“Acabamos o treino no início da tarde. Não era possível ver uma parte sequer do céu azul... As nuvens estavam por todo ele. Mesmo assim, o clima estava agradável. Olhei para o lado e vi Ayane, caminhando comigo, segurando a ferida do braço esquerdo com sua outra mão. Era uma cena, no mínimo, aflitiva. Aproximei-me e apliquei o Pacchi no Jutsu pela oitava vez naquele dia. Tohru também estava machucado, mas disse que estava tudo bem quanto tentei ajudá-lo. Ver meus companheiros assim mexia de uma maneira inexplicável comigo. Decidi levá-los então à ninja médica mais incrível que já existiu para mim: minha mãe."
– Eu disse que kunais são perigosas! – comentou Yumi, com o rosto apoiado em suas bochechas, olhando minha mãe analisar is ferimentos. Estavam todos sentados à mesa da cozinha. Então Kou começou as apresentações.
– Bom, esses aqui são Ayane e Tohru, meus companheiros de equipe, e este é Jin, meu sensei. – o genin esperou que todos se cumprimentassem e prosseguiu – E elas são as de quem eu tanto falo: minha mãe, Yukiko e minha irmã caçula, Yumi.
– Ah, então você é a Ayane! Meu filho fala muito...
– Mãe! – exclamou Kou, vermelho. Ele olhou para a kunoichi de cabelos loiros, com receio de sua reação, mas ela estava sorrindo, o que o deixou mais aliviado.
– Bom, seu filho é muito gentil. E tenho certeza de que será um grande ninja. – comentou o Jin, sentado ao lado de Yumi, que o olhava curiosa.
– Meu Kou é a coisa mais valiosa que tenho. – disse Yukiko. A voz dela saiu serena, firme. Aquilo fez Kou sorrir. Terminando de olhar os ferimentos, falou – São simples, nada demais. Kanji, meu falecido marido, aparecia com alguns desses todos os dias. Era comum – sorriu. Yukiko prendeu seus longos cabelos em um rabo de cavalo, foi até um dos armários da cozinha e pegou uma pequena caixa branca. Arregaçou as mangas, se preparou e começou. Suas mãos adquiriram uma luz esverdeada. A primeira foi Ayane. Era possível ver o alívio no rosto da genin. Após terminar, enfaixou e foi cuidar de Tohru. Curou suas mãos bem rápido. Nem foram necessárias ataduras.
– E você, meu querido? – perguntou a mãe.
– Eu não me feri, mãe. Estou bem. – respondeu o genin.
O Time 9 permaneceu na casa de Kou para almoçar. Depois o trio subiu para o quarto, junto com a pequena Yumi. Yukiko e Jin ficaram conersando lá em baixo.
– Então, qual é a história do seu marido, que move esse menino, huh? – perguntou o sensei, ajudando com a louça.
– Foi a doze anos. O pai de Kou foi em uma missão de espionagem, numa antiga vila produtora de tabaco. Conseguiu descobrir os planos por trás de um ataque e salvou quase todos os que moravam lá. Mas a vila foi pelos ares, sem que ele tivesse tempo de sair – explicou a mulher, com lágrimas começando a se formar em seus olhos. Ela foi até a sala, mexeu em algumas gavetas e pegou uma foto – Este era meu Kanji. Com Kou no colo. Nós tiramos essa foto um mês antes de... Antes de acontecer.
– Espera. Foi aquela vila ao sul? Aquela que foi transformada em um memorial?
– Creio que sim, mas, por que a pergunta? – indagou Yukiko.
– Porque se for, creio eu dever minha vida e a de meus pais a ele. – Jin começou a lembrar – Quando eu tinha apenas onze anos, viaja com meus pais, que são comerciantes, algumas vezes em busca de materiais e itens de venda. Uma de nossas paradas foi nessa vila, estou começando a me lembrar. Era noite, uma noite bem fria, para dizer a verdade. Estávamos no quarto, trancados, com medo, meus pais e eu. Dava para se ouvir o barulho dos homens que estavam a vandalizar e atacar a vila. Mas o ataque cessou por um tempo. De madrugada, só lembro-me de ter visto um ninja, era o seu Kanji, arrombar a porta e dizer que tínhamos que sair imediatamente. A explosão nos atingiu, mas não foi letal, pois já estávamos longe a essa altura. Mas o ninja sumiu em uma nuvem de fumo.
Os olhos de Yukiko estavam brilhando, emocionados, enquanto ela ouvia o relado do jounin. Suas mãos apertavam a foto contra o peito.
– Meu Kanji... – ela sussurrou.
***
Quando a noite chegou, o grupo resolveu visitar a loja de Lamen da família Harumi. Entraram no ambiente: Por todo o teto havia algumas lamparinas azuis com desenhos de tigres, e pelas paredes, algumas serpentinas de mesma cor. O balcão, as mesas e as cadeiras eram feitas de madeira polida, sendo estas ultimas forradas com um estofado que as deixavam confortáveis. O lugar cheirava agradavelmente bem, e provocava tanto os sentidos de Kou quanto ao paladar que ele já não podia nem se concentrar mais. Sentaram-se todos em uma das mesinhas e esperaram até que um senhor ainda novo – devia ter uns trinta e poucos anos – começasse a anotar seus pedidos.
–
Irashaimasse! – saudou o senhor – Ah, minha filha, vejo que trouxe o seu grupo aqui novamente! Isso me deixa muito feliz! Perdoem-me por não ter me apresentado antes. Meu nome é Yoshito Harumi. Podem pedir o que quiserem, é por conta da casa.
– Não, senhor, você já nos livrou da conta da última vez. Por favor, deixe-me pagar ou não serei um homem honrado – falou Jin-sensei, fazendo um pouco de drama.
– Se assim prefere. O que vão querer?
Kou olhou aquele cardápio com os mais variados tipos de Lamen que já tinha visto, com diferentes acompanhamentos, carnes e tudo mais que fazia seu estômago roncar.
– Quero um
Misso Lamen! – concluiu o garoto.
– Eu vou querer um
Shio Lamen, papai. – disse Ayane.
– Ahn... – soltou Jin, coçando o queixo – Acho que vou querer um
Tonkotsu Lamen. E você, Tohru? Vai querer um também?
Tohru balançou a cabeça positivamente.
– Muito bem! Já trago! ¬– disse Yoshito. Antes de girar os calcanhares e sair em direção à cozinha, ele viu que Jin o chamava com o indicador, então se inclinou e encostou seu ouvido próximo a boca do jounin, que murmurou algumas coisas. Confirmou com a cabeça, sorrindo, depois saiu. Ele era um homem de estatura mediana, tão loiro quanto Ayane, mas seus olhos eram negros. Voltou em pouco tempo, surpreendentemente trazendo todos os pedidos.
–
Misso para o pequeno,
Shio para minha filhota,
Tonkotsu para os dois cavalheiros e o outro pedido – Falou, colocando as tigelas em frente aos seus respectivos devoradores e colocando também algumas garrafinhas perto do sensei.
Sakê.Eles conversaram bastante enquanto comiam. Sobre o qual melhor podiam ter ido no treino, sobre suas histórias mais engraçadas, sobre suas famílias... E Jin-sensei esvaziando cada vez mais garrafinhas daquela bebida. Pouco depois o trio já estava satisfeito e seu sensei, completamente bêbado.
–
Porr favvorr, minhass coisas lindas, essperemm aqui que eu vvou paggar a conta, tá leggal? – e levantou cambaleando até o balcão, onde parou ao lado de um homem alto e sisudo que estava ali por perto sentado. –
Eeu qqueria a connta, por favvor. Oi, gracinhaa, é a prrimeira vvezz que eu te vejjo aqui...– O sensei cantou um homem? – perguntou Ayane, com os olhos arregalados, aos outros que estavam ali na mesa. Kou e Tohru estavam tão chocados quanto ela. Precisaram agir rápido quando o homem começou a se irritar e levantou do banco.
– Ahn, mil desculpas, é que o nosso sensei bebeu um pouco, ele nem age assim normalmente... – começou Kou.
– Olha, na verdade, age sim – parafraseou Tohru.
– Não tá ajudando, Tohru! – sussurrou Ayane. Ela pegou o sensei pela mão e o conduziu para fora do local como se fosse uma criança. Jin não falava mais coisa com coisa.
–
E enttão, meus bebêss, quanddo a gennte começa a brinnccar?– Precisamos levá-lo para casa... – disse Tohru.
– Mass olhaa lá aquelle cacchorrinho, que coisaa maiss lindaa!– Alguém pelo menos sabe onde é a casa dele? – Perguntou Kou.
– Não. – responderam os outros dois.
– Andaa comigo ver os avviõess, levantarr voo...– É melhor eu levá-lo para minha casa. Lá minha mãe vai saber o que fazer.
– Ótimo. Consegue arrastar o sensei sozinho? – indagou Ayane.
– Sim. Fiquem tranquilos. – e Kou começou a puxar seu sensei pela manga da jaqueta.
Chegando a casa, Yukiko amparou o jounin.
– O que houve? – perguntou, enquanto colocava Jin sentado no sofá.
– Ele bebeu um pouco além da conta...
– E vai passar a noi... – A mãe de Kou parou de falar quando Jin a beijou. Ela o empurrou, fazendo-o cair no chão. Estava aparentemente sem graça.
– Kou, querido, ele está muito bêbado. Vou fazer uma cama para ele no seu quarto e você o leva, está bem?
– Sim, mãe. – e Kou se aproximou do seu sensei caído. Ele havia pegado no sono ali mesmo, do jeito que caiu.
O genin arrastou seu professor escada acima, praticamente o jogou na cama que sua mãe tinha feito e o deixou lá, perdido em seus devaneios alcoólicos.