O Chuunin de Suna erguia-se respeitosamente em frente ao Hokage, junto com o seu sensei e Kaoru. Esperavam uma repreensão que viria certamente, se Loki fosse Arashi. Mas Loki não os repreendera por não trazerem os Genins da Kyodo como reféns. Concordava que as crianças não deveriam ser usadas como armas. Era um homem que sabia o valor da honra e Selim respeitava-o e lamentava ter de o enganar.
- Takashi-kun, Suna provou ser o aliado que sempre pensámos que fosse. Mas não acho que tenham vindo cá apenas para me ajudarem, ou não é assim?
A cara do Jounin manteve-se imutável e o que quer que pensasse, não transparecia. Em vez dele Kaoru avançou com uma calma palpável, numa mentira flagrante e deliciosamente elaborada.
- É verdade que não viemos apenas para ajudar, Hokage-sama. – anunciou – dirigíamo-nos a Iwagakure para investigar um rumor. Arashi pensa que pode estar de novo habitada – esta informação fez o Hokage arregalar os olhos, num misto de espanto e incredulidade.
- Essas são novas e graves notícias. – formulou cautelosamente, como se ponderasse cada palavra meticulosamente. – Não vos porei entraves, sintam-se livres para pedirem seja o que for, Konoha ajudar-vos-á.
- Hokage-sama, pedimos apenas mantimentos e tempo para nos prepararmos – ecoou Takashi no seu tom mais humilde.
“Transformou-os a todos em serpentes.”, retiniram as entranhas de Selim “Arashi, já me roubaste demasiado, não me roubarás os meus amigos também.” Teve vontade de confessar tudo a Loki, da missão nojenta de que Arashi os incumbira. Tinham de verificar a lealdade de Konoha, segundo ele. Soava mais a enviá-los para a morte certa. Estaria também ele corrupto? Não importava, todos os shinobi eram ferramentas. Eles cumpririam a sua missão como previsto. Tinham os planos do edifício que teriam de invadir, ocultos.
Os planos já estavam forjados antes de saírem de Suna, tinham sido feitos sob a supervisão de Arashi e com a sua ajuda, mas sempre sem que Gaara soubesse. Os planos dos edifícios, as possíveis defesas que iriam encontrar. Não poderiam falhar, não depois de tanto trabalho para ganharem a confiança de Loki, não falhariam.


O rapaz de manto branco movia-se calmamente entre as ruínas de Iwagakure. Alguns poucos shinobi começavam a reconstruir a vila aos poucos. Pedra por pedra, habitante por habitante, as casas que resistiram à Catástrofe voltavam a ser povoadas, por habitantes retornados de outros locais ou simplesmente por habitantes novos, atraídos pela perspectiva do negócio ou simplesmente de fugir à guerra. Mas nada importava ao homem de capa branca. Moveu-se por entre os edifícios abandonados, pisando pequenos fragmentos de cristais cor-de-rosa. Os poucos habitantes de Iwagakure pareciam não reparar nele, ou se o faziam, ignoravam-no por completo, ou talvez apenas o temessem demais para o fazer, afinal, o seu destino também não era comum, pelo menos não para os vivos.
As tumbas erguiam-se como pequenos montículos à sua volta, mas eram insignificantes naquela imensidão de shinobi mortos. O ar encheu-se de partículas negras em seu redor e o próprio céu tomou um tom alaranjado de ocaso, apesar do sol ir alto, no céu. Ergueu a mão e o montículo de terra ergueu-se, bem como a campa, revelando um caixão de madeira negra, suja e gasta pelos anos.
Abriu a mão e com um estalo sonoro a madeira estalou e fendeu. Com um aceno leve um longo osso ergueu-se no ar e dirigiu-se até um frasco contendo um líquido amarelado. O rapaz fechou-o com um rodopio e, mal o fez, desintegrou-se em partículas negras. Voltou-se para trás e viu um rapazinho minúsculo escondido atrás duma campa. Um movimento, um pestanejar e cairia morto. Era tão frágil, tão inocente. Suspirou e ergueu o braço na sua direcção. Do seu manto branco esvoaçaram cobras negras que trouxeram o rapaz até si. A criança começou a esbracejar e a berrar a plenos pulmões, até que uma cobra o amordaçou, qual grilheta de aço forjado.
- Não te preocupes – disse-lhe na sua voz infantil, doce como mel – não passará de um sonho mau – e com isto afastou a madeixa loira do olho esquerdo. E o rapaz esqueceu.



A noite caíra sobre Konoha e Selim repousava sobre o futon de olhos fechados. Mas a sua mente estava longe, longe do mundo visível, naquele canto da sua mente onde Ele vivia.
A sala branca estendia-se até à infinidade, sem tempo cor ou forma, sem limites ou sequer fluxo. Não havia luz alguma, mas nem por isso as sombras deixavam de se projectar, curtas e definidas.
Sentava-me, nu, tímido e minúsculo contra a imensidão pálida que me rodeava. E Ele estava lá. Não sabia o seu nome, mas lembrava-me dele desde sempre. Branco, perfeito nas suas formas desnudadas, feições indefinidas, sem olhos. Olhei-o extasiado, como sempre e o choque abateu-se pela primeira vez. Atrás d’Ele estava o habitual portão, mas os símbolos nele gravados estavam diferentes, como uma árvore com palavras gravadas, não em Kanji mas em caracteres latinos que não conseguia ler.
- O que procuras? – perguntou numa voz profunda, tão diferente da sua habitual voz melódica.
- Procuro-O, mas não o encontro. – respondi em voz trémula – não o encontro…
- Estou aqui mesmo, como sempre. Não é a mim que procuras? – perguntou na voz profunda, levantando a cabeça pela primeira vez.
O segundo choque foi ainda mais forte que o primeiro. Onde antes não houvera nem sinais de olhos apareciam agora marcas purpúreas circundado as órbitas vazias, não como escoriações, mas antes como se fossem parte da própria pele.
- Estás diferente – constatei céptico – quem te fez isso?
Ele sorriu, não no sorriso agradável e límpido costumeiro, mas num riso de escárnio e ironia.
- Tu e Eu. O que no fundo é dizer o mesmo, pois eu sou parte de ti e um dia tu serás parte de mim.
Fitei-o, meditando nas palavras. Não agouravam nada de bom. Antes, aquela entidade limitava-se a sorrir-me e a contagiar-me com a sua presença luminosa e agradável, com o seu sorriso jovial e claro, mas agora era diferente. A sua presença era hostil e as suas próprias palavras soavam envenenadas.
- Deixa-me. – ordenei em tom firme.
Ele riu-se. Não se limitou a um sorriso, mas a um gargalhar gutural e malévolo. Aquela dimensão sempre pálida ganhou pela primeira vez contornos púrpura e avermelhados. Sempre pensei nela como um reflexo de mim próprio, mas algo estava diferente em mim, obviamente. O portão maciço abriu-se pela primeira vez, apenas um pouco. Um choro infantil ocupou o silêncio esmagador da sala, enquanto as sombras para lá do portão procuravam entrar.
E nisto acordou. A guerra chegara a Konoha. Era a ocasião pela qual esperava, enfim!

Grande Filler, Natas, sim senhor... Contornos literários muito bem trabalhados, as palavras e descrições muito bem escolhidas e representadas! As OST'S davam uma profundeza inexplicavelmente tocante! Parabéns...

Quero ler mais!

Pensava que Iwa já estava na boa
Vai recuperar a memória :O

Gostei

Brutal!

Adorei a atmosfera que as osts criaram, muito bom mesmo. ^^

Espero pelo próximo. ^^