O dia amanheceu como todos os outros. E mais uma vez Kimura ainda não havia sido chamado para nenhuma missão em grupo com o time 13. Sentia-se entediado em ter que repetir todo seu treinamento diariamente, mas sempre que se abatia, pensava nos momentos difíceis que passou por sua aparência física estranha. Sempre alvo das gargalhadas maldosas de seus colegas de turma, o genin ainda remoía as provocações de alguns poucos que o atormentaram por quase quatro anos. Precisava ter forças para se defender das ofensas, sejam elas físicas ou verbais, pois aqueles que zombavam e o atacavam com brincadeiras de mal gosta, agora eram genins como ele. Todo o cuidado era pouco. E isso o fazia prosseguir e levantar cedo todas as manhãs.
Vestiu-se, comeu alguma besteira e, ainda mastigando, saiu em disparada pelo quintal de sua casa. Foi quando percebeu que existiam quatro grandes dobradiças de cobre que, pintadas de dourado, secavam ao sol. Elas eram robustas e pesavam cerca de dois quilos cada uma. Lembrou que o grande portão da propriedade estava precisando de reparos e que as dobradiças seriam trocadas por novas. Entretanto, seu pai não lhe dissera quando o reparo aconteceria então Kimura achou interessante levar algumas consigo para ajudá-lo em seu treinamento. Assim, enfiou duas das quatro dobradiças na mochila, e antes de pô-la nas costas, alongou-se como sempre fazia antes da corrida até o campo de treinamento distante.
Com a mochila pesando quatro quilos a mais, Kimura iniciou o trajeto de três quilômetros até onde treinava. Correndo à média velocidade, com passos bem compassados, ele utilizou os estreitos becos como atalho, perfazendo o caminho que já conhecia bem. As dobradiças balançavam e batiam entre si, fazendo com que cada passo que dava, um barulho metálico se pronunciava, chamando atenção dos transeuntes que olhavam com estranheza o genin. Incomodado, Kimura resolveu usar a faixa de seu kimono para fixar melhor a mochila em suas costas. Ainda correndo a passos largos. Já ofegante, mas mantendo a cadência, Kimura passou a faixa nas correias inferiores, envolvendo sua cintura, dando um forte nó na sua barriga.
O balanço da mochila parava de incomodar enquanto Kimura passava nos portões da vila. Na metade do caminho, sentindo-se pesado, diminuiu a velocidade de seus passos. Agora, apenas trotando para recuperar fôlego, o pequeno shinobi fica orgulhoso por seu desenvolvimento físico. Sua resistência havia ficado melhor. Pelo menos no quesito de corrida à longa distância, ele começava a se diferenciar. "Pelo menos terei energia para fugir dos inimigos." - Sorriu ao se surpreender com esse pensamento ingênuo. Assim, após trotar por vinte minutos, sentindo-se capaz, reiniciou a corrida, retornando à velocidade mediana para terminar todo o trajeto da corrida. Percorreu os três quilômetros em uma hora, quando sentou-se no chão com as mãos nos joelhos. Seu o coração estava muito acelerado e seus pulmões usavam toda a sua elasticidade para manter o fluxo de oxigênio.
Descansando por mais quinze minutos, após ter tomado quase todo conteúdo de seu cantil, Kimura se dirige até um dos pinheiros secos para iniciar a parte em que treinava seu controle de chakra. Com uma kunai já em mãos, o genin se distancia alguns metros e focaliza sua atenção para o que está para começar a fazer. Sentia o fluxo de seu chakra, com seus caminhos simétricos através de seu corpo. Então, iniciou uma rápida, mas curta, corrida em direção ao pinheiro. Faltando poucos centímetros, Kimura salta e direciona seu chakra para a sola dos pés. Quando seu pé esquerdo toda no tronco da árvore seca, Kimura sente seu pé grudar e dar-lhe apoio para fixar seu pé direito mais à frente, assim, com o corpo na horizontal, mantendo a velocidade da corrida, Kimura, sempre preocupado com o controle de seu chakra que era enviado para os pés, dava mais um passo, e mais um, e mais um.
