Uma luz forte iluminava a janela traseira da mansão dos Matsuri revelando a sala de jantar onde toda a família se reunia, os pais jantando contentes e Zehel e Ykarus com os seus talheres já pousados após desfrutarem de uma boa refeição.
- Obrigado pela comida! - exclamavam os dois sorrindo e inclinando-se num gesto de agradecimento aos dois adultos. Pegando o rapaz pela mão Ykarus puxava o seu companheiro para o jardim da casa pedindo lhe que ficasse com ela a ver as estrelas naquela rara noite limpa em kirigakure no sato. Uma paz estranha reinava no ar da vila, tal como a calma que antecede uma tempestade no mar, algo ia acontecer, o kendoca sentia-o no seu corpo, porém ignorava aquele sentimento ficando de mão dada com o seu amor deitados na relva do jardim.
- Está uma noite óptima, parece mentira, esta vila é sempre tão enevoada, temos de aproveitar os momentos que temos assim, não são muito frequentes. - queixava-se a rapariga enroscando-se no peito do rapaz tentando adquirir uma posição confortável para estar.
- Verdade minha paixão, é bastante raro ver uma noite assim tão boa aqui por estas zonas, pudemos ficar aqui a noite toda a admirar as estrelas, não temos pressa nenhuma, o tempo parece que para quando estas noites estreladas nos visitam. - afirmava o rapaz aproveitando o momento romântico. Nada parecia puder interromper aquele momento de felicidade dos dois jovens, o mundo havia parado para eles, todos dormiam, ninguém se movia e tudo estava bem.
Mas infelizmente a realidade não era essa...
- Haaaaa! - exclamava Zehel Matsuri agarrando-se ao seu pulso direito em desespero enquanto a sua marca do cursed seal brilhava em tons alaranjados queimando a pele do rapaz, batendo com o pulso no chão tentando fazer terminar a dor, porém não havia feito sucesso. Em total stress Ykarus tentava acalmar Zehel que estava bastante perturbado com o seu pulso e aquela marca horrível que ele tinha. Uma tatuagem tribal começou-se a espalhar amplamente pelo braço começando a cobri-lo todo de negro enquanto as linhas artísticas lhe atingiam a cabeça, com a respiração ofegante o jovem virou a sua barriga para cima abrindo os seus olhos que lhe ardiam com a marca amaldiçoada a possuí-los de novo.
- Salva-me, por favor Zehel vem ao meu auxílio. - pedia uma voz fraca e roca no meio do sangue todo.
- A... Ashura? - vocalizava o rapaz ainda agarrado ao seu braço que tremia com toda a dor. Que raio de visão era aquela, porque naquele momento, ele apenas queria estar com a sua namorada descansado, porque tinha de acontecer algo assim...
- Despach....- tentava pedir a voz na sua cabeça terminando assim a sua visão partilhada e as suas marcas voltando para a pequena tatuagem circular.
- Está... Está a desaparecer! - exclamou Zehel levantando-se do chão com relativa rapidez ao notar que a marca de Ashura se começava a desvanecer do seu braço. Correu para dentro de casa com bastante pressa pegando rapidamente nas primeiras coisas que chegassem às suas mãos, pôs as armas e o casaco a tapá-las terminando com a mochila nos ombros, despediu-se de Ykarus e dos pais e correu prometendo uma explicação quando voltasse. Nunca as pernas de Zehel se moveram tão rápido como naquele momento, era como se voa-se pelos telhados da vila ao sentir o vento a passar por ele, na verdade nunca tinha tido tanta pressa em todos os seus 16 anos de vida.
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Os ramos batiam na cara de Zehel à medida que este saltava de árvore em árvore para chegar ao local onde o seu clã tinha a sua base. O clima havia mudado totalmente, ali o nevoeiro era imensamente denso e havia uma ligeira poeira no ar, o rapaz sentia-a colar-se-lhe à cara quando este cortava o ar com velocidade. Alcançando o grande rochedo notou logo uma paisagem perturbadora, as árvores estavam tombadas e a ilusão que cobria a entrada não estava mais lá, o cálice onde o sangue era colocado estava bastante visível e a porta de pedra que dava entrada para o hideout estava feita em fanicos.
- Ashura! Cérberus! - gritava o rapaz correndo para dentro do local esperando o pior que dali viesse. O local estava uma miséria, livros destruídos, estantes caídas e tapetes rasgados, tudo apontava para uma luta, parte dos papeis estava chamuscado, outro encharcado, havia traços de pedra mexida por jutsus doton e até o chakra futton era reconhecido nas paredes que apresentavam fissuras enormes. Algo grande se passara ali e aqueles dois ali sozinhos, não tiveram hipótese... Um exército parecia ter passado pela porta e levado tudo à frente. Sprintando mais um pouco de modo a atravessar mais um corredor o rapaz penetrava na escuridão total do lugar andando com passadas rápidas tentando fazer o mínimo barulho. Abriu uma porta rapidamente dando acesso para o laboratório onde o seu familiar trabalhava. Tudo estava revoltado, a mesa virada ao contrário e papeis espalhados no chão, a luz que emanava dos líquidos florescentes, que anteriormente estavam nos balões erlenmeyer, era fantasmagórica e o plano de fundo do chão era vermelho liquido. Ao fundo encostado à parede uma grande bola de pelo jazia imóvel enrolada sobre si mesmo, na parede uma mancha de sangue apontava exactamente para esta indicando que provavelmente tinha embatido contra o maciço rochoso e posteriormente acabando na posição onde estava, tudo aquilo era como se fosse um pesadelo para Zehel que aproximando-se falava com esperança:
-Cer... Cerberus? Por favor não... - falava o rapaz com a voz trémula enquanto estendia a mão para tocar no pêlo negro encharcado de sangue, quando os seus dedos tocaram na massa de pêlo este continuou sem se mover, no entanto Zehel reconhecia aquele cheiro e a pelagem. Começando a agitar o bicho em total desespero o jovem Zetsubõ esperava que o canino estivesse apenas a dormir, aquela invocação que nunca saía do lado de Ashura não havia abandonado o barco, afundando-se com ele até ao último suspiro. O coitado nem forças nem vontade tivera de abandonar aquele local, definindo o como casa o canino ali ficara enrolado no canto onde costumava estar enquanto Ashura trabalhava. Na mente de Zehel as memórias do grande cão a olhar sempre pelo seu dono e sempre brincalhão com o kendoca invadiram toda a sua imaginação, fazendo com que as lágrimas e o choro de pranto surgissem nos olhos e na garganta de Zehel, as coisas nunca mais seriam as mesmas, tudo havia mudado, o seu clã estava a ser caçado. Agarrando-se com força à invocação Zehel despedia-se uma última vez do tão simpático canino que estaria sempre pronto para ajudá-lo se ele assim precisasse. Separando-se da bola de pêlo Dendrobates limpava as lágrimas tendo outra visão horrível ao abrir os olhos, na parede estava algo escrito... a sangue.
" Isto é um aviso Zetsubõ's do mundo, não pensem que foram os únicos a sobreviver à tragédia, atenciosamente..."
Rezava assim a escritura a sangue estando assinada como Hantā no me( ou seja caçador de olhos)
- Eu tenho a certeza que ouvi passos Moori, eu não estou assim tão maluco. - ouvia-se uma voz no corredor a falar para mais alguém, afinal não tinham ainda saído todos os salteadores horrendo ao qual se apelidavam de Hantã no me, no seu luto e choque Zehel agarrara-se de novo ao seu companheiro voltando a chorar pela dor que o seu clã trazia consigo, os problemas que deviam ter existido, e aqueles que estavam agora a começar...
- Espera... - falava um dos homens. - Ora o que temos aqui, mais um rato saiu da toca e agarrou-se a outro inútil! - exclamava o homem dando uma risada em conjunto com o seu companheiro fazendo um duelo de crueldade e de frieza. Nesse momento um riso maléovolo ouviu-se na pequena divisão, o rapaz deixara de chorar e começava-se a rir com uma intensidade simplesmente maléfica, talvez estivesse a endoidecer de vez, um choque daqueles traria qualquer um abaixo e Zehel não era excepção. Num piscar de olhos a cabeça de um dos homens separou-se do corpo sendo sangue projectado contra a face do outro em salpicos deixando-o espantado pelo movimento. A perna de Zehel atingiu o ultimo assassino em pé com a maior raiva possível impulsionando-o de cabeça contra a parede deixando-o bastante atordoado, de novo com uma velocidade aumentada pela raiva e pelo cursed seal que despertava em força cobrindo toda a área do corpo de Zehel, isto dava-lhe uma força e aspecto totalmente aterrador, os olhos do rapaz tornavam-se assutadores sendo a Esclera totalmente negra e a iris apresentava cores azul bastante brilhante sendo que no centro deste olho a sua pupila era agora oval tal e qual como a de um gato, nunca antes tal estado havia despertado no rapaz e ele sentia no seu corpo um poder extraordinário que estava adormecido dentro dele. Encostando a sua mão ao peito do homem fez este rebentar com recurso a um Katon Hakkei, o sangue jorrou por toda a parte sendo misturado com o do canino ao atingir o chão, na parede um externo aberto e cabeça meio desmembrada jaziam lá colados com a força do impacto e da explosão.
- Adeus meu bom amigo... - despedia-se o kendoca permanecendo com aquela forma assustadora enquanto retirava uma das pulseiras de espigões que o cão possuía na pata esquerda.
- Não consigo achar o teu mindinho mas levo isto como promessa que a tua morte será vingada meu companheiro. - prometia este enquanto colocava a pulseira que no seu corpo se transformava em colar devido ás dimensões. - Agora preciso de ser convocado por Ashura. - afirmava Zehel estando totalmente confiante que o seu parente ainda estava vivo uma vez que o cursed seal ainda estava bem vivo nele.
Um novo capítulo abria-se na história do rapaz, um capítulo sangrento onde a vingança seria tudo para ele, não ia deixar o seu clã acabar por ali e a sobrevivência deste dependia de um pequeno grupo de pessoas...