Sora abria a porta da sua casa rapidamente, passando pelo hall (onde deixava as suas botas como manda a tradição japonesa) e apressava para chegar até à mesa da sala de jantar onde, por pura sorte pensava a rapariga, o seu pai não estava lá, a babar-se para o vazio.
Assim sendo, esta deixava cair sobre a mesa a mochila pesada, abrindo-a depois e retirando, primeiramente, dois pesos, cada um com cinco quilos, pousando-os em cima da mesa. Após praguejar contra o seu professor por ter colocado aqueles presentes na sua mochila, respirava para assim tirar um mapa, abri-lo e estendê-lo ao longo da superfície da mesa. O mapa continha muitas das rotas de Yukigakure até a outras vilas, rotas comerciais, rotas secretas, rotas comuns, rotas perigosas… todas elas! A Mitsuko puxava de uma cadeira, sentava-se nela e, atentamente, analisava o mapa.
-Na última semana, três civis foram atacados aqui… - Murmurou a rapariga pegando num pincel, molhado com tinta previamente, desenhando de seguida três pequenas cruzes sobre uma estrada que ligava Yukigakure até uma aldeia vizinha relativamente perto – Cinco civis, quatro deles crianças, foram atacados nesta aqui… - Raciocinava desenhando cinco pequenas cruzes na rota principal de Yukigakure, e a única que atravessava o portão principal, a mais famosa e usada – Aqui foram atacadas sete pessoas, todas elas homens… - Continuava a rapariga desenhando agora sete círculos sobre uma estrada pouco movimentada que ligava À floresta – E, para acabar, aqui foram atacadas cinco pessoas… - Continuava neste pequeno raciocínio, desenhando mais cinco círculos sobre outro rota que ligava a uma aldeia muito distante – Nesta rota… - A pequena apontava para a primeira rota que se encontrava desenhada com três cruzes – Tem uma pequena percentagem de ataque, assim a probabilidade de os apanhar em flagrante ali é mínima. Já esta rota… - Apontava agora para segunda com cinco cruzes desenhadas – Tem bastante percentagem de ataques, sendo elas maioritariamente crianças será a minha melhor hipótese… porque… bem… ainda sou jovem né… - Soratsuhi tentava não desanimar-se apontando agora para a terceira rota – Esta será a rota onde todos os outros Gennin`s que estão à procura destes maltrapilhos irão pesquisar, o Kage deixou bem claro que a recompensa só será para um Genin e, sinceramente, não me apetece entrar num Torneio para ver quem caça estes idiotas o mais rápido possível… - A Genin desviava agora o olhar para a última rota – Esta será a minha última opção, aqui são caçados lenhadores e raramente vão mulheres ou crianças para lá. Se os bandidos me virem a atravessar essa estrada logo se aperceberão que algo está errado! Soratsuhi sorria, recolhendo o mapa para dentro da mochila, colocando depois lá os pesos para posteriormente a arremessar desajeitadamente para um canto qualquer da sala – Yosh! Para a segunda rota então!

A neve caía lentamente consoante Soratsuhi deixava o portão principal da vila. Não fazia tanto frio como nos outros dias nem nevava tão fortemente o que dava o perfeito ambiente para uma boa investigação, contudo, a primeira visão que esta se deparara após sair do portão eram os incontáveis Genin`s que passeavam pela estrada à procura de pista para caçar os ladrões. Justamente como Sora previra. Enquanto se ria e insultava a idiotice deles mentalmente, a pequena usufruía-se do Sunshin para escapar o mais rapidamente daquele lugar, antes que algum Genin oportuno a visse e perseguisse, até chegar à entrada da rota especificamente escolhida para ela.
-Muito bem, agora é só fingir-me inocente, matar a maior parte deles, deixar um vivo e obriga-lo a confessar-me tudo… - Pensava a Mitsuko não conseguindo soltar um sorriso macabro.
