Já fazia um par de horas desde que o sol despontara e emergia lentamente sobre as pesadas nuvens pérola e cinza que se arrastavam lentamente pelo céu. A brilhante esfera iluminava debilmente, por entre o espesso manto de névoa que engolia tudo o que não estava ao alcance de uma mão, as janelas de encaixes de madeira envernizada e vidros sujos que difundiam e enfraqueciam a já fragilizada luz que a custo iluminava o rosto pálido e ensonado de uma criança. A pequena observava a sua caneca alaranjada de cerâmica fazendo-a rodopiar lentamente e observando o remoinho que o leite formava durante efémeros momentos até voltar à sua regularidade branca. Os seus olhos violeta radiavam um certo entusiasmo e a espera infindável pelas suas torradas não ajudava em nada na ansiedade do seu primeiro dia após a graduação académica. Suspirou e deu um pequeno gole na sua bebida pousando pesadamente a o recipiente de argila na mesa de madeira desgastada, a sua avó sempre lhe dissera para não adiantar a bebida à refeição e isso agora fazia todo o sentido já que com as dificuldades que a sua velha guardiã passava para a sustentar nem se atreveria a pedir uma segunda dose de leite. Com um pequeno salto de sobressalto por fim o clique repentino da torradeira cromada avisou a jovem genin que o seu pequeno-almoço estava pronto, correu de pés descalços sobre o frio pavimento de escura madeira arrepiando-se de tal forma que em dois passos capturou as duas fatias de pão e saltitou em bicos de pés para o seu banquinho metálico de topo branco estofado. Apenas o maravilhoso cheiro da manteiga a fundir-se em contacto com o pão lhe dava vontade de engolir tudo de um só trago, tal facto aliado à sua vontade de ir treinar transformaram aquela refeição numa das mais rápidas que a imberbe já havia feito.

Esfregou os pés um no outro, preparando-se para o contacto gelado com o soalho, e percorreu todo o pavimento agilmente até à saída das traseiras. Coçou a cabeça despenteando o seu curto cabelo ficando este desgrenhadamente espetado cada ponta ébano para o seu lado. Escolhia agora pensativamente os sapatos que iria usar, sim tudo no seu primeiro dia era de extrema importância - desde aquilo do qual se alimentara às suas vestes claras e elásticas perfeitas para um árduo dia de treino. Decidira-se por fim por umas botas de biqueira de aço que o seu pai lhe havia oferecido numa das suas viagens, eram pesadas mas resistentes e serviriam perfeitamente para o seu objectivo do dia. Levantou-se num só movimento fluido e desceu a escadinha da saída com intenção de abrir a porta apenas o suficiente para passar e deslizando-a cuidadosamente atrás de si para a fechar.

Assim que os seus olhos de habituaram ao branco de toda a ténue luz que a rodeava conseguiu distinguir uma silhueta encurvada e friável que os seus olhos reconheceram imediatamente como sendo a sua avó. Sorriu e precipitou-se na direção da velha que recebeu a Yuki de braços abertos e levantando pesadamente os seus lábios finos cobertos de pesadas rugas que refletiam todos os seus encargos ao longo da vida. Moriko ainda envolvida pelo abraço trémulo da sua avó não conseguiu evitar demonstrar o seu entusiasmo e com uma voz suave mas determinada começou a contar os seus planos planos para o dia.

-'Vó eu hoje vou tirar o dia para treinar, prometo que lavo os vidros e o chão assim que puder. - Terminou com um meio sorriso nervoso de quem pede desculpa. A idosa porém sabia o quão importante era para a sua neta aquele dia e a sua nova ocupação e não queria sobrecarregá-la mais do que necessário, colocou então a sua mão enrugada no topo da cabeça da criança e deu-lhe um beijo na testa com todo o carinho. - Não te preocupes com isso agora querida, posso tratar disso mais tarde. - Afirmou com uma voz oscilante enquanto pegava de novo no ancinho e continuava a limpar a folhas secas do jardim. A genin agradeceu calorosamente e encaminhou-se para a cerca que separava o quintal da rua saltando-a sem grandes dificuldades mesmo estando com os pés pesados. Assim que a poeira do caminho de terra se dissipou já a silhueta fina e pequena de uma criança se esbatia na névoa, a sua próxima paragem era o campo de treino que era dos seus pais e por fim iniciaria o seu legado.

Tens uma escrita excelente, gostei muito. Gosto particularmente das tuas descrições, muito bem conseguidas.

Continua, quero o próximo ^^

As tuas descrições são mesmo muito boas e agradáveis de ler.
O filler em si não teve grande conteúdo, servindo só mesmo para introduzir a história mas vale a pena ler pela tua escrita ^^

Obrigada pelos comentários, não estava à espera de receber nenhum, fiquei deveras alegre ao ler-vos!
Sim, foi só um filler de introdução para me ambientar à personagem, o próximo já terá um enredo mais extenso e com conteúdo mais interessante que irá revelar certos aspectos da Moriko.

Está muito porreiro, adoro umas boas descrições e as tuas são fatalmente lindas :b continua quero ver o "enredo"

Tens uma óptima escrita Quero ver o que vai sair daí. Continua!

Dear God! A tua escrita é simplesmente divina, apesar de toda a descrição a leitura é incrivelmente leve e bastante agradável. Foi portanto um "enche.chouriços" amoroso e bastante agradável de degustar. (Estou a ficar com fome, não ligues )

Não há como não adorar a precoce Moriko, e a relação dela com a avó é simplesmente linda.

Btw, não queres ser a minha melhor amiga 4 ever? És a primeira pessoa que conheço que gosta dos Foge Foge Bandidos.

Como é que te atreves a nao continuar isto? Escrita espetacular, e uma noção de personagens PERFEITA.


Volta?