Tentei mentalizar-me do que ele ia fazer. A sério que me ia atacar? Apetecia-me rir. Mas a medida que ele se aproximava de mim, a imagem do meu pai aparecia-me a frente. E ai o medo começou a apoderar-se da minha pessoa e a roubar-me as forças que me permitiriam agir. Acabei por cair no chão molhado, de costas. Em cima de pedras, estava eu deitada de olhos fechados. Abri-os rapidamente quando senti a kunai fria no meu pescoço. Voltei a ver a figura do meu pai, mas eu sabia que não era real, certo?
- Ishi, parece que eu não completei o trabalho. - Ele sorria-me com os seus lábios curvados num sorriso nojento e que eu odiava tanto. Eu odiava-o.
Eu comecei a gritar de medo e a tentar afastar-me mas não podia.
- Deixa-me em paz, pai. Deixa-me! – Dei-lhe murros e tudo, mas nada. Nada o fazia desaparecer.
E de repente a imagem do rapaz voltou a aparecer. Arregalei os olhos assustada, e olhei para todos os lados à procura do meu pai. Onde é que ele tinha ido? Senti-me a suar, mas um suor frio. Principalmente nas palmas das minhas mãos. Quando dei por mim, tinha o rapaz a olhar-me friamente, mas confuso. A minha respiração estava demasiado acelerada e eu estava em entrar em pânico. Ele afastou-se de mim, como por pena talvez, e eu sentei-me e comecei a recuar cravando as unhas na terra fria e húmida.
A cara do rapaz tinha alguns hematomas. E eu, no pescoço, um fio de sangue a escorrer-me pelo peito. Mas, com tal chuva, não se notava muito.
- Eu não sou o teu pai, nem mesmo a tua mãe! - Ele levantou-se, apontando-lhe a kunai de um modo agressivo. Enquanto ele falava, da sua boca saia uma névoa branca e as pontas dos seus cabelos pingavam a chuva fria.
O aroma da floresta era agradável, e o cheiro da terra molhada ainda melhor o completava. Algumas flores pequeníssimas tentavam debater-se entre as pingas de águas enormes para as suas capacidades de as aguentar e de morrerem.
Antes de lhe disparar as respostas que eu tinha na ponta da língua, verifiquei o meu corpo. Tinha alguns arranhões nas pernas e nos braços, o corte no pescoço e as costas doiam-me imenso. Ainda a respirar ofegantemente, olhei para ele e observei-o.
- Eu sei que não és nenhum deles. - Mas e se ele usasse um jutsu qualquer para se transformar neles? Se calhar não mas também não ganharia nada com isso, não é?
- Tu és louca! - Ele argumentou, passando a mão pelo cabelo encharcado.
E o meu humor estava de volta. - E é por ti. - Tornei a minha expressão sarcástica.
- Estou a falar a sério. Precisas é de um médico! - Virou-se de costas para ela. - Porque raio me meti nisto! - Levou as mãos ao rosto.
Eu tinha ouvido bem? Franzi os lábios e ergui as sobrancelhas. Levantei-me. - Nisto, o quê?
Ele virou-se para mim e expirou bastante ar. - Não te lembras de mim, pois não?!
- O quê?! - Reagi perante tal situação. Não me lembro dele? Nunca o tinha visto mais gordo na minha vida, quanto mais! Ele metia-me medo. Comecei a afastar-me devagar.
- Ishi, espera! - Já eu tinha começado a correr pela floresta a dentro, pisando animais pequeninínhos, enterrando os meus pés na terra encharcada e levando com galhos de árvores pequenas na cabeça e, por fim, tentando controlar o medo que sentia enquanto fugia. Após um tempo nunca mais o senti atrás de mim. A floresta estava mais escura que eu sei lá o quê. Parei e rodei os calcanhares à sua procura. Não via ninguém, se calhar tinha desistido... Mas quem era ele, afinal?
Ia-me a virar para seguir caminho quando ele me apareceu à frente. Eu com a surpresa cai no chão e aleijei-me mais nas costas. Soltei um gemido de dor.
- Por favor, para quieta. - Revirou os olhos.
Tentei levantar-me e resmungar mas as costas doíam-me imenso. Por isso, nada podia fazer. Deixei-me estar.
- Vou tratar de ti e... É isso. - Pegou em mim ao colo com cuidado e começou a levar-me.
Eu não sabia se podia confiar. Não sabia, mas sentia que sim. E naquele momento, nada podia fazer. Olhei para cima e senti a chuva a começar a cair mais fortemente. Conseguia ver todos os pingos a atingirem-me. Conseguia ver a escuridão escondida por debaixo das folhas enormes das árvores musgosas e qualquer sinal de nevoeiro que subia o mais alto possível. Sentia o seu olhar em mim. Mas não olhei para ele, fechei os olhos e pensei no que ele tinha dito: Tu és louca!

Tínhamos chegado a uma cabana bem arranjada na profundidade da floresta, observei com os olhos meio fechados. Ele com um pé abriu a porta e eu comecei a sentir um calor a aquecer-me a pele e o cheiro a comida também. Abri os olhos e isso foi quando ele me deitou numa cama. Mas ele não viu. Fechei os olhos outra vez quando ele se aproximou. Passou-me um pano seco pela minha pele descoberta molhada e meteu-me, acho que, musgo nas feridas. Tirou-me as sandálias e limpou-me os pés. Óbvio que ele não me ia despir. Tapou-me com um lençol e eu mexi-me para me ajeitar com o lençol. O calor que eu sentira e sentia vinha de uma pequena fogueira de algo parecido com uma lareira. E a comida fervilhava num panelão preto debaixo do fogo. Ele sentou-se na cadeira e suspirou. Eu fechei os olhos. Ele ainda não percebera que eu estava acordada. Tinha muita técnica em fingir-me a dormir. Eu só queria descobrir o que raio tinha ele querido dizer com "porque me meti nisto" e ir-me embora. Não queria ficar ali. Quero ir-me embora e descobrir aquilo do pergaminho.
- Seis. Se ela soubesse... São seis e ela é um deles. - Comentou. Franzi as sobrancelhas.
Queria saltar da cama e enfrentar aquilo. Mas de que raio ele falava! O meu corpo estava cansado e eu, mentalmente, também. Foi ai que eu senti o sono chegar. E não pude fazer nada para parar isso. Adormeci.