todos os seus cantos para absorver qualquer segredo que estes pudessem esconder.
Era de notar o quão assustador era a sala, havia sangue a escorrer pelas paredes, marcas de luta em todo o lado. Provavelmente, no passado aquele local era utilizado apenas como um armazém, onde se guardava energia para colocar o farol a trabalhar... Não mais, era agora apenas uma zona sinistra onde jazia um corpo morto e uma mulher arrependida.
Ao longo de toda a parede, estavam caixas empilhadas, mas porém desorganizadas, e algumas até mesmo partidas. Estas encontravam-se na parede da esquerda, já na da direita estava apenas uma grande janela localizada exactamente no centro da porta de onde tinham entrado, e de uma outra que escondia ainda um mistério.
Em poucos segundos, um barulho rude foi ouvido por trás das caixas, e nesse mesmo instante, Kikai correu de braços abertos para agarrar as caixas e lançá-las brutalmente para o lado, revelando um pequeno nicho ainda mais escuro que a própria sala. Sons de correntes a arrastar foram então ouvidas, a adulta colocou-se em posição de batalha protegendo o corpo inocente de Riseen. Nada mais aconteceu, foram uns momentos de medo, mas com o tempo foram imediatamente sobrepostos.
Depois de alguns selos, Kikai estendeu a mão direita em direcção ao nicho, e uma forte onda de chakra iluminou tudo o que se pudesse encontrar nesse canto.
Tranquilidade e descanso foram absorvidos em conjunto com as imagens do local:
Um simples idoso, magro e subnutrido, alto e com uma cara severa, acorrentado a uma cadeira, num estado de calma total.
- Vieste tarde. - Exclamou como repreensão. Respirou por instantes, e assim que o seu fôlego o permitiu, finalizou a sua frase. - Filha...
Tentou levantar-se então, mas as correntes impediram o seu movimento. Esta acção fez com que a mulher se apressá-se na sua missão.
- Cuidado! Sabe que se tentar rebentar as correntes o destino da sua neta estará condenado para sempre! - Gritou alarmada enquanto caminhava na sua direcção, iluminando-o com a sua técnica.
Estendeu as mãos em direcção às correntes, e com força agarrou uma delas com a mão direita, permitindo à sua mão esquerda executar um conjunto de selos. Uma aura rocha emergiu das suas mãos, e rápidamente se alastrou por todo o metal que compunha a fria corrente, este acontecimento durou menos de dez segundos, e durante esse curto espaço de tempo, tudo o que impedia o idoso de sair da sua prisão desvaneceu pelo ar.
Este ansiosamente levantou-se, olhou para a sua filha que encontrava-se agachada e agarrada á cadeira, e continuou o seu caminho enquanto era seguido por esta, saindo finalmente do canto escuro onde tinha sido fechado.
- Ah... A bela luz natural... - Exclamou com uma cara de satisfação enquanto olhava pela janela.
- Pai, estamos num período de nevoeiro intenso, à dois dias que o Sol não sorri sobre Kirigakure!
- Pelo meu destino, isto é o único Sol que eu vi à cerca de quarenta anos, deixa-me apreciá-lo...
Conversaram, como uma boa filha e um pai reformado conversam por amor e carinho de um ao outro, mas o momento não era o mais próprio.
- Então, é ela quem será o novo Ijoushuryou*? - Inquiriu o idoso.
- Sim... e talvez será a última... - Referiu triste, e então explicou. - Como tinhas dito, cheguei tarde, Riseen...
O idoso franziu as sobrancelhas, e Kikai suspirou enquanto apontava o seu dedo para a sua filha, explicando por gestos que "Riseen" era o seu nome, e então continuou:
- Riseen morreu de gripe sazonal... E o cilindro de Nashinju* encontra-se posicionado, eu falhei na missão de o destruir. - Inclinou a cabeça e com um ar triste, disse. - Pai, terás de trocar a tua vida por ela.
Assim o homem olhou para baixo, para o corpo da sua neta, e comentou:
- É uma criança bonita... Tenho pena pela nossa família, ao pensar que a irei carregar agora desta maldição...
Por cerca de um minuto, um silêncio abateu-se pelas suas almas, pensavam pelo futuro da criança, pensavam em como seria a sua vida no próximo dia, e pensavam no que fazer agora.
O idoso sentou-se, e aí deslizou a sua perna direita pela esquerda até que esta penetrasse de modo a este colocar-se de pernas cruzadas. Executou um selo imediatamente, e um pequeno círculo de forças fez-se no ar, alastrando-se enquanto desvanecia no processo. Após isto, uma das caixas que jazia no chão do farol foi atraída até o pai de Kikai, como se estivesse magnetizada. Esta olhou para as técnicas do seu parente com uma emoção mista, triste por saber que o iria perder, e contente por saber que teria de volta a sua filha.
Sentado, o homem abriu a caixa, e retirou de dentro uma linda harpa, feita num metal azul de tons do mar, belo e brilhante como diamantes.
- Sinto-me feliz, por ter uma morte tão digna... - Sorriu, despedindo-se do mundo. - Morrer a criar arte, e a salvar a neta.
Lágrimas caíram dos olhos de ambos, e então este começou a tocar uma melodia triste, intensificando o momento. E de repente, sem que estivesse à espera, o idoso espetou a harpa no seu peito com uma lamina que esta tinha de metal, ao fazer isso, salpicou a sala com ainda mais sangue, e uma aura verde foi emanada da ferida, esta mesma rodeou todo o corpo da criança, e desvaneceu.
A mulher gritou em choro, e sentou-se no chão para se recompor do momento e de todo o ocorrido. Desta vez não foi tão fácil como todas as outras, a morte de um pai que adorava... Um momento de horror. Perguntou-se porque é que em tantas pessoas, seria logo a sua família amaldiçoada por tal coisa.
Alguns minutos depois, limpou o sangue que cobria as suas roupas e a da sua filha, e quando se sentia um pouco mais aliviada ao pensar que isto tinha ocorrido para que outra vida não fosse perdida, levantou-se, e eliminou as provas que aquele velho farol abandonado poderia revelar. Agarrou no cadáver do seu pai, e sem piedade lançou-o pela janela, fazendo com que em pouco tempo este se tornasse num dos tantos corpos de animais em putrefacção sobre a praia.
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Acho que desta vez, subiu ligeiramente em termos de conteúdo, sendo este filler o primeiro com um diálogo a sério, apesar de sentir que desceu novamente em qualidade D:
Desta vez já não tenho grandes coisas para dizer, enjoy.
- Spoiler:
Ijoushuryou: Portão do Final
Cílindro de Nashinju: Cílindro do Nada