As gargalhadas ecoavam insanamente pelo clarão. Moriko conseguia distinguir de onde provinha cada uma, mas eram tantas e tão altas, simplesmente confundiam-lhe por completo o sistema auditivo ainda em reprodução. Confusa, perdida, desesperada, começa a andar às voltas quando reparava que incontáveis vultos começavam a surgir por cima dos ramos das árvores que a rodeavam e enjoavam.
-Não vou dar parte fraca, vou mostrar-lhes que meteram-se com a pessoa errada! – Pensou a criança adotando uma postura mais ágil ao dobrar ligeiramente os joelhos e colocar a sua seiatsu relativamente perto do corpo.
O primeiro bandido surgiu por debaixo da copa de uma árvore relativamente pequena, segurando numa maça e com a outra mão encostada ao tronco da árvore. Sorria maliciosamente para a jovem Gennin enquanto rodopiava com a enorme bola de picos. A pequena criança retribuiu-lhe o olhar com coragem e seriedade conseguindo-o irritar e picar ao ponto de obriga-lo a investir loucamente.
-Bunshin no Jutsu! – Pronunciou Moriko na realização de um único selo e numa fraca concentração de chakra criando duas imagens de si mesma que se moveram velozmente na direção do grandalhão.
-Nani? Uma Kunoichi? Como é possível? – Perguntavam-se várias vozes dentro da densa floresta fitando o clarão onde a pequena Gennin dava espetáculo.
O bandido estava confuso distribuindo poderosos e lentos golpes com a maça atingindo as imagens à procura da real. Conseguiu encontra-la quando esta realizava um longo salto, esquivando-se do ataque horizontal da maça, atingindo com uma patada na cara do bandido conseguindo-o atirá-lo ao chão. Ainda em pleno ar rodopiou o seu corpo para depois cravar a sua katana numa das pernas do homem soltando logo um espirro de sangue.
Todos os bandidos aplaudiram loucamente, outros soltavam piropos à pequena e alguns assobiavam enquanto esta tentava, a grande custo e com extrema força, tirar a espada da perna do homem. Sacudiu-a de ligeiro atirando ainda mais sangue para o chão e depois olhou para todo o seu redor.
-Podem vir, não tenho medo de vocês! – Anunciou a pequena num semblante bastante sério e agressivo saltitando com a espada entre as mãos.
Os bandidos calaram-se por momentos, todos a encará-la, soltando depois mais gargalhadas insanas. Desta vez surgiam cinco que a cercavam, dois a empunharem machados, outros dois a empunharem espadas, só um com duas pulseiras de ferro é que parecia querer lutar corpo-a-corpo. Todos eles a fazerem um círculo à volta da Gennin, todos eles a aproximarem-se lentamente… Num salto avançaram de uma só vez para esmagar a arrogante criança de uma só vez, mas esta já havia acabado os selos e a sua aglomeração de chakra.
-Suberi Yasui Toko! – Pronunciou encostando a palma da mão no solo e, a partir dessa localização, revestiu o solo ao seu lado num círculo protetor de gelo que a defenderia corpo-a-corpo.
Os bandidos, inexperientes e sem chakra algum, caíram facilmente no truque escorregando por todo o lado e tentando segurar-se entre eles. A Gennin sorriu ligeiramente ao vê-los desesperados para ficarem em pé e voltou a rodopiar a sua seiatsu. Inspirou profundamente e expirou.
-Vamos lá… - Murmurou apontado a ponta da sua lâmina para o primeiro bandido que cravara a espada em pleno solo, tendo força suficiente para passar pelo gelo, e apoiando-se na sua arma para conseguir manter-se em pé.
Num deslize perfeito, Moriko chegou velozmente para perto dele ao mesmo tempo que a sua lâmina desenhava um espantoso corte horizontal que resultava num espirro de sangue na barriga desse mesmo homem. Travou o seu deslize e olhou de soslaio para a sua diagonal onde se situava um homem de machado a segurar-se no homem de pulseiras de ferro, numa tentativa de ambos se segurarem. Deslizou para lá, sempre com extrema confiança, saltando e atingindo com uma patada no pescoço do usuário do machado e, ainda no ar e com perfeita sintonia, um corte profundo no ombro do outro, derrotando mais dois deles. Voltou a apoiar-se no solo de gelo e deslizou um pouco mais para voltar a travar. Olho para as suas laterais e os dois homens que sobravam encontravam-se a gatinhar por cima do gelo, ainda a tentarem elevar-se.
