Selim

Não sei quanto tempo ali estive. Tinha uma espécie de pano riscado sobre os olhos. Estava acorrentado e o meu chakra selado. Não me atrevo a descrever-vos o que mais aconteceu, pois assusta-me pensá-lo. Tenho a vaga noção de que de hora a hora entrava alguém por uma porta distante, fazendo perguntas às quais não sabia responder e depois.. Doía… Só doía.

Hayato



Saí de Sunagakure de noite. O Kazekage advertiu-me a não viajar de dia até ao País do Rio, segundo ele estava demasiado “fresco” para o clima desértico de Suna e ofereceu-me uma capa branca para a viagem. Reconheci-a como sendo a capa de Selim, mas não respondi ao humor sádico do Kage.. Mas apenas pensei vagamente nisso. Selim tinha sido capturado, mas… devia libertá-lo? No fundo, ainda que tivesse sido traído por Suna, matara muitas pessoas. E a verdade é que tinha ido a Konoha com o intuito de espiar. Era uma missão de Suna mas mostrava que não tinha escrúpulos em trair os aliados. Acho que no fundo me preocupava com ele, acreditara nele e à luz destes acontecimentos, por tudo o que sabia, todas as palavras e gestos podiam ter sido mais mentiras.
“E apesar disso ele arriscou a vida para te salvar”, disse uma voz no canto da sua mente, provavelmente estarias agora morto, bem como todos os Genins que estavam contigo.
Tinha razão, suponho. O arvoredo era denso à minha volta, agora. Devia estar já dentro do país do Rio, embora me tivesse deslocado para o extremo Sul para não encontrar ninjas da Kyodo. Agarrei o pequeno frasco de sangue que guardara no bolso. Era um Jounin de Konoha, não tinha de temer nada disto, era apenas uma dívida a pagar. Era o que pensava, mas talvez tivesse visto mais nele de amigo do que queria admitir.
- Kuchiyose no Jutsu!
Uma cobra de dimensões titânicas apareceu numa nuvem de fumo. Assustou-me um pouco, no início, mas nos seus olhos amarelos e nos espigões nas costas reconheci Schneizel, a cobra de Selim. Olhou-me com os seus olhos vítreos e começou a encolher lentamente, até ter apenas cerca de três metros. Pude constatar que era muito inteligente, para uma cobra, pareceu imediatamente saber o que fazer.
Bateu com a cauda no chão uma vez apenas e ele apareceu. Selim estava ensanguentado e mutilado, coberto de equimoses e marcas de armas menos simpáticas. Entendi agora que com o seu chakra selado, transporte com o chakra de outrem talvez fosse de facto a única opção. E por momentos tive pena. Parecia uma sombra, pálido. Estava claro que perdera imenso sangue, mas nem por isso era menos assassino. A sua serpente tocou-lhe com a cauda e pude ver como lhe transmitia chakra. Não tardou muito a que se vomitasse a ele próprio e embora não estivesse mais composto, estava menos magoado, pelo menos.
- Fiz isto apenas porque te devia algo – disse-lhe num certo tom de desdém – não confio em assassinos e traidores.
- Hayato… O Kazekage traiu-me e…
- O Kazekage não te obrigou a matar ninguém. – cortei em tom frio. – Se alguma vez nutri respeito por ti, estava cego, certamente. De ora em diante somos inimigos, Selim e espero não me cruzar contigo, porque se o fizer, pior para ti. – e com isto devolvi-lhe a capa branca que trouxera. Esperei que recusasse, que tentasse justificar. Não o fez. Mas não estava preparado para que me abraçasse. De alguma forma não o pude evitar.
- Sayonara, tomodachi – sussurrou. E afastou-se pela floresta, sem olhar para trás.

Selim



Ergui-me só na floresta, longe de Suna, longe da traição, longe de Hayato e não fossem as árvores em volta dir-me-ia longe do próprio mundo. Não sei ao certo quantas horas caminhei. Sentia-me vazio, estranhamente sem propósito, mas em paz. Não sei se terão sido todas as torturas que sofri às mãos dos ninjas de Suna ou talvez apenas uma manifestação dos meus poderes oculares. Mas as memórias outrora perdidasvoltavam-me à mente num turbilhão. Matara o meu primeiro sensei com a ajuda de Kiba, afinal ele traíra o meu pai, Arashi dera a ordem, claro estava. Lembrei-me da Sin e de Puraido... Seiji? Não sabia o que lhe chamar sequer. Suponho que ambos os nomes lhe pertencem, no fundo, mas um nome tem mais poder do que as pessoas se atrevem a imaginar.
- Era isto que pretendias? – suspirei em voz alta.
- Estou surpreendido que me tenhas sentido – confessou Seiji saindo detrás duma árvore – não tens medo que Suna te persiga?