Disfarçava o sorriso macabro ao bater com as palmas das mãos na bochecha e dava dois saltos pequenos para focar-se. Sentindo-se mais concentrada, esta respirava fundo e encarava a estrada à sua frente com um sorriso rasgado, e bastante falso por sinal, começando saltitar pelo caminho fora.
-Indo eu, indo eu a caminho do tio meu. Indo eu, indo eu a caminho do tio meu. Encontrei o meu amor, aí jesus que já se “fodeu”. Encontrei o meu amor, aí jesus que já se “fodeu”! – Cantarolava a rapariga no meio de saltitos, gargalhadas e um sorriso de orelha-a-orelha, tentando assim ser o mais convincente possível.
Alguns homens, com mantos castanhos por cimas das roupas, quentes o suficiente para os proteger do frio, e com capuzes arrastados para cima de modo a cobrirem a cara, começavam a surgir no horizonte, apressando-se a desenhar um círculo em torno de Sora, que imediatamente se coloca numa posição mais alarmada, disfarçando um olhar preocupado e inocente para todos os homens.
-Parece que hoje apanhamos uma boa rapariga, ahah! – Gargalhava um dos bandidos labendo as beiças de forma deliciosa, imaginando de imediato imagens pervertidas com o corpo de Soratsuhi.
-É verdade, dia de sorte! Aonde vais pequena rapariga? – Perguntava o companheiro ao lado, também ele com as suas próprias imagens na mente.
A Mitsuko permanecia calada, olhando ao seu arredor com cautela contando então cinco homens a tentar ataca-la. Devido aos mantos não eram visíveis as armas que portavam consigo e, pelas aparências deles, também não aparentavam possuir algum chakra não apresentando, portanto, um mínimo de perigo para a Genin. Enquanto eles falavam para a rapariga, não obtendo respostas, começavam a irritar-se, esta escondia as suas mãos para realizar os selos de forma mais oculta, concentrava chakra ao longo do corpo e realizava um Magen: Narakumi no Jutsu, no homem à sua frente que até então permanecera calado. Este, que imediatamente via folhas imaginárias à volta do seu corpo que antecediam as imagens horríveis, soltava um grito agudo alarmando os outros homens.
-Ei! O que é que se passou? – Perguntou o companheiro ao lado colocando-lhe uma mão no ombro – Está tudo bem?
O companheiro não recebia resposta e Sora aproveita-se da distração deles para desenhar mais selos com as mãos, aglomerar chakra e realizar um discreto Kasumi Jusha no Jutsu. Os Genjutsu ativa-se num instante deixando clones de óleo semelhantes à dona surgirem de múltiplas zonas da neve, espalhando a confusão entre o grupo de homens.
-O-o que é isto? – Perguntou-se um dos bandidos desembainhando de imediato uma espada – O que vem a ser isto?! – Perguntou-se uma vez mais, incrédulo pelos clones que começavam a rodeá-lo e que este limpava com a sua arma.
-É-é uma técnica ninja, ela é uma Kunoichi! – Concluiu o companheiro ao lado retirando um molho de facas da mão – Matem-na! – Ordenou arremessando de imediato um par de facas na direção dela.
Ao mesmo tempo que as facas eram arremessadas, Soratsuhi já se virara para trás e deixara o seu corpo cair. Ao decorrer deste movimento, a pequena continuava na sua realização de selos e reunião de chakra, ativava posteriormente o seu “Hyouton: Tsubame Fubuki” para, a partir da neve, projetar sete senbous de gelo que se cravavam nos corpos dos bandidos às suas costas, matando de imediato o que controlava facas e deixando o da espada bastante ferido. Segundos depois as facas passavam a rasar pela sua testa, voando até trespassarem a garganta do homem que ainda estava no Genjutsu da Genin, levando-o à morte de imediato.
-Uau, três de uma vez! – Vangloriava-se a pequena, sentindo de imediato um pontapé na sua coxa, seguido por um pontapé nas costas que lhe enterravam a cara na neve, fruto da sua pequena distração.
