O dia começou como outro qualquer. Nublado, enuviado e frio. Kimura acordou com uma imensa preguiça, mas assim que verificou as horas, viu que estava atrasado mais uma vez. Havia deixado alguns treinos pendentes logo após o torneio gennin. Queria descansar um pouco dos combates frenéticos que participara. Entretanto, lembrou-se de todas as dificuldades que teve no evento e percebeu que, mesmo conseguindo bons resultados, não deixaria seu ego impedir seu progresso como ninja. Assim, vestiu-se com rapidez, comeu o que restara da janta do dia anterior, já que todos de sua casa ainda dormiam, e alongou-se fora do portão da frente de sua casa para iniciar a longa corrida até o seu distante campo de treinamento. Os raios de sol mal podiam ser vistos no céu escuro e lá ia o garoto atravessando as ruas com passadas largas e compassadas.

Sua respiração coordenada ecoava nas ruas desertas e seu corpo, já acostumado ao trabalho duro, começava a ganhar pique e aquecê-lo para as atividades vindouras. Então, ainda em velocidade, decidiu por desafiar a gravidade quando notou ao longe cerca de seis sacos de arroz empilhados que somavam seis metros à frente de um comércio. Aumentando a velocidade ainda mais, em rápidos shunshins, ele focalizava chakra nas solas dos pés para a manobra arriscada. Então, no exato momento, efetuou um pequeno salto e grudou o pé esquerdo no segundo saco de arroz. Utilizando-o como apoio, arremessou-se sobre o último saco de cereais, agora utilizando ambas as mãos para girar por cima e atravessar o alto obstáculo com rapidez. Seus pés deram um giro espetacular e logo retornavam ao chão, onde continuou a corrida num só movimento.

Adentrando na floresta, concentrou mais chakra nos pés e pernas. Sua precisão estava bem melhor. Estranhou essa melhora quando deu mais um grande salto entre as árvores, onde fincou seus pés nos grossos galhos da árvore mais próxima, começando a saltitar de um lado para o outro, para cima e para baixo, procurando sempre fixar bem os pés para ganhar velocidade e distância até que, após os cinco mil metros de exaustivos exercícios de agilidade, enfim chegou ao destino, saindo dentre os arbustos numa grande pirueta até a sombra da frondosa árvore a qual sempre descansava. Ofegante, depositou a mochila no chão e sentou-se para ganhar fôlego pensando no que fazer na próxima meia-hora de treino. Olhou em volta e não ficou surpreso quando percebeu que seu mestre não estava lá.

Não o via desde a final do torneio. Mas, como sempre, estava tudo vazio. - Perfeito. - Sussurrou com tristeza. Entretanto, assim poderia concentrar-se no que pretendia fazer. Ficando numa postura ereta, elevou os braços para frente e deixou-se cair até que seus braços que se enrijeceram exercendo força contrária, o que impediu sua queda, logo ficando em posição de fazer as flexões. Iniciando o exercício, Kimura subia e descia lentamente a fim de aumentar a dificuldade do exercício. Seus músculos contraíam e relaxavam utilizando suas fibras para elevá-lo e após descendia quase tocando no chão, até que repetia o movimento. Isso continuou por mais cinquenta vezes, quando fez um pequeno intervalo para repousar e logo recomeçou a segunda e última sessão de cinquenta flexões. Sentia-se bem. Apesar de intenso, sentia que seu corpo correspondia.

Assim, terminando a segunda série de flexões, o garoto se dirigiu até a frondosa árvore, onde concentrou seu chakra na sola dos pés mais uma vez e começou a subir em seu tronco vagarosamente. Seus movimentos eram lentos, o que aumentava sua dificuldade em controlar seu chakra, pois exigiam maior atenção nas variações de ângulo que seu corpo na horizontal exigia. Além disso, a força que utilizava para manter-se incomodava na frequência de sua respiração. Mesmo assim, com o abdome totalmente contraído em esforço para mantê-lo naquela posição incomoda, Kimura subia firmemente pelo tronco. Cada passo parecia uma eternidade para o garoto ansioso por treino. Primeiro passo, segundo e terceiro. Seu controle de chakra estava preciso e afiado, pois não sentiu nenhuma variação perigosa capaz de fazê-lo cair.