Limitei-me a esboçar-lhe um sorriso antes de responder. Se ele ali estava certamente que se tinha certificado que nenhum ninja viria. Ele sorriu em concordância e continuámos a caminhar.
- Hayato não te perdoará, sabes disso? – respondi-lhe com um breve aceno da cabeça. – Kaoru e Takashi não responderam por ti… Mas suspeito…
- Que ambos estavam paralisados por uma ilusão. – concluí – também o senti, Seiji. Diz-me, onde enterraste a minha mãe? – perguntei, sentindo dor pela segunda vez desde que estava livre.
- Se a enterrasse, não seria incómodo? Como se mexeria depois? – Sorri em resposta. - Está segura e sem fazer ideia de que tem um filho.
“Dois filhos”, reflecti.
- Diz-me Seiji, todos os homens que recrutei… O campo da Kyodo que assaltei, não era mesmo da Kyodo pois não? Eram os teus homens, controlados pelo Geass – o seu silêncio bastou como resposta – e todo este chakra de Orochimaru que absorvi… Estás a tentar recriá-lo em mim não é? O jutsu do Nidaime que encontrei… Edo Tensei?

O meu irmão fitou-me incrédulo.
- Leste-me assim tão facilmente?
Sorri – Apenas… apenas se tornou tudo claro. É por isso que ele tem mudado, não é? Shinji, dentro da minha mente, está cada vez mais similar a Orochimaru. Vou ter de o enfrentar, eventualmente, não é assim? - Seiji olhou-me cabisbaixo confirmando as minhas suspeitas sem uma palavra – porque não o fizeste dentro de ti? Porquê usar-me a mim e não a outro qualquer?
Engoliu em seco antes de responder.
- Entre nós há um laço mais forte do que imaginas, Selim – explicou – mais forte do que o sangue ou a fraternidade. – E eu tentei fazê-lo em mim, mas… – explicou descalçando a luva – foi este o resultado. – suspirou, mostrando-me a sua mão direita onde se destacava a forma de um embrião humano. – o meu corpo rejeitou-o. Suponho que por causa dos meus poderes.
- Não sei nada sobre os teus planos, Seiji. – disse-lhe francamente – sei que com um aceno consegues coisas para além dos meus sonhos mais loucos… Mas se o vencer, dentro da minha mente, sabes que vou ter de te parar. – expliquei num ar sério, mas feliz.
Lançou-me um olhar intenso, como se duvidasse das minhas palavras, antes de lançar um gargalhada doce e infantil, genuína, como já não ouvia há… uma eternidade.
- Sei disso, onii-sama, mas o que eu faço é necessário. Deixaram uma cicatriz neste mundo, mas os humanos esquecem até o que aprendem com a dor e é preciso lembrá-los. – fez uma curta pausa – vem aí alguém, informou. – segurei-lhe o ombro para que ficasse comigo. Não havia humano cujo desespero ultrapassasse o meu, não temia ninguém.



Dois jovens de cabelo cinzento entraram a correr na clareira. Kaoru e Takashi.
- Selim! – berrou o Jounin caindo de joelhos – desculpa, nós não…
Limitei-me a sorrir-lhe em resposta. Sim, ali estavam os meus amigos. Kaoru e Takashi abdicariam da sua pátria por mim e a consciência disso fez-me sentir pequeno e apertado, subitamente.
- Obrigado – foi tudo o que consegui dizer, largando o meu irmão e estreitando-os a ambos num abraço – meus amigos.
- O drama está-me a abafar – sussurrou Kaoru entre dentes.
Rimo-nos os quatro em conjunto e por um momento Suna, a Sin e toda a guerra pareceram insignificantes. Éramos jovens, éramos imortais, éramos fortes. Pensando bem, talvez este tenha sido um dos momentos mais estranhos da minha vida, com uma das maiores vilas do mundo no meu encalço. Certamente que pensarão que nos rimos como maníacos, como um ditador que se vê subitamente rodeado de inimigos e ri de pleno desespero. Não se tratava disso. Partilhávamos uma forma de felicidade e amizade que só os rapazes jovens poderiam entender, talvez tivéssemos razão. Éramos tão tolos, éramos tão sábios.
- Takashi-sensei… Kaoru-kun… - comecei sentindo os seus olhos postos em mim e erguendo a cabeça em resposta – entendo o que estão a fazer por mim mas… Suna é o vosso lugar, a vossa pátria. Eu não tenho nada para vos oferecer e se voltarem agora, Kaoru poderá ocupar o meu lugar na equipa.
- Não te podemos abandonar, Selim – começou Takashi no seu jeito desajeitado e apressado. – ergui a fronte olhando-os bem nos olhos.
- Vão. Sejam felizes, lutem por aquilo em que acreditam, este é o último presente de Selim Puraido, o meu Geass. Até sempre, meus amigos.
Pararam ambos a olhar para mim e no momento seguinte voltaram-se na direcção de Suna.
- Nunca pensei que usasses o Geass nos teus amigos. – suspirou Seiji nas minhas costas.
- Não foi o Geass, Seiji – expliquei-lhe – eu já tinha usado o Geass em Kaoru.
- Impossível! – exclamou exalando cepticismo – o Geass só funciona uma vez.
- Seiji… Há tanta coisa que não entendes… O Geass funciona como os desejos, não achas? – perguntei-lhe, antes de continuar, ao ver que não entendia – é algo que não podemos obter com os nossos poderes e por isso pedimos a ajuda dos outros. O que os levou a abandonar-me não foram os meus olhos, mas os meus desejos de que sejam felizes – concluí colocando-lhe uma mão sobre o cabelo. – Eu vou parar o que quer que estejas a fazer, este é o meu Geass para mim próprio, se preferires. O seu olhar passou de perplexidade a terror. Penso que até àquele momento sempre pensara em mim como irmão ou como instrumento, mas nunca como uma ameaça real. E tudo mudara em segundos.
- Se me queres vencer… Se pensas que me podes vencer, usa isto. É a última ajuda que te dou, Selim. – e com isto entregou-me um frasco de um líquido esverdeado, no qual boiava um osso enorme. E no momento seguinte, desaparecera em partículas negras.

