Tsuneo rebolou um pouco na cama enquanto contemplava a sua vida.
O dia de ontem ainda estava fresco na sua memória, a visita a casa dos seus pais que tão mal tinha corrido.
-Não tens ambição nenhuma. És um inútil e uma sanguessuga para os recursos tanto desta família e para a sociedade. A partir de agora, se queres dinheiro, vais ter que trabalhar por ele. Passaste na academia, podes muito bem fazer umas missões.
Embora não se pudesse dizer que fosse mentira, Tsuneo não podia evitar mas sentir-se magoado por ter ouvido isso do seu próprio pai. A verdade é que ao longo dos últimos anos, tinha-se deixado ficar para trás. Primeiro os seus amigos tinham-no ultrapassado e tornando-se chunnins, depois, os mais novos tinham subido para o seu nível, e, agora, até esses o tinham ultrapassado. O Tsuneo jovem, cheio de ambições já não existia, e tinha sido substituído por uma pessoa desinteressada pela vida, que passava a grande parte do seu dia na cama, a pensar tanto na sua vida, como no conceito inerente a tal concepção sóciaç.
Mas isso era coisa do passado, pensou enquanto se levantava. Iria treinar, e, em breve, estaria forte suficiente para fazer umas quantas missões, e ganhar o seu próprio dinheiro.
Olhou a sua volta, procurando a roupa no meio da confusão, e, depois de algum tempo, encontrou-a. Vestiu-se, e saiu do seu miserável quarto alugado.
Hoje, pela primeira vez em algum tempo, iria treinar, e conhecia o sítio indicado para isso.
Estava um dia lindo, não havia uma única nuvem no céu, e uma ligeira brisa agitava as folhas. A estrada estava bastante movimentada, e ouvia-se o reboliço que seria de esperar numa manha.
Depois de uma hora a caminhar, Tsuneo chega ao rio que o separava do seu local de treino. Não teria mais que 10 metros de largura, e na sua parte mais funda, tinha 2 metros de profundidade. No entanto, antes, Tsuneo vinha acompanhado, o que facilitava manusear o barco a remos que se encontrava na margem.
Mas isso não era problema. Concentrando o máximo de chakra que conseguia, tenta usar o Mizu no Kinobori, mas, assim que pôs um pé na água, este afundasse, em vez de ficar a flutuar, o que o faz cair e bater com a cabeça no pequeno barco.
-AAAAAHHH – era o único som que se ouvia, enquanto Tsuneo corria às voltas, com a mão agarrada á cabeça, a tentar estancar a enorme ferida que lá tinha.
- RAIOS- continuava ele a gritar, um pouco depois, coma mão ainda colada á testa.
Desde pequeno que Tsuneo revelava uma enorme dificuldade a manipular chakra, e tinha-se visto á rasca para passar na academia, visto que mal conseguia fazer os jutsus mais básicos.
-Quem é que precisa de jutsus e chakra? - Perguntava-se Tsuneo – A única coisa que eu preciso é deste barco e dos remos.
Mas era mais fácil dize-lo do que faze-lo. Dirigir o barco era incrivelmente difícil, visto que Tsuneo era fraco, e só conseguia remar com uma mão, o que significava que o barco virava sempre para um dos lados. Chegado ao meio do rio, Tsuneo já sentia todos os músculos a arder, e estava sem fôlego. Descansar não era opção, visto que se o fizesse, o barco seria levado pela corrente, por isso, lá continuou a remar, quase no limite das suas forças.
Chegado á outra margem, a primeira coisa que fez foi deitar-se na erva, e recuperar o fôlego. Não esperava cansar-se tanto só com a para chegar ao seu campo de treinos. Mas a viagem valia a pena. Á beira do rio, havia uma clareira artificial, feita por lenhadores. Ainda era possível ver as raízes e os inícios dos troncos onde antes majestosas árvores se erguiam. A erva era alta e verdejante, devido á grande quantidade de chuva e á proximidade com o rio.
Mas não se podia distrair com a beleza da paisagem. Tinha ido para ali com um motivo, e esse motivo era treinar. Mas nem que quisesse, os seus músculos ainda estavam doridos de tanto remar, por isso teria que começar devagar. Com a sua kunai, faz uma cruz na árvore mais próxima, e, sentando-se num tronco a cerca de 20 metros, começa a fazer pontaria. Quando estava na academia, era dos melhores da sua turma a kenjutsu, mas alguns anos quase sem prática tinham o seu peso. Apontando ligeiramente acima da cruz para contrariar a gravidade, atira uma kunai, que vai acertar mesmo no alvo. O único erro é que em vez de lhe acertar com a parte pontiaguda, acertou com o cabo. Desta vez, Tsuneo tenta concentrar-se não só para onde apontava, mas também a força que aplicava na kunai, para tentar evitar que esta girasse.
Mas sem efeito… esta foi calhar direitinha a outra árvore. Frustrado, pega numa kunai e atira-a á árvore. Esta vai acertar longe, perdendo-se no mato.
Tsuneo suspira, enquanto se levanta para recolher as kunais. As suas capacidades ninjas tinham-se deteriorado mais do que ele pensava.
Mas, ao procurar a terceira kunai, depara-se com algo interessante. Apesar de ter falhado a árvore, a kunai tinha acertado num coelho, matando-o.
-Olha, se calhar até tenho sucesso – diz Tsuneo para si mesmo – Se alguma vez tiver numa batalha, basta fazer pontaria a uma árvore, que com sorte ainda acerto no inimigo. De qualquer forma, não vou levar o bicho comigo … Nem o sei esfolar.
Desta vez, tentou em pé, e teve mais sorte. Fazendo pontaria, conseguiu acertar com todas as três kunais na árvore.
Apesar de estar quase certo de qual seria o resultado, tentou concentrar o máximo de chakra que conseguia, fez os selos necessários, tentou fazer um Sunshin no Jutsu, mas não resultou.
Umh- Diz ele – Já suspeitava… Também não preciso de jutsus para nada…
Sentindo-se mais descansado, decidiu fazer algum treino de resistência. Começou a correr de um lado ao outro da clareira, a um ritmo ligeiro. Apesar de esta só ter uns 40 metros de comprimento, ao fim de 8 voltas já se sentia ofegante e cansado, tinha uma ligeira dor de burro, e doíam-lhe as pernas.
E, como não há mal que venha sozinho, enquanto estava a correr, tropeçou numa pedra, e foi bater com os dentes numa outra pedra, que, para dizer a verdade, estava muito inconvenientemente posicionada.
Acordou algum tempo depois, cheio de fome e com o sol já a pôr-se. ao seu lado estava a maldita pedra , e um pouco mais para o lado , um dente seu.
- Raios, se continuo a treinar assim, vou ficar caro só em idas ao dentista…
Com a sua dor em consideração, a fome, e as horas que já eram, decidiu voltar para casa.
No entanto, voltado ao rio, o barco não estava em lado nenhum.
-Umh, parece-me que a corrente o levou… - Reflecte ele – Talvez tivesse sido boa ideia tê-lo atado. Oh bem… que é que se há-de fazer agora?
Seguindo o rio um pouco para a direita, deparou-se com uma ponte.
- Pois, talvez também tivesse sido boa ideia ter seguido a ponte em vez de ter remado que nem uma besta.
Com o céu a ganhar uma tonalidade laranja devido ao pôr-do-sol, Tsuneo poe-se a caminho de casa, com um galo na testa, um dente e um barco a remos a menos, a mancar da perna, as roupas cheias de sangue e com o peso na consciência de ter morto um coelho.
Mas considerando tudo, até foi um dia bem produtivo.