“Depois de subir toda a escadaria do lugar e virar duas esquerdas após o primeiro corredor, cheguei lá: havia uma porta de madeira, já velha, com uma placa pequena feita de latão com os dizeres “Academia Ninja”. Com a mão a tremer, eu a abri. Lá estava Sayoko-sensei, de prancheta à mão.”
– Muito bem, Kou, senta-te. – ordenou a jounin. Sayoko possuía cabelos de cor negra, compridos, presos em um rabo de cavalo, que combinava harmoniosamente com sua pele morena. Em seu rosto havia uma cicatriz de batalha, bem abaixo do olho esquerdo. E mesmo que quisesse, a tal marca símbolo da coragem da ninja não conseguiria influenciar em sua beleza. Além de uma bela mulher, Sayoko era extraordinária. Detinha uma forte personalidade e um carinho muito grande para com seus pupilos.
A sensei então começou a explicar como seria o processo de formação de equipes: cada time seria formado por três genin recém-graduados e estes seriam guiados até uma nova sala, onde o seu novo sensei já estaria a aguardar. Kou sentou em uma das cadeiras vazias próxima à janela, que detinha a vista das varias cadeias de montanhas ao fundo. Assim que sentou, pode sentir o tão familiar cheiro de morangos que descompassava o coração do garoto: era Ayane Harumi. Ayane fazia parte da turma de ninjas recém-formados e, assim como Kou, aguardava ser chamada para algum grupo. Seus cabelos loiros encontravam-se soltos, modelados apenas pela bandana desgastada que usava como arco. Seus lindos olhos azuis fitavam a jounin a sua frente, ansiosos.
– Tenta relaxar um pouco, Ayane – aconselhou Kou, atraindo a atenção da kunoichi.
– Oh, Kou, me desculpe por não dar-te atenção. Estou deveras ansiosa – murmurou a garota, com bom humor – Obrigada pela preocupação.
Se a garota não tivesse voltado a observar Sayoko, não deixaria de notar o tom avermelhado que a face de Kou adquiriu após seu comentário. Ele ia começar a falar, mas a jounin foi mais rápida.
– Agora, Time 9: Ayane Harumi, Tohru Kurosawa e Kou Mitsukubane – a professora fez uma pausa para verificar sua prancheta e voltou a falar – Por favor, sigam até a segunda porta à direita no próximo corredor. Seu novo sensei, Jin Shirogane, já aguarda.
Na mente do novo genin, a voz da sensei ecoava, enquanto um arrepio lhe percorria toda a espinha. Era chegada a hora. Uma das componentes do grupo era Ayane, a qual conhecia bem. Já Tohru... Tohru era uma espécie estranha de valentão da turma, falava pouco e sentava ao fim da sala. Aparentemente não possuía amigos, justo por fazer os outros da classe sentirem medo. Em si, não era um sujeito mau. Só gostava de falar pouco e se zangava fácil com quem o irritasse. Possuía cabelos curtos, espetados e escuros como a noite, mas seus olhos eram de um verde vivo. Era um pouco mais alto de Kou, por ser também um ano mais velho e sempre carregava consigo um estranho livro de capa de couro marrom. Usava a bandana amarrada ao braço esquerdo.
Os três saíram em silêncio de sua antiga sala e caminharam seguindo as instruções que lhe foram dadas.
– Como será que ele é – Kou quebrou o silêncio – Quero dizer, o novo sensei, será que ele é muito forte? Será que é velho? Mal-humorado talvez?
– Ele deve ser incrível, sabe, a maioria dos jounins daqui são. O que você acha, Tohru? – indagou Ayane, na esperança de criar um papo amigável entre o time.
– ...
– Ahn, então, era a segunda porta, não é? – Kou perguntou, mudando de assunto, para não irritar o valentão. Na verdade, Tohru não parecia irritado. Estava mais pensativo.
Ayane foi à frente e abriu a porta, como ordenado. Deparou então com uma sala escura. Ao acender a luz viu que se tratava de uma sala como outra qualquer, a única diferença era uma janela cá ou lá. Sobre uma grande mesa perto da lousa havia um bilhete. Tiveram então os três que chegar mais perto para ler:
Meus Queridos,
Esta sala apertada estava me dando enjoo,
então decidi vir para o telhado,
que é mais fresco e não tem cheiro de giz.
Juntem-se a mim e passemos um bom dia juntos.
Jin Shirogane.
– O telhado não fica a uns sete lances de escadas daqui? – perguntou Ayane.
