Está um tempo habitual no País da Água, as nuvens cobriam o Sol impedindo de haver feixes de luz que aquecessem a vila. Num pequeno parque composto por terra batida e por uns quantos escorregas e baloiços, onde as crianças costumam brincar e divertir-se, por umas quantas flores murchas e pisadas, por uns quantos musgos que comiam os escorregas, tornando-os verdes e umas quantas árvores nuas. Ouve-se um pequeno barulho, um barulho irritante e duradouro, o chiar dos baloiços cheios de ferrugem, que são empurrados lentamente pelo vento que refrescava aquela área. Nesse mesmo parque, em cima do escorrega, olhando para o além, encontra-se uma criança, uma criança pequena de cabelos longos castanhos, que flutuam ao sabor do vento, esperando ansiosamente pela sua mãe. Queria retornar a ver cara da mãe, os cabelos dourados, os olhos verdes penetrantes que aqueciam o coração do rapaz todos os dias, o seu esbelto sorriso. A sua mente não para de pensar na mãe, era bombardeado constantemente pelas mesmas questões, “Onde estás tu mãe?”; “Será que aconteceu algo á minha mãe?”; “Porque que é que me pediste para esperar por ti aqui e agora não apareces?”, mas os seus pensamentos são interrompidos pelo chiar do baloiço, o miúdo de seis anos começava a ficar agitado e irritado com o som que lhe perfurava os tímpanos. Depois de deslizar o escorrega, com as lágrimas no canto dos seus olhos verdes, o miúdo procura uma pequena pedra no chão, mas devido a elas a sua visão ficava desfocada. Depois de muito procurar, tacteando a terra, sentiu finalmente algo duro a tocar-lhe nos seus dedos. Pousou a palma da sua mão em cima da pedra e em seguida fechou-a, agarrando-a, levando também alguma da terra. O rapaz virou-se para o baloiço e…
-Pára de gozar comigo! – Gritou o rapaz, atirando a pequena pedra com toda a sua força contra o baloiço. Nesse mesmo momento três pequenas gotas caíram dos olhos do rapaz e voaram com vento, acabando por rebentarem e desfazerem-se em ainda mais pequenas gotículas.
O tempo passava e não havia sinais da mãe do rapaz. O miúdo começava a desesperar e a perder a esperança de voltar a vê-la. Shin estava quase a ir-se embora quando, lá bem ao fundo, ouve o barulho do rastejar dos passos de alguém. O rapaz recupera a esperança e bastante iludido que é a sua mãe, olha para o sitio de onde vinha o som. Devido ao nevoeiro intenso que pairava por Kirigakure, só conseguia ver apenas vulto mas devido a forma desse vulto dava para ver que era uma mulher. Iludido que era a sua mãe, o rapaz começa a correr, de braços abertos e a escorrer lágrimas, em direcção à mulher. Quando consegue ver com clareza quem é a pessoa, o seu andar começa abrandar até ficar parado, o seu sorriso alegre e esperançoso muda para um triste e desiludido. Não era a sua mãe mas sim a sua amiga e “ama”, Annya.
-Onde esta a minha mãe? – Perguntou a pequena criança triste ao ver que era a sua ama e não a sua mãe.
-A tua mãe… - Fez uma pequena pausa para engolir a seco – Está bem… - Respondeu-lhe com um tom de amargura, com a cabeça baixa, não tendo coragem de olhar nos olhos do rapaz. Shin apesar de ainda ser uma criança com os seus 6 anos percebeu, pelo tom de voz e pelo sorriso falso da ama, que algo não estava bem. E começou a temer o pior.
-A minha mãe… morreu? – Questionou o rapaz já chorar.
-Sim…
Shin não queria acreditar na resposta que a sua ama lhe tinha dado. “A minha mãe não morreu! Estás a mentir!” gritava o rapaz, enquanto deixava-se cair de joelhos redondo no chão. Durante vários minutos o rapaz parou de soluçar e começou a ter flashbacks das boas e más memórias com a mãe, na verdade o rapaz e a sua mãe passaram por muitas dificuldades na vida devido ao seu pai, ter sido um nukenin. As pessoas olhavam os de lado, umas desprezavam os, outras simplesmente falavam mal deles e maltratavam os. Mas a criança também se lembrava dos momentos em que os dois se ajudavam mutuamente para superarem esses obstáculos. Depois dos flashbacks, a criança despertara para o “mundo real” e começou a chorar ainda mais por causa das memórias que teve. A ama tentava consolar o menino, limpando-lhe as lágrimas e deixando o rapaz encostar a cabeça ao seu peito.
-Eu sei que é difícil mas não te podes deixar ir abaixo. – Aconselhou a ama sabiamente. A pequena criança não lhe respondeu e continuara a chorar. Só pensava que nunca mais iria ver a sua figura materna.
Depois de um longo tempo enrolado nos braços da ama. Shin parou de chorar e levantou-se com a cabeça baixa, sem mais nem menos, deixando a ama para trás, começou a correr em direcção a uma das montanhas de Kirigakure. Corria e corria, sem parar até chegar ao seu destino. Quando a alcançou parou algum tempo para recuperar o folgo. A montanha não era a das mais altas que havia em Kirigakure, era coberta pela neve e definida até ao cume por uma estrada. Shin começava a subir a montanha. O ar na montanha era mais denso, o que dificultava a respiração ao rapaz. No caminho até ao cume, a criança parava várias vezes para descansar o seu corpo e enquanto subia a montanha só pensava na sua mãe e no que isso lhe ia alterar a vida. Depois de umas paragens, lá finalmente chegou ao cume.
-A minha mãe morreu… - Disse o rapaz dando pequenos passos lentos em direcção à beira da montanha. Olhou para baixo, com algum receio, e viu a distância que estava do chão. Dali conseguia ver o parque onde tinha estado com a ama mas já não havia sinais da ama – “A minha mãe era a única coisa que me restava na vida… e agora que ela se foi já não tenho nada que me impeça de viver…”
O coração do rapaz palpitava bastante depressa. Engoliu a seco, fechou os olhos, estendeu os seus braços para o lado e… mergulhou de cabeça…