Hiyama Kyohei
Filler 8
Restos
- Acorda! - Um leve encosto de mão fazia o meu corpo oscilar para a frente e para trás na cama. Respondi apenas com um grunhido e enfiei-me mais no calor dos cobertores. - Acorda mano! - As suas duas mãos empurravam-me agora nas costas, mas deixei-me estar. Sim, estava já acordado, mas preferia tentar simular sono do que sair vencido. Notei que ele desistiu em pouco tempo.
-
Estranho. - Pensei. Arrastei a almofada para dentro do meu esconderijo e ali me deixei estar mais um pouco de olhos cerrados, isto até ouvir a porta voltar a ranger. Pelo som da madeira a ranger, o peso era pouco e concluí que fosse ou Sona ou Aki.
- Vais sair daí ainda hoje mano? Tens coisas importantes para fazer. - A voz de Aki chegava-me abafada aos ouvidos, contudo era clara o suficiente para perceber o que dizia.
- Deixa-me estar. - Respondi entre dentes. - Sabes bem que não vou à reunião que dizia a carta.
- Anda lá... Todos têm que arranjar uma eventualmente. - Sem eu saber, o rapaz brincava com uma pequena bola avermelhada, simplesmente trocando-a entre os dedos da mão esquerda. - Sais ou não?
- Não. Nope. Nein. Нет. - Declarei rapidamente.
- Ok... Tu é que sabes. - Apenas ouvi alguns passos a aproximarem-se da cama e uma brecha de luz a se notar entre os lençóis. Ouvi algo a bater no colchão e com um baque surdo ouvi Aki a aterrar no chão e depois fugir para fora do quarto, fechando a porta à saída.
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Que lhe deu para fugir? Está assim tão sensível por eu não querer ter uma equipa? - Perguntei-me, enrolando-me mais na roupa da cama. Puxei os cobertores para mim e notei que pisava algo com o meu rabo. Algo esférico. Sem querer, pressionei demais a pequena bola e logo descobri do que se tratava. Uma espessa nuvem em tons escarlates começava a inundar o meu esconderijo e a escapar para o resto do quarto. O fumo picava-me os olhos e todo o sistema respiratório conforme eu o inalava. Saltei de imediato para fora do beliche e num pulo abri a única janela do quarto, enfiando a cara para fora do quarto. Estava já a chorar baba e ranho pelo ardor e desconforto que o gás pimenta me estava a criar.
-
Eu mato-te Aki! - Gritei para a vizinhança!
Noutro canto de Kumogakure, numa outra zona, numa outra rua, uma criança caminhava lado a lado com a sua mãe. Alegremente olhava para as várias casas brancas da cal que compunham aquela rua e passeava entre pequenos saltos. O garoto tinha um pequeno fascínio, talvez fruto da sua tenra idade, por máscaras, iguais às que via os famosos ANBU a usar. Coleccionava-as nas festas que haviam na vila e sempre que podia, pedinchava uma à sua mãe.
- Mãe! Mãe! - O rapaz puxava a manga rosa da mãe e chamava a sua atenção. Ela virou a sua cara para ele, mostrando um sorriso paciente.
- Diz Konichan?
- Dás-me aquela máscara? - O rapaz apontava para uma máscara de ANBU pendurada numa parede com um pequeníssimo senbon.
A máscara era de um fundo branco com duas ondas laterais castanhas que iam desde o topo da máscara até à parte mais em baixo. Tinha o símbolo de Sunagakure na zona da testa, mesmo local por onde o senbon prendia o objecto à parede da casa. A parede estranhamente tinha uma mancha rosa na parte onde a máscara estava presa. Algo relutante, como se pressentisse alguma coisa, a mulher lá se aproximou do objecto e com a mão esquerda deslizou-o delicadamente para fora da sua prisão. Notou que parecia mais pesada do que as anteriores e decidiu virá-la para saber do que era feita.
A máscara caía no chão e deixava-se partir parcialmente, mostrando agora a pele cortada de uma cara humana, ensanguentada e cortada violentamente, mas com extrema precisão. Parecia ser obra de um demónio. Os gritos da mulher alertaram a vizinhança e quem passeava pela mesma rua e o choque foi ainda maior poucos momentos depois. Na mesma área, num beco feito entre dois edifícios, um rapaz jovem arrastava-se pelo chão aterrado. No beco, pregado na parede por vários alfinetes de metal, estava o corpo ensanguentado e deformado de um antigo ser humano. A sua cara, dizem os que tiveram tomates e estômago para aguentar a visão, parecia ter sido arrancada, deixando os músculos da face totalmente à mostra.
- Quem foi o monstro que fez isto? - Declarou um homem entre a multidão.
Empurrado pelo meu irmão, apareci a horas ao encontro de equipas. Notei ao redor do edifício algumas caras familiares da prova que fiz para me tornar gennin, mas eram muitos mais do que eu esperava. Daria facilmente para criar umas dez equipas só com os que estavam já ali presentes. Um par de chunnins deram-nos algumas instruções para esperarmos que fôssemos chamados e que quando acontecesse que nos dirigíssemos para a sala que nos indicassem. Entretanto, que nos sentássemos num dos bancos que nos tinham posto no jardim em frente ao prédio.
Esperei quase uma hora, vendo pouco a pouco os restantes serem chamados e nunca mais voltarem. Quando finalmente foi a minha vez, olhei primeiro em meu redor. Tinha ainda tempo de fugir dali para fora e ir gozar um pouco o dia. Mas encontrei Sona nas proximidades e antes que ele me visse no meio daqueles ninjas todos, meti-me prédio adentro e procurei pela sala dezasseis. Quando entrei, fique surpreendido. Na minha equipa estariam duas raparigas, brasas pelo que me pareciam e tinham algo de familiar nelas. Uma delas parecia algo emo, de cabelos pretos longos interrompidos por uma madeixa de um azul claro. Tinha roupas pouco reveladoras, mas o seu top delineava perfeitamente o seu peito. Desviei o olhar para a outra rapariga para não cair na tentação. Foi pior! Era uma rapariga completamente diferente. Era um pedaço de Inferno que tinha subido à terra só para fazer os homens enlouquecer. Vestia um pequeno vestido vermelho, bastante decotado e que acabava como se fosse uma mini-saia, um colete mais marron, recheado de bolsos. Tapava as canelas com o que pareciam ser protecções de couro e usava umas sandálias que deixavam notar os seus pés perfeitos. Olhei para cima e quase atingi o ponto de gritar "Afrodite" e me ajoelhar perante a rapariga. Tinha longos cabelos loiros, olhos azuis e uma face tão bem delineada que parecia ter sido desenhada à mão! Benditos pais, deviam ter feito mais daquelas!
Mesmo após as ver de uma ponta à outra, pareciam-me familiares. Não me lembrava de onde, mas tinha a certeza que já tinha visto ambas. Talvez por Kumogakure, não sei... Sentei-me a algumas cadeiras de distância do par e esperei com elas que viesse mais alguém. Foi quando já estava a ficar sem paciência que a porta se moveu outra vez. Do outro lado, aparecia um rapaz jovial a mover a sua própria cadeira de rodas. Entrou sem dificuldades, pondo-se de seguida à nossa frente. Mirou-nos de alto a baixo e eu aproveitei para lhe fazer o mesmo.
Parecia ser ainda jovem, talvez 20 ou 25 anos e forte pelo corpo desenvolvido que tinha. Mas o facto de estar numa cadeira de rodas... Bah! Não me agradava nada. Não haveria ninguém melhor? Teria eu ficado com uma equipa de restos?