-São todos uns idiotas… - Murmurou a kunoichi sacudindo a sua saietsu para afastar o sangue que salpicava da ponta do gume e preparava-se para retomar a ofensiva, sem reparar que braços se aproximavam por detrás dela.
-CHEFE, APANHEI-A! – Gritou um magricelas que agarrava Moriko pelas costas e a apertava com força enquanto esta se debatia violentamente esperneando com a katana por todos os lados – O que fazemos com ela?
-Larga-me seu bruto! Idiota! Idiota! – Lutava a rapariga pela conquista da liberdade esticando o seu braço ao máximo para tentar atingir com a saietsu nas costas ou pescoço do magricelas, nunca conseguindo com sucesso.
Um vulto enorme saltava de um dos ramos e aparecia à sombra da copa de uma árvore. Ouvia-se uma grande gargalhada, que começava a irritar a jovem Yuki, seguida de aplausos e passos pesados. Notava-se que o vulto aproximava-se dela, podia-se ouvir o pesado som das botas dele a baterem na relva, o vento a ficar mais fraco quando raspava na sua pele, a sua imponência mesmo escondida pela sombra…

-Entra Katsu, entra! – Pedia o Mizukage sentado confortavelmente na sua poltrona e a olhar distraidamente para uma papelada à sua frente.
O Imagawa abria a porta ligeiramente, fechando-a atrás de si quando entrara, e aproximava-se de Okashii com um sorriso mas um olhar ainda sonolento. Parava à frente da secretária do líder de Kiri, espreguiçando as suas articulações o máximo conseguia soltando posteriormente um bocejo mudo.
-Podias mostrar mais respeito à frente do teu líder Katsu-kun… - Suspirou o líder remexendo no seu monte de pergaminhos até encontrar um que prontamente o atirava para as mãos do Jounin – Ai está a tua missão amigo.
O adolescente ainda se permitiu soltar outro bocejo-mudo antes de desenrolar cuidadosamente o pergaminho e olhar sem atenção para o conteúdo. Depois olhou de soslaio para uma zona mais sombria do gabinete e piscou o olho para o vazio retornando o seu olhar para o seu líder.
-Porque é que eu e o Azura vamos fazer uma missão de rank D? – Perguntou o Imagawa sem demonstrar insegurança olhando para o Inugami que surgia do vazio, para onde o Jounin havia piscado o olho, e aproximava-se da pequena reunião a passos lentos e despreocupados – Ohayo Vidro-boy!
-Para de me chamar isso, não me lembro de ter-te dado tanta confiança… - Respondeu o companheiro friamente escondendo uma cara sem semblante por detrás da misteriosa máscara sorridente – Ainda não sei como subiste a Jounin…
-Oh vá lá meu amigo! – Gargalhou Katsu agarrando o Chunnin pelo ombro e arrastando-o para perto do seu corpo ainda no meio de gargalhadas – Deixa-te de ser assim! Vá Okashi, explica-te!
Um momento de silêncio debateu-se na sala e, de um momento para o outro, o Imagawa sentia-se o centro das atenções. O Mizukage fuzilava-o com um olhar intimidador ao mesmo tempo que Azura olhava para outro lado qualquer suspirando de agonia.
-Ahem… Mizukage-sama… - Corrigiu-se a tempo no meio de uma tosse seca.
-Muito bem, Katsu-kun, Azura-san, vou dar-vos esta missão de rank D pois os vossos postos já vos dão mais do que a obrigatoriedade de serem senseis! – Iniciou Okashi o seu discurso olhando para os dois Kirinin à sua frente – Esta missão de rank D serve para testar as vossas capacidades de liderança. Num circo não muito longe daqui estará um jovem Gennin, recentemente formada na Academia, à vossa espera para a realização desta pequena tarefa. Dispensados! – Concluiu ao mesmo tempo que virava a cadeira de costas, um sinal que a reunião havia sido mesmo terminada.
O Jounnin rapidamente coloca a palma da sua mão na horizontal e estendida à frente da testa soltando um “Hai!” obediente, virando depois as costas e dirigindo-se para a saída do gabinete apressadamente. Azura, contudo, permanecera lá dentro a olhar para as costas da poltrona do seu líder.
-Eu nunca disse que queria ser sensei… - Opinou o Inugami numa voz calma sem mostrar emoção devido à irritante máscara à frente da cara.
-E eu nunca te pedi opinião, DISPENSADOS! – Voltou Okashi a gritar, confiante que desta vez Azura realmente obedecia.
