Filler 32 - Edo Tensei

O Escrivão era um velhote de barba farta e ar severo. Não o questionou, surpreendeu-o.
- Rapaz, és Selim Puraido, não és? – continuou tomando o seu silêncio como resignação – passaram por aí vários à tua procura. Uns com hitaiates de Suna, outros com nuvens vermelhas nas capas. Por isso é bom que tenhas uma boa explicação para aqui estar, qualquer dos grupos oferece uma recompensa jeitosa pela tua cabeça, uma recompensa que podia alimentar a aldeia durante um mês.
- Não esperava ser tão… solicitado – confessou num sussurro – mas se quer saber tudo, contar-lhe-ei, embora talvez nutra ainda menos simpatia por mim no final. – indiciou com um sorriso triste. – Contudo, suponho que lhe chamem escrivão por registar. Eu não admitirei que uma palavra sequer seja alterada, entendido?
O velho ancião pareceu surpreendido pela sua ousadia, mas concordou com um olhar. Selim recostou-se confortavelmente na cadeira, fazendo festas a Schneizel que fitava o Escrivão de olhos atentos.

Depois de deixar Suna - comecei, omitindo o meu encontro com o meu irmão – caminhei durante muito tempo, para o Leste. Passei em muitas aldeias e tentei usar as minhas habilidades para ganhar dinheiro de forma honesta. Claro está que ouvistes as histórias sobre como escapei. Tolices apenas, asseguro-vos, mas com um fundo de verdade, como todas as tolices, suponho. A verdade é que é bastante difícil às pessoas recusarem-me seja o que for. No fundo, penso que algumas das coisas que… pedi, pouco melhor seriam do que roubar. Nessa altura negra da minha vida, ouvi pela primeira vez que nada pode curar a alma senão os sentidos, bem como nada pode curar os sentidos senão a alma. Tornei-me apologista da teoria embora nem sempre tenha saciado os sentidos das formas mais… nobres.
O escrivão que arranhava o papel furiosamente com uma enorme pena azulada arregalou os olhos. Penso que em desprezo, mas nada disse. Contudo, cabia sobre mim a tarefa de parar o que quer que o meu irmão estivesse a fazer e certamente que esta vida de foragido não me ajudaria muito, Procurei isolar-me de humanos e tentar combater o parasita na minha mente, Orochimaru, mas nunca o consegui encontrar, nunca mais consegui voltar ao portão. Mas sentia-o, cada vez que dormia, sentia-o como um parasita.

Como se não bastasse, sentia dentro de mim o peso de toneladas. O pergaminho que trouxera de Konoha que o meu irmão dizia ser o Edo Tensei. Podia talvez vir a ser uma arma preciosa contra Seiji. Só tinha aberto o pergaminho uma vez, para o copiar. Entendi como funcionava, em termos gerais, mas ainda não estava pronto para sacrificar alguém por capricho.
Suspirei longamente antes de prosseguir, com a atenção do Escrivão focada em mim.



Tinha razão, a vida humana não foi feita para ser menosprezada. Uma dia, enquanto caminhava, cruzei-me com um forasteiro. Não era estranho ser abordado na estrada, era um rapaz teoricamente cego que caminhava o dia inteiro, sozinho. Mas aquele em particular cometeu um erro. Claro está que alguns me tentaram assaltar pelo caminho, mas não demoraram muito a mudar de ideias. Não matei nenhum, mas proibi-os de voltarem a roubar. Contudo aquele não estava só. Vinha a conduzir uma pequena carroça. É evidente que qualquer pessoa que dependesse dos olhos não o saberia, mas eu sentia-o e, contudo, algo estava muito errado. O humano dentro da carroça tinha muito menos água no corpo do que a maioria. Talvez estivesse a desidratar, ou apenas doente. Talvez pudesse ajudar, foi o que pensei na altura. Mas aquele homem não me inspirava confiança. Introduzi-me subtilmente na carroça e dei de caras com um dos espectáculos mais aterradores que alguma vez presenciei. Na carroça estava uma rapariga nua. O seu tom de pele era pálido e enfermiço. Tinha cabelos castanhos e formas frágeis e ostentava marcas claras de maus-tratos e violação. Li nos seus olhos o quanto temia o condutor da carroça, vi nas suas memórias recentes… algo que talvez não devesse ter visto. Mas não tinha ilusões, não havia tratamento ou cura que a ajudasse. A rapariga ia morrer, talvez numa questão de minutos.

Não posso explicar porque me senti tão frustrado. Já matara pessoas antes. Vira-as morrer na guerra, é certo. Matara inocentes, talvez. Talvez um dia deixem de me censurar e percebam a diferença entre matar e deixar morrer. Deixar alguém morrer, seja querido ou não é uma atrocidade talvez pior que o assassínio. Não porque o acto de matar esteja implícito, mas apenas porque o sentimento de impotência para ajudar é devastador.

Selim ergueu o braço na direcção do condutor. As serpentes rasgaram a lona prenderam-no. Comprimiu-o à sua vontade até ouvir os ossos a ranger. Não era justo, não era justo que fosse ela a morrer com aquele monstro a sair incólume. Pensou em matá-lo, sentiu as cobras em torno do seu pulso a aumentarem a pressão.