-Já a tenho! – Gritava o homem que pressionava o seu corpo contra a neve ao colocar uma pesada bota sobre as costas – Apressem-se a amarrá-la! – Gritava pensando que se dirigia ao grupo de homens apesar de só haver ele e mais um, disponíveis para tal ato – RÁPIDO!
O quinto homem atrapalhava-se após o berro pois desfazia os clones de óleo com a sua espada. Desajeitadamente corria na direção do seu possível chefe, cortando clones a caminho, retirando uma corda dos bolsos. O chefe gritava e gritava o que só atrapalhava mais o inexperiente bandido, até que este acabava por deixar cair a corda no meio da neve. No meio de mais berros o novato tentava agarrar a corda mas só a afundava mais, procurando-a posteriormente de forma desesperada rezando mentalmente para que o seu chefe parasse com tantos berros.
A Yukinin aproveitou-se claramente desse pequeno momento. Dobrou ambos os cotovelos e pressionou com as palmas da mão contra as neves. Respirou fundo e ergueu o seu corpo o mais acima que conseguia, semelhante a uma flexão, mas depressa sentiu a força do homem a encosta-la ao solo.
-Onde é que queres ir pequena? - Perguntou o homem no meio de uma gargalhada, achando-se claramente superior, voltando a olhar para um dos seus subordinados para repetir os berros.
Soratsuhi suspirou, irritando-se severamente pelos homens a terem chamado de “pequena” demasiadas vezes. Respirou fundo e repetiu o processo, desta vez levantando-se ainda mais bruscamente. O homem distraído não contava com uma descarga de tanta força, desequilibrando-se e caindo por cima do seu subordinado que ainda procurava pela corda.
-Vocês é que são pequenos porcos! – Gritava a Mitsuko tentando atingir com um pontapé nos adultos deitados na neve, contudo, numa agilidade surpreendente, o chefe levantava-se e agarrava na perna da rapariga dando espaço para que o seu subordinado também se levantasse e se afastasse de ambos segurando a espada nas mãos mais uma vez – Vai embora, raios! – Voltou a gritar atingindo um homem com um pontapé, com a outra perna, na cara livrando-se do seu aperto.
O novato-espadachim soltou um grito antes de correr em direção na rapariga e tentar cortá-la no braço esquerdo. A pequena dava um passo para o lado, desviando-se do golpe de forma absurda, e abaixa-se para atingir com um pontapé no queixo do homem soltando um “Konoha Shofu!” para depois, com os cálculos perfeitos, saltar e atingi-lo com um pontapé na barriga e outro na cara gritando “Konoha Daisenpu!” projetando o corpo do inexperiente bandido para o meio da neve, enterrando metade do seu corpo. Posteriormente esta pousava na suave neve e olhava para a direita, vendo o chefe a erguer-se, afastando alguns dos clones de óleo a punhos.
-Percebi agora que estas cópias tuas não nos fazem nada… - Concluía limpando com a manga um pequeno fio de sangue que saía do seu canto da boca – Estás a armar-te em espertinha pequenita?
-Estás tão morto… - Murmurou a Genin colocando um pé em frente e outro atrás para uma posição de ataque mais equilibrada – Se te consideras homem então luta comigo… corpo-a-corpo…
O homem soltou uma gargalhada e fungou. Fitou a rapariga, e todo o seu alto ego, para depois soltar mais uma gargalhada. Nesse tempo, Soratsuhi usufruía-se do Sunshin para chegar perto do chefe e atingir-lhe com um pontapé na virilha, seguido por um soco na cara e, para finalizar, com outro pontapé na cara que voltava a atirá-lo para o meio da neve, posteriormente afastava-se a saltitos para dar espaço ao chefe para levantar-se.
-Maldita, estava a rir-me, odeio quando alguém interrompe o meu riso! – Trovejou o homem partindo, finalmente, na ofensiva com uma corrida lenta mas com um braço bastante forte.