Novamente seu abdome dava sinais de cansaço, pois queimava no esforço de mantê-lo na horizonta. Mesmo assim o genin continuou, mantendo a velocidade, ele dá o sexto passo, o sétimo passo, e então sentiu seu chakra fraquejar. Direcionando mais chakra para o local, Kimura dá o oitavo passo e o nono, só então perde o controle do chakra e, pouco antes de cair, empurra seus pés com força para se distanciar do tronco. Estava feliz por ter conseguido mais um passo para a conquista do topo. Entretanto, como estava mais alto do que esperava e em queda livre, Kimura aterrissou no solo com muita velocidade, o que o obrigou a efetuar um rolamento rente ao solo, seguido de uma cambalhota e um backflip, só então conseguindo parar em segurança. "Mais que merda." - Reclamou ao perceber que se esqueceu de marcar a madeira em seu novo recorde.
Repetindo a manobra, Kimura corre novamente até o tronco. Controlou o fluxo de chakra e mandou-o para os pés, ele salta e os crava na madeira, fazendo grande ruído. Continuando a correr, ele dá mais alguns passo e novamente seu controle começa a falhar. Mais uma vez esforçando-se para manter o controle, ele consegue dar os nove passos na horizontal e marcar a madeira com um corte profundo e certeiro. Assim, chutando a madeira para impulsioná-lo, Kimura gira o corpo em seu eixo num rodopio em parafuso até que ficasse de costas para o tronco e na trajetória correta para fazer os movimentos para amortecer a queda. Chegando ao solo, Kimura então realiza um longo rolamento até parar sentado. Suado e ofegante, ele vai até o cantil e toma o restante da água.
Fazendo uma pausa, Kimura retorna a mochila e pega seus dois shurikens e os equilibra na ponta dos dedos indicadores de cada mão. Assim, novamente sentindo o fluxo de seu chakra fuuton por seu corpo, o genin o direciona até seus pulmões e num silvo agudo, sopra o ar misturado com sua energia, fazendo os dois shurikens girarem até terem velocidade suficiente para manterem-se flutuando no ar. Kimura então começou a controlá-los com as mãos. Girava-os e controlava as suas trajetórias. Sempre mantendo o fluxo de seu chakra fuuton, Kimura resolve tentar uma experiência. Controlando seus dois shurikens, ele os leva até uma altura considerável, pondo-os contra a luz do sol. Não conseguia vê-los, apenas conseguia senti-los por causa de seu controle à base de chakra. Então, comandou para que os dois se precipitarem em grande velocidade em direção à velha arquibancada do campo em que treinava.
Os dois shurikens envoltos de chakra convergiam para arquibancada em grande velocidade, até que Kimura, no momento exato, deixa de controlá-los e concentra rapidamente seu chakra normal, e realiza selo do tigre e grita: - Shuriken Kage Bunshin no Jutsu! Um dos shurikens arremessados contra a arquibancada perde rapidamente força e cai no chão, inerte. Entretanto, o outro, ainda com grande velocidade, copia-se em dezenas de shurikens das sombras, atingindo com poderosos golpes a madeira podre da arquibancada, que se partiram facilmente, elevando uma poeira de mofo no ar. Feliz com o resultado, Kimura tenta novamente, dessa vez com um shuriken apenas. Concentrando seu chakra fuuton nos pulmões, ele realiza o Kaiten Shuriken, fazendo o shuriken girar e ganhar altura, levando-o contra o sol.
Fazendo um forte movimento com a mão esquerda, ele comanda o shuriken para se precipitar novamente sobre a arquibancada. E assim repetiu o movimento. Esquecendo o shuriken controlado, Kimura concentrou seu chakra normal rapitamente, fazendo o selo do tigre, entretando, para seu espanto, não havia deixado de controlar o shuriken no momento certo, e quando juntou as mãos para fazer o selo, seu movimento fez com que o shuriken fizesse uma curva fechada na sua direção, agora ele estava no caminho de algumas das dezenas de shurikens de sombra que surgiram. Foi tudo muito rápido. Saltando velozmente para trás, ao mesmo tempo em que sacava uma kunai, Kimura consegue bloquear os primeiros shurikens. O som do metal contra o metal era irritante. Esquivou-se de outros tantos ao rolar rente ao chão. Mas, vendo que não iria conseguir defender-se de todos, ele usa a técnica de substituição. Kawarimi no Jutsu.