“Não tem de ser assim” , murmurou ele, “podes trocar os lugares deles, sabes como o fazer.” Um trovão ribombou nas redondezas, seguido de pequenos chuviscos escassos que se fortaleciam com o tempo. O rapaz ergueu ambos os braços e arrastou captor e cadáver até a uma clareira próxima.
- Por favor, por favor, eu não queria… não queria que ela morresse, não me mates também – implorava ele em tom piegas.
Contudo, os traços do rapaz a quem implorava não reflectiam nada senão pleno desdém. Fingiu não o ouvir, nem às suas lamúrias e lamentos, nem tampouco às súplicas. Estava decidido a fazê-lo. Sempre matara por dever, vingança, ou talvez para proteger outros. Mas agora, agora mesmo ir matar por pura justiça.
O cabelo colava-lhe à testa, os olhos fechavam-se com as gotas grossas que o céu abandonara indolentemente, até que alcançou uma clareira. Foi então que começaram os gritos, numa voz aguda e angustiada, numa falta de harmonia prodigiosa, capaz de rachar corações e pedras. Mas nem assim Selim se compadeceu. Aproximou-se do cadáver da rapariga e cortou-o com uma kunai, calma e suavemente, com exacerbada delicadeza, considerando está claro que era apenas um corpo.

Spoiler:

Seiji fitava o nada daquela sala branca com crescente interesse, bem como os outros 6 que se sentavam nas cadeiras abaixo. As imagens projectadas no ar deixavam maior expectativa a cada segundo.
- Começou! – comentou maravilhado – Ele… Ele vai... Ele falhou! – exclamou horrorizado.

Selim Ajoelhou-se no chão e abriu um pergaminho, sobre o qual colocou a faca ensanguentada. As linhas negras saíram do pergaminho e espalharam-se pelo plano. Chicoteou o braço e as serpentes sibilaram furiosas, recolocando o homem sobre o círculo preto.
- Imploro-te, imploro-te que pares o que quer que estejas a fazer.
Selim fitou-o com um olhar vazio.
- Edo Tensei.
O chão pareceu vibrar sob os seus pés, enquanto a pele do homem era substituída por uma camada de pequenas partículas brancas.

Idiota! Cem vezes maldito idiota, gritou Shinji na sua mente vais deixá-lo escapar e matar-nos a ambos! A vida humana não pode ser devolvida!

No círculo negro no chão abriu-se um enorme olho, preenchendo-o por inteiro. A sua pupila era uma única fenda, no centro da íris verde venenosa, similar à sua. Da pupila negra e profunda saíram pequenas mãos, pretas como o breu, que se aproximavam de Selim, até se fecharem em torno dos seus olhos.
- Nada é simples neste mundo. Aqueles que não têm a vontade necessária não podem obter o poder da vida e da morte. Isto perderás, pela tua arrogância e orgulho. – disse uma voz gutural saída do olho. A voz de Orochimaru, que ouvira na sua mente.
E a luz do seu olho direito, apagou-se. As mãos recuaram até à pupila e o olho fechou-se abruptamente. Selim contemplou então com metade da vista, a sua obra. Não seria talvez correcto chamar-lhe humano. A sua pele era escura e azulada, cobrindo os braços flácidos no qual aparentemente faltavam ossos. Os fémures sobressaíam na sua pele, como se desencaixados da bacia. Os seus cabelos eram negros como breu, estendendo-se numa grande extensão de chão e, no seu olho direito, brilhava o Geass.

Pensou em correr para fora da floresta, para longe daquela… coisa. Mas as suas pernas recusavam-se a mexer um centímetro. Aquilo era o seu pecado, a sua responsabilidade. Aquele era o fruto da sua arrogância. Tirou Asura da boca e aproximou-se do que pretendia que fosse a rapariga.
- Lamento, mas tem de acabar a aqui - e com um golpe rápido separou-lhe a cabeça do corpo. Então as partículas brancas surgiram em pelo ar, regenerando as ligações. A katana caiu com um baque surdo no chão, ecoando com um grito sinistro e agudo do rapaz. Agarrou a katana e começou a atacar a criatura cegamente e todos os golpes surtiram tanto efeito como o primeiro. E por fim fugiu. Correu pela floresta repleto de enorme temor. O seu olho direito estava cego e na sua distracção e correria louca embateu contra uma árvore e ali se quedou, inconsciente.




A sala branca da sua mente estava tão resplandecente como sempre. Levantou-se com uma enorme dor de cabeça e viu Shinji dirigir-se para si, apenas para lhe aplicar um potente soco que o mandou a voar.
- És idiota ou quê?! Deixaste-o fugir! Falhaste a dominar o chakra dele e o resultado está à vista! Fugiu, fugiu daqui e levou um dos nossos olhos. Em que estavas a pensar?! O que vais fazer acerca disto?!
Selim levantou-se coçando a cabeça dorida.
- Selá-lo, recuperar o meu Geass e destruí-lo.
- Fazes com que soe fácil. A porta é ali – informou apontando em frente – boa sorte, embora precises de mais do que isso para o vencer.

Oops, parece que o Selim se deu mal

Continua a escrever que eu continuo a ler

Gostei apesar de ser algo muito Full Metal Alchemist a parte do Edo Tensei =/
Bem escrito e tudo isso, mas as semelhanças são muitas para não se ter essa sensação.

Fora isso estava bom. Continua ^^