O eco dos passos da sentinela aproximava-se rapidamente, intercalando com as sonoras batidas do coração do jovem que desesperadamente procurava pela sala algum local para se esconder, mas a cela era construída exatamente para que isso não acontecesse, deixando-o descoberto até que enfim resolveu arriscar tudo, jogando-se novamente sobre a mesa de pedra, mantendo-se na mesma posição que acordara enquanto cerrava os olhos para fingir que ainda dormia. "Ai merda... Vamos lá. Vamos lá." - Torcia o jovem quando percebeu que a iluminação vinda da abertura havia diminuído, indicando que o observador olhava através da abertura, buscando a origem do ruído estranho criado há pouco. Por alguns segundos um silêncio desconcertante se fez na cela, sendo interrompido somente pelo som da pesada fechadura acabando de ser acionada. Daisuke gelou.
Ele não sabia se tinha sido descoberto ou se a sentinela queria apenas averiguar o compartimento, mas não teve tempo de pensar mais em nada, pois o homem puxou a pesada porta na direção do corredor, inundando o cubículo com uma pálida luz fluorescente. Daisuke buscou permanecer o mais imóvel possível, mas seu corpo o traiu num breve espasmo de susto quando as botas do homem rangeram no chão liso, adentrando na cela. Empurrando o cassetete contra a testa do rapaz, o vigia revistava os arredores à procura de algo estranho quando percebeu tarde demais que havia alguns pedaços de corrente nos pés da mesa de pedra. Suspirando fundo, na certa para pedir ajuda, o sentinela foi surpreendido pela mão do prisioneiro que agarrou sua garganta e o levantou contra a parede. O homem fardado continuou a se debater até que perdeu consciência e desmaiou. -
Essa foi por pouco. - Sussurrou o loiro, depositando o homem no chão sem fazer qualquer ruído.
Novamente o silêncio retornou na catacumba, juntamente com a perspicácia do rapaz que juntou as mãos num selo e se transformou naquele que acabara de atacar. Jogando o soldado embaixo da mesa, Daisuke não demorou em encontrar algumas mordaças e cordas sobressalentes para imobilizar o homem tempo suficiente para realizar sua missão. Com a porta aberta, ele se esgueirou para fora da cela e vislumbrou um longo corredor com várias portas iguais àquela em que o prendia. Fechando os olhos para lembrar-se das plantas que estudara, o nukenin percorreu todas as celas no corredor à procura de Lina, mas não conseguiu encontrá-lo. -
E agora? - Perguntou-se ao perceber que aquilo não tinha sido considerado. Precisava improvisar.
Retornando ao posto de vigília, Daisuke procurou pela papelada em cima da mesa e notou que a lista de sentinelas estava completamente riscada, indicando que dos dez carcereiros do local, apenas um era responsável por ele enquanto o restante estava no “Subterrâneo Dois”. -
Só pode ser lá. Sub-2. Sub-2... - Concluiu ao tentar se lembrar do setor onde acreditava que seu protegida estava. Nada. Sua memória acabara de falhar. A situação começava a ficar desesperadora, e só pioraria, pois Hiroshi começou a ouvir passo que desciam até ele. Sentando-se apressadamente na cadeira de madeira atrás da mesa, o jovem viu chegar outro soldado que sorriu como se o conhecesse. Respondendo com outro sorriso desconcertante, Daisuke suava ao ouvi-lo reclamar que o salário não era o suficiente para o risco que eles corriam em guardar o filho da gangue rival. "Certamente enviarão alguém para resgatá-lo." - Disse o soldado, sem perceber que o resgate já havia chegado. Com as mãos trêmulas, ele tentou acender o cigarro que descansava em cima da mesa, mas quando viu o olhar de estranheza do colega, parou imediatamente.
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Ei, isso é meu. Não sabia que você fumava. - Inquiriu o soldado, ainda mais curioso.
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É que estou nervoso com toda essa situação. - Mentiu, fraquejando a voz.