A Genin sorriu e preparou-se para fazer uma rasteira, mas era surpreendida quando o bandido a atingia com uma potente soco na cara que a atirava logo ao chão. No meio de fúria, o bandido tentava pisoteá-la, mas esta era veloz o suficiente para usar um Sunshin e escapar dali de imediato, aparecendo metros de distância dele e com um inchaço na cara devido ao soco.
-Caraças, eu tinha acabado de me curar daqueles ferimentos da última missão… - Pensava a rapariga olhando para o homem com ainda mais raiva – Agora estás LIXADO! – Gritou com especial ênfase no último vocábulo, reunindo de imediato alguns selos e chakra – Magen: Narakumi no Jutsu!
O corpulento homem rapidamente se via rodeado de folhas imaginárias para entrar num mundo ilusório onde tudo o que via era a sua pessoa mais importante bastante ferida. Nessa abertura, Soratsuhi fazia mais selos e concentrava mais chakra para depois levitar neve à sua volta, moldá-la em senbous, e cravá-las na barriga e peito do homem, desativando o Genjutsu e saltando poças de sangue que manchavam a brancura da neve, levando o homem, muito fraco, a ajoelhar-se em pleno solo.
-CHEFE! – Gritava o bandido, que anteriormente ficara incapaz de lutar devido às primeiras senbous de gelo o terem imobilizado, correndo na direção da sua inimiga com a espada na mão.
Soratsuhi olhava-o de soslaio, havia retirado algumas senbous de gelo do seu corpo, as suficientes para conseguir levantar-se e proteger o seu chefe até aos últimos momentos de vida. Não foi rápida o suficiente para se proteger do corte superficial nas suas costas que a atirava ao chão, que deixava uma pequena poça de sangue à volta alastrar-se.
-C-chefe, você está bem? – Perguntava-se o homem transpirando ao longo do corpo e ofegante notando-se pelo constante movimento do seu peito – C-chefe?
O chefe não respondia, limitando-se à sua posição joelhada e deixando gotículas de sangue escorrerem pelas suas mangas e pela cintura. Estava claramente morto, notava-se pelo olhar vazio que direcionava à neve, como se esperasse que algo surgisse vindo do nada. O espadachim não quis acreditar no que via, ajoelhando-se também ele e colocando as mãos na cara.
-Não acredito, ela matou-o. Como pode ser possível, nós… Ele não podia morrer! – Gritava o homem entrando espontaneamente em pânico à medida que remexia nos seus cabelos de forma desesperada – Nós…
-É assim, as pessoas morrem… - Murmurava Sora, de pé e com sangue a escorrer-lhe das costas começando a inundar as suas roupas com uma grande mancha vermelha por cima da zona do superficial corte – A partir do momento que comecei a realizar esta missão que vocês estavam todos mortos…
-C-como, c-como é que estás viva, e-eu matei-te! – Gritava o homem olhando com insanidade para a Genin, que simplesmente lhe atribuía um olhar frio.
-Estás louco… - Murmurava atingindo-o na cara com um potente chuto que o arremessava para cima da neve, rebolando nela com altas dores na cara e com agudos guinchos – Cala-te… Magen: Narakumi no Jutsu! – Pronunciava após a sua última realização de selos e concentração de chakra.
Soratsuhi, após imobilizar o último homem, parava para olhar à sua volta. A pequena área à sua volta ficara um caos. Grande parte da neve encontrava-se agora vermelha pelo sangue derramado e três corpos estavam mortos, um imobilizado por uma ilusão aos berros pelo que via, enquanto o último ainda estava enterrado na neve, mas provavelmente também não durava lá muito. Sora soltava um sorriso, adorara este pequeno momento, mesmo com a bochecha direita inchada e o corte nas costas, fora simplesmente delicioso…
-Bem, bem, matei… quer dizer capturei estes otários. Vou simplesmente pegar no corpo deste aqui… - Pensava referindo-se ao homem preso na ilusão – E obriga-lo a confessar ante ao Kage pelo que fez, depois receber a recompensa e tratar dos ferimentos…