Yukio
Yukio estava ciente de que Cho tinha mudado e isso preocupava-o muito. Ele vira isso pelos seus olhos. Os seus olhos já não mostravam a doçura e amor que lhe costumava mostrar quando estava com ele. Invés disso, mostravam frieza e raiva. Não sabia o porquê de ela ter mudado assim de uma hora para a outra, mas sabia que devia preocupar-se e estar atento.
E por isso é que não devia tê-la deixado ir sozinha. Algo no seu coração lhe dizia que algo iria correr mal, mas ele decidiu não ligar a esse pressentimento e esperar que ela voltasse sã e salva. Seria um bom ato de rapaz/amigo colorido/namorado que a deixasse ir sozinha correndo os perigos que corria? Ao fim ao cabo ela também era ninja e pertencia ao Clã Yamanaka, de certeza que se safaria bem.
Ele decidiu não pensar mais no assunto, que mesmo tentado esquecer por uns bons momentos não conseguia, mas fez o que pode.
Parou com aquela tagarelice mental e olhou em redor. Ainda se encontrava onde Cho lhe tivera dito que se ela não aparecesse dentro de dois dias para a ir procurar à cabana em que encontrara os pais.
Yukio suspirou profundamente e levou uma mão ao cabelo, despenteando-se sem querer. Decidira voltar para trás e voltar para casa.
O sol fazia com que ele semicerrasse os olhos. O céu tinha aquele azul-claro esboçado nele e alguns rastos de nuvens.
Algumas coisas faziam com ele duvidasse de si mesmo, e talvez não fosse capaz de se controlar.
- Não penses mais na morte da bezerra. – Avisou uma voz feminina por detrás dele.
- O que é que queres agora? – Virou-se para a rapariga e olhou-a. Não era Eri.
- Disseste que a ias matar. – Inquiriu a jovem dos cabelos encaracolados loiros.
- Eu não consigo. – Declarou cruzando os braços e inclinando-se um pouco.
- Confundes trabalho com sentimentos.
A jovem suspirou dramaticamente.
- Se dizes isso, então nós os dois nunca tivemos nada um com o outro. – Atacou sorrindo sarcasticamente.
Ela aproximou-se dele.
- Tu gostas mesmo de me provocar não é? – Ela esboçou um sorriso meio maroto enquanto metia as mãos nas ancas.
- Quem diria que eu sou tão óbvio assim. – Levou uma mão forte ao cabelo.
- Não brinques com o fogo. – Mordiscou o lábio.
- Jamais.
- Tu és um menino muito mal comportado. – Aproximou-se mais dele.
- Olha quem fala, hã? – Curvou um pequeno sorriso nos lábios.
Ela aproximou-se mais dele até conseguir sentir a respiração dele na sua boca mas quanto ela o ia beijar ele impediu e empurrou-a contra uma árvore musgosa que residia ali aleijando-a.
- Bem, já não é a primeira vez que fazes isto, já me habituei. Mas olha que as minhas costas não gostam lá muito. – Arqueou as sobrancelhas loiras e riu-se histericamente.
- Já estou farto dos teus joguinhos, Shiki. – Ele mostrava-se sério.
Ela abanou a cabeça.
- Já percebi tudo.
Ele riu-se descontraidamente.
- Tudo o quê, Shiki?
- Tu estás apaixonado por ela. – Ela parecia ciumenta.
Yukio virou-se dando um passo para trás e comentou:
- Ela é mais do que mostra ser. Ela é perigosa. Ela é divertida. Ela é
única. E sim, tens toda a razão. Eu realmente estou apaixonado por ela, e estou farta de tu e da tua irmã Eri, me quererem. Tenho mais com que me preocupar do que com vocês, os vossos ciúmes e as vossas tretas.
Ele parou para ver se ela daria resposta, mas parece que ela nem a tinha.
- E eu digo aqui, oficialmente, que não tenho mais nada a ver com vocês e com as vossas tretas de «vamos matá-la só porque pertence a um clã». Há mais gente interessada na morte dela mas eu não vou deixar que isso aconteça.
- Que belo discurso, sem dúvida. – Ela começou a arrastar os pés na estrada de terra.
- E há mais. Eu quero lá saber se ela pertence a este clã que tanto odeias, até porque descobri coisas nela que nenhuma de vocês tem. – Virou-se. – Sabes o que é?
Ela sorriu de forma sedutora.
- Perfeição.
Ela pestanejou e começou a rir-se histericamente.
- A perfeição não existe.
- Sim, eu também achava isso até a conhecer. Sabes quando começas a gostar também dos defeitos de uma pessoa? Não, espera, tu não sabes. Nunca amaste de verdade. – Esta última deixa afectou-a bastante como uma facada, porque ela desviou-se instantaneamente.
- Eu não te conheço. – Foi tudo o que Shiki lhe disse.
- Pois não, porque agora eu já não sou o teu bonequinho. E para além disso, eu mudei com ela. E na minha vida já não há Eri ou Shiki. Portanto,
baza miúda! – Yukio começou a andar em direcção a casa.
- Ela sabe?
Ele parou.
- Do quê?
- De que só te aproximaste dela para a matares. – Ele virou-se para ela sem paciência.
- Shiki, não, mas também não vai saber. Ela acredita em mim, e não te conhece de lado nenhum.
- Mas conhece a minha irmã. – Contrapôs na defensiva. – Esperemos que esse teu plano de «ai, sou tão inocente» resulte. – Disse sarcasticamente. – Logo veremos se ela não descobre. See you soon, meu caro.
Antes que ele pudesse dizer algo ela já estava a saltar para as árvores e a ir-se embora. Shiki… Seria esta a ultima vez que Yukio a veria? Será que Cho a veria alguma vês?
Yukio decidiu não pensar mais no assunto e dirigir-se a casa. E foi o que ele fez.
Cho
Eu não tinha planos feitos. Eu não sabia o que fazer quanto ao namorado de Amaya. (credo, nem o nome dele sabia, mas pouco interessava) Será que era mau o que ia fazer? Yukio olhara para mim como se eu tivesse uma doença que se pegasse.
Estava a começar a ter aqueles pressentimentos outra vez. A minha consciência estava a alterar-se e ela1 dizia-me «
Tu sabes que queres. Tu queres todo aquele sangue».
(1 – May Yamanaka, a irmã de Cho. Falava com ela na sua cabeça.)
Levei as minhas mãos à cabeça para tentar com que aquela voz minha conhecida, sinistra e assustadora se fosse embora. E foi ai que os meus joelhos cederam e eu caí no chão.
- Vai-te embora! – Gritei para o ar. – Eu não quero voltar a ser como dantes. – Sussurrei.
[i] Tu sabes que queres Cho. - Não! Eu quero uma vida normal. – Murmurei olhando para o vazio.
Não mintas a ti própria. - Sai dai! Eu escolhi o bem, não quero voltar a matar pessoas só porque tu me dizes! – Gritei em alto e bom som.
Eu vou voltar, amor. Quando as vozes finalmente pararam, eu comecei a chorar intensivamente. Será que ia voltar ao mesmo? A todo aquela tortura interna? Eu não queria, e não podia, mas não conseguia controlar. Era bem mais forte do que eu.
Com as costas da mão limpei os olhos que ainda escorriam lágrimas imparáveis. Levantei-me e ajeitei o cabelo. Ia tentar impedir tudo até conseguir. Agora tinha de completar a minha missão: matar o namorado de Amaya.
Desse no que desse.
Desculpem lá estar ausente mas fiquei sem net em casa e não sei quando tenho novamente D: