- DeathWhisper escreveu:
- Antes que eu pudesse retribuir o cumprimento, uma nova vaga de dor assolou-me, desta vez mais forte do que as anteriores, forçando todo o meu corpo a contrair-se.
Ao longe conseguia ouvir a voz do velho, a desvanecer-se. A visão toldou-se-me. E a noção de tudo foi-se perdendo conforme os segundos passavam.
Ajuda-me, por favor...
Tenho medo...
Uma luz tímida invadia a divisão no momento em que abri os olhos. Antes que pudesse perceber onde estava, uns olhos grandes e castanhos fixaram os meus, deixando-me desconfortável.
─ Ela já acordou! ─ A voz estridente da rapariga retiniu nos meus ouvidos.
─ Kiria sai daí! ─ Disse uma voz velha ao mesmo tempo que entrava na divisão. ─ Desculpa pequena Miyuki, mas ela entrou sem eu saber.
A rapariga, de tranças castanhas, deitou a língua de fora ao mesmo tempo que fazia uma careta adorável, para logo sair a correr pela porta, feliz da sua inocente vida.
─ Eu ouvi dizer que tinhas desaparecido. ─ Disse o velho para captar a minha atenção.
─ Oh, isso? Foram só umas férias prolongadas dos meus irmãos. Viver naquela casa é difícil, como deve supor.
Takasu soltou uma gargalhada pesada. – Tudo bem, se não quiseres contar, eu entendo. Quando chegares a Kumo, estou certo de que terás gente suficiente a fazer-te perguntas difíceis.
Ah, ora aí estava a desvantagem de estar desaparecida tanto tempo… as perguntas. E pois bem, se me encontrava em Kiri, agora tinha de ir para Kumo de alguma forma.
─ Amanhã de manhã parte um barco para Kumo. ─ Disse o velho como que lendo a minha mente.
Quando era pequena, lembrava-me que adorava andar nos pequenos barcos dos pescadores de Kiri. Adorava a água, adorava o mar e toda a sua imensidão. Agora, nunca me sentido tão feliz ao pisar terra. Kumo. Por fim em casa.
─ Já tiraste as coisas todas do barco, pequena? ─ Perguntou-me o velho Takasu.
Ele tinha-se voluntariado para acompanhar-me. Agradeci-lhe, pois provavelmente iria aborrecer-me na viagem sem ninguém com quem falar. Não trazia muita coisa comigo. Na verdade, só o que trazia no corpo era verdadeiramente meu, pois o que estava na minha mochila tinha-me sido emprestado por Takasu.
─ Vamos antes que o sol esteja a pique. ─ Anunciou. ─ Pode ser uma viagem cansativa.
Embora não tivesse tão fraca como estava quando saí daquela barraca de madeira, a verdade é que ainda não tinha recuperado a totalidade das minhas forças. Mas de cabeça voltada para norte, comecei a caminhar, seguindo os passos daquele homem.
Depois de dois dias de viagem a pé, consegui ver ao longe o que já não via há vários anos… os portões de Kumo. O cheiro característico da região assaltou os meus sentidos, e as memórias passadas tornaram-me nostálgica. Cedo iria ver a minha família, os meus amigos, e então tudo ficaria bem, certo?
Um nevoeiro intenso levantou-se subitamente, ainda que disfarçadamente. Algo não batia certo. As minhas dúvidas confirmaram-se quando o velho Takasu pegou numa kunai. Fui à minha bolsa e fiz o mesmo, preparando-me para o que viesse.
Corre...
Um aviso. Ainda que longe, era uma lembrança do que poderia vir a seguir. E por mais que eu tivesse preparada, nada poderia fazer-me antecipar o que aconteceu.
Um líquido vermelho e quente salpicou pelo solo em segundos. Quando olhei para a frente apenas tive tempo para observar aqueles olhos negros dos quais jamais esqueceria. De seguida, o sangue a manchar o solo seria o meu. Num só golpe, a minha pele rasgou-se em harmonia com a lâmina afiada da espada adversária.
─ Vamos embora. Os guardas estão a chegar. ─ Ouvi por entre a camada de névoa.
─ Não! Não foi suficiente. ─ Disse o homem que me olhava.
Dois semblantes retiraram-se, mas o terceiro aproximou-se de mim. Ao recuar, ouvi um barulho vindo detrás de mim. Uma corda prendeu-se a uma das árvores envolventes e um vulto desceu-a até, de alguma forma…
─ AH FODASSE QUEIMA!
… desequilibrar-se e cair em cima do homem que me atacou.
─
Vamos embora.O homem saltou para uma das árvores e cedo desapareceu. Depois, o nevoeiro desapareceu e o horroroso quadro pintado na minha mente tornou-se real. Ajoelhei-me ao verificar o quão mal tratado tinha sido o corpo do velho Takasu. A minha visão começava a falhar-me, ao mesmo tempo que o sangue que saía do meu corpo era demasiado. As forças começaram a faltar-me e o suor a cair da minha cara, enquanto a minha respiração ficava pesada.
Ouvi umas vozes ao longe, que se aproximavam com rapidez. Também o rapaz alto e magro cujos cabelos castanhos eram curtos logo desapareceu da minha vista.
Miyuki, foge!
Antes que pudesse perceber o que acontecera, estava a ser amarrada por dois shinobis altivos, ao mesmo tempo que era afastada daquele corpo moribundo. Perguntavam-me insistentemente qualquer coisa, mas a minha atenção não lhes pertencia.
─ Diz-nos já o teu nome! ─ Gritou um deles ao meu ouvido.
Estava-me cada vez mais difícil respirar e tudo o que via agora eram pontinhos brancos a preencher aquela horrenda visão. A dor já não estava só no corte profundo que senti que tinha. Por fim, enchi o peito de ar uma derradeira vez… e mais uma vez, perdi a percepção do mundo.
----
Para quem quer ver o outro lado deste ataque final: http://www.narutoportugalrpg.com/t8901-filler-n18-alma-caridosaou-nao