– Oito – Kou respondeu, sem ânimo.
***
A vista do telhado era realmente espetacular. Tinha-se a sensação de que podia se tocar as nuvens apenas com um levantar de braço. Cá havia algumas caixas d’água, e, perto da beirada, o que parecia ser um grande sofá, onde uma silhueta sentada aguardava os genins.
– Peço perdão pelas escadas, meus queridos – o jounin se levantou para recebê-los – Meu nome é Jin Shirogane, com já devem saber. A partir daqui sou o novo sensei do Time 9, ou seja, vocês.
Kou estendeu a mão por educação para cumprimentar o mais velho, porém teve a mão puxada para um abraço estranho, no mínimo. Jin repetiu o gesto com Ayane, que sorriu e Tohru, que ficou vermelho. Provavelmente de raiva. Ou vergonha.
– Por favor, sentem-se! – pediu o professor. Enquanto sentavam, Jin continuou – Então, eu quero que me contem de vocês. Quem são, qual o propósito de terem se tornado ninjas, o que mais gostam de fazer, qual é o seu objeto mais valioso... Vamos nos conhecer! Quem começa? Ah, você, o mais fofinho. – ele falou apontando para Kou, que ficou de todas as cores possíveis.
– Ahn... Meu nome é... Sou Kou Mitsukubane... – o genin estava embaraçado – Eu gosto de comer... Hum... Tenho treze anos. Tornei-me um ninja para ser como meu pai, que morreu há doze anos em uma missão, mas foi um verdadeiro herói... Moro com minha mãe e minha irmãzinha de cinco anos... Meu objeto mais valioso é esse colar que estou usando. – terminou, segurando pequeno cristal azul em seu pescoço.
– Comer é incrível... – murmurou Jin, com um olhar vago – Mas sua irmã, ela nasceu depois que seu pai morreu, certo? Eu não entendi muito bem essa parte.
– É que minha mãe, algum tempo depois da morte do meu pai, até começou a se relacionar com um homem vindo de outra vila. Ele prometeu se mudar para cá, mas sumiu assim que descobriu que ela estava grávida.
– Entendo. Ahn, gostei do colar também! – Jin deu um sorriso tão simpático que quase pareceu falso. Na verdade não era – Agora você, loirinha, conte-me seus segredos.
– Bem, eu sou Ayane Harumi. Tenho treze anos também. Minha mãe sempre morou nesta vila, mas foi em uma viagem ao país do fogo que conheceu meu pai, e então eu nasci. Meus pais decidiram voltar para cá depois do meu nascimento e até hoje trabalham em uma pequena loja de Ramen aqui em Kumo. Tornei-me uma ninja para provar que uma mulher pode ser tão boa nisso quando um homem e meu objeto mais valioso é a minha bandana, que está em minha família há três gerações.
– Ainda duvidas de que mulheres sejam tão boas? Eu deixei de duvidar faz tempo. Gostei da determinação, pequena. – falou Jin – Agora você, misterioso, se abra conosco, seremos uma família a partir daqui.
– Sou Tohru Kurosawa. – começou – Tenho quatorze. Gosto de escrever. Meu objeto mais valioso é este di... Ahn... livro. Tornei-me ninja para descobriu meu propósito e não levo jeito com as pessoas... Eu sou meio... Hum... Tímido.
Aquilo realmente surpreendeu a todos. Era engraçada a ideia de um armário como Tohru ser, na verdade, um garoto tímido. O silêncio que se formou após isso foi quebrado pelo jounin.
– Vocês são uma equipe equilibrada. Aprenderemos muito juntos. Como já disse, meu nome é Jin, tenho vinte e três anos, não tenho esposa ou filhos. Não nasci dessa vila, na verdade, vim do país do fogo, assim como a Ayane. Meus pais ainda moram lá. Gosto de olhar as montanhas e não tenho um objeto mais valioso. Acho que é só. Vocês têm alguma pergunta?
– Ahn, você... é gay? – Tohru perguntou. Ayame tapou o riso com as mãos, Kou corou. Jin apenas riu.
– Não, esse é só meu jeito mesmo. Bom, quem está com fome? Aqui na vila tem uma loja de Ramen ótima, dos pais de uma aluna minha. Alguém topa? É por minha conta!
Todos riram. Até Tohru sorriu um pouco.
– Então vamos nos divertir hoje porque amanhã começam os trabalhos! Marcamos o horário do primeiro treino mais tarde. Agora vamos, não quero encontrar o lugar muito cheio.
E os três deixaram o telhado.