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Tá. Tá. Hora da troca. Volta lá para cima. - Disse sem demonstrar desconfiança.
Aliviado com a deixa, Daisuke lembrou-se da planta e se despediu do suposto colega e subiu rapidamente pelas escadarias em espiral até chegar noutro corredor bem parecido daquele que ele estava, porém, nesse existiam cerca de dez soldados perfilados na lateral de cada uma das portas blindadas. "Estou frito." - Pensou enquanto começava a caminhar desconfiadamente pelos homens até ser interrompido por outro que parecia ser quem comandava todos eles. -
Onde você vai! Teu lugar é ali, lembra? - Disciplinou o comandante. Obedecendo no mesmo momento, Daisuke girou o corpo e retornou ao local indicado e enquanto caminhava, pôde ver rapidamente que Lian estava amarrado contra a parede dos fundos de uma das celas. "Achei." - Comemorou em silêncio, quando repetiu o comportamento dos outros soldados parando no espaço vazio entre duas celas.
Não estava muito distante de seu alvo, mas não queria enfrentar dez homens naquele aperto, nem muito menos gostaria de chamar atenção de mais homens com uma luta sem sentido. Sua cabeça fervia para manter seu disfarce e pensar no que poderia fazer quando um grito ecoou corredor adentro. -
Comandante! Rápido! Venha aqui! - Gritou a sentinela que Daisuke deixara no andar de baixo. Assustados, os dez homens se entreolharam e o comandante fez um sinal com a mão e cinco dos que estavam no local correram na direção dos gritos. Aproveitando a oportunidade e a confusão, o loiro se esgueirou até a porta da cela de Lian e com um delicado empurrão com chakra ele quebrou a tranca. Se todo o corredor estivesse silencioso, certamente todos ouviriam, mas como estavam atrapalhados com o alerta, nenhum deles percebeu em tempo de o jovem empurrar a porta e adentrar no cubículo. Os outros que permaneceram, ainda curiosos com a confusão no estreito corredor, não observaram o sumiço dele até que os outros sumissem pelas escadarias.
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Soem o alarme! Soem o alarme! - Gritou o comandante do andar debaixo.
Logo, o som agudo de uma sirene ecoou pelos cômodos da mansão, alertando a todos que estavam sob ataque. Não demorou muito para que os seguranças que guarneciam o corredor do sequestrado percebessem que a porta estava amassada e que o loiro já desprendia as correntes do jovem inconsciente. -
Acorda idiota! Acorda! - Insistia, enquanto resistia bloqueando a porta que os soldados tentavam arrombar. Vendo que o garoto não acordaria, Daisuke alcançou a mesa de instrumentos com o pé, puxando-a contra si até conseguir escorá-la num dos cantos da cela para que a porta não pudesse abrir totalmente. Libertando as costas da entrada, o nukenin saltou sobre a mesa que rangeu com a força dos soldados na esperança de abri-la, mas como previsto, a mesa impediu a abertura, deixando apenas uma pequena brecha da qual nenhum deles conseguia passar.
O eco na cela era ensurdecedor. Ofegante, Daisuke quebrou as correntes que prendiam Lian e o jogou sobre o ombro para então lembrar-se novamente da planta que estudara. -
Estúpido! Não tem saída daí! - Gabava-se o comandante, sem saber das habilidades do desafiante. Suspirando fundo após se lembrar do que queria, Hiroshi fez seu punho brilhar e desferiu um poderoso golpe contra a parede dos fundos. A pedra rugiu com o impacto. Poeira encobriu o recinto, mas logo o forte vento marítimo levou a poeira embora, deixando somente a passagem que o garoto queria criar. Sem acreditar no que acabara de ver, o furioso comandante começou a embater contra a porta com violência, mas não conseguiu abri-la em tempo de ver seu perseguido sorrir maliciosamente e começar a escalar o rochedo em direção ao topo.
CONTINUA...