Então, ao chegar aos pés do galho que escolhera, mudou a posição abruptamente. Agora aumentava o foco de seu chakra para manter-se de ponta-cabeça, caminhando até a metade do galho, onde parou e cruzou os braços sobre o peito, começando a fazer abdominais, forçando o corpo para elevar-se até quase encostar a testa na madeira, e assim treinaria sua força e elasticidade na tensão de alguma possibilidade de queda. E lá ia ele, em movimentos compassados, elevava-se pressionando os músculos abdominais enquanto se preocupara em enviar o fluxo de chakra para a região. Sentia o calor invadir seu corpo, e sua respiração ofegante já o avisava que estava atingindo o limite. Mesmo assim, continuou o exercício até atingir as quarenta abdominais da primeira sessão. Então, quando as terminou após forte gemido, Kimura aguardou por mais cinco minutos, quando recomeçou o exercício.

Agora, como ele estava desgastado, as abdominais já exigiam grande esforço. Seu suor pingava ao solo e seus gemidos se tornaram mais frequentes. Subindo e descendo, o garoto só pensava em continuar. Sempre fora teimoso, principalmente quando se tratava de treinos, então, quando faltavam apenas três abdominais para terminar a sessão, distraiu-se com uma revoada de pássaros e perdeu o controle de fluxo de chakra. Seu vacilo o fez desprender-se do galho numa queda iminente e sem chance para impedi-la. Entretanto, para sua sorte, o galho tinha uma altura relativamente baixa, e como não houve tempo para aprumar o corpo e cair de pé, restando-lhe apenas proteger a cabeça para não causar grandes danos.

A queda foi rápida. Suas costas e nuca bateram forte no chão, arrancando gemidos de dor no rapaz, que percebeu na hora que havia distendido algum músculo lombar, pois teve dificuldades em levantar. - Droga! E agora?! - Reclamava Kimura arrastando-se para encostar-se ao tronco onde retirou água da mochila e bebeu em meio a suspiros. Olhando em volta, percebeu que ainda teria algumas horas para poder almoçar. Contudo, resolvendo poupar-se para treinar mais tarde, comeu um rápido lanche e se deitou, aguardando a dor passar. Acabou por cochilar por algumas horas, preocupado com o que faria na parte da tarde. Estava enjoado dos seus exercícios repetitivos, então se comprometeu a fazer algo divertido, que nunca fizera antes.

- Hummm... Acho que dá para fazer alguma coisa. - Falou consigo enquanto retirava seu travesseiro da mochila, aproveitando a brisa gelada para se recolher à sombra da árvore.

Três horas mais tarde...

- Olha só, o pirralho virou chunnin. Mas continua franzino. - Brincou Chino ao sair das folhagens.
- Pensei que não viria, meu velho. Mas chegou tarde. Já me machuquei. - Respondeu o garoto, acordando no susto.
- Mas e meu almoço, onde está? Esqueceu-se do nosso acordo? - Disse com sarcasmo ao revirar a mochila.
- Aqui está velho, agora vai comer e não enche o saco. - Retrucou Kimura, fazendo careta de dor.

O homem então se aproximou e sem dizer qualquer palavra, avançou sobre a vasilha que Kimura acabara de tirar da mochila, comendo rapidamente tudo que tinha lá. Parecia que ele não comia por semanas e estava fedendo a saquê como nunca. O garoto ainda tentou dormir, afinal, como seu mestre aparecera, seu treino seria muito pesado a partir de agora. Entretanto, seu mestre lhe confessou algo que lhe deixou surpreso. Ele havia saído para se lavar, mas depois que retornou do lago, sentou-se ao lado de seu pupilo e percebeu o tabuleiro de shogi guardado na mochila aberta. - Eu costumava jogar isso aí. - Comentou com arrogância. - E você, garoto? Sabe jogar? - Completou.

Kimura notou o tom desafiador de seu mestre e confiante de sua perícia no jogo, aceitou o desafio sem pestanejar. Entretanto, um comentário de seu mestre lhe deixou preocupado. - Mas se formos jogar. Terá que ser no estilo Toguro. - Disse. Aquilo não lhe soou familiar. Nunca tinha ouvido falar desse estilo, mas seu orgulho o fez concordar sem pensar. E enquanto se esforçava para sentar-se e arrumar o tabuleiro, sorria confiante de que, o que quer que signifique o Estilo Toguro, estaria pronto para enfrentar. Então, sem esperar mais nada, iniciou o jogo movimentando o primeiro peão da esquerda, levando-o para a próxima casa à frente. Seu mestre gargalhou e apenas moveu o peão na diagonal de seu General de Ouro.

Kimura não se abateu e levou mais um peão à frente, começando a criar uma espécie de barreira em frente ao seu General de Prata, levando seu lanceiro à frente, pois achava que o primeiro ataque não viria de lá. "Apenas um engodo." - Sorria em pensamento ao olhar para o seu Bispo, pronto para capturar qualquer investida de seu lado mais frágil. E foi o que aconteceu. Chino, como um amador, investiu contra o lado "frágil" com o seu Bispo, capturando o Lanceiro no caminho, interrompendo o seu avanço, deixando uma pequena abertura na defesa inimiga. Kimura estava extasiado. O velho era muito fraco. E assim, confiante, trouxe seu Bispo até o Lanceiro, capturando-o. "Peguei-te velhote." - Pensava. Mas, dando de ombros, Chino levou o seu outro Bispo até o Rei, encerrando a partida.

Kimura perdera facilmente. O garoto estava furioso, pois pensava que já tinha ganhado, e assim, subestimou o inimigo. - Vamos lá, hora do pagamento. Levante-se. - Sorriu o velho ao se levantar. Sem entender, Kimura levantou-se e viu seu mestre investir com um forte soco em direção ao seu estômago. Surpreso, o chunnin levantou o braço esquerdo e em seguida o direito com uma rapidez incrível. Kimura bloqueou os dois golpes, em dois estalos ardidos. Sem parar, o velho já girava e lhe atentava o ombro no seu peito com muita velocidade. Kimura girou o corpo e agachou-se num fortíssimo rodopio, chicoteando sua perna esquerda num rápido chute rasteiro. Jogando o corpo para frente, numa cambalhota aérea, Chino escapou do golpe, mas logo foi alvejado por uma rápida repetição de dois murros, uma joelhada ascendente, terminando com uma fortíssima cotovelada na têmpora.

Chino admirou-se com a rapidez do garoto e, com a expressão de que não estava entendendo, elevou a perna, acertando o peito de Kimura, impedindo seu avanço. O garoto foi projetado por alguns metros, mas não caiu. A dor era forte. Com dificuldade de respirar, ele via seu mestre retornar à lateral do tabuleiro e sorrir. Só então entendeu como era o Estilo Toguro do Shogi. Quem perdesse a partida, levaria um golpe. E pelo jeito, jogariam até que um deles não pudesse se levantar. - Que estilo perigoso, sensei. - Reclamava enquanto ainda passava a mão no hematoma. Chino estava sorridente, e não lhe respondeu, apenas recomeçou a colocar as peças em seus devidos lugares.

Dessa vez o garoto estava decidido a vingar-se. E com as peças em seus devidos lugares, foi a vez do mestre Chino começar. Com sua boca desdentada à mostra, ele moveu a sua torre até a linha dos peões, aguardando o movimento do garoto. Kimura o imitou, levando o seu bispo à mesma distância. Então Chino sorriu, levando a mão até o primeiro peão em frente à torre, adiantando-o e então liberando o caminho para a torre em dois movimentos. Kimura não se intimidou e adiantou sua linha de peões. Logo os ataques mútuos começaram. Peão por peão, os dois pareciam não se importar com estratégia, abrindo todo o tabuleiro. Então, Chino avançou com seu último bispo em direção ao rei de Kimura.

Reagindo de forma estratega, Kimura utilizou sua última linha de peões em seu favor e guiou seu rei em segurança até ter a cobertura, mas então percebeu que havia procurado a própria derrota, pois agora, seu rei estava preso entre o final do tabuleiro e a linha de peões, o que deixava a última torre de Chino livre para encerrar a partida. "Droga! Preciso fazer alguma coisa." - Pensou rapidamente.

- Nossa, quem é aquela garota tomando banho pelada no riacho? - Disse disfarçadamente.