O Chunnin hesitou, relutante, ainda ficou estático a olhar para as costas da cadeira do Mizukage. Mas a teimosia era uma virtude que a ele não assistia, decidindo virar as costas também e prosseguir viagem com o Imagawa, que já nem se sabia onde andava.

-Quando o Okashi me disse que viríamos a ter com uma Gennin acabada de sair da Academia, nunca pensei que fosse uma pirralha de nove anos! – Gritou o Jounin correndo agilmente por entre ramos à procura da pequena Gennin que se encontrava presa aos ombros do franganote.
-Katsu, não a julgues só pela idade dela… - Advertiu Azura que seguia o companheiro sem grandes problemas – E, quanto ao que o Mizukage disse… Não te importas de ser sensei?
O Imagawa parou a sua corrida encostando-se contra a árvore e olhando para um dos seus lados. Confirmava algo, dava para sentir-se no seu olhar determinado, e retornava depois seu olhar para Azura.
-Hoje estás muito conversador Vidro-boy, que se passa? – Perguntou voltando a olhar para o sítio que o atraíra.
-Para de me chamar as… Ah, esquece! Responde-me à pergunta: Gostavas de ser sensei? – Insistiu o Chunnin encostando-se à mesma árvore que Katsu e olhando para a localização onde ele fitava – Aquele não é o…?
-… Hipopótamo… Encontramo-lo, mas não a Gennin… - Apresentou a situação virando-se para o Azura seriamente – Não, não me importo de ser sensei, não seria a primeira vez que seria o líder de um bando de pessoas. Concentra-te na missão rapaz! – Resmungou o Imagawa abanando com o corpo do Inugami como se quisesse despertá-lo de algo – Ouve-me, tu caça-me aquele hipopótamo, persegue-o como se fosse o fim do mundo em cuecas! – O adolescente calou-se ao ver que o seu companheiro consentia com um abanar de cabeça – Eu vou atrás da criança, encontramo-nos no circo!
O Chunnin voltou a consentir com a cabeça. Katsu voltou a sorrir, confiante, e desapareceu num Sunshin deixando Azura a olhar para o hipopótamo que se divertia numa poça de água soltando guinchos divertidos. Suspirou, não tinha a certeza de como apanharia um animal daquele porte sem o magoar, fácil não seria…

O Imagawa retornava à sua corrida desenfreada. Encontrava-se completamente atento ao seu redor, mas não encontrava nada do que queria. Estacou por momentos em cima de um ramo e voltou a olhar ao seu redor… vazio.
-Que coisa… - Pensou ao retirar a flauta do seu bolso e colocando o pequeno cano na boca.
Reuniu chakra no pequeno instrumento e, com uma precisão encantadora, os seus dedos delinearam precisamente os buracos correspondentes das notas da Kankaku no shinfonī produzindo uma breve e doce melodia que rapidamente afetava-lhe o sistema nervoso. Não se sentia revigorado, nem mais poderoso… Contudo, sentia-se mais capaz. Numa diferença de segundos, ele conseguia agora ver com muita mais claridade e os seus ouvidos encontravam-se igualmente muito mais aguçados. Tão aguçados ao ponto de conseguir ouvir uma jovem e feminina voz a pedir por ajuda, e para lá correu…

Os bandidos cantarolavam, dançavam e assobiavam ao verem a criança a contorcer-se para que o magricelas a largasse, mas ainda assim não conseguira fazer nada. O vulto corpulento do suposto chefe estacara momentaneamente, ainda dentro da área da sombra não conseguindo distinguir-se nada, notando-se que a sua cabeça olhava para um dos lados.
-Vem aí alguém… - Anunciou brevemente recuando ligeiramente voltando para a escuridão de onde vinha – Cuidem dele…
Katsu surge debaixo de um ramo de uma árvore ao mesmo tempo que deixava-se de ver o vulto. A Gennin contorceu-se uma última vez conseguindo, por fim, abrir a boca e morder o pulso do magricelas, este que soltava um exagerado grito de dor.
-Tem calma pequenota, eu limpo-te estes gajos! – Afirmou o Jounin confiante retirando das suas costas a sua grandiosa Giri e rodopiando-a ao longo do corpo com grande habilidade.
-Espera! Não vás por… aí… - Tentou avisar a Gennin batendo com a palma da mão na testa – Idiota!
O Imagawa avançou, preparado para tudo, contudo não reparara no solo gelado que Moriko criara anteriormente e rapidamente escorregava embatendo com as costas violentamente no solo…