O preço de usar o Geass é a solidão, como já todos perceberam certamente. Essa solidão foi a maldição trazida pelo poder de governar. Alguns de vós dirão que ficar sozinho foi inteiramente opção minha e que poderia ter ficado com os meus amigos. Pensem que, se os arrastasse para a minha ruína, não seria digno de os chamar de amigos, sequer.


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Pois é malta, obrigado a todos os que seguiram a história do Selim até agora, mais ou menos frequentemente. Aproveitando este fim de saga e da jornada em Suna, gostava de agradecer principalmente ao Kadmos por ter sido, mesmo fora da administração, o melhor conselheiro dentro do fórum e indubitavelmente o meu leitor mais assíduo e o mais crítico, sem precisar de comentar sequer e ao Kiba, por Tudo, com T grande. Visto que se não fosse ele, eu não escreveria neste fórum e vocês também não estariam a ler isto, certamente (:

Bem... i'm indeed speechless. Foi um dos fillers que mais gostei desde que estou cá no fórum e estou aqui há bastante tempo. Não por ter tido ali aquela parte do Hayato, aliás, se excluir aquilo, a minha opinião permanece completamente igual.

Acho que uma das coisas que mais gostei neste filler foi como as ost assentavam bem e como nos mostraste bem o que se passava, dá para fazer um "episódio" na nossa cabeça, com certeza

Grande filler, continua!

Subscrevo tudo o que o Kiba disse, até à última palavra. As OSTs foram bem escolhidas, encaixadas nas partes certas e chegavam mesmo a ter um timing preciso para acompanhar todo o diálogo.

A tua escrita está impecável e a história dá a parecer que levou um simples reset. O Selim vai mudar de ares, mudar de companhia e fico à espera das novas surpresas que estás a preparar (afinal, eram suposto teres já 3 fillers escritos ainda antes do Kiba postar o seu exame jounnin ).

O.o.... Simplesmente Awesome dude, realmente um filler com qualidade 5*
O que será que acontece a Selim? Hayato alguma vez irá perdoar Selim pela falsa traição?
Vejam no proximo episodio


Off -O Selim vai estar no bosque a recolher flores e o Hayato vai Mata-lo

Fogo, muito bom mesmo. Gostei de tudo, estava mesmo a um grande nivel este filler. Os diálogos e a relação do Seiji com o Selim estava brutal, e adorei esta parte final de explicação do Geass e dos desejos do Selim.

Continua, Nukenin-sama.

Não sei o que dizer a não ser que está um excelente filler. Não me vou colocar aqui com elogios que tu já recebeste enumeras vezes e que já estas farto de ouvir por isso digo-te: Fuck off

E para pagar-te na mesma moeda: vê lá se começas a escrever melhor pois esta saga estava muito vazia e sem grande emoção.
Percebeste onde quero chegar? xP

Simplesmente maravilhoso, passagens perfeitas, escolhas para soundtrack perfeitas, sem dúvida uma das melhores fillers que li desde a minha estadia aqui neste fórum. Existe fillers muito boas, mas que ainda conseguimos repescar alguns aspectos negativos, mas esta fillers está sem dúvida muito boa. Acho que isto é apenas mais um elogio nos vários que já deves ter recebido com esta filler.

Sobre o que está na filler em si, tirando elogios e detalhes de apresentação, está sem dúvida uma grande filler. Eu consegui perceber o porquê pois tu antes explicas, e aquela fase em que Hayato e Selim se encontram é sem dúvida o ponto alto, mas outro ponto alto é o fim da filler com a citação: ' Pensem que, se os arrastasse para a minha ruína, não seria digno de os chamar de amigos, sequer. ' perfeito.

Bom Filler sr. Selim, merece mesmo os comentários em cima. Pode ser o Filler do Mês (se isso ainda existe ). Os OST encaixaram-se perfeitamente na história, esmeraste-te .

O mais importante é que agora és Nuke , e já de um rank acima do meu :O

Bom Filler juntaste-te ao lado negro, welcome!