20h10 min…
-Saikosai-bi-sama, Kouta-san já está muito perto da parcela de Taki – relata um vulto escondido por entre um de muitos pilares daquele sítio escuro e inóspito.
O homem que era tratado por “Saikosai-bi-sama” estava sentado na poltrona enquanto massaja a bola de cristal, reflectido naquele pequeno instrumento estava uma pequena aldeia camponesa.
-Hai… A parcela de Taki já cumpriu o seu objectivo, agora tem ordens para angariar dinheiro de formas sádicas para eu poder assistir a um bom espectáculo… E esse espectáculo está prestes a começar! – Entusiasma-se observando com mais pormenor a pequena e frágil bola.
Na aldeia que a bola de cristal reflecte…
Já se fazia noite, a maioria dos camponeses foi para casa dormir após uma longa noite de trabalho, outros ficam nas tascas e bares a jogar à sueca enquanto bebem litros de sake e mandam bocas às mulheres que passavam. Tecnicamente era um dia e uma noite igual a todas as outras, nada de novo, mas aqueles dias pacíficos iriam acabar.
-Atenção camponeses! – Gritava uma imagem reflectida no céu.
O chamamento era ecoado por toda a aldeia e depressa a atenção era toda desviada para uma imagem reflectida no céu com aparência humana, alguns saiam de tascas ou bares, outros punham a cabeça por fora da janela, todos para ouvir o recado. Na realidade aquela aparência humana usava uma capa preta a cobrir todo o corpo e trazia o capuz vestido, com o símbolo do clã Uchiha gravado, para que não lhe distinguissem a cara.
-Daqui a meia hora quero ver todo o ouro guardado nesta aldeia à frente do portão. Se não cumprirem o acordo… Eu não terei problemas em destruir esta "aldeiazeca"! – Avisa a imagem desaparecendo por entre o constante brilho das estrelas que iluminava o céu.
A lua, intimidada pelo aviso, esconde-se atrás de umas nuvens. Na aldeia, para quem ainda estava acordado, instala-se o pânico total, sóbrios e bêbados trocam palavras para decidirem se querem cumprir o acordo ou aquilo era só uma brincadeira. Todos voltam a entrar para as tascas, provavelmente para discutirem sobre o assunto ou continuarem a por as bebidas em “dia”.
-A mim parecia-me bem a sério! – Sussurro para os meus colegas quando oiço um bêbado a vociferar “Não passa de uma brincadeira de crianças!”.
-Hai, acho melhor arranjarmos um local seguro para escapar a este problema! – Sugere Miyuki impaciente para sair daquele local.
-Prefiro salvar o máximo de gente que conseguirmos! – Opina Eiji preocupado de igual forma com a situação.
Encosto-me à cadeira e observo o meu redor, depois de ganhar o duelo a Miyuki disse-me para eu me tornar o novo mestre dela e ensinar-lhe tudo o que sei. Concordei e expliquei a minha história, tal como todos nós, de qualquer forma ficamos muito chegados uns aos outros e então decidimos passar a noite numa aldeia para podermos descansar, tínhamos alguns ryous então pagar um quarto não tinha sido problema. Mas antes de irmos dormir, decidimos ir a uma tasca para ouvir rumores ou passar mesmo algum tempo entre amigos, mas eis que ouvimos o aviso e ficámos assustados.
-Vamos sair daqui o quanto antes! Primeiro vamos nos pôr a salvo, quando estivermos a salvo vamos nos preocupar em salvar alguns camponeses! – Ordeno propondo um plano no qual as nossas vidas seriam mais importantes do que as vidas dos camponeses.
-Hai! – Concorda a Miyuki, as atenções viram-se para o controlador de marionetas que ainda estava indeciso.
-Alguns…? – Pergunta não querendo aquela condição mas sim “todos os camponeses”.
-Prontos! O máximo que conseguimos! – Acrescento só para fazer a vontade ao rapaz.
Este sorri e todos nos levantamos da mesa e preparamos para sairmos dali o mais rapidamente possível. Pelo que ainda ouvíamos todos concordavam que o aviso era só uma brincadeira de criança e que não iam aceitar as condições deixando-se estar quietos. Mas, quando estávamos mesmos prestes a sair…
-Olhem para ali! – Exclama um dos camponeses naquela tasca a apontar para mim.
Todas as atenções centram-se a mim, viro-me para eles e encaro todos, um a um, à espera que eles me quisessem dizer algo senão ia embora depressa.
-Ele é um deles! – Grita outro dos camponeses ao ver o símbolo do clã Uchiha gravado nas costas da minha camisola.
-É mesmo! Ele tem aquele símbolo! – Apercebe-se outro camponês enquanto não pára de olhar para mim – Apanhem-no!
Nós ficámos a olhar uns para os outros sem percebermos nada, só conseguimos ver os camponeses a fazerem um círculo à nossa volta prontos para nos capturarem e levarem-nos para uma espécie de “prisão”.
-Vamos dar resistência! – Grito num tom intimidador, não me faltava aquele aviso nos céus e agora tinha que andar à bulha com lavradores. Aquela ia ser uma longa noite.
Nós os três preparamo-nos para o que vinha, os camponeses aproximam-se aos molhos, mas cada um de nós é acertado com um pau na cabeça que veio por trás e caímos por terra inconscientes.
20h 25 min...
-Goshujin-sama! – Gritava Miyuki enquanto abanava o meu corpo inanimado – Goshujin-sama!
Eu não acordava e a minha discípula abanava-me com mais frequência e inquietantemente. Eiji tinha-se encostado ao canto enquanto mexia com um boneco de pau que arranjou noutro canto daquela “cela”.
-Vou ter que fazer boca a boca! – Avisa a rapariga preparando-se para me dar o “beijo da vida”, claramente medidas desesperadas para me acordar.
O rapaz de cabelos castanhos activa o seu sistema de defesa, não querendo que ela me beijasse, levanta-se e afasta a rapariga. Esta fica a olhar para ele, ele que dá uma estalada na minha cara. Por incrível que pareça, algo tão simples realmente acordou-me. Meio dormente sento-me encostado à parede e fico a olhar para os Nukkenin de Kiri. Estava numa sala iluminada pelos raios da lua que entravam pela janela, de resto só conseguia ver umas grades que nos impediam de alcançar a liberdade.
-Ugh… Quanto tempo passou desde a última vez que tivemos conscientes? – Pergunto enquanto massajo a zona onde levei com um pau.
-Quinze minutos Goshujin-sama! – Responde a rapariga encostando-se à parede do outro lado da sala.
-Então só faltam quinze minutos… Será que vão mesmo destruir a aldeia? – Pergunta-se Eiji sentando-se no chão na intersecção entre mim e a Miyuki.
O silêncio instala-se na sala, um aviso de destruição a uma aldeia onde nós estávamos hospedados. Fôramos presos por razões ainda desconhecidas, pelos menos por nós. E por cima disto tudo, temos que encontrar uma maneira de sairmos daquela prisão. Vai ser uma noite longa… Se pelo menos eu trouxesse o meu livrinho de palavras-cruzadas...