Seu corpo sai rapidamente, quase que não deixando rastros, e em seu lugar, um tronco velho, que fora alvejado por cinco vezes antes de cair no chão. Kimura sentiu-se aliviado por ter escapado. Mas seu alívio foi momentâneo até sentir um ardor agudo nas costas. Passando a mão, ele percebe que seus movimentos não foram tão rápidos assim, pois diversos arranhões tomavam as costas de seu kimono agora rasgado. Ainda feliz por ter escapado da morte certa, Kimura retira o kimono rasgado e vai até o riacho, onde lava os aranhões, pondo uma erva que sempre trazia de casa para este tipo de emergências, o que fez estancar o sangue. Já estava cansado e faminto, além de furioso por ter perdido mais uma roupa. Então, vendo que já era hora do almoço, resolveu fazer um intervalo até a tarde. Pelo menos, do jeito que estava não iria conseguir continuar, pois seus arranhões abririam novamente. Assim, foi em direção da sua mochila, comeu e dormiu à sombra das árvores.
DUAS HORAS DEPOIS...
"Já é hora de voltar a treinar." - Diz Kimura indo até a mochila, donde retira as duas pesadas dobradiças que havia trazido de casa. Já secas de sua pintura, elas reluziam ao sol da tarde. Olhando para seu uniforme, ele tenta encontrar alguma maneira de prendê-las em suas pernas, já que eram grandes. E após alguns minutos ponderando sobre a posição ideal, achou melhor por passá-las em volta de cada canela. Então, utilizando o kimono rasgado, ele o corta em tiras de pano e os enrola na parte onde as dobradiças ficariam. Colocando-as por cima das tiras para não machucar sua pele, Kimura as amarra firmemente com outras tiras de pano. Só então, achando que estavam bem presas, levantou-se e começou a andar com certa dificuldade, afinal, estava com dois quilos de cobre em cada perna. Esforçou-se para dar o primeiro passo, depois o segundo, e o terceiro. Seus músculos retesaram. E após cinco minutos de pesada caminhada. Quando terminou de se aquecer. Estava pronto para começar o treino de taijutsu.
Fechando os punhos, ele começou dando uma sequência de socos. Dois jabs de esquerda e um cruzado de direita. Um gancho de direita e mais um jab. Só então tentou levantar a perna direita para dar um chute alto, mas não consegue. O peso, preso a sua perna, não deixa completar o movimento, elevando-a até a metade e a derrubando no solo com a ajuda da gravidade. Mais uma vez ele tenta. Agora com mais uma sequência de socos: Um gancho de esquerda, cruzado de direita, cotovelada. E então, tenta dar uma joelhada com a perna esquerda. Seu joelho alcança a metade do trajeto e despenca sob a ação da gravidade. Kimura já estava bufando, mais de raiva do que de cansaço, então decidiu esforçar-se mais. Como ainda estava parado no local onde iniciou o treino de taijutsu, ele vislumbra seu cantil e faz uma promessa para si mesmo: - Só beberei água, se conseguir dar repetidas joelhadas ao caminhar, até chegar lá! - Gritou ofegante.
E então forçou suas pernas. Primeiro passo, uma joelhada forçada, mas fraca. Novamente, um passo e uma joelhada de pouca altura. E mais uma vez, e mais uma vez. Sua garganta começava a secar e ficava cada vez mais difícil administrar sua sede. Deu cinco passos, todos eles acompanhados por uma joelhada forçada. Faltavam mais cinco passos para chegar ao cantil. Descansando por mais um minuto, Kimura reinicia o trajeto, caminhando e aplicando a cada passo uma difícil joelhada. Suas pernas queimavam, já não aquentava caminhar até que chegou ao último passo, onde tentou levantar o joelho, conseguindo apenas elevá-lo em alguns centímetros e desabando por sobre o cantil em busca desesperada por água. O cantil estava vazio. Lembrando-se que havia bebido o restante na manhã, ele desata rapidamente as amarras das dobradiças, que caem no chão fazendo um barulho seco. Só então Kimura pega o cantil e caminha vagarosamente até o riacho. Suas pernas pareciam mais leves. Seus movimentos mais ágeis. Alguma coisa mudara e Kimura havia gostado disso.