O velho safado nem respondeu. E como esperado, desviou sua atenção do tabuleiro, procurando uma moça imaginária. Foi o suficiente para Kimura concentrar seu chakra no cérebro e fazer alguns rápidos e silenciosos selos, enviando chakra para a mente de seu sensei, e assim criando uma ilusão que existia um cavalo entre a sua torre e o inexpugnável fim. Chino ainda demorou alguns segundos até perguntar onde ela estava. - Acho que me enganei. - Respondeu inocentemente, certo de que seu plano ocorrera como desejado. Logo, Chino olhou o tabuleiro e coçou a cabeça como se não estivesse entendendo como havia deixado de perceber tal peça, mas, mesmo assim, continuou de maneira diferente. Agora, ele mudara de lado para causar baixas noutro setor, tentando eliminar a linha de peões que protegia o rei do garoto, Chino enviou seu último bispo num ataque suicida.

Kimura demorou alguns segundos para entender o que ele queria com aquele movimento precipitado. Ele coçou o queixo e, olhando todo o tabuleiro, Kimura viu que, bem afastado, onde as últimas peças inimigas estavam agrupadas, havia um lanceiro, o qual quase se passou despercebido, mas pronto para ocupar a "casa" do seu bispo que deveria ser abatido pelo rei de Kimura. O velho torcia em silêncio e com ansiedade. O Chunnin também estava nervoso, pois precisava dar algo em troca para que o rei de Chino ficasse descoberto, então, em sua jogada, retornou seu cavalo e capturou o bispo. Chino fez uma careta, levando seu lanceiro em direção ao cavalo. Entretanto, o que ele não vira, é que o último bispo de Kimura agora tinha caminho livre para abater seu rei.

E num rápido movimento, Kimura levou seu bispo diagonalmente até o rei de Chino, que assustado, ainda tentou voltar toda jogada, mas era muito tarde. - Essa não valeu! - Gritou o velho, momentos antes que o Chunnin fizesse alguns selos ao concentrar chakra novamente no cérebro, e num genjutsu dekoi, criou a ilusão que giraria sua perna esquerda em direção à têmpora de seu sensei. Chino então levantou os antebraços aguardando o golpe, mas logo foi atingido por um fortíssimo e deselegante chute nas gônadas. O estalo ardido causou náuseas até mesmo em Kimura, pois havia acertado em cheio o local mais sensível para um homem. Chino gritou alto e levou as mãos ao local, deitando-se pesadamente num gemido horroroso, até que começou a se arrastar a sua garrafa de saquê, onde a procurou agonizante e quando a encontrou, tomou grande gole para tentar esquecer-se da dor.

- Você venceu! Eu desisto! - Gritava ao longe, ainda sofrendo de terríveis dores subsequentes. Kimura não se aguentou e começou a gargalhar, afinal, seria a primeira vez em que Chino reconhecera a derrota, e isso tinha lhe causava um gosto adocicado na boca. Agora, tudo estava dando certo. Foi a primeira vez em que começou a sentir-se verdadeiramente forte.

Avaliação de Kimura Endo:

HN:
Ninjutsu: 32,25
Taijutsu: 26,5+0,25=27
Kenjutsu: 28,25
Genjutsu: 11+0,5=11,5
Selos: 12,5+0,5=13
Trabalho de Equipa: 5,75

HC:
Força: 22,25+0,75=23
Agilidade: 28,5+0,75=29,25
Controlo de Chakra: 37+1,25=38,25
Raciocínio: 10+0,5=10,5
Constituição: 31+0,5=31,5

Total avaliado: 5/5
Total de Habs: 224,75+5=229,75

Comentários: O habitual sobrinho, um bom treino onde a tua pontuação deu certeiramente o 5. Devido à descrição do jogo de Shouji acabaste por nos dar muita palha, mas boa para te aumentar em raciocínio que tanto precisas . Treina para logo, logo virares Jounnin e quem sabem enfrentares o criador do teu Doujutsu para que assim eu mostre-te como é que se derrota o Kashikogan D:

Atualizado ^^

Tsutao escreveu:

Treina para logo, logo virares Jounnin e quem sabem enfrentares o criador do teu Doujutsu para que assim eu mostre-te como é que se derrota o Kashikogan D:

#medo.

Uma dúvida Tio: Como não tinha atingido os 250 no somatório das Habs, este treino teria que valer até 6, certo? Bom, isto de alguma maneira mudaria a minha avaliação? Tipo, mais pontos distribuidos [vide: Raciocínio ]?

Yup, tens razão, ainda não estou muito habituado a essa regra x). É pena é que o treino tenha-te dado mesmo 5 pontos certeiros, já não te posso ajudar aí D: