- Citação :
- Episódio I – http://www.narutoportugalrpg.com/t12898-episodio-i-uma-chaga-negra-em-carne-rosada?highlight=uma+chaga
[OST] - https://www.youtube.com/watch?v=oWZajPOrvCI
A noite tombava naquela aldeia como sempre tomba: por cima das árvores e da natureza toda, dos tristes e dos amedrontados que dormem de olhos abertos, formando apenas um jogo de silhuetas próprias de uma aldeia, e deixando sair à rua a treva que vive nos Homens. As estreitas ruas começavam a iluminar-se pela fraca luz das candeias de ferro e o vento soprava-as, fazendo com que dançassem, emitindo sons metálicos que eram levados na silêncio da noite escura. Ali, naquela aldeia, a sina dos homens que vagueavam à noite era a chuva ou, para os mais atrevidos, aqueles que durante a noite rumavam à densa floresta, o farejo vigilante dos lobos cor de prata. O cheiro de sangue fresco era a bênção dos deuses aos lobos que caminham pela floresta, durante a noite. Mas naquela noite nada disso acontecia; não havia chuva, apenas um leve vento gélido; e os lobos não caçavam, apenas perseguiam a lua que traziam nos olhos, uivando de satisfação pela visita da mesma, contra o silêncio da escuridão que se poisava sobre aquela aldeia posta a dormir.
Há sempre quem acorde durante a noite e acabe por descobrir que não sabe onde adormeceu, como se lhe faltassem as peças de um estranho e complexo mosaico. Ou pior, há quem acorde para descobrir que não sabe nada.
[OST] - https://www.youtube.com/watch?v=e1k9E5KXDbM
Abri os olhos daquilo que parecia ter sido um sono de longas horas, lentamente. Os meus olhos foram banhados por uma iluminação fraca e com uma cor morta, virei a cabeça de vagar para o lado e confirmei que a fonte dessa luz pertencia a alguns castiçais colocados pelo quarto. Passei os olhos por todo o quarto onde me encontrava deitado, numa velha cama de madeira que rangia mas tinha lençóis extremamente limpos. Era um quarto revestido com madeira forte de carvalho, o que lhe dava um tom ainda mais morto e obscuro, não tinha mobiliário ou qualquer tipo de adereços e o silêncio ali presente era perturbador. Também não conseguia respirar muito bem; tinha algumas dores de costas e levei dois dedos ao torso nu para me certificar que as minhas costelas não estavam partidas, tentei mexer os pés descobertos pelo lençol e vi que estavam ambos ligados com ligaduras limpas.
Foi apenas quando ergui os olhos para os pés da cama que notei que eu não estava sozinho naquele quarto desconhecido. Sentado numa cadeira, estava um homem que me observava com um olhar verde e penetrante, sério e vigilante. Ele esteve ali o tempo todo, sereno e silencioso.
O homem, que aparentava ter pelo menos uns trinta anos, tinha negros cabelos longos que lhe chegavam ao peito, usava uma mascara azul escura que lhe tapava parcialmente o rosto, deixando apenas os olhos que brilhavam de uma forma desconfortante, como duas esmeraldas, usava um colete Jounnin verde-escuro que dava contraste á sua pele morena.
Entreolhamo-nos durante o que pareceram dois longos minutos, aquele silêncio começava a deixar-me tenso e o olhar feroz, como o de um tigre lendário, parecia querer engolir a minha alma inteira. Quem quer que fosse, estava sem qualquer tipo de identificação, o que me assustou ainda mais; afinal eu poderia ter ido parar às mãos de qualquer um: fosse ele bondoso, maníaco, assassino, psicótico ou clemente, eu estava à mercê de um destino sombrio.
- Quem és e de onde vens? – Perguntou o homem, quebrando o silêncio com a agilidade da língua. À primeira vista, pensei que aquelas palavras haviam sido proferidas num dialecto que desconhecia, mas logo compreendi que estava errado.
Foi logo depois de ouvir tais perguntas que o meu coração palpitou de uma forma instantânea, percebi que era incapaz de dar qualquer resposta, as minhas memórias haviam sido substituídas por um clarão branco como uma folha de papel. Na minha cabeça não havia traço algum do que ali fazia, ou pior, de quem eu mesmo era.
Hesitei por longos segundos, tentei abrir a boca para dar uma resposta, mas sem sucesso, não é que a língua travasse, era o cérebro que não comunicava comigo.
- Não sei, não faço ideia! – Acabei por responder, sinceramente. A resposta apenas tornou aquele olhar verde ainda mais intenso e severo, o que me deixava cada vez mais desconfortável, quase à beira de um ataque de pânico.
- Não tentes entrar em jogos psicológicos comigo, forasteiro… - avisou, a clara voz. Não tinha ideia alguma de porque razão me chamara forasteiro, mas isso era o que menos importava.
- Farte-ei esta pergunta mais uma vez: Quem és... e de one vens? - tornou ele a dizer, entre pausas, como se tentasse manter a calma. O pânico continuava a aumentar dentro de mim, o meu estômago apertava-se lá dentro, comecei a soar frio e o meu coração batia tão forte que me fazia doer violentamente a garganta, causando-me falta de ar.
- EU NÃO SEI, EU JURO, EU NÃ… - Duas kunais rasgaram o ar até mim, num movimento rápido e imperceptível, ficando cravadas na madeira atrás da cama em que me encontrava deitado, um silêncio abrupto sucedeu-se ao barulho oco do ferro a cravar a madeira, comecei a arquejar enquanto olhava o rosto impassível do meu possível homicida e, num pulo irreflectido, saltei em direcção à porta do outro lado do quarto. Não fui rápido o suficiente, num piscar de olhos o homem moveu-se para trás de mim, como um tigre sedento e encostou-me uma kunai junto à garganta, passados alguns segundos bateu à porta com os nós dos dedos firmes e um outro homem com uma mascara da Anbu entrou na sala com uma corda que serviu para me atar as mãos. O primeiro homem acenou mudamente com a cabeça para fora do quarto e dois ninjas da Anbu agarram-me pelos braços que mantinha atrás das costas.
Perecia estar prestes a conhecer alguém importante.