Aumentando a velocidade da breve caminhada, ele salta algumas vezes. Faz piruetas no ar e realiza três joelhadas, que agora alcançam um pouco mais que a altura desejada. Entretanto, quando estava próximo do riacho, sentiu os músculos da perna se contraírem perigosamente após ter realizado um ataque giratório, elevando a perna esquerda, e preferiu parar para descansar enquanto bebia água. A velocidade que adquirira com a liberação dos pesos teria um preço. Kimura percebeu que apesar do aumento da velocidade, também aumentava o risco que a estafa muscular terminasse por ser sua inimiga com o tempo. Assim, após tomar grandes goles, sentou-se na água a procura de uma maneira de treinar essa nova técnica. "Precisarei de ajuda. Não sei nada sobre fadiga muscular." - Pensou alto. Então, após dez minutos de descanso, preferiu por realizar as últimas repetições de golpes para retornar a casa, pondo-se novamente no centro do campo e fitando um velho saco de areia que balançava ao vento.
Concentrando-se ao fechar so olhos, ouvindo o som do vento e aproveitando o silêncio, Kimura inicia uma corrida veloz até o saco de areia. Mantendo a velocidade, ele dá um rolamento rente ao solo, o que o põe logo abaixo do saco de areia. "Konoha Shofu!" - Grita ao dar um forte pontapé ascendente no alvo, fazendo a corda podre que o segurava romper e o jogar para o alto. Vendo isso, Kimura percebeu a oportunidade. Dobrando as pernas rapidamente, ele salta com força e velocidade, e então, surge atrás do saco de areia. Como o alvo não possuía braços ou juntas para poder segurar-se, Kimura concentra seu chakra e estica seus braços e pernas para prender o saco de areia firmemente num abraço mortal. Só então gira-o no ar e, momentos antes de enterrá-lo com poder no chão, Kimura o desamarra e sai pela tangente, dando um longo rolamento até parar. Com a força do Hayabusa Otoshi, as correias do saco se rompem, explodindo em areia úmida e cheia de vermes, que encobriram Kimura.
Ofegante, Kimura levanta-se com nojo dos vermes. Batendo repetidamente no corpo, ele derruba quase todos. Exceto por alguns que insistiam em prender-se em seus longos cabelos negros. O ninja então corre para o riacho, onde se banha, e após alguns minutos de limpeza, retorna ao campo, onde veste seu uniforme reserva e, pondo a mochila nas costas, inicia sua longa caminhada de volta para casa. Seu corpo estava dolorido. Principalmente suas pernas que teimavam em desobedecer a seus comandos. Assim, após duas horas de lenta caminhada, Kimura chega a casa exausto e faminto. Sua mãe havia preparado um lanche muito saboroso com geléias e bolo de chocolate, enquanto seu pai revirava a casa a procura de duas dobradiças do portão que estavam a secar. - Kimura, você viu as dobradiças? - Perguntou seu pai. Foi então que o genin lembrou que as havia esquecido no campo de treinamento, respondendo seu pai com um sorriso forçado, constrangido.
FIM DO TREINO.
![[Treino 6] - Kimura Endo - Da Gravidade, Nada Escapa. EJWNGUN](https://i.imgur.com/eJWNGUN.png)
Assunto: [Treino 6] - Kimura Endo - Da Gravidade, Nada Escapa. ![[Treino 6] - Kimura Endo - Da Gravidade, Nada Escapa. Icon_minitime](https://2img.net/i/fa/icon_minitime.gif){kind=icon}
Qua 21 Mar 2012 - 15:02
